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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

A ficção científica "Blade runner"

"Blade runner, o caçador de andróides" é um filme da década de 80 e a ficção se passa nas primeiras décadas do século XXI (já chegamos nela) e a humanidade já inicia a colonização espacial, e para trabalhar nos serviços pesados e perigosos nas novas colônias cria máquinas muito semelhantes aos humanos – os replicantes ou andróides – que teriam um “tempo de vida” programado. Por causa de  um motim, os andróides são proibidos de viver na Terra, e são caçados por policiais treinados – os "blade runners" –  que têm permissão para destruí-los.

Dirigido por Ridley Scott (de "Alien, o 8º passageiro, "Thelma e Louise" e "Gladiador") o filme é definitivo em matéria de ficção científica, tornando-se um "cult" pelo impressionante visual assustadoramente apocalíptico, com uma Los Angeles futurista, decadente, apinhada de gente, com uma aparência sombria e uma chuva ácida constante - o sol simplesmente inexiste.

Harrison Ford (o famoso "Indiana Jones") é o detetive incumbido em descobrir os andróides que se rebelaram e se recusam a "morrer", e os andróides rebeldes são liderados pelo Rutger Hauer (charmoso e talentoso ator de "O feitiço de Áquila"). E a trilha sonora, um atração a parte, é do músico grego Vangelis (do também excelente "Carruagens de fogo"). 

E o filme é também cultuado até hoje por ser instigante em sua proposta de reflexão sobre os rumos que a humanidade vem tomando em seus valores morais e éticos. E anos depois do lançamento do filme, surge a "versão final do diretor" muito mais instigante ainda (veja a crítica de Marcelo Janot, no final do texto).

Filosoficamente há o dilema existencial, do ponto de vista dos quase humanos andróides que lutam para sobreviver, porque ninguém, nem mesmo um andróide, quer ser finito - quem somos? de onde viemos ? o que nos torna "humanos" ou não ? - a fala final do "replicante" Rutger Hauer  (veja abaixo) quando diz que todos os momentos ficarão perdidos no tempo "like tears in the rain,...time to die" é emocionante e definitiva.






sábado, 26 de dezembro de 2009

Nunca brinque com os sentimentos alheios

Eram amigos, e de repente a paixão. Depois de uma sutil "cantada" dele, ela confessou, virtualmente, que já não o via mais apenas como amigo. Entusiasmado, ele quis conferir "olhando nos olhos", disse ele. E defronte do espelho, tendo ela ao seu lado, ele disse que "formavam um belo par".

Ela não queria se iludir, pois ele estava sendo envolvido, contra a própria vontade segundo ele, numa relação antiga. Mas ele continuava sedutor, "romantizando" a relação com palavras e gestos. Romântica, ela acreditou nele. A letra da música "Velha infância" ela tomou para si: "meu riso é tão feliz contigo, o meu melhor amigo é o meu amor".

Ela, mesmo cética ainda, guardou um retrato dele no computador. Ele incentivava com palavras, continuava a alimentar as esperanças dela. Ela confiava cegamente nele. Ela o via como um amigo, e achava que era recíproco. Não podia imaginar que ele estivesse brincando com os sentimentos dela.

Mas de repente ele negou tudo. Então era tudo falso? Ele a enganou com palavras? Mas por quê? Eram amigos. Ele sabia que ia machucá-la. Por que a enganou? Para seduzi-la? Não precisava, estavam os dois já bastante envolvidos. Entã,o porque fantasiar se ele não tinha intenção de levar a sério aquele relacionamento? Deixou que ela se envolvesse emocionalmente e depois se retirou da vida dela como se nada tivesse acontecido.

Preferiu voltar para aquela antiga relação que ele mesmo admitia morna e insossa, mas que lhe era garantida. Ela se decepcionou. Não mais o reconhecia.

Ele hoje vive de relacionamentos "fakes". Ela não consegue perdoá-lo.




quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

"O trem da vida"

O "Trem da vida" conta a história surreal de uma aldeia de judeus, em um vilarejo do leste europeu, em plena era nazista que, temerosos em ser deportados para algum campo de concentração, resolvem por iniciativa do "louco da vila" comprar e forjar um trem nazista e assim simularem, antes que os verdadeiros nazistas apareçam, a própria deportação (metade da vila fingiria ser alemão como maquinistas e soldados e  a outra metade fingiria ser prisioneiros judeus) e com isso tentariam atravessar o país e chegar aos seus aliados soviéticos sãos e salvos.

A partir daí, estaremos diante de diversas piadas sutis e inteligentes, de cunho religioso, político, racial, uma verdadeira brincadeira com alemães, judeus, comunistas e afins. É um filme divertido (mas não a ponto de provocar gargalhadas) que sutilmente, num tom jocoso, mostra como o poder pode transformar as pessoas,

por exemplo, no início ninguém queria assumir o papel de "alemão", pois seria um "pecado", um "sacrilégio", mas quando optam pelo papel, o sentimento de poder "sobe a cabeça" de alguns judeus, tornando-se "nazistas" autoritários e controladores, enquanto os "deportados" também incorporam seu papel e começam a tramar uma rebelião contra seus  falsos algozes. 

"Trem da vida" sutilmente brinca com o poder, com a religião, com a política, e até com o holocausto, de uma maneira leve e até bem humorada. Alguns ortodoxos acham que o holocausto deve ser sempre tratado com austeridade, e que o cinema nunca deveria retratá-lo de maneira fantasiosa, sob o risco de banalizar o holocausto, a ponto de negarem sua existência como acontece de vez em quando na mídia, 

mas o cinema já mostrou os horrores do holocausto em diversos filmes como "A lista de Schindler", O pianista", "Sunshine, o despertar de um século" e muitos outros, e nesse filme "O trem da vida" não há desrespeito, ao contrário, ele dá uma lição de vida, mostrando os pecados e virtudes do ser humano, nossos conceitos e preconceitos (e pré-conceitos), as grandezas e misérias humanas (veja no final do texto o discurso do "louco da vila" sobre Deus e os homens - para pensar e refletir).

Um excelente filme, divertido, surpreendente na sutileza ao satirizar o nazismo e em mostrar como o poder transforma as pessoas. 


sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Meu blog e meus possíveis leitores

Aprendiz de escritora (amadora sempre), esse blog é meu desabafo e minha redenção, não sei o quanto sou lida, se poucos me lêem, pelo menos os que se manifestam são entusiastas e me incentivam, e apesar de muitos não "me seguirem" (preguiça? vergonha de se expor??) sei que me lêem, pelos comentários sobre detalhes dos meus textos e pelo número de visualizações no blog, sei que são assíduos na minha página.

Não ouso colocar todo meu íntimo nesse blog, em segredo guardo textos que traduzem meu espírito contestador e inquieto, talvez um dia eu os reúna em um livro, e quando o fizer, não será sob um pseudônimo, será sim minha alma inteiramente desnuda. Mesmo que ninguém o leia, sigo, persisto (e persigo) escrevendo, parafraseando Clarice Lispector escrevo "prá ficar livre de mim mesma, do contrário morro".

Já me convidaram para escrever em revistas e jornais locais. "Modesta", brinco que só aceitarei quando for num grande jornal ou revista de grande circulação, mas na verdade o compromisso de escrever me incomoda, gosto do espírito livre, da sensação de descompromisso.

Pois o que chamam de inspiração não tem hora prá aparecer, costuma me chegar de improviso, às vezes, surge debaixo do chuveiro e ainda molhada do banho revigorante, pego na caneta e os pingos d'água dos meus dedos borram de tinta o papel com as palavras que brotam como mágica. 

Às vezes, a inspiração me chega no meio da noite, de madrugada, me acorda de um sonho perdido, e ali mesmo, na penumbra, sob a luz do luar (ou a luz dos apartamentos vizinhos) me pego escrevendo meus rabiscos, só prá não me "escapar" aquele revoar de pensamentos.

Noutras vezes, a inspiração me "assalta" no meio da rua, na estrada, dirigindo, o que já me fez parar o carro num acostamento prá não deixar passar aquele turbilhão de pensamentos que cismam em invadir minha mente.

Se estou triste, saio à procura do mar, é minha maior fonte de alívio e inspiração, e se chove a beira-mar, meu choro misturado as gotas de chuva é catarse pura, meus olhos marejados se confundem com a maresia e essas horas sempre me rendem muitas e muitas inspirações.

A meus possíveis leitores, deixo um trecho do poeta alemão Rainer M. Rilke, em "Cartas a um jovem poeta", em que ele responde sabidamente ao jovem poeta (que insiste em querer saber se seus versos são bons ou não) - "Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever, examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos da alma, confessa a si mesmo: morreria, se lhe fosse velado escrever?"




O fascínio de "O mar" de John Banville

Quando entro numa livraria (assim como acontece, quando entro numa locadora, numa estante de filmes "cult"), me "esqueço" da vida, gosto de "me perder" no meio daquele monte de títulos, e às vezes, sem noção do que estou a procura, saio folheando vários, e o que me chama atenção nessas horas é o título e os seus primeiros parágrafos, se me cativarem, mando embrulhar.

Foi assim com "O mar" de John Banville, primeiro o título, porque sou simplesmente fascinada pelo mar, meu eterno companheiro das horas boas e ruins, desde a infância.

E o início da narrativa me cativou: "Os deuses partiram no dia daquela maré estranha. Durante toda a manhã, sob um céu leitoso, as águas da baía subindo, subindo, atingindo alturas inauditas, com pequenas ondas lambendo a areia ressecada...Depois daquele dia, nunca mais nadei...As ondas iam deixando uma faixa de espuma amarelada na areia. Não, não voltei a nadar depois daquele dia. Nunca mais.

Aquele parágrafo atiçou minha curiosidade de leitora - afinal o narrador parecia, como eu, fascinado pelo mar, e de repente, algo aconteceu e ele não mais entrou no mar. Esse misto de fascínio e medo que o mar nos evoca sempre "mexeu" comigo.

A favor do livro estava seu prêmio como vencedor do "Booker Prize" de 2005, e ao lê-lo, tive que concordar com o merecido prêmio. Mas acredito que não seja um livro de fácil aceitação para o público geral, é preciso um certo "feeling" prá gostar desse tipo de prosa, com texto bastante rebuscado, como é esse romance.

Mas, para mim, o romance é de uma beleza hipnótica, ao comparar o ir e vir das ondas do mar com o vaivém entre o passado e o presente do narrador, um homem amargurado por um presente que considera medíocre, uma morte familiar recente, a incerteza do futuro que a velhice impiedosamente o "assalta", e na tentativa desesperada de aplacar o sofrimento, resolve "reviver" seu passado guardado na memória, das suas férias de infância, na casa de veraneio a beira-mar, um passado que, para ele, foi inferno e paraíso ao mesmo tempo.

Sou "suspeita" ao falar do livro, pois eu também, pré-adolescente, passava minhas férias em casa de veraneio a beira-mar (o preparo de véspera não dormia, tal era a ansiedade), e me vi no lugar dos protagonistas - assim como a menina da história, muitas vezes, ia sozinha ver o mar e ficava, como a menina, agachada, em frente àquele imenso mar, abraçada nas minhas próprias pernas, durante horas (???? o tempo para uma criança é incerto), o olhar perdido naquele horizonte infinito, o barulho das ondas batendo com força na areia, a maré subindo me dava uma sensação de medo e fascinação, ao mesmo tempo.

O sol muitas vezes já se pondo, e o crepúsculo da noite caía sobre o mar, a lua cheia iluminando as dunas de areia, aumentando ainda mais o mistério do ir e vir das ondas, e eu então era despertada desse transe pela minha mãe, que vinha me chamar de volta prá casa ("mania de ficar sozinha até tarde, um perigo para uma menina como você")

Na maior parte do tempo, o mar era nosso companheiro de brincadeiras daqueles verões mágicos (eu, meus cinco irmãos e os amigos "de verão"), o banho de mar era sagrado, todos os dias de manhã e à tardinha, testemunha do pique-bandeira, dos carnavais fantasiados de pierrôs e colombinas e, desde àquela época até os dias de hoje, o meu fiel confidente.

Quem vencer a "dificuldade" da leitura requintada, vai se encantar com o livro, pois a imensidão do mar dá ao narrador (e a nós, leitores) a medida exata da "pequenez" do homem diante dos grandes desafios da vida.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

"Abril despedaçado" - excelente filme brasileiro

"Abril despedaçado"- esse belo filme brasileiro, infelizmente, foi muito mal divulgado pela mídia, muitos nem sequer tomaram conhecimento da verdadeira pérola que é esse filme. Triste um país que não valoriza seus talentos.

"Abril despedaçado" conta a história de uma família do sertão nordestino, que vive miseravelmente da moenda de açúcar, no início do século XX, e que carrega, como sina, a rivalidade dos tempos prósperos de outrora, por lutas ancestrais pela posse de terras - o resultado dessa rivalidade culmina em mortes de ambos os lados, pois "reza" a tradição local que o sangue derramado do filho seja vingado pelo irmão e assim por diante, num ajuste de contas sem fim.

O "prazo" para se cumprir a vingança se esgota, quando a mancha de sangue da camisa exposta ao vento fica amarelada pelo sol "castigante" do sertão - é a abertura do filme, numa fotografia esplêndida, memorável, com a narração ingênua e comovente do irmão caçula de nome Pacu e a música-tema "Sobre todas as coisas" de Chico Buarque, na voz lamuriosa do Gilberto Gil, que "canta" toda a dor e o vazio daqueles corações desesperançados (veja o trailer com a música no final do texto).

Com direção de Walter Salles (dos também excelentes "Terra estrangeira", "Central do Brasil" e "Diários de motocicleta") a tomada da moenda, vista de cima, é magnífica, estonteante nos dois sentidos - pela beleza fotográfica e pelo girar lento e incessante, numa roda de "bois mandados" (o homem e o animal), numa mesmice de atos e comportamentos repetitivos.

"Abril despedaçado" tem Rodrigo Santoro como personagem principal em atuação primorosa (provando que não é só um "rostinho bonito e algo mais"), como o irmão que deve vingar a morte do primogênito da família de três irmãos - passei a admirar o ator a partir desse filme, ele está sujo, suado, maltrapilho, "encardido", "roceiro" mesmo. E tem também José Dumont (impecável atuação como sempre) como o patriarca da família.

E vamos nos envolver (e nos encantar) com o grupo circense e mambembe que chega na cidadezinha, trazendo esperanças aos olhos tristes de Tonho (personagem de Santoro) e alegria àquela terra árida, no vôo do trapézio ( outra fotografia "estonteante"), e também com a fantasia de menino do irmão caçula que teatraliza estórias e aventuras (do livro que ganhou da moça que "cospe" fogo, com quem Tonho descobre o amor) num desafio ao poder patriarcal e ao fatalismo daquela existência derradeira.

E a história termina tragicamente, quando a tarja negra do luto cai do braço de Tonho e então "em silêncio" (veja o filme e entenderás) ele vai ao encontro do mar, a procura da sereia que tanto sonhava seu irmão caçula.

Não deixe de ver. Dá orgulho ser brasileiro.
  

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Por que cinema, cinema, cinema e....cinema?

Nos dias de hoje, a correria da vida não nos deixa sobrando muito tempo, talvez por isso vemos tão poucos ligados numa boa leitura, apesar de não ser esse o meu caso, pois como adoro ler, costumo "devorar" um livro inteiro num só dia de folga.

Prá quem não tem essa facilidade, um bom filme (em casa mesmo) é uma excelente opção prá botar em dia o atraso cultural dos tempos atribulados de hoje em dia. Uma obra escrita pode, e muitas vezes consegue, ser adaptada magistralmente para o cinema.

Eu disse muitas vezes, mas nem sempre. Por exemplo, os filmes "Caçador de pipas" e "O código da Vinci" não conseguiram entusiasmar, principalmente para aqueles que leram a versão impressa dessas histórias. Já as obras da escritora inglesa Jane Austen foram cinematografadas magistralmente, ao retratar em imagens eternizadas, a Inglaterra do século XIX, nos excelentes "Razão e sensibilidade" e "Orgulho e preconceito" (veja trailer no final do texto).

Assim, se o cinema consegue transformar uma obra escrita em uma excelente obra cinematográfica, então, na minha opinião, o cinema é "superior" à obra escrita, porque são imagens registradas em cenas imortalizadas para sempre em nossas memórias, emoções audiovisuais que não podem ser descritas com palavras em língua nenhuma. A escritora Clarice Lispector percebia essa dificuldade, nenhuma palavra conseguia expressar totalmente seu íntimo.

Por exemplo, o teatro é efêmero, quem viu, viu, quem não viu, não verá jamais a mesma cena, mudam-se o palco, os atores, e já é outra cena, novamente não imortalizada. Ao contrário, o cinema dá vida aos personagens, eterniza para sempre uma cena. Como esquecer da cena final, magistral, do filme "Cinema Paradiso" com o personagem hipnotizado e os olhos marejados, diante das belas cenas "emendadas" dos beijos eternizados pelo cinema?

O cinema pode ser um entretenimento, mas como diz o cineasta dinamarquês Lars Von Trier (dos excelentes e não menos polêmicos "Dançando no escuro" e "Dogville"), o cinema foi feito prá provocar, prá "arrancar o espectador da apatia" e "jogá-lo contra a parede", e realmente, ninguém sai ileso depois de ver um filme dele.

Portanto, não há desculpas, da próxima vez que você achar que "não tem tempo", tire aquelas duas horas de cultura inútil que você perde com a chatice das novelas (e final de novela é tudo igual, casamentos chatérrimos na igreja, e "foram felizes para sempre", com o vilão devidamente enquadrado), esqueça a mesmice do futebol (tudo bem, dia de "jogão " decisivo, vá lá, tá perdoado), esqueça o "FANático" e os manjados bordões dos programas humorísticos, e vá curtir um bom filme. A cultura agradece.






domingo, 13 de dezembro de 2009

"Sunshine - o despertar de um século"

"Sunshine - o despertar de um século" (atenção ao subtítulo, pois há outros filmes com o mesmo título) - do diretor húngaro István Szabó, o mesmo de "Mephisto" - o filme conta a saga de uma família judia na Hungria, que começa no início do século 20 e atravessa as duas grandes guerras e as revoluções populares e comunistas da Europa (veja o trailer no final do texto)

O ator Ralph Fiennes ( de "A lista de Schindler e "O paciente inglês") interpreta três papéis: ele é o avô narrador da 1ª geração, depois na 2ª geração ele é o pai esgrimista, medalha de ouro nos jogos olímpicos na Alemanha de Hitler, e na 3ª geração é o filho "massacrado" pelas humilhações nos campos de concentração.

O ator, considerado um "pedaço de mau caminho", aparece nu numa das cenas, totalmente nu (e nu frontal) mas atenção, homens, não precisam ficar constrangidos nem desistam do filme (tem nu frontal feminino também), e vocês, mulheres, também não se empolguem, porque não dá nem prá dizer "uau",  porque é uma das cenas de morte mais impactante e sinistra (e mais bem filmada) que já vi em toda minha história de "cinéfila".

A história é longa e lenta (são quase 3 horas de filme, mas nem um pouco maçante) e as gerações são vividas e entrelaçadas por uma personagem-chave, a avó que atravessa as 3 gerações "sustentando" as dores e aflições dos que vão nascendo e crescendo, numa era de incertezas, numa Europa falida e destruída pelas guerras.

Prá curtir o filme é recomendável estar descansado e com tempo - prá não se perder, vale a pena dar uma "paradinha" a cada geração (em média leva 1 hora cada geração) prá não ficar cansativo, mas volto a dizer, vale a pena, é uma aula de história dentro de uma história comovente.

O diretor húngaro usa todas as histórias da sua infância, que ouvia de sua família à mesa de jantar, e mostra no decorrer do século 20 como a Europa (e o mundo) "decaiu" nos seus costumes, na linguagem, na mentalidade e até nas relações entre as pessoas - no início (na 1ª e ainda na 2ª geração) temos a "época de ouro" da Europa Central com seus famosos cafés, pessoas cultas e envolvimento emocional entre as pessoas que, com as guerras e a perda do poder econômico, deram lugar (na 3ª geração) aos "self-services", ao linguajar quase vulgar e aos relacionamentos superficiais, interesseiros e hedonistas.

A pergunta que sempre me intrigou na história do holocausto é justamente a mesma indagação que faz a avó judia, questionadora e revolucionária, num dado momento do filme: "Por que, se vocês eram milhares no campo de concentração, não reagiam diante das poucas centenas de soldados armados nazistas?" Nessa hora me vem a lembrança a famosa frase de Einstein: "Somente duas coisas são infinitas: o Universo e a estupidez humana, e eu não estou tão seguro quanto ao primeiro".

Mas o filme termina com uma ponta de esperança, com o neto (sob o eterno "ombro" da avó) assumindo suas raízes e sua pátria. Um belíssimo filme - vale as três horas. Uma lição de vida, e de quebra serve para "meditar" sobre comodismo e subserviência.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

"Antes do amanhecer"

Ele apareceu num momento confuso da vida dela. Refeita após anos da separação, ela teve um breve relacionamento, mas que também a marcou muito, e ainda com a alma dolorida, ela não queria se deixar envolver mais uma vez. Mas ele sedutor, não desistia. Insistentes convites, olhares sedutores, cantadas, tudo para conquistá-la.

Ele era bem mais jovem que ela, o que também a assustava bastante, apesar de todos jurarem que ela não aparentasse a idade que tinha. Ele continuava a insistir. Charmoso, "sarado", usava todo charme para envolvê-la. Difícil resistir a tanta insistência.

Ela só queria uma companhia, quem sabe passar o tempo, esquecer o passado e "lavar a alma"? Carente, se deixou levar ao sabor dos desejos da carne, mas aquele breve relacionamento de outrora ainda estava lá, nas suas entranhas.

A noite acabou, e coincidentemente, como eles não mais se encontrariam no lugar de sempre, ela decidiu (como no filme "Antes do amanhecer") que só se veriam de novo em um ano, ou "quem sabe", brincou ela, "nove anos depois" (como o reencontro no filme "Antes do por do sol"). Não foi um "papo cabeça" como no filme, mas ele tinha uma boa conversa, ela que estava "em outra".

Ele tentou novas investidas, mas ela não cedeu. Um ano depois, ele voltou a ligar. Coincidência? Ou ele estava seguindo o acordo? Ela achou melhor não incentivar, até porque o passado de outrora voltava como fantasma a rondar sua alma até então machucada. Melhor não. E ele agora parecia envolvido em outro relacionamento e, confuso, tentava recordar o que passaram juntos.

Ele pediu um novo encontro. Ela disse que iria pensar. Mas não, ela não mais ligou. Melhor não. Será que só se verão de novo em nove anos?




quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

"Apenas uma vez" ("Once")

"Apenas uma vez" ("Once") - esse filme não passou no "circuitão", prá variar foi divulgado no boca a boca nos festivais independentes. É um filme "quase caseiro", câmera na mão, sobre novos músicos batalhando por "um lugar ao sol".

Um músico irlandês de rua conhece uma música tcheca , ficam amigos, descobrem que têm afinidades musicais e decidem então formar uma banda,
e sem que percebam, começa a surgir entre eles um sentimento mais profundo além da amizade, mas eles são "meio que comprometidos", e assim muito do que gostariam de dizer um pro outro é dito então através da música.



Os dois atores são, na verdade, compositores "na vida real", e o título do filme "Apenas uma vez" coincide com a única incursão dos dois no cinema, pois depois do sucesso da música do filme composta pelos dois - ganharam o Oscar de melhor canção - resolveram investir suas carreiras apenas no mundo musical. 

Quem nunca se envolveu sem querer com alguém (muitas vezes esse alguém "algo comprometido"), que tinha os mesmos planos e afinidades em comum, e sem perceber estão juntos mais tempo do que deviam, se divertem e curtem projetos em comum, e de repente, sentem falta um do outro, e "se traem" declarando sentir falta dos inocentes e-mails, dos breves  encontros, etc?

Esse é o tema desse filme delicado e sutil - é preciso sensibilidade prá perceber a sutileza das expressões e dos (poucos) diálogos dos personagens, que se falam (e se envolvem) através de suas composições. Na verdade não é um musical, mas tudo gira em torno da música.

A história se passa em Dublin, na Irlanda, onde vários talentos têm despontado no cenário musical, como Damien Rice (ouça, aqui no blog, a música "Blower's daughter", que faz parte do filme "Closer, perto demais", no texto "Afinal a fila anda para quem?" em nov/2009), também Nick Drake (ouça a música "One of these things first", também aqui no blog, no texto sobre o filme "Hora de voltar" em nov/2009),

e o próprio ator/compositor Glen Hansard (da banda Frames) que faz o papel principal do filme, e a música "Falling slowly" (linda), composta pela também atriz/compositora do filme, ganhou o Oscar de melhor canção da época (abaixo trailer e a música do filme), e os dois compositores, depois do filme, se envolveram e hoje estão namorando e batalhando juntos continuar brilhando juntos na música e na vida a dois.

Encantador. Vale a pena.



quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

"Quase famosos" - o filme

"Quase famosos" ("Almost famous") - a história se passa nos anos 70, no despontar das grandes bandas de rock, que até hoje influenciam os jovens de hoje e de outrora (ainda mais com a carência e a pobreza musical dos tempos atuais), e o filme conta o envolvimento e fascínio de um adolescente, um aspirante a jornalista, apaixonado pelo rock, escalado para acompanhar uma banda em ascensão - o diretor Cameron Crowe mescla um pouco da sua própria história de adolescente, ele foi repórter mirim da revista "Rolling Stones" e participou de uma das turnês do Led Zeppelin.

O filme é puro saudosismo, como não se encantar (e rememorar) diante da expressão memorável do ator adolescente, quando ganha da irmã (que, escondida da mãe, sussurra em seu ouvido "It'll set you free") os discos em vinil e suas famosas capas? Lá estão Jimmy Hendrix, Beach Boys, Joni Mitchel, Bob Dylan, Led Zepellin, The Who - esse último o vinil da trilha sonora do filme "Tommy", a famosa ópera-rock com Roger Daltrey, Elton John e Eric Clapton - e enquanto a gente se delicia com a cena, ouve-se ao fundo as vozes da dupla Simon and Garfunkel cantando "America".

Os atores estão em perfeita harmonia - Frances McDormand (do também excelente "Fargo" dos irmãos Coen) como sempre excepcional no papel da mãe suuperprotetora - e quem de nós, pais, não se viu no lugar dela? Orgulhosa e temerosa ao mesmo tempo. Philip Seymor Hoffman (do também excelente "Magnólia" e "Capote") interpreta o verdadeiro Lester Bangs, um dos críticos de música mais respeitados daquela época. E Kate Russel (linda com os cabelos cacheados e óculos anos 70 a la "Mr John Lennon x Mr Elton John") está cativante como a "Penny Lane" (aqui mais uma homenagem do diretor - a famosa música sobre a não menos famosa rua da Liverpool dos Beatles). 

O filme retrata os bastidores de uma época em que o mundo se viu diante de mudanças radicais na música e nos costumes, uma época em que as drogas foram retratadas de maneira quase romântica. De uma forma sutil, assiste-se ao início da  decadência do rock, quando percebe-se que "a coisa" de repente estava virando "apenas um negocio lucrativo". E por trás da história do rock, assiste-se aos conflitos, paixões e angústias de todo jovem adolescente ao descobrir e trilhar o mundo dos adultos.

A cena mais marcante do filme acontece dentro do ônibus da turnê da banda, onde a música "Tiny dancer", do Elton John, cantada em coro pelo grupo, consegue desfazer as caras amarradas dos integrantes da banda brigados entre si, e termina com o adolescente comentando com a Penny Lane que precisava voltar prá casa e esta o silencia com "you are home" (veja a cena do filme no final do texto). 

A trilha sonora é um desbunde, ela não te larga, te segue pelas ruas na saída da sessão, de repente você sem perceber se vê cantarolando no meio da multidão na volta prá casa (ou no caso do DVD quando revi o filme, me vi rodopiando sozinha em frente ao meu grande espelho da minha sala de estar) - "Tangerine" do Led Zeppelin, "The wind" com a voz suplicante e envolvente do Cat Stevens, "River, de Joni Mitchel (vídeo, no final do texto, na voz de Sarah Mclachlan) e de novo Elton John com a bela "Mona Lisa and mad hatters" e tem muito, muito mais. Imperdível.



















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