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domingo, 28 de fevereiro de 2010

O domingo é dos chatos

Essa semana, tive uma das muitas “surpresas” desagradáveis que a vida nos prega  pois, numa reunião de trabalho, questionou-se (por conta de “necessidade de serviço”) se a 6ª feira à noite seria considerado “fim de semana”, e (pasmem) se havia alguma lei (what????) que amparasse essa questão, prá mim, inusitada.

Inusitada, porque nunca tive dúvidas que a 6ª feira já é fim de semana – faça uma enquete na rua e a resposta será 99,9%: sim, 6ª feira à noite é fim de semana (os 0,1% que diriam não, devem ser os que estavam na tal reunião que lhes falei),

e ainda vêm falar de leis prá mim, anarquista que sou? (lembrar que anarquismo na sua forma pura significa ausência de leis - e não de ordem, como querem deturpar esse movimento pacifista, que tinha o Gandhi um seguidor).

Como já disse no meu texto “Meu apelido adorável anarquista” (outubro de 2009) eu não preciso de leis, pois prá mim o que rege a ordem é o espírito de coleguismo, é o bem estar comum, é o coletivo, é “se colocar no lugar do outro”.

E, sinceramente, na verdade, prá mim (e prá muitos que conheço), o fim de semana já começa na 5ª feira à noite (vide o número crescente de bares com shows fixos para um público assíduo)

– pelo menos, quinzenalmente, eu tenho encontro marcado já na 5ª feira à noite, com amigos em um bar, madrugada adentro, para um (nem sempre) papo-cabeça (às vezes só rola “abobrinhas” que também é ótimo), sempre com uma boa música ao fundo.

E prá provar que o fim de semana começa na quinta é só relembrar a “tirinha” em quadrinhos do Snoopy, que reproduzo no final do blog: Snoopy se “arrasta” de 2ª a 4ª feira, para já na 5ª feira mostrar sinal de ânimo e na 6ª feira (de dia) grande expectativa, para no sábado ser alegria pura (lembrar que o sábado começa na madrugada a 00:00 h, ou seja, praticamente inclui a noite de 6ª feira) e no domingo literalmente “de molho” Snoopy só quer descanso do fim de semana.

E quanto ao domingo, faço minhas as “palavras” dos Titãs na música “Domingo”: “Não sei o que fazer, eu saio por aí, sem ter aonde ir... tudo está fechado, domingo é sempre assim, é dia de descanso, não precisava tanto, programa Sílvio Santos..."

Alguém já disse: “o mundo é dos chatos”. Na verdade, eu acho que “o domingo é dos chatos” – a prova disso: praias apinhadas de gente, em geral, mal-educada e farofeira (se você quiser um “lugar ao sol” tem que madrugar), torcedores do “FRAmengo”, que vencendo ou perdendo, azucrinam antes, durante e depois do jogo (e dê “bye, bye” para a merecida soneca depois do almoço, que é a única coisa boa que restaria no domingo)  programas televisivos de péssimo padrão mesmo na TV a cabo, jornais com fofocas de artistas e os prévios desfechos das chatíssimas novelas globais.

Moro no meio de dois clubes, e aos domingos é sagrado, rola as famosas músicas (de corno) sertanejas na maior altura, e às vezes (ainda bem que é raro) rola um funk (e lá isso pode ser chamado de música????), por isso quando tenho que  trabalhar aos domingos, vou com o maior prazer, pois me livro de toda a chatice que é o domingo.

E continuando a parafrasear os Titãs na música deles, eu reforço a cantoria: “no domingo, eu quero ver o domingo passar, no domingo eu quero ver o domingo acabar” (veja abaixo o vídeo com a banda)



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Onde vivem os "nossos" monstros ?

Todos nós temos nossos monstros, monstros interiores que nos aterrorizam, a maioria deles escondidos e muito bem camuflados no nosso íntimo.

Na infância, no auge dos nossos temores pueris, em vão procuramos por eles, debaixo da cama, por baixo dos lençóis, dentro dos armários, atrás da porta. E, no entanto, já adultos, eles retornam, e quando menos esperamos, lá estão eles, chafurdados na nossa mente, prontos para nos assombrar e puxar pelos nossos pés.

Medo, inveja, ciúmes, mágoas, raiva, ressentimentos,... monstros que vivem e convivem conosco, escondidos no fundo de nossa alma, mesmo que, por vergonha, tendemos a não admitir sua existência (nem sempre pacífica) dentro de nós.

Às vezes, eles nos assombram nas madrugadas insones, em pesadelos, e pela manhã, de novo varremos essas monstruosidades “prá baixo do tapete” de nossa consciência, e “seguros” seguimos em frente pela vida afora.

Conseguir controlar essas feras dentro de nós, às vezes, é impossível, e esses monstros, sob a forma de sentimentos insolentes, afloram do nosso íntimo, e nos transfiguramos, nos transformamos em monstros inimagináveis, capazes de males como ódio, inveja e outros sentimentos não lá muito nobres.

Mas nem sempre deixar vir à tona essas nossas criaturas é assim tão ruim, às vezes é necessário, eu diria que, em certos momentos, é até vital, pois há monstros que, na verdade, nos protegem. A sociedade nos domestica, nos impõe regras de comportamento e muitas vezes “engolimos sapos” muitas vezes  indigestos demais, mas o fazemos para parecermos “politicamente corretos”.

Assim, de vez em quando, “abro a jaula e solto meus bichos” e percebo, impressionada (eu diria até orgulhosa), como eles são poderosos, e que, felizmente, meus monstros não são assim tão “feios”, ao contrário, graças a eles, adquiro forças prá enfrentar os obstáculos da vida,

porque há muito mais monstros por aí a espreita no meu caminho, bem mais “feios” que os meus (os psicopatas sociais cultivam os mais pavorosos, porque fingem-se de cordatos para, em seguida, com a vítima dominada, atacar impunemente), e para enfrentá-los só mesmo um outro monstro a altura, e é nessa hora que eu solto os meus.

E para provar que eles existem, “taí o mundo”, com sua maldade explícita, nas guerras “justificadas” por intolerância racial, religiosa, etc. Falta amor ao próximo, sobra intolerância, falta altruísmo, sobra mau-caratismo, falta comiseração, sobra ganância, falta humildade, sobra inveja.

“Onde vivem os monstros” (Where the wild thinds are) é o título do novo filme do diretor Spike Jonze (já conhecido pelos ótimos e também surrealistas “Quero ser John MalKovich” e “Adaptação”) que mostra exatamente esses nossos monstros interiores, numa abordagem aparentemente infantil (um menino rebelde e imaginativo que, após se desentender com sua família, se embrenha numa floresta cheia de monstros, cujas personalidades diversas refletem as emoções e aflições do menino, tais como raiva, isolamento, carência e tantas outras mais). 

O filme que mistura animação e live-action (atores contracenando com desenhos), infelizmente, foi (mal) divulgado como infantil” (por ter sido adaptado de um livro infantil), mas na verdade trata-se de um drama que assombra mais adultos que crianças, ao mostrar, mesmo fantasiosamente, que nossos monstros estão aí, soltos, a espreita, prontos para atacar (veja abaixo o trailer do filme).

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O frenético "Corra Lola, corra"

Uma amiga escreveu um texto, sobre que caminhos trilhar na vida, na busca por respostas, que começa com a conhecida frase “em vinte minutos, tudo pode mudar”. A frase já me era conhecida, mas curiosa, fui atrás do autor da mesma,

e descobri que tudo começou com a rede americana “NBC News” que, em 1985, a partir de pesquisas, observou que o tempo disponível do ouvinte americano estava ficando cada vez mais escasso, e que 30 minutos era tempo demais para se dedicar a um noticiário,

e resolveu implantar o recurso de apenas vinte minutos para suas notícias. Para lançar a novidade e enfatizar a vantagem dos ciclos mais curtos, a NBC utilizou o slogan "Give us twenty minutes, and we’ll give you the world" (“Você nos dá 20 minutos e nós lhe daremos o mundo”).

No Brasil, a rádio FM Band News se apropriou do modelo e começou a usar o slogan "em 20 minutos, tudo pode mudar", para chamar a atenção do público e angariar novos ouvintes para notícias rápidas, sempre novidades de última hora.

E a frase ficou conhecida como “sinônimo do acaso”, prá explicar coisas e circunstâncias inexplicáveis, como por exemplo, alguém que por “obra do acaso” perde o avião que acaba explodindo na decolagem. Quem nunca se surpreendeu com fatos seguindo um caminho completamente oposto àquele que as circunstâncias mostravam ser o único possível?

Mas, na verdade, cinéfila que sou, eu só passei a conhecer essa frase a partir do filme “Corra Lola, corra” – o filme, do final da década de 90, quase virada do século, é alemão, e exatamente a cada vinte minutos da película, tudo muda na vida da personagem Lola (veja trailer no final do texto)

Como diz o título, Lola corre, e corre freneticamente, o tempo todo do filme, em busca do próprio destino (que muda a cada vinte minutos, voltando sempre ao início), de acordo com as mudanças que ela depara e/ou traça pelo seu caminho. O filme mostra a mesma história com três desfechos diferentes, de 20 em 20 minutos.

Toda a história é contada nos primeiros 20 minutos (incluindo os créditos iniciais do filme), nos demais 60 minutos da película Lola tem três chances de vinte minutos cada prá salvar seu namorado de ser morto,

sendo que a cada um desses três repetidos vinte minutos da sua corrida desenfreada, ela se depara com pessoas que cruzam o seu caminho e que podem, ou não, atrasá-la no seu intento de salvar o seu amado.

 A câmera é frenética, Lola corre pelas ruas de Berlim, e há várias referências às reviravoltas da vida, como as escadas em espiral que Lola desce alucinadamente, em infinitos círculos que parecem não ter fim (como as reviravoltas da vida, com seus ciclos, suas próprias vibrações, seu fluxo próprio, e que, ao existirmos, e interagirmos com esses ciclos, os modificamos e podemos fazer surgir infinitas possibilidades).

E há também no filme inúmeros relógios por toda parte marcando o compasso das horas, “os vinte minutos em que tudo irá mudar”, e o número 20 aparece em várias referências (por exemplo, no cassino Lola aposta exatamente no nº 20).

O filme é ousado e nada convencional, ora vemos a tela dividida em 2 ou 3 partes, ora usa a linguagem dos vídeoclips com sequências aceleradas alternando com imagens em slow-motion, ora vemos a protagonista com seu cabelo vermelho e suas tatuagens virar um desenho animado como um personagem de um vídeo-game.

E exatamente como num videogame, Lola tem três chances de mudar seu destino (que dura exatamente 20 minutos cada, pode contar no relógio) até “ganhar o jogo” ou então “game over”.

E nas três “fases do jogo”, a personagem-jogadora tem que enfrentar obstáculos e adquire “experiência e poder” prá seguir em frente (como nós, na vida, diante dos nossos fracassos e acertos). E o espectador vai junto, no embalo da personagem, “jogando e apostando” nas reviravoltas da vida e correndo atrás do tempo.

O filme brinca com o acaso e o destino de nossas vidas, será que somos mesmo capazes de mudar o nosso destino? O acaso existe mesmo? O futuro é uma página em branco, pronta prá ser escrita?

E se...... quantas vezes não repetimos e questionamos.... e se..... e se eu tivesse feito outra escolha.... na vida, no trabalho, nos relacionamentos afetivos, na profissão? E se ....eu tivesse seguido em frente, sem olhar prá trás? E se.... ao contrário, eu tivesse voltado atrás?

Perguntas sem respostas.... Quem sabe a vida não fosse um videogame com direito a três tentativas até o fatídico “game over”? Mas aí eu me volto prá minha “alma imoral”,  é ela que escolhe nosso destino, o problema é que muitos de nós traímos nossa alma com medo de enfrentar o aparente vazio que se abre aos nossos pés diante do futuro que nos aguarda.

Assista “Corra Lola, corra” esse frenético e nada convencional filme alemão e aproveite e leia sobre a “Alma imoral”, texto que escrevi em novembro de 2009 (link http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2009/11/alma-imoral.html ) sobre o livro homônimo do rabino Nilton Bonder e tire suas próprias conclusões sobre o seu próprio destino.

 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Por trás e muito além do "Cidadão Kane"

O famoso e sempre atual "Cidadão Kane" (cenas do filme no final do texto) – prá ficar por dentro da trama do filme é preciso entender toda a "guerra" que rolou por trás das câmeras e entrar em contato com as personalidades da época, para nos inteirar completamente dessa bem bolada história de Orson Welles, na época um jovem talentoso de vinte e poucos anos com muita audácia na cabeça.

O filme, da década de 40, causou furor na época, ficando anos engavetado, porque o cineasta desafiou um dos homens mais ricos da América, um gênio da comunicação dos EUA, dono de vários meios de comunicação da época, principalmente jornais de grande circulação, além de revistas, rádios e estúdios de Hollywood.

Welles escancara em seu filme todo o monopólio desse grande magnata, denunciando toda a sujeira que havia por trás das manchetes sensacionalistas do jornal mais vendido nos EUA. O jornal, sob o comando do ricaço, manipulava as notícias só divulgando meias verdades que lhe convinha politicamente, desafiando o poder público quando era de seu interesse, destruindo e difamando  em seu jornal seus desafetos ou venerando e manipulando a opinião pública a seu favor e de seus correligionários.

O magnata da imprensa (no filme retratado na figura do personagem do cidadão kane e vivido pelo próprio Orson Welles) era W.R.Hearst que, mesmo idoso e quase falido desde a Depressão americana, por conta da história que o comprometia, tentou de todo jeito barrar a gravação do filme e a divulgação do mesmo,

e como sempre fazia,  o magnata tentou difamar Orson Welles fazendo uma campanha “anti-kane”, tentando  manipular a opinião publica a seu favor e contra o jovem diretor, não conseguiu, o filme acabou sendo lançado e ganhou o Oscar de melhor roteiro  da época (mas perdeu em todas as demais indicações eram nove, inclusive de melhor filme).

Quando Orson Welles chegou a Hollywood já era notório e polêmico no meio artístico, pela sua genialidade e audácia nas suas produções teatrais e no comando de programas de rádio. E tal qual Hearst, Welles também era um gênio para dar “notícias” de primeira mão, e se precisasse também "jogava sujo" prá conseguir audiência

– quem nunca ouviu falar no famoso "ataque alienígena" forjado por ele?  Welles, prá angariar ouvintes que só sintonizavam na sua rádio durante o intervalo da programação de outra estação, transmitiu uma simulada invasão de alienígenas que aterrorizou o país inteiro, quando descobriram a farsa, ele se safou alegando tratar-se de um equívoco, dizendo que infelizmente as pessoas sintonizaram a rádio no meio de uma "encenação" de um ataque de extraterrestres, que fazia parte de uma peça teatral –

Qualquer outro teria sido preso, tal o terror disseminado pelo país, mas ao contrário, ele aumentou a audiência na sua programação e ainda ganhou um contrato milionário para filmar em Hollywood, com liberdade para produzir o que quisesse sem censura e sem precedentes.

Antes de Welles, ninguém ousava desafiar o tal magnata, se o tal não simpatizasse com algum ator, simplesmente o detonava em seus periódicos, ele conseguia comprar tudo (e todos) e não se conformava em não poder “comprar um posto” de governador ou presidente.

Mas a batalha entre esses dois gênios da comunicação foi devastadora, destruiu a ambos, Orson Welles conseguiu publicar o filme mas perdeu a maioria das indicações ao Oscar e morreu sem nunca conseguir um novo sucesso, e o magnata viu seu nome ser ridicularizado publicamente ao ser exposto seus fracassos eleitorais,  sua vida amorosa com a amante, uma atriz de nome Marion Davis.

Orson Welles não poupou nem o famoso "rosebud" (botão de rosas) no seu filme, a tal palavra era de conhecimento do público da época (apelido que o magnata deu para as partes pudendas da atriz mas Welles “maquiou” o nome com outro significado no filme), que logo associou o personagem ao magnata e tirou suas próprias conclusões.

O filme em preto e branco é da década de 40 e muitas das tomadas de cena  foram revolucionárias para a época os movimentos de câmera, indo do exterior para o interior de uma cena,  eram novidade no cinema, as tomadas de cena em planos diferentes, era a primeira vez que a profundidade de campo era usada intencionalmente em um filme.

Ele também inovou utilizando jogo de luz e sombras para dar o clima “dark” que queria, nas cenas em que Kane ia revelando seu lado negro e sujo. As cenas de maquiagem envelhecendo o ator também  eram novidade na telona e o ineditismo das cenas em flashbacks totalmente assincrônicos.

O filme começa com o misterioso assassinato do próprio kane e a tal palavra balbuciada pelo moribundo no leito da morte que associava o personagem ao magnata real, e o filme então se desenrola como se fosse um documentário, desfilando a vida íntima e profissional do tal cidadão kane com entrevistas com conhecidos que  poderiam ajudar na investigação do seu assassinato.

Orson welles mostra em “Cidadão Kane”  a cultura de massa e sua influência na sociedade como um todo, com isso ele provoca, faz  pensar, faz refletir como nos deixamos monopolizar por corporações que nos dominam, com sua mídia e sua propaganda repetitiva, que funciona como lavagem cerebral.

A história de Hearst/Kane permanece bem atual quando nos vemos, ainda nos dias de hoje, a mercê dessas  corporações e monopólios - qualquer semelhança com a lavagem cerebral que a rede Globo exerce sobre o nosso povo alienado não é mera coincidência é só relembrar  a manipulação dos números do Ibope e a tentativa de fraude nas urnas na época do Brizola, o apoio explícito a ditadura militar como  a bomba no Riocentro plantada pelos militares e distorcida pela Globo e bem recentemente a manipulação e edição do debate do Lula e do Collor que acabou beneficiando o Collor.

"Brasil, muito além do cidadão kane" foi um documentário, realizado na década de 90 pela BBC de Londres, que denuncia a alarmante concentração de poder de imprensa sobre a manipulação de massas exercida pela poderosa "Organizações Roberto Marinho", mostra o envolvimento da rede Globo com contratos ilegais com empresas estrangeiras, o apoio incondicional aos governos ditatoriais no Brasil e tudo o que estiver a seu alcance para garantir seus interesses (veja, no final do texto, parte do documentário - para assistir todo, acesse o youtube).

O documentário denuncia a cultura de massas voltada para uma população aculturada, sem opinião própria, facilmente manipulada por uma minoria majoritária tal documentário, claro, nunca foi exibido na TV, pois, como no caso do "cidadão Kane", também aqui  o Sr Roberto Marinho tentou comprar (para destruir) o documentário mas não conseguiu – foi proibido no Brasil desde a estréia, em 1993, por decisão judicial.

O documentário mostra o domínio crescente da Globo na imprensa brasileira e mais do que isso, o filme explica como funciona a política brasileira de comunicações e os critérios arbitrários pelos quais se concedem e renovam as concessões de canais de televisão e rádio.

E hoje, após a morte do Sr Roberto Marinho, temos os “herdeiros” da política suja dele, na pessoa do bispo Edir Macedo que agora domina  a concessão de vários canais televisivos destruindo jornalistas que o desafia e o denuncia.

Não deixe de ver em DVD remasterizado "Cidadão Kane" e o DVD extra " A batalha por Cidadão kane" e também o documentário no youtube "Brasil, muito além do cidadão Kane".
 

 

 



quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Mau gosto não se discute, se lamenta

Já não é a primeira vez que insistem e tentam me convencer a ouvir "música sertaneja", ou melhor, "dupla sertaneja" (aliás, pseudo música sertaneja). Já disseram que era má vontade minha, que eu não me dava a chance de tentar ouvir (e gostar) desse tipo de música.

Juro que eu já tentei, e não foi só uma vez, não é má vontade, até fiz um esforço sobrenatural, mas...... não dá. Falta qualidade nas letras, são versos muito simplórios, e as tais “duplas sertanejas” são muuuuuito chatas, muuuuuito bregas, cantam gritando, com uma voz esganiçada, estridente, extremamente irritante (e olha que me indicaram os melhores, fico a imaginar os piores do ramo).

Há pouco tempo atrás fui convidada por uma amiga prá assistir a um desses shows (vulgarmente chamados de) "sertanejos", num bar noturno. Foi um sofrimento sem fim, ninguém dançava, a não ser umas “garotas” de vestimenta suspeita (apesar do lugar de relativo bom gosto), até que o cantor (se é que se pode chamar o dito cujo de cantor) resolve mudar o enfoque das letras das músicas anunciando, dali prá frente, tchan..... tchan.... tchan....tchan....

Pasmem,....“músicas de corno”. O interessante é que a pista de dança, até então vazia, de repente lotou, todos se animaram com as tais letras recheadas de “chifres”, cantando em uníssono com o tal cantor “ruinzinho”. Que coisa louca ....prá lá de bizarro, antigamente, declarar-se corno, era vexatório, agora é moda ostentar “galho”?

Música “sertaneja”, que nada, prá mim é mais uma massificação cultural, que de sertão não tem nada. Essa cultura de massa foi inventada para pura exploração comercial (não é novidade prá ninguém que, muitos cantores sem sucesso, iniciantes na MPB, eram convencidos pelos seus empresários, para entrarem nesse filão do mercado, pois era "retorno financeiro garantido"), visando um público aculturado, nada exigente, com cantores “chulé” que gritam, ao invés de cantarem, com letrinhas “chinfrim”, que qualquer caminhoneiro escreveria  e cantaria melhor (talvez até com mais sentimento e mais poesia).

Uma coisa é música de roça, interiorana, de raiz, isso sim, é legal. Na roça, “sertãozão” mesmo, não tem guitarra, os instrumentos que acompanham os cantores (em geral com vozes de lamento) são a gaita, o violão e o acordeom. O maior representante dessa música foi o Luís Gonzaga (com o clássico “Asa Branca”) e Gilberto Gil "arrasa" cantando "Paisagem na janela", uma autêntica música sertaneja, no ótimo filme "Eu, tu e eles"- veja vídeos no final do texto.

Assim como dizem que, o jazz e o blues é “a dor sofrida  transformada em dor cantada”, pelos negros escravos americanos catadores de algodão, saudosos de sua terra natal, a legítima música do sertão brasileiro é também sofrida, canta a dor do sertão, da seca, da pobreza infinita, .....  ao contrário, ouvir essas pseudo duplas “sertanejas”  é sofrimento sim, mas para os ouvidos, é pobreza sim, mas de espírito.

Os fervorosos defensores desse "pseudo gênero musical" dirão que o estilo é romântico, e que se não fosse bom, não lotaria os estádios e casas noturnas, discordo totalmente,

em primeiro lugar, esse tipo de música peca pelo excesso de cafonice, convenhamos, prá ser romântico não precisa ser brega, há  músicas excelentes da nossa MPB que são românticas e nada bregas, muito bem representadas por excelentes bandas, como por exemplo, Titãs e Paralamas do sucesso, e interpretações divinas na voz, por exemplo, da Marisa Monte e da Adriana Calcanhoto,

e em segundo lugar lotar um show não quer dizer nada, sempre haverá público lotando estádio em qualquer tipo de show. E lá vêm os defensores dizendo que “faz sucesso até nos EUA”, pode até fazer, mas o público que lota esse tipo de show, tem o Bush como líder, um “letrado” que não sabe se expressar nem na sua própria língua, aculturado, representante da pobreza intelectual daquele país, que mal consegue achar o próprio país no mapa,

e se lá, no 1º mundo, existe isso, imagine aqui com os “novos ricos”(o protótipo deles são os jogadores de futebol), ter dinheiro não significa ter cultura, muitos abastados são analfabetos culturais, daí vemos até a zona sul render-se ao ridículo funk, com suas letras de baixo calão, e sua dança vulgar de cunho sexual, nada sensual ( mulher nenhuma fica sensual numa dança que prima por movimentos simiescos e frenéticos, com celulites tremulando em roupas apertadas de gosto duvidoso – “calça da gang” vestindo as “cachorras” é o “ó do borogodó”),

pois pode apostar, as garotas da zona sul que curtem esse tipo de dança são, na sua grande maioria, pertencentes a classe social dos “novos ricos”, e são aculturadas e de cabeça oca, como qualquer excluído da zona norte, apesar de freqüentarem faculdade paga pelo papai “novo rico”, isso vale também pela preferência por essas músicas bregas sertanejas, de letrinhas chinfrim e cantores de voz esganiçada.

E se é prá lotar, temos os programas de gosto duvidoso que são campeões em audiência, os do tipo Silvio Santos, Faustão, e as baixarias explícitas como Big Brother, além das novelas com temas que giram em torno de  traições e mau-caratismo, todos sem exceção, têm audiência garantida, porque não fazem pensar, é só mediocridade explícita.

Rubens Alves, professor, escritor  e  psicanalista, escreveu sobre o “vício que as pessoas adquiriram de não pensar”, e dá “dicas” de como embotar mais e mais a mente, afirmando  que há "leituras especializadas" em impedir o pensamento, como  os jornais e revistas que publicam sempre os mesmos casos com caras e nomes diferentes ("O Globo" de domingo, revista “Caras”) assim fica garantido que só se pensará sempre as mesmas coisas”, e dá a dica prá “não se esquecer de ver o Silvio Santos e o Gugu Liberato” para mais alienado ainda ficar, pois assim “terás uma vida tranqüila embora banal, mas você não perceberá o quanto banal ela é”, termina o escritor.

Funciona como lavagem cerebral, ou seja, a falta de acesso a outros estilos musicais e a massificação da mídia tornam mais fácil a aceitação pelo público classe C que lota esses shows, pois as letras dessas músicas são precárias, não precisa usar massa cinzenta para entendê-las.

Quer um exemplo? Músicas horrendas de propaganda eleitoral e jingles chatérrimos de propaganda comercial ficam impregnadas no nosso subconsciente pela repetição em demasia, e sem percebermos, e apesar de muitas vezes detestarmos as  tais “musiquinhas”, acabamos por decorá-las e sem querer nos vemos cantarolando tais músicas.

Tal é o poder da mídia – é assim que funciona, lavagem cerebral total – com as músicas das aberturas de novelas então nem se fala, eu, por ex, detesto a música “como uma deusa” (sei lá se esse é o título) da tal cantora prá lá de brega Rosana, mas sei “de cor” quase toda a letra da música, tal a lavagem cerebral da época, de tanto que se ouvia essa musiquinha brega, o mesmo vale pro “Fuscão preto” e tantas outras lavagens cerebrais.

Portanto, não é má vontade, acontece que, depois que se tem acesso a estilos musicais como o blues e os jazzistas americanos, a um bom rock, a talentos como Tom Jobim, Chico Buarque, aos mineiros do Clube de esquina e seus seguidores, fica difícil gostar dessa falsa versão eletrônica camuflada de “música do sertão", pois a diferença na qualidade é gritante.

Isso vale também prá quase todos os  programas televisivos brasileiros – depois de assistir programas de bom padrão, que discutem política, boa música, educação e cultura, e que fazem pensar, como por exemplo, Manhattan Conection e Saia Justa (que infelizmente só passam na TV paga),

fica difícil assistir aos programas de gosto duvidoso (que infelizmente recheiam a TV aberta) como os Big Brothers da vida com seus temas que exaltam a depreciação do ser humano em zombarias e escárnio ao próximo, a exploração do corpo feminino em programinhas chulos com seus chavões repetitivos e de cunho sexual como Zorra total,

e fica igualmente difícil assistir a novelas recheadas de traição, antiética e mau-caratismo, como se fosse esse o universo normal, no dia a dia do brasileiro comum que, de tanto assistir a essas baixarias, passa a aceitar tais “predicados” como se fizesse parte da índole do brasileiro, inclusive dos nossos políticos, dos servidores e dos órgãos públicos, empresários, etc, como se traição, falta de ética e de caráter fizessem parte de uma "herança genética" maldita do povo brasileiro (quem nunca ouviu a máxima "brasileiro já nasce corrupto" e a famosa lei de Gérson "o importante é levar vantagem em tudo"?).

Bem, sei que o tema gera polêmica, mas afinal, anarquista ("graças a Deus”) que sou, só posso finalizar assim - gosto é gosto, não se discute, mas mau gosto, esse sim, se lamenta. 


P.S. Dos grupos atuais, o único, de razoável bom gosto, que realmente representam a música sertaneja, é o grupo "Falamansa" (vide abaixo).
 




sábado, 6 de fevereiro de 2010

"O mundo de Andy" de Milos Forman

Milos Forman é um diretor e tanto, quanto mais filmes dirige, mais surpreende com sua performance, transforma biografias, que aparentemente não entusiasmaria o grande público, em verdadeiras preciosidades,

como é o caso de “Amadeus”, numa época como a nossa, em que a ópera não é o estilo musical de grande parte do público que lotaria as salas de cinema, o diretor empolga ao mostrar a vida do músico através dos olhos invejosos do seu principal adversário, o músico Salieri, num misto de amor e ódio por um Mozart hilário, rebelde e perdulário. Ótimo filme.

O premiado diretor continuou mostrando sua performance em “O estranho no ninho”, excelente filme que projetou Jack Nicholson para sempre no mundo hollywoodiano, focado na rebeldia e loucura do personagem principal, que viraria a marca registrada do ator.

E em “O povo contra Larry Flint”, o diretor mais uma vez surpreende ao contar a  verdadeira história, da glória à ruína, de um conhecido empresário da indústria do sexo dos EUA, que desafiou até a Suprema Corte daquele país, com sua revista de sexo explícito e sua boca ferina.

“Na época do ragtime” é outro filme do premiado diretor que conta a trajetória do racismo no início do século XX em várias tramas paralelas. E só prá recordar, Milos Forman foi também o diretor do não menos famoso musical hippie “Hair” dos anos 70.

Mas muitos desconhecem outro grande momento desse renomado diretor. Estou me referindo ao filme “O mundo de Andy” (título original “Man on the moon”), mais uma vez Forman surpreende com uma direção primorosa, ao contar a conturbada vida do comediante americano Andy Kaufman (praticamente desconhecido aqui no Brasil) que morreu de câncer, na década de 80, aos 35 anos de idade.

A vida de Kaufman era por si só uma verdadeira comédia do absurdo, ele virou uma lenda em seu país, ao “sacudir” a América e questionar a mesmice da época,  é considerado o único comediante americano “dadaísta” até os dias de hoje, tal a verdadeira “anarquia” que era os seus shows, considerado o mais excêntrico, inovador, enigmático e imprevisível dos humoristas de sua época.

Absurdo, ilógico, repleto de improvisos, um mestre em provocar o público, na verdade ele era um personagem incômodo demais para aquela América cheia de pudor e preconceitos, seus shows às vezes era seguido de um silêncio sepulcral, outras vezes  terminavam em gargalhadas, às vezes em pancadarias e até em lágrimas, pois não se sabia nunca se ele estava sendo ele mesmo, ou se a provocação seria parte do show, mais uma das muitas performances dele.

Desafiava a platéia, provocava as mulheres, lia livros chatíssimos no palco quando não gostava da platéia, tinha performances hilárias imitando pessimamente algum artista ou político, para logo a seguir surpreender a platéia com imitações magistrais de outro nome conhecido (a cena em que ele ridiculamente “imita” alguns presidentes americanos, seguida da imitação magistral do Elvis Presley é hilária).

O comediante criou um personagem que era o seu alter-ego, um cantor mal-humorado e rabugento de nome Tony Clifton, que se apresentava, independente do comediante, em bares e shows noturnos, como se tivesse vida própria. Numa das cenas, como Tony Clifton, ele cisma que só subiria ao palco, se a platéia  apagasse o cigarro, ordem cumprida, no entanto ele próprio aparece no palco fumando e soltando fumaça em círculos, provocando a ira da platéia. Ele também participava de luta livre e promovia lutas entre mulheres, provocando-as e muitas vezes lutando com elas.

O ator Jim Carrey está inspiradíssimo como Andy Kaufman, ele é a caricatura explícita do comediante, numa performance espetacular. E o filme conta também com a participação de Danny de Vito como o verdadeiro George Shapiro, famoso empresário descobridor de talentos, e também da não menos pirada Courtney Love (a polêmica  viúva de Kurt Cobain, do Nirvana) como a namorada do comediante.

Muitos ousam dizer que Jim Carrey não interpreta o comediante, ele “É” o próprio Kaufman, e realmente, quem quiser comparar, veja o verdadeiro comediante nos vídeos no final do texto  tem aparições dele no David Letterman, no Saturday Night Live, e também na pele do seu alter-ego Tony Clifton. No vídeo, Jim Carrey em “Man on the moon 1999”, compare com o verdadeiro “Andy Kaufman becomes Elvis 1977”, Jim Carrey em “Tony Clifton 4“ e o verdadeiro “Tony Clifton at Harrah's”.

A música-título “Man on the moon” foi feita pelo ótimo grupo R.E.M, exclusivamente para homenagear o comediante, e o filme termina com uma dúvida que persiste até hoje no mundo artístico da América, se realmente o comediante morreu ou se ele forjou sua própria morte para sair do mundo do show business, enquanto estava no auge da carreira. Mais uma peça que ele pregou no público? Não deixem de ver. Vale a dica (abaixo o trailer com a música do R.E.M. e outros filmes de Milos Forman)













































 









Johnny "Ed Wood" Depp - o pior cineasta de todos os tempos

Diz o dito popular que “beleza não põe a mesa”, mas dirão os machistas que, se a mulher for "bonitona e gostosona" esse conceito não teria valor, mas a verdade é que só quem atura uma mulher descerebrada é obviamente um parceiro igualmente desprovido de cérebro e vice-versa.

Para nós, mulheres, a beleza do homem com certeza é preferencialmente desejada, mas não totalmente necessária. Claro que o ideal seria as duas qualidades num mesmo "espécime". No início tudo são “flores”, e a “belezura” de boca fechada é o máximo, mas com o tempo, aturar aculturado(a) só por ser bonitinho(a) é com certeza o “ó do borogodó”.

Isso vale em todos os níveis, até na fantasia do cinema, ser só bonitinho(a) cansa. Por exemplo, prá mim, o ator Richard Gere é o famoso "bonitinho" sem conteúdo, seus filmes giram sempre na mesma temática, e o ator está sempre com a mesma cara, só aceita papel em que atua como o "fodão", já o ator Johnny Depp é bonito, charmoso e a cada filme dele é sempre uma incógnita o seu personagem e uma surpresa a atuação dele.

Talentoso, Johnny Depp é um verdadeiro "camaleão", tem grande facilidade em interpretar papéis complexos, e muitas vezes, escolhe personagens bizarros e totalmente diferentes para interpretar. Bonito e sedutor - "vira e mexe" ganha repetidos títulos de "o mais sexy" , "o mais bonito", o mais “estiloso” do ano - ele usa sua arte de atuar com maestria e escolhe sempre personagens inéditos.

Papéis comuns, certeza da aceitação do público, principalmente feminino, o típico "galã de Hollywood", não o seduz - ao contrário do repetitivo Richard Gere, que faz sempre o papel do galã bonito e conquistador (basta ver apenas um filme do Gere e você simplesmente "já viu todos"). Ao contrário, aquele papel que ninguém quer, por covardia e/ou medo de se expor, é justamente esse que Depp escolhe.

Ousado, ele sempre está atrás de personagens polêmicos, a cada filme que atua temos um novo Johnny Depp em cena, na pele de um personagem sempre inusitado – ora ele é um pirata “do mal”, sujo e feio (se é que isso é possível) em “Piratas do Caribe”, ora ele é um galanteador romântico em “Chocolate” com Juliette Binoche, 

ora ele se fantasia como uma criação não humana, ingênua e sensível, em “Edward mãos de tesoura”, ora como o sensual "Don Juan de Marco" (ver vídeo abaixo com a música tema "Have you ever really loved a woman" de Brian Adams) atuando com (e "enfrentando") o ícone Marlon Brando, sob a direção de Francis Ford Copolla.



No suspense "Tempo esgotado" ele é um pai que tem a filha sequestrada e para salvá-la tem que assassinar uma mulher candidata ao governo local. Atuou como o criador do personagem Peter Pan no filme "Em busca da terra do nunca" e como o charmoso bandido Dillinger em "Inimigos públicos".

No filme "Gilbert Grape - Aprendiz de sonhador” ele é o conformado e protetor irmão mais velho de uma família repleta de traumas e conflitos, e o papel do irmão mais novo é interpretado pelo Leonardo di Caprio (veja cena desse filme no final do texto) –

pausa prá uma observação curiosa nesse filme – Di Caprio bastante jovem ainda, numa das suas primeiras aparições na telona, faz o papel de um pré-adolescente com certo grau de retardamento mental, num papel difícil e bastante convincente – meu filho, espirituoso como ele só, diz que "é a melhor atuação do ator, pois Leonardo di Caprio não precisou interpretar o personagem", numa alusão de que o ator é "normalmente" um tanto quanto “debilóide” (é bem verdade que atualmente anda melhorando na arte de representar).

Mas voltando ao camaleâo Johnny Depp, ele levou fama de rebelde a partir do filme "Cry Baby", fama essa reforçada por uma vida particular nada convencional, com envolvimento com drogas e com a polícia (nada muito grave, e parece que, com a idade, está mais compenetrado). 

Sempre ousado, Depp aceitou o papel de travesti no filme "Antes do anoitecer" contracenando com Javier Bardem, na biografia de um escritor homossexual cubano, exilado nos EUA, lutando pela sua liberdade de expressão e escolha sexual.

Carismático, costuma ser simpático e gentil com os fãs, e sua vida particular é um prato cheio pros paparazzis, seus casos amorosos são sempre alvo de fofoca, chegou a tatuar o nome "Winona Forever" no seu braço, na época do seu namoro com a atriz Winona Ryder (se envolveram na época do filme "Edward mãos de tesoura"). Depois do fim do namoro, Depp mudou a tatuagem para "Wino Forever" (bêbado para sempre).

Dos filmes ousados e polêmicos, que muitos recusaram, está o caso da biografia do "pior diretor de todos os tempos", Johnny Depp é o bizarro "Ed Wood". Mais uma vez, Johnny Depp "jogou" e acertou em cheio. O filme, em preto e branco (mais uma ousadia que ele apostou junto com o não menos ousado diretor Tim Burton) é um primor, graças ao talento de Depp, que incorpora magistralmente a biografia prá lá de polêmica do "pior diretor" de filmes trash, de terror e de ficção científica, da década de 50 (veja cenas do filme no final do texto).

O cineasta Ed Wood, hoje consagrado "um cult" do cinema classe B, se considerava um incompreendido, mas seus filmes eram tão precários em efeitos especiais (por parcos recursos técnicos e financeiros), que o que deveria ser terror, virou um verdadeiro "terrir", daí hoje um cult, descobrir as falhas bizarras nos filmes dele passou a ser um "hobby" cultivado pelos cinéfilos.

Por exemplo, ele usava isopor no lugar de concreto nas cenas de cemitério, que tombavam no meio da cena (e ele não regravava a cena, mantinha o embuste descaradamente na telona), usava pratos de cozinha prá simular um disco voador, todo o cenário dos seus filmes era ridiculamente precário, com atores de 2ª linha ou atores em fim de carreira como o ator Bela Lugosi, famoso ator decadente de filmes B da época (encarnou "Drácula" dos anos 30).

Vale a pena assistir Johnny “Ed Wood” Depp, numa caricatura genial do “pior cineasta de todos os tempos”.










quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Clichês difíceis de derrubar

Certos clichês são difíceis de derrubar, como por exemplo, o mais famoso deles, que os machistas chauvinistas adoram, reforçados ainda mais com piadas típicas, de que “toda loira é burra”. Mesmo mulher não loira, mas avessa a esses estereótipos, tenho que admitir que é difícil derrubar esse protótipo do imaginário popular, no caso das loiras, pois são décadas e mais décadas de exposição da loira (infelizmente com o aval delas e muito por culpa delas) como símbolo sexual e QI de “ameba paralítica de plástico”.

A “loira burra” original foi a protagonista do livro “Os homens preferem as loiras” escrito na década de 20 e encarnada no filme homônimo com a atriz Marilyn Monroe (que era na verdade morena) que ajudou a sedimentar a velha e sempre atual oposição “loira burra” x “morena inteligente” que ronda até hoje o imaginário popular. Tanto que, na literatura, a sequência desse livro foi justamente o livro “Mas os homens casam-se com as morenas”.

Todo clichê em geral é recheado de preconceitos e nem sempre revela uma verdade 100% verdadeira, mas concordo que é difícil derrubá-los, por isso que me perdoem os amigos flamenguistas, mas o clichê que me persegue é o dos machos que insistem em vestir a camisa rubro-negra,

por mais que eu tente, não consigo desvincular a imagem deles à de um perfeito debilóide, mesmo que eu, a seguir, descubra que o fulano é até um letrado, mas infelizmente a primeira impressão é a que fica, meio tipo a loira burra. No imaginário popular, o bêbado e/ou baderneiro sempre estará envergando a camisa rubro-negra, nunca será a de outro time carioca.

E prá reforçar como é fácil vincular a imagem deles a um “desprovido de cérebro”, há a piada clássica de Einstein que, numa festa, depois de altos papos com QIs elevados, de teoria da relatividade a física quântica, se vê diante de um sujeito com QI de 10, então puxa conversa com a frase fatídica: “e aí, mano, tranqüilo? E o Mengão?”

A camisa rubro-negra é também vista frequentemente em “ratos de academia” e sem querer estes também me remetem ao estereótipo de pouquíssima massa cinzenta, já que aparentemente o cara passa o tempo todo dele entre assistir os jogos do seu time, “zoar” os outros times e a “bombar” os músculos esqueléticos, sobrando pouco tempo para “malhar” o cérebro.

Peço mais uma vez perdão aos amigos flamenguistas, mas deve ser trauma de infância, porque por mais que eu tente, não consigo desvincular a imagem da camisa rubro-negra à dos mendigos e/ou bêbados que rondavam os arredores da minha casa na minha infância, algo parecido com os filmes de Drácula e Frankenstein que aterrorizavam nossos pesadelos infantis,

e prá piorar eu morava em frente a uma casa onde o velho morador, por acaso avô de uma amiguinha vizinha, tinha um quartinho nos fundos da casa que vivia fechado, um mistério aquele cubículo, eis que um “belo” dia, deparo com a porta do mesmo entreaberta,

e minha curiosidade de menina me fez olhar prá dentro daquele minúsculo quartinho e deparei com cores vermelha e preta espalhadas nas paredes daquele cubículo,  além de velas vermelhas acesas e a imagem de um diabo em negro reluzente com um tridente vermelho sangue.

Hoje, quando vejo a torcida ruidosa, briguenta e baderneira dos torcedores do Flamengo, com aquela profusão de fumaça e explosões em cores vermelha e preta, não há como não vincular a imagem àquela dantesca da minha infância naquele cubículo infernal.

Decididamente nem anos de terapia me tirarão essa imagem horripilante que carrego desde menina, e a pentelha torcida flamenguista (tema de um dos meus textos em outubro de 2009) não tem ajudado muito prá que eu me livre desse trauma (aliás só tem reforçado). Sinto, amigos flamenguistas, mas definitivamente a torcida rubro-negra (aliás, vermelho e preto definitivamente são cores que não combinam e as listras nessas cores dão um certo ar de “presidiário do inferno”) me remete a lembrança de uma verdadeira “visão do inferno” (veja imagem no final do texto e certamente concordarão comigo).

P.S. Detalhe, já escrevi sobre outra “visão do inferno” (link abaixo) e prá variar, o sujeito em questão é flamenguista doente (só podia ser), assim, sinto muito, mas fica cada vez mais difícil derrubar esse famoso estereótipo. 
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2009/11/visao-do-inferno.html


terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Coisas para assistir antes de morrer - Os irmãos Marx

Se existe alguma coisa que “não podemos deixar de fazer (ou de assistir) antes de morrer”, uma delas é sermos “apresentados” aos irmãos Marx, os hilários “Marx Brothers”, famosos comediantes dos anos 30, que até hoje são imitados pelos grandes humoristas da atualidade. Não conhecê-los é, para mim, uma “perda irreparável”.

É difícil não se render ao talento desses comediantes (meus filhos adolescentes adoram), e há pouco tempo “apresentei-os” a um sobrinho pré-adolescente que inicialmente relutou em ver (o comentário nada animador dele foi: “em preto e branco, e ainda dos anos 30, sem efeitos especiais, titia?”), mas acabou se rendendo, e gostou tanto a ponto de me pentelhar querendo mais e mais cenas dos famosos irmãos.

Nova-iorquinos, filhos de imigrantes judeus, inicialmente eram cinco músicos que se apresentavam nas noites do Brooklin tocando (piano, violão e harpa) e cantando junto com a mãe, mas apenas três deles (Harpo, Chico e Groucho) ficaram conhecidos  como comediantes.

Tudo começou quando, durante os seus números musicais, ”rolava” um pouco do potencial cômico da “trupe”, e o público aprovou, então  resolveram incluir nas apresentações musicais alguma comédia incidental (seriam os precursores da comédia “stand up” de hoje), fizeram sucesso, foram para o teatro e chegaram finalmente ao cinema.

Nos filmes, em geral sob a forma de musicais ingênuos (onde exibiam também seus talentos vocais e instrumentais) faziam tipos bem marcados: Groucho com seu bigode e sobrancelhas vastos (“reforçados” na verdade por pintura extra) e o seu famoso “andar de pato”, em geral fazia papel de um impostor volúvel e galanteador incorrigível, sempre “agarrado” ao seu charuto; já o Chico sempre como o malandro simpático e seu falso sotaque italiano; e o Harpo, o “mudinho” (na verdade não era mudo), sempre gaiato e um tanto quanto tarado.

Ficaram famosos nos anos 30 e permaneceram na mídia por mais de 30 anos, devido a  brilhante inventividade desses irmãos, que eram fervorosos críticos humorísticos aos costumes e ao modo de vida dos americanos. Com um aguçado e bizarro senso de humor “azucrinavam”, literalmente tocando o terror satirizavam a alta sociedade e a hipocrisia americana, mas tudo muito bem “camuflado” dentro de uma comédia musical que passava levemente pelo pastelão.

A famosa “gag” dos espelhos é impagável  Harpo e Chico se vestem como Groucho e o “imitam” num falso espelho – a cena hilária e divertida faz parte do filme “Duck Soup” (no Brasil “Diabo a quatro”).





Esta cena do falso espelho já foi imitada por vários comediantes (inclusive a cena já foi montada  em pleno metrô de Nova York com gêmeos idênticos - assista “Human mirror no final do texto) e até em desenhos animados (em Family guy com o menino do desenho e ninguém menos que... Hitler... kkk).




Com suas gags e situações cômicas se tornaram ídolos de grandes celebridades de outrora e da atualidade, tendo até hoje “seguidores fiéis”, tais como Robin Willians, Billie Cristal, Woody Allen, Jerry Seinfeld (o humorista já recriou a cena do “cômodo apinhado de gente” em um dos episódios de sua série “Seinfeld”, no canal Sony Entertainment Television – ele adaptou a cena original da cabine de um trem (abaixo), para um cubículo de zelador de um prédio (no final do texto). 





E até o Jô Soares já imitou a famosa “dança” das mãos ao piano, cena em que Chico e Harpo “arrasam” ao piano, brincando com as quatro mãos, inclusive tocando mamãe eu quero”, da nossa famosa Carmem Miranda (que inclusive participou de alguns filmes deles).


Groucho era o mentor intelectual do grupo, se caracterizou pela irreverência e humor perspicaz. É dele a famosa frase (repetida por Woody Allen em “Annie Hall”, que já comentei): “eu não frequento clubes que me aceitem como sócio”. Quando por exemplo uma fã o cumprimentou com o usual ”prazer em conhecê-lo” ele respondeu: “me conheço há anos e nunca tive nenhum prazer nisso”. 

Suas tiradas inesperadas recheiam os seus filmes, como numa das cenas em que Groucho pede ao garçom uma laranjada. O garçom diz que não tem. Groucho então pergunta se têm pato com laranja. O garçom responde que sim. Groucho fulmina: "Então esprema o pato e me traga a laranjada". 

No seu programa de TV perguntou a uma mulher o porquê de tantos filhos, ao que ela responde “adoro crianças e amo meu marido”, e ele imediatamente dispara: “eu também amo meu charuto, mas de vez em quando, eu o tiro da boca”. 

O que Groucho realmente tinha de único, era o talento para unir um gênero caótico de comédia à habilidade para demolir tudo o que cheirasse a autoridade – fosse ela qual fosse. 

E, se hoje cansamos de ouvir “...se hay govierno, hay poder, hay ...  soy contra” devemos ao talento deste comediante pois é dele a máxima “I don’t  know what they have to say, it makes no difference, anyway, wathever it is, I’m against it”. Groucho, o irreverente “anarquista” (não é a toa que eu, como adorável anarquista, adoro este falecido comediante). 

E, detalhe, sempre atual, recentemente em dezembro de 2009, o partido republicano conservador americano adaptou a cena do Groucho, “I’m against”, para se posicionar contra a reforma da saúde de Obama nos EUA. 



Assim, não deixem de conferir, o talento único desses geniais músicos comediantes. Os melhores filmes são “Duck Soup  (Diabo a quatro”) e “A night at the opera”, mas há cenas hilárias em praticamente todos os filmes dos irmãos.



no filme “Todos dizem eu te amo” (trailer no fim do texto)Woody Allen fez uma bela e divertida homenagem aos musicais de outrora (com os atores Alan Alda, Julia Robert, Edward Norton tentando “desesperadamente” imitar, sem conseguirem, e por isso mesmo hilário, de Fred Astaire a Gene Kelly), e aproveita para homenagear os famosos irmãos, vestindo todo o elenco do filme, numa festa, como um deles (o Groucho Marx com o famoso bigode e sobrancelhas).



E Allen intitula a sua película com o nome da famosa música  Everybody says I love you (que ele coloca na abertura e no final do filme) que é de autoria dos irmãos Marx.


Mesmo em preto e branco - e até por isso genial, pela originalidade, sem os efeitos especiais dos dias de hoje, apenas pura criatividade - eles continuam divertidíssimos e ingenuamente (mas nem tanto) irreverentes.  E mais uma vez repito, eles eram impagáveis 









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