Imagem

Imagem

Select Language

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Nem só de lixo e escória vive o mundo masculino

O meu último texto no blog deu o que falar (sobre a mastectomia preventiva da atriz Angelina Jolie e a flacidez da idade). Agradeço os inúmeros acessos e os elogios que recebi por e-mails (como sempre, evitam comentários diretamente no blog), incentivos tão importantes pois servem para que eu continue a escrever. 

O meu texto inclusive ganhou um espaço exclusivo em outro blog, "A Janela do Abelha”, aliás um ótimo blog sobre política e afins (do jeito que eu gosto, ou seja, politicamente incorreto), que eu recomendo, e que inclusive pode ser acessado por aqui, a partir do meu blog (link na “minha lista de blogs”, na coluna lateral).

E, como tudo que acontece na minha vida me serve de fonte de inspiração para escrever, aproveito outro tema de um dos meus últimos textos, sobre cantadas vindas de homens com H e h, pois diante de uma boa cantada, nós mulheres nos deixamos envolver até onde haja respeito e consideração.

Como sempre me pegam para "conselheira sentimental", estava eu dando umas dicas sobre relacionamentos para um amigo, eis que um charmoso e praticamente desconhecido espécime masculino, ao ouvir a deixa sentimental para o meu amigo em questão, me pergunta sutilmente se, além de médica, assim como eu estava aconselhando o meu amigo, se também eu poderia ser ouvinte das suas “lamúrias sentimentais”, e aproveitou a deixa para me convidar para um chopp. 

Fingi na hora que não entendi a cantada, mas depois pensei bem e, como o fulano me pareceu um espécime raro do mundo masculino, decidi reconsiderar a cantada sutil. Por que não dar uma chance, quem sabe esse espécime seja um dos poucos raros, sensíveis e respeitadores que andam por aí? Decidi procurá-lo minutos antes de ele deixar o recinto, e deixá-lo, ao menos, conhecer um pouco de mim, através do meu blog, e ensinei-o “como me achar” no google. Se ele realmente se interessou, vai acabar lendo esse texto e se reconhecerá nele, e quem sabe...

E, como para mim, “a vida é um filme inacabado”, juntando esses meus dois últimos textos (sobre “cantadas e homem com H e h” e o outro sobre a “flacidez masculina/feminina”), eu literalmente não consigo ficar calada quando sou confrontada com a mediocridade de alguns outros espécimes masculinos; assim, surgiu essa nova inquietação que me tomou "de assalto", e se transformou em mais um texto questionador.

Existem homens (com h minúsculo) que têm a capacidade de me causar ojeriza, nojo mesmo. Um deles é um professor de medicina, que se acha (mas não é) um expert em ecocardiografia, e me dá asco ouvir o monte de asneiras que ele professa, durante sessões clínicas, na Universidade em que trabalho (saí, no meio de uma dessas sessões, sem reagir, pois era a única coisa sensata a fazer, pois não há o que discutir diante de tanta asneira e burrice vinda de uma só pessoa). 

Fico a me perguntar como podem deixar um embuste como ele continuar a ensinar o que não tem o menor domínio, ele é de uma incompetência sem par em ecocardiografia (não tem noção do básico em Doppler), me dá ojeriza ouvir tanta burrice e tanto engodo vindos de uma só pessoa, e mais asco ainda perceber que as pessoas à volta não enxergam (muitos sabem, mas fingem não saber) o quão incompetente e mau caráter é o sujeitinho asqueroso.

Outro espécime que me dá ojeriza só de lembrar é o tal que me envolvi há pouco tempo, pois hoje sei que o mesmo não vale nada e, como muitos homens com h minúsculo, esse em questão tem uma “senhora” lábia, engana que só ele, mas claro, não por muito tempo. Este foi o segundo "cafa" que bobeei e deixei entrar na minha vida, mas meu amor próprio e minha auto estima sempre falam mais alto, e rapidamente consigo me livrar deles. 

Em compensação, enquanto uns se camuflam muito bem, outros ao contrário parecem fazer questão de se revelar o esgoto e a escória do mundo macho, logo de cara.

E foi assim que nasceu esse novo texto, fresquinho, saído do forno, por conta de uma nova indagação (e indignação) que tive, ao me deparar esta semana, com um tipinho desses, ou seja, a legítima escória do mundo machista, ao ter que lidar com um estranho que se revelou de cara o protótipo do homenzinho (com h minúsculo) mais asqueroso que já topei na minha vida e que, sem nenhum pudor, escandalosamente assume, e resume, todo o contexto dos meus dois últimos textos.

Estava eu realizando exames ecocardiográficos de rotina numa das clínicas que trabalho, quando adentra na minha sala o tal sujeito, que contava com seus avançados setenta e poucos anos de idade, e o exame era, segundo ele, um “check up”, porque ele queria usar, pasmem, testosterona, e estava fazendo uma 'bateria de exames", porque tinha medo que "a droga provocasse câncer” e comentou inclusive sobre o caso da atriz Angelina Jolie.

E, do nada, aliás, muito à vontade, sem nenhum pudor, começou a contar que tem, nada mais nada menos, cinco mulheres, todas aos seus pés.  A primeira é a própria esposa que é da idade dele, e não forneceu mais detalhes. 

Uma segunda mulher, que é uma sessentona “apaixonada por ele”, e que ele aproveitava para explorar os serviços dela; segundo ele, a tal organiza toda a agenda dele (pessoal e profissional), de graça, esperando “algo” em troca, mas como ela já é “coroa” e tem mau hálito (pasmem, “a coroa” é, pelo menos, dez anos mais jovem que ele), ele não a quer.

A terceira mulher é uma de 39 anos, que ele montou uma casa (ele se diz "finalmente rico" e agora quer “aproveitar a vida”) para ela e o filho de dois anos, que até então ele achava que era dele, até fazer o exame de DNA e descobrir que o filho é de um sargentão da PM (eu diria do Ricardão, mas tive que me conter, e ser apenas ouvinte de tanta barbaridade) e o pobre infeliz não se dá por vencido, e diz que a tal mulher de 39 anos “é uma coitada” (e o chifrudo, o que é então?).

Mas o fulaninho não entrega os pontos, pois a atual tem "trinta aninhos", e o sujeitinho de setenta e poucos anos diz "estar rico e curtindo a vida" vivendo essa “paixão” de 30 anos de idade pois, segundo ele, a trintona está apaixonadíssima por ele (“leia-se", pela dinheirama dele).

Um corno velho é o que o sujeito é, e o pior, sem noção. Vamos então ao pobre diabo por dentro e por fora: o exame do coração e carótidas mostravam órgãos normais, mas com todos os sinais de envelhecimento (fiz questão de frisar bem isso, e bem detalhadamente, no laudo), e o exterior do tipinho constava de um indivíduo magro sem barriga, mas com o peitoral caído, a pele flácida, cabelos rarefeitos e grisalhos, e manchas senis nos braços. Não era o "cão chupando manga", mas também não tinha nenhum traço ou resquício de beleza alguma, diga-se de passagem.

Tive ímpetos de pegar o endereço dele e mandar de presente um espelho, porque o sujeitinho está precisando de um, pois provavelmente a bunda e o saco também estão caídos, mas o Viagra ainda engana bem, e o sujeitinho se acha o tal, vai levar outra corneada homérica e ficar pobre com o saco murcho, a bunda caída, e com câncer no pau. Um asco. Um lixo humano.

O sujeitinho desqualificado ainda teve a audácia de contar que abandonou uma quinta mulher, pois a mesma teve câncer de mama e teve que sofrer mastectomia, e ele diz com a cara mais lavada que não tem tesão (ou Viagra, eu diria) por mulher com cicatriz pelo corpo.

Sujeitinho asqueroso e desprezível como esse, eu nunca tinha tido o desprazer de conhecer, até então. E desabafo aqui, porque não pude responder a altura, pois minha posição na ocasião não me permitia revidar a vontade de vomitar que senti na hora.

E como a razão do meu blog existir é que considero “a vida um filme inacabado”, e “tudo que acontece na minha vida me leva ao mundo do cinema”, esse diálogo surreal com esse crápula setentão, eu não poderia deixar de exemplificar esse texto, sem uma película representativa. Depois de tanta mediocridade sem poder reagir, o melhor a fazer é assistir a magia do cinema, para nos devolver a vontade e a tolerância para suportar esse mundo real machista asqueroso.

Assim, recomendo os belos filmes abaixo sobre diferentes tipos de relacionamentos (amorosos, amistosos ou fraternos) de verdadeiros homens com H maiúsculo com mulheres mais velhas que eles, em que o respeito é primordial e recíproco, qualquer que seja o relacionamento e a idade em questão.

O antigo drama romântico “Houve uma vez um verão” ("Summer of 42", da década de 70, com sua bela trilha sonora instrumental) mostra o aprendizado e a iniciação sexual de um jovem adolescente com uma mulher madura em plena segunda guerra mundial.

“Simplesmente complicado” traz uma Meryl Street divinamente madura, muito segura de si em suas relações amorosas, praticamente de bem com o seu visual e seu corpo (tanto a personagem como a própria atriz), do alto dos seus atuais sessenta e poucos anos. 

“Minhas tardes com Margueritte” é um poético filme francês que traz o bonachão Gerald Depardieu em perfeita sintonia com a veterana e oitentona atriz francesa Giséle Casadesus num inexplicável e belo encontro de almas.

E a divertida comédia dramática “Ensina-me a viver” (link abaixo para texto sobre esse filme "Harold and Maude") nos faz acreditar que o mundo ainda não está totalmente perdido.

E como a música também faz parte do meu universo, deixo a bela música "Super-Homem" do Gilberto Gil, para provar que ainda tenho esperança no mundo masculino.
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2009/11/o-filme-ensina-me-viver-harold-and.html













domingo, 26 de maio de 2013

O documentário "Baring it all" (sobre Ca de mama): isso sim é coragem

Adoro uma polêmica. E estranhei o porquê da tão pouca polêmica contra a decisão da bela atriz Angelina Jolie, em relação a exposição da sua resolução de extirpar radicalmente as suas glândulas mamárias. Falatório à parte, notei que poucos criticaram negativamente a decisão da midiática (mas não tão talentosa) atriz. Ao contrário, o que mais se comentou foi a "coragem" da atriz. Coragem ???!!!

A decisão de extirpar as mamas é, com certeza, um direito dela e ninguém tem nada com isso. O que me pareceu deveras irresponsável, e questiono aqui, é o artigo que ela escreveu, tratando a mastectomia preventiva como se fosse uma opção inquestionável e consagrada pela medicina (principalmente por ela não ter domínio da área médica, e por ela ser a celebridade que é, portanto influenciável e “formadora de opinião” de um público sedento de pirotecnias e soluções medicinais e estéticas milagrosas).

Alegam, os prós-Angelina Jolie, que o tratamento convencional da doença – mastectomia radical, radioterapia, quimioterapia, com todos os malefícios do tratamento como queda de cabelos e outros – deixa marcas profundas, e ainda a dúvida se em 5-10 anos a doença estaria ainda ativa ou não, o que justificaria a atitude radical da dupla mastectomia preventiva.

Com certeza, não é nada animador o tratamento da doença, principalmente se há um histórico familiar importante, como no caso da atriz em questão, mas a pergunta que não quer calar: se não houvesse a possibilidade da reconstrução imediata da mama com prótese de silicone, a atriz persistiria na idéia da mastectomia preventiva radical? Se ela tivesse que esperar meses sem as mamas (como acontece em muitos casos da doença), a tal "coragem" persistiria?

Pergunto-me se, nesse caso (se não houvesse a alternativa imediata do silicone), se a saúde continuaria como prioridade da atriz, já que a história de 87% de chance genética de desenvolver a doença continuaria? Ou ela iria optar, como a maioria de nós, por um controle periódico rigoroso para detectar a doença precocemente, e só então, caso a doença se manifestasse, é que decidiria entre a vida e a sexualidade feminina representada pela mama? 

Para mim, a divulgação midiática com grande repercussão internacional, que lhe rendeu capa na “Times” e no mundo inteiro, me pareceu mais uma propaganda hollywoodiana para ter o aval do público, pois agora a atriz tem uma bela desculpa para recuperar o vigor dos seios aos 36 anos de idade, por conta dos novos “air-bags” artificiais. O que me causa estranheza é a maratona das cirurgias que a atriz se submeteu ter passado longe dos "paparazzi" (qualquer passo da atriz, em geral, é seguido de perto pelos tais) e, de repente, a própria atriz chama a mídia para comunicar seu ato publicamente???!!!  

Se as internações e as intervenções tivessem sido descobertas pelos "paparazzi" (estranho isso não ter acontecido, não?), e ela resolvesse então contar a sua decisão (que é um direito dela) e sua maratona cirúrgica, vá lá, aí sim eu acreditaria nesse embuste, pois sua decisão mesmo silenciosa, ao ser descoberta, por ser tão famosa, ainda assim ela iria influenciar as decisões de centenas de mulheres; mas do jeito que foi, me cheira a propaganda hollywoodiana, e o pior, com o aval da equipe médica, que para mim me soa irresponsável e mercenária. 

Ou seja, as pesquisas já mostraram, em inúmeras estatísticas, que a maioria dos homens (principalmente o americano) curte muito mais um silicone do que um seio natural, afinal nenhuma mulher de 35-40 anos (a idade da Angelina Jolie) mantém o vigor da mama dos seus 15-20 anos de idade, e como sempre, nós mulheres ainda vivemos a ditadura do corpo, e continuamos a nos mutilar para agradar ao sexo masculino.

Ora, o câncer de ovário (que é a doença da mãe da atriz) é muito mais difícil de detectar que o de mama, então por que diabos a atriz não começou por esse órgão? Eu mesma respondo essa: porque a atriz não precisa de uma lipo nem de plástica abdominal, e sim de silicone, pois vem exibindo uma magreza descomunal num processo de depressão com perda de peso, e com certeza o vigor da mama se foi também.

A última passagem da atriz pelo tapete vermelho foi um fiasco no Oscar 2012 (vídeo abaixo), quando foi massacrada pelas imagens dos cambitos de pernas ossudas, e com certeza a magreza dela se repercutiu nos seios, com provável queda dos mesmos, e nada como um bom par de "air bags" artificiais para resolver o problema (e o marido Brad Pitt deve ser mais um que engrossa o ranking de preferência pelo artificial). E o histórico familiar do câncer de mama é melhor desculpa que a flacidez da mama.


É comum piadas sobre a fatídica queda dos seios da mulher  por que o seio da mulher cai com a idade? E de todas as opções de respostas (efeito da gravidade, aleitamento, etc ), a resposta maldosa mais correta seria: “com a idade, o peito da mulher cai para acompanhar a bunda”.

Maldades machistas. Mas nós, mulheres, deveríamos lembrar que ainda temos a vantagem de uma gordurinha extra em locais estratégicos, que disfarça a perda e atrofia muscular do glúteo e da mama que acontece com a idade; já o homem sem esse natural enchimento adiposo, com a idade a pele fica flácida e a musculatura atrofia, e assim cai o saco, cai a bunda, e pior, cai o pau, mas nenhum deles se dá por vencido, mesmo com o saco e a bunda murchas tomam viagra e querem nos trocar por duas de vinte, enquanto nós mulheres nos torturamos com cirurgias plásticas, preenchimentos, botox, lipos e outras mutilações bizarras para agradar ao mundo macho.

A mulher usa pílula com todas as suas complicações vasculares (pode levar a varizes e tromboses ameaçadoras de vida) e passa por anestesias e riscos para laqueadura de trompas, porque o homem se recusa a fazer vasectomia (uma microcirurgia com anestesia local praticamente sem complicações), alegando equivocadamente que vai perder a virilidade. 

Uma ótima piada ressaltando esses abusos do mundo machista  homem explica ao filho os três tipos de seios femininos: aos 20 anos, são como melões, firmes e redondos, aos 30-40 anos os seios são como peras, ainda belos, mas um pouco caídos, e aos 50 anos são como cebolas, quando você olha para eles dá vontade de chorar; eis que a filha pergunta a mãe os tipos de pênis, ao que ela rebate respondendo ao despropósito do marido: aos 20 anos o pênis é como um pé de jacarandá, respeitável e firme, aos 30-40 anos um pé de chorão, flexível mas ainda confiável, e após os 50 anos o pênis é como uma árvore de natal, morto da raiz até a ponta, com bolas penduradas como decoração, e o pior, só arma uma vez por ano.

Outra ótima piada, para irmos à forra: um matemático deixa, para sua mulher cinquentona, um bilhete: querida, sinto muito, você com seus 50 anos já não me satisfaz nas minhas necessidades, assim só vou chegar à meia noite, pois estarei com minha secretária de 18 anos num motel. Ao chegar em casa, à meia noite, encontra um bilhete da esposa: querido, você também tem 50 anos, e compreenderás que estamos na mesma, assim não me espere, pois estou num motel com meu personal trainer de 18 anos, afinal você, como ótimo matemático que é, bem sabe que “18 cabe mais vezes em 50 do que 50 em 18”, então não me espere, só chego amanhã, e olhe lá.

Em resumo, nós mulheres, precisamos melhorar nossa auto estima e nos aceitarmos como somos, e nos livrarmos da tirania em cima do nosso corpo. Se somos nós que engravidamos, porque temos que suportar homens barrigudos? Qual a desculpa para a pança avantajada de grande parte dos homens pois, com a gravidez, nós é que temos o direito de ter uma barriguinha extra, e por que nós é que temos que nos submeter a cirurgias plásticas e lipoaspirações?

E quanto ao câncer no cérebro? Vamos extirpar esse órgão caso a genética indique alta probabilidade familiar? É bem verdade que tem gente que não tem massa cinzenta, e não fará nenhuma falta (se bobear é o caso da bela atriz, oops, maldade minha). Como costumo brincar com minha sobrinha: “usa a bundinha”, apontando para a cabeça dela, numa alusão de que cérebro de um pré-adolescente só tem merda (mas minha sobrinha lindinha sabe que falo de brincadeira, quando ela não quer pensar muito, antes de responder ao dever da escola, pois ela sabe o que eu acho, só porque se é bonita, não tem que ser burra).

Na revista Época, o depoimento mais consciencioso, a meu ver, foi de uma carioca de 46 anos que, apesar de toda a chance de desenvolver o câncer familiar (fez inclusive o teste genético, que foi positivo), se recusou a ser mutilada com a proposta da mastectomia preventiva, faz exames periódicos para tentar detectar precocemente a doença, e revelou: “não sou uma estatística, sou uma pessoa”. 

E, nas redes sociais, choveram mensagens elogiando “a coragem” da atriz Angelina Jolie mas, coragem mesmo de verdade têm as mulheres do “Baring It All” (a tradução em português seria, mais ou menos, "Desnudando tudo"), um documentário sobre o “Projeto SCAR”, filmado em 2011 (vídeo no final do texto), com imagens do fotógrafo David Jay, ao som da bela música "My Angel" na performance da bela voz do cantor Adrian Edward Rhen.

Este documentário inspirador coloca um rosto humano sobre o heroísmo de mulheres sobreviventes de câncer de mama em seus 20-50 anos que se deixaram fotografar com suas cicatrizes em vários estágios da doença (a doença pode impedir a reconstituição mamária precoce com implante de silicone, o que não foi o caso da atriz que, por não ter a doença, pôde ganhar os "air bags" imediatamente, assim é fácil ser "corajosa"). 

No documentário, os retratos nus expõem muito mais do que suas cicatrizes e calvícies. A imagem das mulheres é bonita, desafiadora e poderosa. Ali sim, o que não faltou foi coragem, muita coragem. 





domingo, 19 de maio de 2013

Homens com H e h: cantada, preconceito e machismo

Um anônimo acaba de deixar um comentário, sobre o meu texto “O eterno preconceito contra as mulheres",  no meu blog: “Na verdade, existem Homens e homens. Os Homens (com H maiúsculo) são inteligentes e seguros, não precisam oprimir, nem ignorar e nem ridicularizar a mulher, eles vêem a mulher como parceira para evoluir, não se sentem feminilizados por isso e nem tem medo de perder o tal poder. Já os homens (minúsculos, acrescento eu, em todos os sentidos) são preconceituosos, imaturos e ignorantes, têm medo de perder aquela pose machista do passado e por isso, ficam querendo inferiorizar a mulher. A boa notícia é que, esses últimos não passam de fósseis em extinção, um dia eles sumirão do planeta, ah, sim, sumirão!” (link* no final do texto).

Em outro meu texto, intitulado “Efeitos especiais: making of no cinema” (link** no final do texto) comento sobre a produção do vídeo “Sunscream”, e recordo aqui algumas das frases mais reveladoras do vídeo: “Não trate os sentimentos alheios de forma irresponsável”. “Não tolere aqueles que agem de forma irresponsável em relação a você”. “Lembre-se dos elogios que recebe; esqueça os insultos (se conseguir fazer isso, diga-me como)”.
Por que a lembrança desses textos antigos e do comentário? Já me explico.

Fui pedir auxílio, numa pesquisa num arquivo no meu trabalho, a um sujeito que estava no seu intervalo de almoço, zapeando pela rede em busca de lugares para mergulho e pesca submarina. Inocentemente (querendo ser simpática, ainda mais por estar atrapalhando o indivíduo em questão em sua hora de descanso), comentei que também gostava e já tinha praticado tal esporte. Para minha surpresa, terminada a pesquisa, me deparo com o tal sujeito no meu encalço pelo corredor do prédio, me alcançando já no elevador.

Meio sem graça e sem papo, falou do tempo que estava algo chuvoso e que, mesmo assim, iria fazer o tal passeio submarino, e eis que, de repente, me convida, se eu não gostaria de ir com ele... só então percebi que o cara deve ter achado o meu comentário (sobre o mergulho) uma cantada para ser convidada, e então aproveitou a deixa, e fez o convite... delicadamente, agradeci inventando uma desculpa qualquer e pronto, nos despedimos sem maiores transtornos.

Me chamou a atenção como, às vezes, interpretamos as coisas equivocadamente. Acho que tem a ver com a nossa receptividade do momento. Um simples elogio pode ser interpretado como uma cantada ou vice-versa, dependendo do “espírito” de quem dá ou recebe a cantada/elogio.
A grande diferença está em como contornar a situação, sem magoar o iludido que entendeu o comentário ou elogio inocente como uma cantada.

Como eu não tinha nenhum interesse no indivíduo em questão, gentilmente mostrei isso a ele, sem magoá-lo e sem promessas de um encontro no futuro.
Mas nem sempre é assim que as coisas acontecem. Principalmente quando acontece o contrário, ou seja, quando nós mulheres achamos que recebemos uma cantada (e não era), muitas vezes o homem (com h minúsculo) aproveita-se da situação para ir em frente com a sedução e, como se diz na gíria, “tirar uma casquinha”, para depois cair fora como se nada tivesse acontecido.

Em geral, são os cafajestes/canalhas (que pode ser de qualquer gênero, masculino ou feminino) que se aproveitam da situação para curtirem uma “aventurazinha” e depois descartarem o(a) pobre coitado(a) a “ver navios, ao léu”. Não têm a nobreza de espírito para perceberem que podem estar magoando a pessoa em questão. Alguns chegam ao cúmulo de dizerem “não ferirem ninguém com seus atos”.

No meu blog, “vira e mexe” a minha boca e o meu pescoço (das fotos no blog) viram temas de cantadas dos machos que acessam os meus textos – um deles chegou ao cúmulo de conseguir meu celular (de uma amiga em comum) porque queria conhecer “a autora sensual dos textos anti-machistas” – na maioria das vezes finjo não entender a cantada, e vou “levando a vida”, até que há pouco tempo um certo conhecido (de pouco tempo) me escreve, dizendo não ter conseguido ler os meus textos, porque se perdeu “concentrado nas fotos do meu pescoço e da minha boca” e o fatídico “rsrsrs” após a frase. Sutilmente mudei o assunto, e o papo continuou se aprofundando por temas como turismo, cinema e música, a ponto do tal fulano comentar que me convidaria para dançar e para um Karaokê, entre outros convites.

Bem, se isso não era uma cantada (link***para o meu texto "Cantadas", no final de texto), então eu não entendo mais nada... o que eu podia pensar, a não ser que era mais uma cantada de um indivíduo interessado em mim? Como o fulano em questão era alguém que, apesar de eu ter conhecido há pouco tempo, eu conviveria com ele por bastante tempo em um dos meus trabalhos (ou seja, não era alguém virtual, muito menos alguém que conheci numa noitada ou num lual qualquer), e apesar de nunca ter me interessado pelo fulano até então (o papo no trabalho era agradável, mas sempre profissional), a cantada serviu para eu começar a “olhá-lo com outros olhos”. E talvez tenha sido esse o meu erro.

Mas se eu entendi como cantada e não era (como aconteceu comigo e o fulano do mergulho submarino), se era apenas um elogio e os convites (para o karaokê, etc) eram só “da boca prá fora”, por que “diabos” o fulano não fez o que eu fiz? Ou seja, podia sutilmente ter me mostrado que só estava querendo ser gentil e tudo ficaria bem..., mas não, o fulano aproveitou-se da situação, deixou-se envolver comigo (e me envolveu) para só depois de um envolvimento consentido mutuamente, resolveu sair fora, alegando que nunca teve interesse por mim “a não ser como amigo”. 

Se dissesse que teve interesse sim, mas que depois “se desencantou, percebendo que nada tínhamos em comum etc”, vá lá, dava para entender, mas não... e ainda diz que “todos os seus atos são cuidados para não ferir ninguém”??. What?? O fulano não tem noção do quanto machuca as pessoas a sua volta, com essa sua atitude descompromissada com os sentimentos alheios? 

Pois eu acho que o mesmo deveria repensar bem as suas atitudes, pois não foi só eu que me senti usada, o fulano está passando por um inferno astral com outras mulheres vingativas que resolveram dar o troco da pior maneira possível, revelando os segredos dele, para uma infinidade de pessoas, nessas redes (nada) sociais.

Quanto a mim, não sou vingativa, quando me decepciono com uma pessoa, a admiração e o respeito vão por água abaixo, e sem respeito e sem admiração é bem mais fácil apagar o sujeito da minha vida. E foi isso que eu fiz, me retirei do convívio com ele, é bem mais digno. "A indiferença é a maneira mais polida de se desprezar alguém" (Mário Quintana).

E para mim, esses tipinhos são anti-tesão pois não aceito ser preterida num relacionamento; como dou exclusividade nas minhas relações, exijo exclusividade, e como diz Chico Buarque, "qualquer desatenção, faça não, pode ser a gota d'água".

Mas por que os homens são tão cafajestes/canalhas assim? Por que não conseguem ser honestos, como nós mulheres? Por que têm que se aproveitar da situação em que o outro está frágil e brincar com os sentimentos alheios?

Já tive ímpetos de retirar as fotos da minha boca e do meu pescoço do meu blog, mas além dos (verdadeiros) amigos me convencerem de desistir da idéia (“é sua marca registrada”, dizem eles), realmente adorável anarquista que sou, não vou me dobrar a preconceituosos que querem me julgar (e me subjugar), e se é esse o objetivo do meu blog, lutar contra esse eterno preconceito contra as mulheres, não devo me dobrar a ninguém. 

Uma amiga, certa vez, numa festa num congresso médico, me criticou (numa boa) quanto à minha dança sensual, na pista do clube. Ora, eu não danço funk pois acho a dança vulgar e sexual e, ao contrário, quando danço evito olhar para qualquer homem que seja (a não ser para o meu parceiro oficial, se na ocasião eu estiver com um) porque meu objetivo é apenas dançar e não seduzir ninguém com minha dança; se passo sensualidade ao dançar, o faço para mim, até dentro da minha casa sozinha, na minha sala de estar (“dance, mesmo que o único lugar que você tenha seja sua sala de estar” como diz o vídeo “Filtro solar”).

Já fiz aula de vários tipos de dança, desde hip hop a salsa e merengue, e agora estou fazendo aula de dança flamenca. Gosto de dançar e de dança sensual, e não vou embarcar nessa de me policiar pensando no que os outros vão pensar (ou deixar de pensar) sobre mim. Chega de preconceitos machistas nos podando o tempo todo.

E, para terminar, e não deixar de falar de cinema, o filme “Ele não está tão a fim de você” (não é nenhum grande filme, mas é “assistível”, trailer no final do texto) mostra como as mulheres, de qualquer nacionalidade, ainda são bobinhas em relação ao homem (com h minúsculo); assim, não vou dizer que, de vez em quando, não caio numa furada, mas o meu amor próprio e a minha auto estima sempre falam mais alto, e sempre caio fora antes que acabe me apaixonando por um fdp que não me mereça. 

E outro filme, também "assistível", que fala sobre o tema, é "Sexo sem compromisso" (trailer no final do texto, com Natalie Portman e Ashton Kutcher) que mostra como, na verdade, existe um medo do indivíduo de enfrentar um relacionamento sério (no filme, é o caso da personagem da Natalie Portman) e como alguém sempre acaba machucado com esse tipo de relação descompromissada (no filme "água com açúcar" em questão, tudo acaba bem, mas na vida real, não é o que, em geral, acontece). Ou seja, para mim, tenho até pena desses cafas pois, com certeza, nunca viverão a beleza e a cumplicidade de um amor "eterno enquanto dure" (como diria o nosso poetinha Vinicius de Moraes).

E o cineasta espanhol Carlos Saura em 2010, depois de quase 20 anos de "Flamenco", filmou o seu novo "Flamenco, flamenco" com a participação novamente de grandes nomes da arte flamenca como, por exemplo, Paco de Lucia. E, quem quiser saber mais sobre o cinema espanhol, acesse o link 
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2010/08/as-cores-de-almodovar.html
*http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2010/06/o-eterno-preconceito-contra-mulher.html
**http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2011/12/efeitos-especiais-making-of-no-cinema.html
***http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2009/10/cantadas.html









domingo, 12 de maio de 2013

Torre de Babel: a sensualidade dos idiomas, línguas e dialetos

A língua espanhola tem “um quê” envolvente, o sotaque espanhol é carregado de sensualidade para nós brasileiros (pelo menos para boa parte das mulheres brasileiras). 

Descobri, no entanto, que infelizmente a palavra “caliente”, para os hispânicos, pode ter conotação chula, como, por exemplo, quando se refere a uma mulher, significando algo próximo ao nosso “safada”, mas para mim continuo achando uma palavra bonita, com um significado bem mais leve, como algo envolvente, sensual, por isso digo que “o sotaque espanhol é caliente”. 

Por exemplo, a frase “Te quiero, me encantas mucho” pode até ser romântica quando traduzida para outra língua (seja ela russa, inglesa, francesa ou mesmo a nossa), mas só no idioma espanhol soa sensual, envolvente pois, além do romantismo, ao ser sussurrada ao pé do ouvido, a frase soa sempre carregada de paixão, prá lá de "caliente"  mas isso não significa que nós mulheres brasileiras (as bem resolvidas, claro) vamos cair em qualquer cantada "ardiente" (podemos até ficar "balançadas" no início, mas depois o bom senso fala mais alto).

E para comprovar a força de um idioma, particularmente como um fetiche para as mulheres, na antiga novela brasileira "Ti ti ti" da década de 80 (tempos da minha adolescência, quando eu ainda assistia a novelas, foi regravada há pouco tempo mas eu passo ao largo de novelas atualmente), o ator Luís Gustavo conquistou o auge da sua fama, na pele de um canastrão que se fazia passar por um estilista espanhol, que seduzia as mulheres da alta sociedade paulista com seu sotaque "ardiente" (veja no final do texto).

Na divertida comédia americana “A fish called Wanda” (“Um peixe chamado Wanda”), o diretor brinca com a idéia de que um belo sotaque pode levar uma mulher ao êxtase – a protagonista Wanda (vivida pela atriz Jamie Lee Curtis) não resiste aos apelos do sotaque italiano dos seus dois pretendentes, o canastrão vivido pelo hilário ator Kevin kline que, mesmo não falando nenhuma frase romântica, leva Wanda à loucura (o canastrão cita palavras soltas, sem nexo, relacionadas à Itália, tipo "canelloni, parmegiana, Mussolini, La Fontana di Trevi") enquanto o juiz, personagem do ator comediante John Cleese, capricha no italiano para levar a protagonista ao clímax  (veja, no final do texto, as hilárias cenas do filme). 

O sotaque britânico também parece ter um efeito mágico para as norte-americanas, como é mostrado no filme “Love actually”, na cena em que as estadunidenses caem de paixão pelo sotaque do personagem turista britânico na América (veja cena no final do texto).

Até dentro do Brasil, o sotaque exerce um efeito diferente entre as mulheres, por exemplo, o sotaque do carioca parece ter também um efeito afrodisíaco entre as mulheres de outros estados, as sulistas principalmente (a cantora gaúcha Adriana Calcanhotto celebra, na música “Cariocas”, o sotaque peculiar e envolvente dos cariocas).

E, como em todo dialeto, palavras idênticas em idiomas distintos podem ter significado totalmente equivocado, como por exemplo, a palavra “molestar”; na língua espanhola, molestar significa apenas incomodar, ao se interpelar alguém na rua, mas para nós brasileiros a conotação da palavra molestar pode até ser entendido também como incomodar, mas popularmente é mais usado como a prática do sexo sem permissão (diferindo do estupro apenas pela ausência de violência).

Assim, achar que o “portunhol” cumpre o seu papel na comunicação é um grande equívoco; um exemplo disso é o comercial bem bolado do CCAA que usou a palavra "esquisito" ("exquisito" em espanhol), que no idioma hispânico tem significado totalmente diferente do nosso (significa "estranho" para nós e "delicioso ou requintado" para eles), para divulgar seu curso de espanhol há alguns anos numa jogada excelente, mostrando a fria que podemos nos meter ao tentarmos nos virar apenas com o clássico “portunhol”.

Se a língua portuguesa da “terrinha” (Portugal) tem peculiaridades próprias e muitas vezes completamente antagônicas ao nosso português do Brasil (acesse link*, no final do texto, para ler "Títulos de filmes: uma comédia a parte" e assistir a hilária entrevista do cantor português Roberto Leal sobre os equívocos dos idiomas irmãos no programa do Jô Soares), imagina a confusão com a língua espanhola.

Se as gírias e dialetos regionais dificultam a comunicação até entre os brasileiros (vide, no final de texto, no programa do Jô Soares, esse nosso "Brazilzão" com sua profusão de sotaques e expressões peculiares), imagina tentar entender o idioma espanhol nas suas diversas apresentações na América, com suas inúmeras variedades linguísticas regionais e sociais, mesmo e apesar da grande similaridade com a nossa língua em muitas palavras.

E se nós, brasileiros, petulantes que somos, achamos que estamos acima dos demais latinos (eu me excluo deste contexto), os argentinos vão além, se acham o “bam-bam-bam” no futebol (é verdade que eles têm o Messi, nós tivemos o Pelé, mas não temos mais ninguém a altura) o que acirra a rixa com o Brasil, mas ao que parece eles têm preconceito com toda a América Latina, sem exceção.

Depois do gol conduzido com a mão (que o juiz não considerou) que Maradona fez na final da Copa no México, conquistando o bi campeonato deles na Copa do mundo, e nos tirando o nosso tetra em 86, o povo brasileiro nunca mais perdoou os argentinos, numa rivalidade ridícula que deveria ficar no máximo nos âmbitos e arredores do esporte, como uma velha rixa saudável. 

E eles ainda têm dois prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (nós apenas chegamos perto do Oscar, em 1963 com "O pagador de promessas" e em 1998 com "Central do Brasil"), e agora eles gritam, também em uníssono, “habemos papa”.

Mas, para mostrar que essas rixas são ridículas entre nós latinos (e que isso
só tende a nos isolar do resto do mundo), entrego os pontos e homenageio aqui o cinema e a música argentina, mostrando que nós estamos acima dessas baboseiras futebolísticas.

Ao ouvirmos os nossos "mitológicos" Titãs, ainda mais "deuses" quando cantam, em espanhol, o balanço sensual de uma das músicas deles, intitulada "Go back", podemos confirmar o charme do idioma espanhol abaixo, no vídeo da banda com o músico argentino Fito Paez. Eu mesma já assisti, ao vivo, a um show dos Titãs, e fiquei bem em frente ao palco. Inesquecível. E é impossível ficar sem bailar com a música deles.

Quanto ao cinema, o primeiro filme argentino a receber um Oscar foi "A História Oficial"(1985), de Luis Puenzo, que levou ao cinema as experiências das vítimas da ditadura  militar no país (década de 70-80) e dos milhares de desaparecidos durante o regime (trailer no final do texto).

“O segredo dos seus olhos” é o segundo Oscar argentino, levando a estatueta de melhor filme estrangeiro em 2010 (trailer no final do texto). A crueza da trama, que narra a resolução de um assassinato após 25 anos de investigação, gera um suspense com um final surpreendente, mas também com boas doses de um humor sutil.

O filme argentino “Medianeras: Buenos Aires na era do amor virtual” (trailer no final do texto) fala da solidão das cidades grandes, e as “medianeras” (as paredes cegas de um prédio, que não tem portas nem janelas, e que dão para o prédio vizinho e que no Brasil são chamadas “empenas”) simbolizam bem esse isolamento entre as pessoas, e para vencer essa solidão na era do amor virtual, as cidades (e em Buenos Aires isso é muito comum) vão ganhando paredões salpicados de janelinhas clandestinas (pois é proibido por lá) como se fosse uma rota de fuga daquelas "caixas de sapatos" revestidas de solidão e abandono.

Dois solitários desconhecidos que se cruzam pela cidade, mas nunca se encontram. E o personagem masculino do filme, numa amarga reflexão, diz logo no início do filme: “Estes edifícios que se sucedem sem nenhuma lógica demonstram uma total falta de planejamento. Exatamente igual à nossa vida, vamos vivendo sem ter a mínima idéia de como queremos ser”. 

O filme, aos poucos, vai envolvendo o espectador com seus dois personagens solitários, com toques sutis divertidos, como a personagem feminina que não encontra o Wally ("Onde está Wally?") na cidade grande, e as medianeiras como parte de uma divertida propaganda sensual, convidativa e "caliente". Uma graça esse filme, mas é preciso sensibilidade para gostar desse tipo de película. E, logo abaixo, link** para ler sobre outro interessante filme argentino "Ninho vazio", do diretor Daniel Burmann. 

E termino esse texto com vídeos da falecida cantora argentina Mercedes Sosa cantando "Volver a los 17" com os nossos artistas maiores, Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso e Gal Costa, e cantando "Anos" com Raimundo Fagner, o cantor cubano Pablo Milanes com Simone (cantando a bela "Yolanda"), e também o cantor espanhol Juanes cantando "Sampa" em Las Vegas, no "Grammy" latino  em 2012, homenageando o nosso Caetano, 

e o vídeo do Caetano Veloso cantando "Língua" ("sei que a poesia está para a prosa, assim como o amor está para a amizade"), misturando versos e prosas em um mosaico de línguas, idiomas e dialetos ("a língua é minha pátria e eu não tenho pátria, tenho tria e quero tria") nessa torre do Babel que é o nosso pequeno grande planeta Terra. 




























terça-feira, 7 de maio de 2013

O mockumentário "MPB: a história que o Brasil não conhece"

Um amigo me manda um comentário por e-mail (não sei por que sempre evitam comentários no próprio blog), sobre o meu texto anterior, no qual falo da “solidão da América Latina”.

O amigo critica o premiado escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez, como “intelectualmente indiscutível, mas ideologicamente nem tanto”, ao referir-se à postura do intelectual em relação à sua posição favorável a Cuba e à sua amizade com Fidel.

E eu retruco: Gabo deveria limitar-se à sua obra literária? Ou, ao contrário, deveria usar a sua popularidade em favor daquilo que ele acredita ser o melhor, ao seu parecer? É uma questão em aberto. As duas posturas me parecem legítimas, afinal ele é um civil com todos os direitos de um cidadão, e não deveriam patrulhar a sua liberdade de expressão (mas, nos anos 60, Gabito foi perseguido pela CIA, na sua estadia na América, por suas críticas a exilados cubanos, e acabou se vendo forçado a mudar-se para o México).

Gabo pode ter lá suas razões, afinal o embargo econômico da América sobre Cuba foi (e ainda o é) extremamente cruel, a ilha foi literalmente punida e sucateada por conta do embargo, mas o povo mesmo sofrido não aceitou o patrulhamento americano e não cedeu ao capitalismo selvagem,...é certo que o sonho socialista se foi e, aos olhos dos fervorosos capitalistas, eles se deram mal, mas... até que ponto temos o direito de nos intrometer e deduzir (e decidir) o que é melhor para um determinado povo?

O excelente documentário “Buena Vista Social Club” mostra uma Havana peculiar, charmosa, mesmo com seus prédios em ruínas, seus velhos carros americanos (cuja frota nunca mais foi renovada por conta do embargo econômico dos EUA), mas sabe-se que o povo é alegre e cantante na ilha,... e quem somos nós para julgar a vida deles, logo nós que achamos que “a boa vida se resume a um shopping-center e a uma caixa de sapatos para morar” (no final do texto, link* para o meu texto, escrito em 2011, intitulado “Musicais imperdíveis”, para saber mais sobre o ótimo “Buena Vista Social Club”). E em tempo: o grupo se encontra no Rio de Janeiro para apresentação única, nesta quinta feira, dia 09 de maio.


O que não me parece legítimo é a mídia jornalística que toma partido e que só divulga o que convém ao regime em questão, seja ele de direita ou de esquerda. E isso não só acontece nas ditaduras de esquerda. Ditadura é sempre ditadura, mas na verdade o que vemos é a perseguição direcionada para apenas um regime, no caso, os de esquerda (socialistas, comunistas, marxistas), mas não vejo a mesma vigilância e patrulhamento quando se trata de regimes extremistas de direita.

É preciso aceitar que um cidadão civil comum se posicione (contra ou a favor) frente a um determinado conceito, sem sofrer patrulhamento (como é o caso do escritor colombiano), mas à imprensa reserva-se a obrigação de ser apartidária, cabendo a esta denunciar qualquer forma de opressão, seja de direita ou de esquerda, doa a quem doer,... mas não é assim que acontece pelo mundo, e muito menos por aqui.

No meu texto sobre a América Latina, o meu questionamento passava longe da política (não sou "expert" em política, por isso meu blog é sobre cinema, pois esta sim é a “minha praia”), mas não sou alienada politicamente, e “anarquista graças a Deus” não me contento com notícias que me querem enfiar “goela abaixo”, não engulo qualquer notícia sem questionar "os dois lados da moeda", mas não é o que acontece pelo mundo, e muito menos no Brasil.

Aqui, no Brasil, o nosso PIG (partido da imprensa golpista) divulga, com estardalhaço, toda e qualquer notícia quando o assunto é ditadura de esquerda, corrupção da esquerda, mas... e as torturas de direita? E os corruptos da direita? E a opressão da liberdade de expressão por parte dos conservadores radicais da direita? Aí não é grave? Não merecem a nossa indignação? 

Ninguém questiona nada, mas...por exemplo, há quase uma unanimidade (e como dizia Nélson Rodrigues, "toda unanimidade é burra") no julgamento e condenação da ditadura cubana, mas se Cuba é tão radical assim, quanto à repressão à liberdade de expressão como dizem, como explicar a blogueira cubana Yoani Sânchez, "livre, leve e solta", propagando aos quatro ventos seu blog opositor tanto dentro como fora do continente? 

E, ao contrário, a pergunta que não quer calar: num país como os EUA, que se gabam como "o exemplo-mor da liberdade de expressão", por que a perseguição desenfreada ao jornalista e ciberativista australiano Julian Assange, do WikiLeaks? Assange sofreu acusações (provavelmente falsas) de estupro, para disfarçar a real condenação por denunciar e deixar vazar na web documentos secretos comprometedores sobre crimes de guerra cometidos por soldados do exército americano, obrigando o jornalista a pedir asilo político ao Equador. 

Não é um contra censo? Questionei isso com o colega no e-mail, tortura só é grave se for de esquerda? Por que, cargas d’água, só se divulgam os sequestros e torturas das FARCs, que são de inspíração comunista? Mas quase ninguém aqui no Brasil sabe que, na Colômbia, também os para-militares das antigas milícias de extrema direita torturam e sequestram na mesma proporção das FARCs, mantendo uma guerra civil, que desde a década de 80, vem sendo financiada pelo tráfico de drogas, com os dois lados em eterno confronto.

E a prisão de Guantánamo? Raramente a imprensa brasileira comenta sobre esta prisão, onde os EUA mantêm prisioneiros, há mais de 10 anos, supostos terroristas (mas sem nenhum julgamento oficial ou mesmo acusação formal) em pleno território cubano. Quase ninguém sabe disso, porque a nossa mídia de massa (a que chega ao povão) não divulga nada que não convém aos interesses escusos do regime capitalista.

O atual filme ganhador do Oscar, intitulado “Argo” (trailer no final do texto), mostra a história real de como o estadunidense foi capaz de mobilizar toda uma indústria de cinema, para divulgar uma mentira, e ainda posam como heróis, ... agora, pára e pensa, Julian Assange provavelmente é uma dessas vítimas de mentiras montadas pelos americanos, quando denunciaram o caso de estupro para condená-lo, já que não poderiam explicitamente condená-lo por divulgar os crimes e tortura de guerra dos soldados americanos.

Detesto me sentir manipulada, questiono sempre, não aceito facilmente qualquer notícia, e a rede plim-plim (leia-se rede Globo) e cias limitadas (jornais O globo, o Estadão, A folha, a revista Veja) estão com certeza mancomunados com o conservadorismo pró-capitalista.

Questionando a crítica do colega pelo e-mail, o meu texto tinha como objetivo  mesclar as nossas culturas e evitar a solidão dos demais latinos que chegam ao Brasil, que são muito mal recebidos, e voltam para seus países com uma péssima impressão do nosso povo, inclusive da nossa música, pois só entram em contato com a atual pobreza musical do nosso país, sem tomarem conhecimento da efervescência musical que rolou por aqui até a fatídica "década perdida de 80".

Como ninguém consegue entender o que aconteceu com a nossa música popular brasileira (MPB), um interessante curta-metragem, em forma de mockumentário (documentário não verdadeiro) levanta hipóteses conspiratórias sobre o declínio da nossa música durante a “década perdida" no Brasil, e questiona o que teria acontecido com a nossa MPB que, na década de 80, entrou num período de decadência, e nunca mais se recuperou (hoje é só a pobreza do axé music, o intragável funk com suas letras de baixo calão e as músicas sertanejas de corno com seus cantores de vozes esganiçadas e estridentes). 

Narrado pelo ator Caco Ciocler, o mockumentário “MPB: a história que o Brasil não conhece” tem "depoimentos" de vários artistas e produtores musicais, e levanta a hipótese de que houve uma conspiração estrangeira para destruir a música brasileira – o suposto complô teria sido descrito num livro intitulado “Firewood Operation”, escrito por um tal de Neil Jackman que, dizem, foi lançado e mal divulgado na América, e que apenas poucos exemplares chegaram ao Brasil.
O tal livro existiu? A conspiração aconteceu? Provavelmente não. O falso documentário cita o Michael Sulivan como um americano infiltrado, mas na verdade ele foi um brasileiro que adotou esse nome artístico americano, e compôs um monte de versões de músicas estrangeiras chatérrimas para as novelas da época. E como realmente, no primeiro "Rock in Rio", muitos artistas brasileiros foram humilhados, pelo público que queria assistir ao Fred Mercury e outras celebridades e não os artistas tupiniquins, a sensação de uma conspiração passa a ser até plausível de se pensar, mesmo que quase surreal.

E se o americano consegue simular um filme como “Argo”, mobilizando toda a indústria cinematográfica, em torno de uma mentira, para poder resgatar reféns no Irã (resultado da revolta e retaliação do povo iraniano pelo apoio dos EUA e asilo politico ao ditador Reza Pahlevi), por que não acreditar numa montagem de uma notícia falsa de estupro para comprometer o Julian Assenge que estava incomodando com sua Wikileaks,... e então dá para imaginar o poder deles no mercado fonográfico internacional no caso de uma suposta conspiração no Brasil. Quem sabe?

A verdade é que a música brasileira desde os anos 40 até os revolucionários anos da ditadura tinha alcançado um patamar de qualidade no exterior  a música "Aquarela do Brasil", no filme de Walt Disney, com o personagem Zé Carioca, "contracenando" com o Pato Donald, a nossa Carmen Miranda em Hollywood com grandes nomes do show business americano (vídeo de "Copacabana" com o irreverente Groucho Marx no final do texto), e o nosso grande maestro Tom Jobim cantando "Ipanema" com Frank Sinatra  e coincidentemente, logo após o término da ditadura, houve uma bestial infiltração de  pseudo-músicos fabricados por empresas fonográficas internacionais, importando músicas ridículas americanas, com versões medíocres, que massacraram para sempre a nossa MPB, e que até hoje não mais se recuperou.

E essa é a verdadeira solidão da América Latina: enquanto “nosostros” somos críticos ferrenhos um do outro e de nós mesmos, os norte-americanos aproveitam para divulgar ainda mais o conceito de que são eles os verdadeiros heróis e salvadores do mundo, e se promovem com filmes como "Argo", e espertamente têm o Oscar que internacionalmente ganhou força através de uma mídia que idolatra a hegemonia americana. 

Mas nem por isso sou contra os civis americanos. Tenho muitos amigos americanos. Não se deve misturar as coisas. É fácil se indignar contra terroristas que jogam bombas em civis na maratona de Boston, que promovem massacres nas olimpíadas de Munique e que atacam as torres gêmeas do NYC, mas os cidadãos civis americanos deveriam se lembrar de que tudo isso é reflexo da prepotência dos seus governos que, no passado, incentivaram e financiaram torturas (em vários países na América Latina, inclusive no Brasil) em nome da contenção dos ímpetos socialistas que ameaçavam a hegemonia capitalista, e para isso não hesitaram em financiar as torturas nos porões da nossa ditadura militar.

E foram também eles que bombearam atomicamente duas cidades japonesas inteiras (Hiroshima e Nagasaki) exterminando centenas de milhares de crianças e inocentes civis japoneses, mesmo com o país, do então “eixo do mal”, já tendo pedido rendição na segunda guerra mundial.

No meu texto intitulado "Espiritualidade sem religião: sagrada só a cultura" (link** no final do texto) que escrevi em 2012, cito o belo documentário “Promessas de um mundo novo” (vídeo no final do texto), que mostra a indignação do diretor, um judeu não ortodoxo, inconformado com a questão do Oriente Médio, que entrevista, ao mesmo tempo, crianças judias de Israel e meninos refugiados islamitas dos arredores de Israel, que não conseguem entender o por quê de tanta rivalidade entre seus ancestrais. Esta é a outra solidão do outro lado do mundo.

O aclamado historiador Eric Hobsbauwm que viveu o fim de seus noventa e tantos anos de sua longa vida (passando pela graça da bélle époque, pelo jazz, pelos ideais socialistas), se perguntava como as artes sobreviveriam ao assalto das massas e da internet, e acabou morrendo agora em 2012 desconsolado com o rumo medíocre que a humanidade como um todo estava tomando.

E, para quem quiser saber um pouco mais sobre a nossa MPB, acesse o link abaixo*** para o texto "Será que vamos virar bolor?" sobre a trajetória meteórica dos "Mutantes" e seu líder maior Arnaldo Batista, o Loki. 
*http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2011/04/musicais-imperdiveis.html
**http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2012/02/espiritualidade-sem-religiao-sagrado-so.html
***http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2011/06/sera-que-vamos-virar-bolor.html

E termino esse texto com o nosso irreverente Ney Matogrosso mandando um recado para a nossa América, em "Desperta, América do Sul".














Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...