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quarta-feira, 26 de junho de 2013

O povo nas ruas: as lutas e as mudanças sociais no cinema

Toda manifestação popular me traz sempre uma esperança de luz no fim do túnel. E não é diferente nos dias atuais (apesar de, agora com a idade, a gente já estar calejada com as experiências da vida e principalmente depois de conhecer a sordidez e a mesquinhez do ser humano).

Quando a ditadura se instalou no Brasil eu era apenas uma menina recém-saída das fraldas. Mas, como o regime militar durou cerca de vinte anos, acabei alcançando parte daqueles acontecimentos políticos durante a minha adolescência, que avançaram pela minha vida, ainda como jovem adulta (e a juventude nos faz achar que “o mundo pode um dia ser perfeito”).

E como moradora do interior fluminense, na era pré internet, toda a notícia que nos chegava à cidade pela imprensa era deturpada – se hoje ainda é assim com o PIG (partido da imprensa golpista), imagina na época, com os militares mandando e desmandando na imprensa – mas, sem nem saber ainda que eu seria uma futura cinéfila e que ganharia o rótulo de “adorável anarquista”, sempre fui uma adolescente questionadora.

Mas inicialmente eu era alheia à política (mas já fascinada pelo cinema), e me questionava, entre outras coisas, com os deveres escolares – para que estudar a História de séculos passados em que eu nem era nascida?? (é ainda hoje um grande questionamento de grande parte dos pré-adolescentes).

Foi então que conheci o meu professor de História do segundo grau e tudo mudou – revolucionário, ele explicava para os seus alunos o processo autoritário no Brasil, e nos ensinava a importância de estudar História – ele dizia que estudar a História da humanidade nos fazia aprender a não repetir os erros dos nossos antepassados – e foi assim que eu comecei a não implicar mais com a matéria, e a me interessar por política.

Mas, mesmo como “Adorável anarquista”, eu passei muito tempo à margem (contra a minha vontade) dos processos políticos durante a ditadura, pois ainda menina e adolescente, meus pais me proibiam de participar das manifestações revolucionárias nas ruas (e não só isso, numa família machista até o cinema me era proibido)

Mas já adolescente eu sempre buscava informações sobre o processo ditatorial no Brasil, até que tive o privilégio de conhecer o tal professor, um intelectual, revolucionário e culto politicamente, e então, fascinada por aquelas idéias socialistas e libertárias, tudo mudou.

Se hoje sou extremamente crítica quanto ao que “tentam me enfiar goela abaixo”, devo isso ao estimado professor, pois ele dizia: “não deixem que pensem por vocês”, e dizia que devíamos aprender a questionar tudo,  inclusive as palavras dele mesmo (do próprio professor), pois deveríamos aprender a pensar por nós mesmos, não aceitando nada como “verdade verdadeira”, antes de buscarmos a fundo as nossas próprias conclusões.

Assim, já adolescente, consegui burlar algumas vezes o cerco dos meus pais, e participei inclusive de uma passeata em protesto contra a nossa escola, que começou a questionar o “comportamento” do nosso professor, quando este foi chamado para prestar depoimento no “famoso" DOPS, por suas “idéias comunistas”.

E já na faculdade, ainda sob o regime militar, tive o prazer de conviver com o pai de uma das minhas amigas da faculdade, o famoso “Diabo louro” (era como ele era chamado pela imprensa reacionária da minha cidade), que de “diabo” não tinha nada.

Ele era um senhor extremamente humanitário que lutava contra a exploração dos usineiros da minha cidade (que praticamente escravizavam os plantadores da lavoura de cana de açúcar), instigando os trabalhadores rurais a se unirem em greves e paralisações exigindo melhores condições de trabalho e salário.

Já recém formada em medicina, vim encontrar o “diabo louro”, no Rio de Janeiro (passei a dividir o apartamento com a filha dele, a minha grande e eterna amiga Taninha), participando do avanço do processo político, no movimento das “diretas já”, no longo processo de redemocratização do Brasil.

E ao completar vinte anos da revolução de 64, o “diabo louro” finalmente foi reconhecido como um grande ativista que revolucionou a história da minha cidade do interior – ao ser homenageado, ele disse, numa das entrevistas: “eu faria tudo de novo, se fosse preciso” (o então “diabo louro” tinha sido preso mais de 40 vezes, torturado inúmeras vezes e quase foi morto numa dessas prisões, e ficou exilado na Rússia por vários anos até poder voltar clandestinamente para o Brasil).

E foi com o “diabo louro” que aprendi que não era verdade que “comunista come criancinhas” (era o que minha pobre mãe repetia, sem questionar o que ouvia), e ele dizia que na Rússia também se cultivava a falsa política de que “capitalista vende a própria mãe”, ou seja, os regimes são geridos pelo ser humano e o homem é falho, cada regime divulga o que interessa para manter um povo no cabresto, por isso aprendi a importância de pensar por mim mesma, de buscar fontes confiáveis de informação, e mesmo assim “confiar desconfiando”, principalmente quando se trata de política.

E com esses “professores” comecei a me interessar por política, e adotei o anarquismo (ausência de lei, mas não ausência de ordem) como meu princípio de vida. Anarquismo foi um movimento político que defendia a supressão de todas as formas de dominação e opressão vigentes na sociedade moderna, dando lugar a uma comunidade mais fraterna e igualitária, fruto de um esforço individual a partir de um trabalho árduo de conscientização coletiva.

Porque, na minha inocência de jovem, eu imaginava que “não é preciso leis se se tem apreço pelo próximo”, mas hoje, calejada, sei que o anarquismo puro é uma utopia, pois o ser humano é facilmente corrompido pelo poder e pelo dinheiro, e a sociedade é composta, nada mais nada menos, de seres humanos.

Aprendi que as regras do jogo da vida dependem não só de mim, mas também do meu próximo, e tanto eu como o meu próximo somos seres humanos, falhos em sua essência, mas hoje acredito que temos que buscar, se não a perfeição, pelo menos exigirmos o que é melhor para uma grande maioria.

Daí os protestos nas ruas me deixa esperançosa por um Brasil mais justo. A alienação política dos jovens de hoje me deixa angustiada (até então as redes sociais só serviam para bisbilhotar a vida alheia). Não suporto pessoas que só reclamam e nada fazem para mudar as suas vidas (seja na cidade, no trabalho, na vida privada, nos relacionamentos).

E, para variar, todo esse movimento nas ruas, fez lembrar-me de... cinema, óbvio. Muitos filmes são baseados em histórias reais, e como veremos, em geral, só se consegue mudanças com lutas e massacres, e infelizmente a história da humanidade nos mostra que nem sempre as mudanças se mostraram positivas, afinal “somos humanos, demasiadamente humanos”, como dizia Nietzsche, mas o que vale é o movimento que fazemos pela mudança quando estamos descontentes, seja qual for o resultado final dessa mudança. 

O “professor” Robin Williams no filme “Sociedade dos poetas mortos”, que instigava seus alunos a pensar por si mesmos e mudarem suas vidas, sempre me faz lembrar o meu querido professor de História.



O filme “O que é isso, companheiro?” faz uma retrospectiva do processo ditatorial do Brasil focando no sequestro do embaixador americano Charles Elbrick pelos guerrilheiros no final dos anos 60 (que contou com a participação do atual jornalista e político Fernando Gabeira).



O “encouraçado Potenkin” é um clássico em preto e branco do cinema russo, da década de 20, do renomado cineasta Sergei Eisenstein, na Rússia czarista, no levante histórico da revolta dos marinheiros do navio Potenkim no início do século XX que culminou na Revolução russa de 1917. 





A famosa sequência no filme, das escadarias da cidade de Odessa (do carrinho de bebê rolando escadas abaixo com a mãe da criança sendo morta no meio do massacre) já foi homenageada por outros cineastas, em filmes recentes tais como “Os intocáveis” de Brian de Palma, com os charmosos Kevin Costner e Andy Garcia aparando o carrinho do bebê na caça aos capangas de Robert “Al Capone” de Niro.



O filme “Domingo sangrento” mostra a truculência dos soldados britânicos na Irlanda do Norte contra civis desarmados na passeata pelos direitos humanos na década de 70 que culminou numa guerra civil naquele país. A música "Sunday bloody sunday" (que faz parte da trilha sonora do filme), da banda irlandesa U2 deixa para sempre o registro do massacre da época.



“Em nome do pai” é um filme com o ótimo ator Daniel Day-Lewis que tem início com um atentado do IRA (“Irish Republican Army”), o exército para-militar republicano irlandês e uma condenação injusta que leva o protagonista a lutar por justiça por seu pai.



O filme “Sonhadores”, de Bernardo Bertolucci, mostra a história de três jovens vivendo um triângulo amoroso sob o painel das mudanças políticas na revolução de 68 na França (que deu início a toda a derrocada de manifestos por todo o mundo na década de 60).



Assim, fica a dica: antes de irem para a rua contra toda e qualquer reivindicação, procurem por fontes confiáveis e não deixem que “pensem por vocês” – mas, isso é papo de política que não cabe aqui no meu blog – apenas lembrem-se: “não deixem que pensem por vocês”, ouçam sempre os prós e os contras (a unanimidade é burra”, como dizia Nélson Rodrigues, mas o PIG vai querer sempre nos fazer acreditar em unanimidade) e sempre busquem fontes confiáveis (de preferência, sem vínculos partidários) e só então tirem suas próprias conclusões (como eu disse, o meu professor nos mandava questionar até mesmo os discursos dele mesmo).




domingo, 16 de junho de 2013

Vivendo e aprendendo...

Há algum tempo atrás, escrevi uma pequena e singela homenagem para uma amiga, e o tempo passou e a vida nos levou por caminhos diferentes, e agora de novo a vida vem nos mostrar que nunca estamos sozinhos, e que sempre precisamos uns dos outros, e que devemos encarar os tantos desafios da vida com a cabeça erguida, sempre.

A minha amiga e eu nos afastamos quando estávamos tão perto, e agora que estamos a léguas de distância, a vida nos aproximou novamente. Assim, decidi homenagear o retorno da nossa antiga amizade, aqui no blog, relembrando o texto que escrevi para ela, e aproveito para relembrar filmes que comemoram a amizade fraternal entre as pessoas, mesmo sem laços de sangue, filmes que também nos ensinam que a vida nos prepara para enfrentar desafios, e que a morte é um desses desafios, pois faz parte do enigmático ciclo da vida.

Abaixo, o texto sobre a minha amiga:

“Há muito já pensava em escrever sobre essa minha amiga gaúcha. Venho colecionando “fatos e fotos” sobre ela, mas resolvi escrever logo, com o que já tenho, pois hoje sei que terei material “ad eternum” para escrever muito ainda sobre o “fenômeno” que é essa minha amiga "dos pampas".

Um dia ela me atende ao celular com um “fala, cabeção”, no outro dia já muda o tom, mas ainda com seu jeito sempre brincalhão, atende com um “fala, boneca”. Para sair com ela, nas noites cariocas, eu preciso sempre “exercitar” meus músculos risórios previamente, porque é muita risada na certa, a noite toda.

Ela consegue fazer graça, até de desgraça (a dela própria e a dos outros). Não é a toa que colocamos o apedido dela de “Climber”, numa referência ao “Joseph Climber”, esquete hilária do grupo “Os melhores do mundo” (assista abaixo), pois ela também “é um exemplo de perseverança”, pois a vida sempre foi uma “caixinha de surpresas” para ela (no bom e no mau sentido), e ela, mesmo assim, tem “tirado de letra” as agruras que a vida já lhe pregou.
Numa das nossas saídas na noite, uma das amigas tinha acabado de sorver um gole de sua bebida, quando a gaúcha disparou uma de suas histórias hilariantes, e a tal amiga literalmente “explodiu” em uma incontida gargalhada, com toda a bebida ainda na boca, e nos deu um “banho de álcool”. A noite ficou mais hilária ainda, com essa nossa amiga, contendo-se para não se mijar de tanto rir, apontando para a gaúcha: “O que é isso? Essa garota não existe, ela é muito engraçada”.

Pois quem a conhece (como eu a conheço tão bem), sabe que a graça dela, vai muito além de ser só engraçada. Ela é muito sensível (mas prefere esconder isso muito bem, por trás do seu jeito bronco “gauchês”). Apesar de longe, ficou ao meu lado (via celular) todos os dias, durante todo o martírio que passei nos sete dias de internação de minha mãe, num CTI da minha cidade natal no interior fluminense, que acabaram por levar minha querida mãe. Ela sofreu comigo como se fosse sua própria genitora.

E participo, também, da vida da família dela, da sua preocupação com a mãe, e o irmão que ela tanto ama, a pequena família que ela tem, e que vive a milhares de distância dela na terra gaúcha, e que, sempre emotiva, me confessa querer tê-los ao lado dela, para sempre”. 

E foi assim que terminei, na época, o texto sobre a minha amiga. E, abaixo, deixo dicas de filmes que têm tudo a ver com esses sentimentos, todos tão complexos e diversos, como amizade fraternal, medo da morte, relações familiares (conflituosas ou não), separação conjugal, e outros:

O emotivo filme “Linhas cruzadas” (“Hanging up”, filmado em 2000) conta a história de um pai idoso e rebelde, mas amado pelas filhas, que está prestes a morrer, papel vivido pelo ótimo ator Walter Matthau. O filme contou com a participação das atrizes Meg Ryan, Diane Keaton e Lisa Kudrow como as filhas do personagem do veterano e excelente ator, e as três irmãs, que sempre se desentendiam e mal se relacionavam, se vêm no meio de um turbilhão de sentimentos e ressentimentos que precisam resolver, no meio da ameaça de morte do pai agora moribundo. 

Este filme me tocou profundamente, pois foi o último filme do aclamado ator Walter Matthau (como a vida imita a arte e vice-versa, o venerado ator faleceu naquele mesmo ano do lançamento do filme). A morte do ator mexeu muito comigo, pois eu tinha acabado de ver este sensível filme, e também pela lembrança da minha infância/adolescência de cinéfila, pois cresci assistindo aos divertidos e emotivos filmes do ator, junto com o seu colega, o também ótimo ator Jack Lemmon, que também morreu logo a seguir em 2001. 

A bela música do filme, "Once upon a time", ficou marcada em mim para sempre (ouça, no final do texto, na performance da voz magnífica do bluesman Jay McShann) e toda vez que a ouço, me vem a lembrança do ator que povoou minhas inocentes tardes de menina cinéfila, e a morte desses dois atores, quase simultânea (Walter Matthau e Jack Lemmon), me comoveu  tanto, como se eu tivesse perdido dois entes queridos muito próximos (veja no final do texto, a divertida e emotiva homenagem de um para o outro no "American Film Institute' em 1988, e os dois novamente juntos em "Dois velhos rabugentos").

O filme dinamarquês “Em um mundo melhor”, vencedor do Oscar estrangeiro de 2010, mostra a importância da família na orientação dos filhos em relação a sentimentos tão complexos como a vingança, o medo, a aceitação da morte e a separação conjugal.

E assistam, na performance de um grupo de teatro (vídeo no final do texto) a tradução do belo poema "After a while" ("Um dia, a gente aprende") de autoria de Veronica Shoffstall, que tem sido veiculada, equivocadamente, na internet, como de autoria de William Shakespeare.


Assim, a dica de hoje, no blog, tanto os filmes como o poema "Um dia a gente aprende" (vídeo abaixo), é para a minha amiga Gláucia, para mostrar a ela que a vida nos prega peças, mas também nos ensina a enfrentar desafios, e que a morte não deve ser encarada como um fim, e sim pode ser o início de reencontros entre os que ficaram por aqui, e que devemos nos lembrar dos que se foram, com carinho e com aceitação, pois a morte faz parte da vida. É o indecifrável ciclo da vida.


                            "Once upon a time

                             The world was sweeter than we knew
                             Everything was ours
                             How happy we were then
                             But somehow once upon a time
                             Never comes again"










sábado, 8 de junho de 2013

Ah...se eles soubessem...

Dizem as más línguas que a maioria das mulheres não resiste a um cafajeste (vulgo “cafa”). Isso é uma inverdade, um mito. A verdade verdadeira é que os cafas descobriram o segredo das mulheres, e sabem usar essa arma, com muita propriedade, enganando a maioria de nós, mulheres, mas não por muito tempo (pelo menos, não conseguem enrolar por muito tempo as mulheres independentes, com autoestima e amor próprio).

Mas que segredo é esse? Simples, a maioria das mulheres não resiste a um homem sensível e romântico, e o cafa sabe muito bem fingir ser um deles enquanto fisga sua isca. E, ao conseguir seu intento, o cafa se revela um crápula, um calhorda, um ser miserável, sem nenhuma consideração com os sentimentos alheios. 

Eles não percebem que a rejeição é dolorosa para quem se iludiu com a lábia deles, mas para uma boa parte das mulheres (as carentes com baixa autoestima e ausência de amor próprio) é tarde demais, já caíram no “conto do vigário”, e não conseguem mais se livrar deles, choram por eles, se apaixonam pelo que inicialmente as encantou, e não conseguem perceber que aquele ser sensível e romântico era só fachada, ele simplesmente não existe.

Desconfie que estás diante de um cafa que se finge de sensível (se não totalmente cafa, mas com certeza um insensível), quando este só gostar de filme de ação (com muitos efeitos visuais, muito banho de sangue e muitas cabeças rolando) e se recusar a assistir outro tipo de filme, ou só falar de futebol (sem outros prazeres menos insensíveis), ou se ele é um desgarrado (dos filhos, no caso dos divorciados, da mãe e familiares em geral), você provavelmente está diante de um engodo, esse homem tem a sensibilidade de uma rocha, ou seja, nenhuma.

Com a facilidade dos perfis nas redes sociais, ficou bem fácil detectar um cafa, pois este, em geral, coloca no seu perfil, fotos variadas, sempre em noitadas, abraçado com mulheres e mais mulheres, cada dia fotografado com uma mulher diferente, e está sempre agarrado a amigos de noitadas regadas de bebidas e mulheres, e como são desgarrados são poucas as fotos com familiares.

Em geral, os cafas são extremamente sedutores, lisonjeadores e galantadores. O problema é que eles não atiram numa só direção. Mas nem todos os cafas fazem promessas ou juras de amor, e bradam que “não enganam”, que antes de se envolverem, avisam que são “livres, leves e soltos” e que não querem “compromisso sério”, mas deveriam saber que estão lidando com sentimentos e interações afetivas que não combinam com essa racionalidade.

Não se pode escolher gostar ou deixar de gostar de alguém, mas é preciso sensibilidade para perceber isso, e um cafa é incapaz desse tipo de percepção, pois é muito calhorda e medíocre para isso. São incapazes de conquistar alguém sem se rebaixarem, sem apelarem para a mentira, sem se importarem em ferir gratuitamente os sentimentos das pessoas.

E os verdadeiros homens sensíveis e românticos, afinal eles existem? Onde estão? Eles existem sim, mas, em geral, ou são tímidos e demoram a se revelar, ou são inseguros e temem que descubram o quão sensível e romântico eles são, com medo da zoação (e até represália) dos chamados “amigos do peito” (leia-se “babacas e/ou cafas insensíveis”).

Ah...se eles soubessem... Nada mais charmoso que um homem sensível, que não tem vergonha de se mostrar romântico (não confundir romantismo com breguice), que se emociona com a cena de um filme (e até pode tentar esconder isso sutilmente, afinal, nem nós mulheres gostamos de choro incontido que precise de um lenço), que curte uma poesia, que sabe murmurar palavras apaixonadas e “calientes” ao pé do nosso ouvido.

Ah...se eles soubessem... Homens sensíveis compartilham seus medos, suas angústias, seus sentimentos.  Para mim, a sensibilidade em um homem funciona como um afrodisíaco. Homem que é homem não tem medo de expor suas carências, suas fragilidades.  Homem que é homem não só diz o que sente... ao contrário, confessa.

Ah...se eles soubessem... Homens que são honestos e assumem um relacionamento sem traição, com respeito e confiança mútuos, são simplesmente irresistíveis.

E o cinema está repleto de cenas de homens sensíveis (e de cafas também, mas esses não interessam). Não há como resistir aos olhos marejados do ator italiano Jacques Perrin (veja no final do texto) diante das belas cenas de beijos, em preto e branco, dos primórdios do cinema, no final antológico do filme “Cinema Paradiso”(*link para detalhes sobre o filme no final do texto).

E mesmo os homens sensíveis, que se escondem por trás de uma aparente frieza, com vergonha de parecerem frágeis aos olhos dos tais “amigos do peito”, tentam camuflar sua sensibilidade, mas acabam por se revelar à flor da pele, como na bela cena do filme “Shame” (veja no filnal do texto).

No filme, o charmoso ator Michael Fassbender (que faz o papel de um sofrido personagem viciado em sexo casual) não consegue disfarçar (na frente de um desses “amigos cafas e babacas”) uma furtiva lágrima, ao ouvir sua também solitária e carente irmã (papel da atriz Carey Mulligan) cantando “New York, New York” (**link para detalhes sobre o filme no final do texto).


"Ah, se tu soubesses como eu sou tão carinhoso...e como é sincero o meu amor..."  A música "Carinhoso" (ouça no final do texto) escrita por Pixinguinha nos anos 30 retrata a sensibilidade do homem de outrora, enquanto a música "Esses moços" de Lupicínio Rodrigues, nos idos anos 50, fala das mágoas e do amor perdido ("esses moços, pobres moços, ah se soubessem o que eu sei...).

E, para reforçar o meu texto e a minha indignação como mulher independente diante dos cafas, transcrevo a seguir o ótimo artigo do colunista Ivan Martins, da revista Época, intitulado “Os homens que odeiam as feministas: de onde vem tanta irritação com as mulheres independentes?”

“Noto que virou moda na imprensa brasileira falar mal das mulheres independentes. Qualquer um que deseje cinco minutos de fama desce o cacete no “feminismo”, entendido como a atitude auto-suficiente das mulheres em relação aos homens.

“No jornal que eu assino, houve na última semana dois artigos esculhambando mulheres que trabalham e não parecem interessadas em homens...Muitos homens gostariam de voltar ao período em que todos os empregos e todas as prerrogativas pertenciam a eles... Não é por acaso que os textos de ataque às feministas sempre arrumam um jeito de ironizar as mulheres que “vivem sem homem”.

Os autores dizem que a independência afetiva das mulheres “não passa de embromação”. Sugerem que todas elas gostariam de ter um macho forte e provedor que as levasse pelo braço. “É genético!”, garantem. Na falta de um homem de verdade, cercadas de moleques incapazes de assumir seu lugar histórico, as solitárias inventariam fantasias de auto-suficiência.

Eu, francamente, não sei de onde vem tanta bile. Qual é o problema das mulheres dizerem que são independentes e que vivem na boa sem um cara que conserte a pia? Em muitos casos é a pura verdade. Entre ter um casamento de merda e ir ao cinema, sozinhas, escolhem a segunda opção - mas tem gente que se ofende com isso.

Os cáusticos talvez achem que a mulherada deveria aguentar qualquer marmanjo. Ou então ficar chorando pelos cantos quando o emplastro fosse embora, em vez de erguer a cabeça e tocar a vida, orgulhosas. As mulheres parecem que discordam. Qual o problema? 

Isso significa o fim das relações estáveis entre homem e mulher? Não! Nunca ouvi qualquer mulher heterossexual dizer que não queria mais homens. Algumas não querem casar ou morar junto, mas isso é 100% diferente de recusar uma relação afetiva. Outras dizem preferir ficar sozinhas a estar com homens que não amam. Parece sensato.

Há muitas solteiras e divorciadas no mundo em que eu vivo, mas isso pode ser apenas inevitável. Não anda fácil arrumar parceiros estáveis, de qualquer sexo. Enfim, vejo mulheres sozinhas, mas nenhum movimento que dispense ou hostilize a presença masculina.  

Por que, então, tantos homens se sentem ameaçados? Não sei. Mas a minha impressão é que viver nesse mundo de mulheres auto suficientes está se tornando complicado... Há que ter nervos para lidar com isso.

Antes, uma mulher que trocasse de parceiros depois do casamento era punida com uma bruta censura social, senão com violência pura e simples. Agora, as mulheres fazem a troca sem que os parceiros possam objetar uma vírgula. 

Enfim, o nível de controle masculino sobre o que as mulheres vestem, falam ou fazem caiu espetacularmente. Elas estão livres inclusive para repetir nossos comportamentos mais destrutivos e egoístas, e muitas vezes o fazem. 

Conviver com isso requer personalidades menos controladoras, gente mais segura e confiante, homens dispostos a colaborar em relativa igualdade. Quantos caras você conhece que cabem nessa definição? Poucos – e não adianta procurar entre os que odeiam as feministas."


Links referidos no texto:

*http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2009/10/cinema-paradiso.html
**http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2012/11/mas-enfim-relacionamentos.html







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