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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Para mães "surtadas" e filhos "pentelhos"

Uma amiga reclama do filho pré-adolescente que não estuda, e que ainda diz, com a cara mais lavada do mundo, “se esforçar” muito, e ela, diante da declaração do rebento, ainda chora, copiosamente, se sentindo culpada, literalmente “a pior mãe do mundo”. 

Enquanto ela se descabela, eu ao contrário acho graça, porque já passei por isso, ou por algo pelo menos parecido, com os meus “ex-pentelhos”, e sobrevivemos todos (eu e meus filhos); aliás, todos nós passamos por situações bem parecidas, antes como filhos, e agora, do outro lado, como pais.
Pré-adolescência... depois que passa é, inclusive, divertido relembrar, e rir junto com os filhos, agora adultos e “ex-endiabrados”.

Pré-adolescência... O adeus à infância. Hora de questionar o mundo dos adultos. Natural e muito saudável. Rebeldes, hormônios em profusão. Perdidos, os adolescentes não aceitam (mas sem perceber, imploram por) limites.

Precisam de conselhos, mas fogem deles. Possuem um grande afã de independência. Os pais não devem ser permissivos, muito menos autoritários.  Nessa hora é preciso autoridade (não confundir com autoritarismo) dos pais.
Adolescentes experimentam grande instabilidade como alegria X tristeza, responsabilidade X inconsciência, solidão X afeto, timidez X audácia, passando de um sentimento a outro com grande facilidade.

Um dos nossos grandes erros como pais (e que minha amiga comete a toda hora, a ponto de compartilhar seu desespero com todos, publicamente, no Facebook): o grande erro é acharmos que os adolescentes entendem os nossos problemas e as nossas dificuldades de adultos; à luz da nossa maturidade, os problemas dos adolescentes podem nos parecer tão óbvios quanto absurdos quando comparamos aos nossos, mas jovens recém-saídos da infância ainda não podem ter essa nossa experiência de vida.

Mas nós sim, temos obrigação de entender o que eles estão passando, pois já fomos adolescentes um dia (mas também não podemos comparar a atual adolescência com a nossa, pois os tempos mudam, os conceitos e os pré-conceitos também mudam).
Daí a importância de nos colocarmos no lugar deles e de não simplificarmos nem minimizarmos os problemas deles, comparando com os nossos, pois para eles os conflitos por que passam são tão grandes ou até maiores que os nossos.

A pré-adolescência é a melhor idade para adquirirem o sentido da responsabilidade, mas precisam de orientação e direção. É preciso dar apoio diante dos fracassos, admitindo para eles que as coisas assim aconteceram por falta de experiência ou inadvertência, mas não permitir que volte a se repetir o acontecido, cobrando do adolescente maior compromisso e responsabilidade numa próxima tentativa e oportunidade.
E como cinéfila, transpassei muitas destas dificuldades escolares, hormonais, emocionais e psicológicas dos meus pimpolhos com a ajuda providencial da sétima arte.

Eu preparava a sala “de cinema” (com home-theater e som “surround” de preferência), providenciava o “escurinho” do cinema, a pipoca e o refrigerante, e abria a grande poltrona “sofá-cama” para caber todos, pernas entrelaçando por baixo do edredom numa cumplicidade emocional única...

... e de repente estávamos todos dentro da tela, participando da história tal qual a personagem Sofia, no filme “O mundo de Sofia”(detalhes abaixo) ou como a personagem de Mia Farrow no filme “A rosa púrpura do Cairo” de Woody Allen.

E depois que adotei a sétima arte como “currículo escolar” dos meus pimpolhos nunca mais tive problemas escolares com eles, passaram a gostar de estudar e melhoraram inclusive na escrita e na gramática, tanto que tiraram nota máxima nas redações nos vestibulares das universidades federais, e hoje em fase final da faculdade, continuam estudando com afinco e passam tranquilamente em todos os concursos que se metem a fazer.
E assim, aproveito para dar algumas dicas de cinema (que servem como entretenimento, reaproximação emocional com os filhos, e de quebra uma aula prática de história, geografia, ciências e outras) para a minha querida amiga “surtada” (que, como eu, é “intensa e vale por cinco”) e para quem mais estiver nessa fase da vida dos filhos (pois bem sei que, por mais um pouco, o que se quer mesmo, nesta hora, é “esganar” o pobre rebento).
Para uma reaproximação emocional entre pais e filhos, recomendo “Conta comigo” (link* para detalhes do filme no final do texto), “Peixe grande e suas histórias maravilhosas”, o iraniano “Filhos do paraíso” (trailers no final do texto) e os franceses “A guerra dos botões” e o clássico “Os incompreendidos” de François Truffaut.

“A guerra dos botões” (do livro homônimo do escritor Louis Pergaud, escrito no início do século passado) foi filmado inicialmente na década de 30, mas a refilmagem francesa nos anos 60 é clássica e única (mas já refilmado pelo cinema estadunidense na década de 90, e agora foi refilmado em 2011, novamente na língua francesa). Recomendo a versão da década de 60 (não assisti a atual de 2011) dirigida por Yves Robert, mas como é em preto e branco e difícil de conseguir em locadoras (o jeito é “baixar” o filme na internet), tem a versão americana em cores e a nova versão francesa também em cores.
O filme (abaixo, trailer da versão francesa atual e, no final do texto, a versão clássica dos anos 60 e a estadunidense dos anos 90) conta a história, em tom de comédia, dos conflitos por que passam os nossos filhos, mas na verdade, trata-se de uma verdadeira sátira à guerra “surda” dos adultos, com uma escalada de conflitos como traição, humilhação, delação, crueldade, mas também um aprendizado sobre liberdade e independência. É um belo filme (e a minha amiga vai curtir mais ainda, pois está estudando francês) para adolescentes e adultos pensarem (e repensarem em parceria) sobre conceitos de vida e sentimentos (nobres ou não).


Para começar a gostar de estudar e para aprimorar o gosto pela leitura, recomendo “O mundo de Sofia” (link*, para melhores detalhes do filme, no final do texto) com a história da adolescente que passa a gostar de estudar história e filosofia através da magia da leitura e do cinema. E depois que começar a curtir estudar pelas mãos do cinema, recomendo a leitura e mais dicas nos seguintes textos “Cinema: uma lição de casa e de vida”, “Os bons e eternos companheiros” e “Por que cinema, cinema e...cinema” (links* no final do texto).

Para puro entretenimento, recomendo o infantil “Os batutinhas” (trailer no final do texto) que é uma versão cinematográfica baseada numa famosa série televisiva homônima, “The little rascals”, dos anos 30, e também “A invenção de Hugo Cabret” ((link*, para melhores detalhes do filme, no final do texto).

E para quem quer fantasiar ainda mais essa nossa vida tão dura, leia o texto “Fantasie sua vida”, com dicas de filmes desse gênero (link* no final do texto).

Bons tempos, inesquecíveis. Mas nada a reclamar, ainda continuamos, eu e meus filhos (agora jovens adultos), nos reunindo, nos divertindo e nos emocionando juntos, com o cinema ainda como fiel testemunha.

*Links citados no texto:
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2010/05/conta-comigo-stand-by-me.html
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2010/05/ainda-conta-comigo-carta-um-jovem-ator.html
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2010/05/fantasie-sua-vida.html
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2010/12/cinema-uma-licao-de-casa-e-de-vida.html
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2009/12/por-que-cinema-cinema-cinema-ecinema.html
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2012/10/filosofando-no-cinema-muito-mais-que.html
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2010/02/onde-vivem-nossos-monstros.html
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2010/01/despertar-o-gosto-pela-literatura.html
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2010/06/os-bons-companheiros-livroscinemamusica.html
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2013/03/velhos-tempos-lembrancas-saudade-e.html
















domingo, 1 de dezembro de 2013

Meu único preconceito: FRamenguistas BBBs

Quarta feira, dia 27 de novembro. Jogo do Flamengo programado para aquela noite. Eu tinha desistido de atravessar a ponte Rio-Niterói, desmarcando um compromisso no fim da tarde, no Rio de Janeiro. Motivo? Óbvio, como o jogo aconteceria no Maracanã, já antevendo o nó cego no trânsito por conta do mesmo, pois a malfadada torcida do Flamengo, ganhando ou perdendo, tumultua toda a cidade (se o time ganha, comemoram bebendo e fazendo baderna fechando o trânsito, e se perde, afogam também as mágoas na bebida e brigam até entre eles).

E querem reclamar da passeata gay que acontece apenas uma vez no ano, e de manifestações de grevistas que só acontecem ocasionalmente atravancando o trânsito da cidade, enquanto a pentelha torcida flamenguista tumultua a paz do carioca, pelo menos, duas vezes por mês, pouco importando se ganhando ou perdendo o jogo.
Morta de cansada depois de um dia de intensa labuta, espero pacientemente o término do jogo naquela noite, não dá prá dormir, pois durante o mesmo, a algazarra é esperada (atitude saudável em qualquer tipo de esporte, nada a reclamar) e, como moro em Icaraí, no primeiro quarteirão da praia, numa rua onde toda e qualquer manifestação na cidade de Niterói se concentra inicialmente, antes de tomar a praia (todas as torcidas de todos os times, carnaval de rua, parada gay, virada do ano e outras), então não tem jeito, faz parte o buchicho, e é uma das muitas razões de adorar morar ali.

E, como todos sabem, o Flamengo dessa vez ganhou, e óbvio, tumulto geral na minha rua (fogos, algazarra, gritos, buzinaço, bebidas e gente a rodo nos bares), tudo muito saudável, nada a reclamar, afinal o jogo acabara de acontecer. Mas, avessa a futebol (nada contra o esporte, sou contra a atual política que reina no mundo futebolístico, com jogadores mercenários e clubes corruptos), se as tais comemorações dos flamenguistas ficassem por aí, como qualquer outra torcida ou comemoração, tudo bem, mas não, em geral não é assim que acontece com a pentelha torcida flamenguista.
Quinta-feira, dia 28 de novembro, sol a pino, horário de verão, duas horas da tarde. Dia de labuta, eu me encaminho para o estacionamento nos arredores do meu hospital (ainda sem almoço e já atrasada para o batente da tarde, em outro hospital), e me deparo com um bando de desocupados (homens de 30-40 anos em plena idade produtiva) num bar da esquina.

Todos “a rigor” com suas camisas suadas (e surradas) e bandeiras nas cores vermelho e preta (separadas são cores lindas, mas juntas não combinam, parecem demoníacas), literalmente “mamados” (desde a véspera provavelmente) com o “famoso copo de geléia” na mão, cheio da “branquinha ardente” ou da “loirinha espumante”, com tambores e algazarra, e óbvio, as vozes “cambaleantes” cantando o “chatérrimo” hino do time. Aff, não dá prá ser feliz. Por isso o país não vai prá frente.
Os defensores do time hão de dizer que é implicância minha, que “devem estar de férias do trabalho” (quantas vezes no ano tiram férias???), que a cena é vista comumente no nosso dia a dia, mas não, sinto dizer mas, nos dias seguintes aos jogos, raramente esta cena esdrúxula acontece com torcedores (mesmo os fanáticos) de outro time do Rio de Janeiro (pode ser que aconteça com os do Corinthians) e, ao contrário, é muito comum fanáticos torcedores do Flamengo se reunirem em bebedeiras, brigas e baderna geral.

Sexta-feira, dia 29 de novembro. Plantão rolando, um dos pacientes internados é usuário de drogas ilícitas, e alguém comenta, “em off”, ter preconceito contra usuários. Não tive tempo (pacientes muito graves em Unidade Intensiva) de perguntar qual o tipo de preconceito em relação a isso, mas depois fiquei matutando em que situação eu costumo ser preconceituosa.
Pensei, pensei e... Homossexuais? Não, não tenho. Convivo com gays e lésbicas sem problemas, aliás, acho que respeitam muito mais as mulheres do que os machos héteros, talvez por sofrerem os mesmos preconceitos machistas que nós, mulheres héteros, sofremos.

Sábado à noite, dia 30 de novembro. Vou a um show de jazz e blues ao ar livre em plena Rua Moreira César, bem no “coração” de Icaraí (outro motivo de adorar morar em Niterói, nesse charmoso bairro). Tributo a Celso Blues Boy, com integrantes da banda do nosso músico famoso (gravou com grandes nomes, como BB King e influenciou muitos “bluseiros” no Brasil), morto no ano passado.
Amante da sétima arte, me lembrei dos primórdios do blues que surgiu na América com Muddy Waters, Chuck Berry, Little Walter, Etta James, todos retratados no filme “Cadilac records” (veja abaixo, e link* para mais detalhes sobre a história do nascimento do blues, no final do texto).


E volto a lembrar do tema preconceito. Não, não tenho preconceito contra negros, ao contrário, acho inclusive que são os negros “os salvadores da América”, pois foi a música deles que levou ao rock e às grandes revoluções no mundo da 1ª arte. E o que seria do povo americano, não fosse a miscigenação, pois a raça caucasiana pura é em geral muito feia e sem graça.

E eu, mesmo sem ter herdado os olhos azuis do meu pai descendente português (e vascaíno, óbvio), agradeço o meu “pé na senzala” com os meus cachos e minha boca carnuda, minhas marcas registradas, por conta da ascendência negra da minha mãe (que teve uma bisavó escrava), sem contar minha pele morena resistente, sem estrias, (quase) eternamente jovem.

E olho ao meu redor, o palco montado em plena rua de lojas de grifes charmosas, fechada e coberta por um grande tapete vermelho, e respiro aliviada ao ver jovens na tenra idade, repetindo o famoso refrão dos anos 80, “aumenta que isso aí é rock and roll”. Thank God, a juventude ainda está a salvo, alguns ainda têm bom gosto, nem tudo foi tomado pelo decadente funk com suas letras de gosto duvidoso, ou então pelo brega sertanejo (não confundir com a ótima música do sertão nordestino) com seus cantores de vozes esganiçadas e letras sofríveis de pseudo-romantismo.
E mais uma vez, enquanto rolava “o brilho da noite” e continuava “chovendo na rua” (coincidindo com a letra da música, chovia de verdade) e mesmo “sentindo calor, tremendo de frio” (abaixo e no final do texto, vídeos das músicas com o artista), voltei a pensar na história do preconceito.


Olho em volta, e no meio da turma eclética que assistia ao show, ninguém com camisa do Flamengo, diga-se de passagem (bom gosto não se discute, apesar de ter certeza que ali tinha muitos conscienciosos flamenguistas), eu vejo “rastafáris”, “ripongas”, cabeludos de rabo e trança, e penso “com certeza, rola um baseadinho light nesse grupo”, e de novo...

Não, não tenho nenhum preconceito também com essa galera, não é minha praia, mas até acho-os inclusive interessantes, pois são livres e não vivem escravos do vil metal (o que não é o caso de quem trafica). Quanto aos viciados em drogas pesadas, em geral, seja rico ou pobre, há sempre algum grave desajuste, social e/ou psicoemocional, por trás da dependência.
Hoje, domingo de manhã, 01 de dezembro. Já vai longe o jogo do Flamengo. E de repente, caminhando pela praia (dia chuvoso, mas caloroso) vejo na rua, vindo ao longe, um espécime masculino, bem ao estilo “bad boy” (tatuado e bombado) com a famigerada camisa do Flamengo e, ao cruzar meu caminho, solta uma cantada vulgar com um português sofrível. Aff, quero vomitar.

Eureca. Taí o meu único preconceito. Homem com camisa do Flamengo. Ao vê-los com a horrorosa camisa, em dia comum (só dou desconto se for dia de jogo ou, no máximo, no dia seguinte ao mesmo, e olhe lá), para mim, rotulo-os imediatamente como BBB (não “Big Brother Brasil”, que é outra merda), ou seja, para mim, até prova em contrário, ou o cara é burro, ou é bandido, ou então é babaca (machista que se acha o fodão). Isso quando não reúne todas as três “qualidades”, o típico “BBB” num só tipinho, como foi o caso do transeunte que passou por mim nesse infeliz domingo na praia. Aff de novo.

Em tempo: antes que eu seja “metralhada” por algum FRamenguista “inflamado” (como “adorável anarquista”, adoro provocar  a malfadada torcida), tenho três irmãos (que adoro de paixão), todos flamenguistas (todos temos defeitos, fazer o que?), mas nenhum deles BBB. 

*http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2011/04/o-cinema-e-os-grandes-nomes-da-musica.html










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