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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

"Décadence sans élégance" no Brasil do séc XXI. Até quando?

Escrevo visando leitores que gostem de ler, que apreciem uma boa leitura e, claro, para amantes da sétima arte. Assim, como médica, preciso ter o dom de sintetizar (para simplificar e descomplicar), mas como aspirante a escritora, eu não posso exercer o mesmo “poder de síntese” do mesmo jeito que na outra profissão. Assim, nos meus textos, não economizo nas palavras, pois quem gosta de ler não quer síntese, quer história, quer conteúdo, quer detalhes.

Acabo de reler “Cem anos de solidão”, e o que menos se encontra, na escrita do Nobel de Literatura, Gabriel Garcia Marques, é síntese; ao contrário, o colombiano Gabito é detalhista e rebuscado em exagero (e se isso fosse ruim, o romance não seria o segundo maior representante da literatura hispânica, depois de “Dom Quixote de La Mancha”, de Cervantes).

Por que começo assim este meu texto? Porque, com o mundo virtual, as pessoas estão simplificando demais as coisas boas e belas da vida, isso vale para as relações, os amores, as paixões, as escritas, as letras das músicas, as melodias das canções, e quem sabe o que mais... (sexo?? provavelmente também). As pessoas estão se contentando com muito pouco, não mais aprimoram os ouvidos para decifrar um som como bom ou ruim, assistem a lixos e mais lixos na TV aberta sem nenhum questionamento, filmam com sofreguidão eventos e viagens para só depois assistirem virtualmente nas redes sociais da vida.

E têm medo de se envolverem emocionalmente e perdem com isso a chance de uma vida afetiva plena e feliz (apenas é preciso saber que não existe “certificado de garantia” nem muito menos “prazo de validade” nas relações de afeto). Os cinco sentidos, em pleno século XXI, estão completamente embotados, que dirá “o sexto sentido”!!! E por que insisto nesse tema???!!! Já me explico, mas antes de prosseguir, veja abaixo parte de um quadrinho intitulado "O lado ruim de gostar de ler", que um amigo postou na internet, e que é providencial pois ilustra bem esse início do meu texto (principalmente o último quadrinho, que é como, em geral, eu me sinto).
                         
Bem, continuando a minha reflexão, para tentar chegar ao ponto crucial do meu texto. Formatura recente de medicina da UFF do meu filho primogênito. Se não fosse pelas músicas “de corno e de cachorra” (leia-se “sertanejo universitário e funk”), a festa teria sido sucesso absoluto (muita comida e bebida à vontade, decoração impecável, e rolou antes uns “technos” e uns “axézinhos” razoáveis e “dançáveis”). 

“Geração perdida” foi um termo denominado pela escritora, poeta e feminista Gertrude Stein, para abrigar uma geração, na verdade, não literalmente perdida, e sim uma geração de futuros e promissores artistas de várias nacionalidades, perdidos numa Paris no início da 1ª guerra mundial, artistas estes retratados divinamente por Woody Allen, no filme "Meia-noite em Paris" (link* para detalhes do filme, no final do texto). 

Já os anos 80 foram considerados, no Brasil, a “década perdida” (mais em relação ao desenvolvimento econômico que propriamente cultural), com a estagnação econômica e a hiperinflação. Bem, enfim, todo esse vai e volta, sem nenhuma preocupação em estar sendo ou não prolixa (o grande Gabo que o diga), para eu finalmente concluir o meu raciocínio de que, agora, nos primórdios do século XXI, estamos conseguindo reunir, no Brasil, os dois conceitos acima, num único apenas: “geração e década, estas sim, totalmente perdidas no Brasil, literalmente sem rumo e sem futuro, culturalmente falando”. Uma tristeza esta constatação em pleno século XXI.
O artista plástico brasileiro Antônio Veronesi, radicado na França (onde sua arte, prá variar, é mais cultuada por lá do que por aqui), cerca de dois anos atrás, em visita ao Brasil, reagiu com providencial indignação a uma matéria publicada no jornal “O Globo”, após o referido diário ter reservado, no seu “Caderno de Cultura”, um espaço para contar “quantas vezes as meninas se masturbaram no último BBB”, denunciando a baixa qualidade do que é produzido por aqui e vendido como cultura pela conivente mídia nacional e condenou a decadência dos tempos atuais em comparação com anos passados.

Seu questionamento sobre o que é dado para o público consumir é denunciatório: “dizer que o povo gosta de porcaria é conversa fiada, o povo consome o que lhe é dado. A televisão não custa nada ao povo, já ir ao teatro, museu ... isso sim, custa dinheiro”, diz o intelectual. Ou seja, o povo consome porcaria pela televisão, porque é só isso que ele tem acesso. Novelas com temas de traição e gente calhorda, a “lei do Gérson”, BBBs com mulheres e homens com “QI de ameba paralítica de plástico” (inclusive o apresentador), programinhas chulos de auditório, programas humorísticos rasteiros com jargões e bordões “chatérrimos” e por aí vai... 

E Veronesi diz mais: “a grande revolução é a da educação e da cultura, senão continuaremos a ser um país de terceira classe, apesar de nosso conhecimento”. O artista define o ciclo vicioso e viciante da TV brasileira como “uma platitude“ e uma “estupidificação“ coletiva (assista abaixo), e propõe sair da espiral da burrice. Mas as sábias palavras do artista se perderam ao vento, pois “taí o BBB 2014”, de volta com o mala do Bial, com incansáveis notícias na mídia sobre quem vai ou não para o tal paredão (que até hoje não sei o que é isso, “nem quero saber e tenho raiva de quem sabe”) e, em tempo, o intelectual chama as tais músicas sertanejas de “uma infecção”, que nomeia como “sertanejectites, bobagens de dois compassos”.


A tal música (se é que pode se chamar de música), a “sertanejectite” que parece agradar (na verdade, fere os ouvidos sensíveis) grande parte dos jovens do novíssimo século, não tem sonoridade e muito menos musicalidade, é um “bate-estaca” sem fim, com suas letrinhas chinfrins e sofríveis: ou o cara é corno, ciente do seu destino (e até feliz por isso), como é o caso das letras das duplinhas sertanejas “techno crássicas” (não confundir com a ótima música do sertão), ou o cara é um galinha de marca maior que trai compulsivamente, como vemos nas letras das “sertanejas universitárias” (vou esperar minha mulher ir no banheiro e ganho cinco minutos de solteiro ela nem vai desconfiar”) e na “música funk de cachorra” (onde a mulher é retratada como um objeto sexual sujo e descartável).
Lamentável, tantos anos gastos para se emancipar, e a mulher joga tudo no lixo (Simone de Beauvoir deve estar se remexendo no túmulo, depois de todo o trabalho para escrever “O segundo sexo”), e se rebaixa a categoria de reles “cortesãs” de outrora, dançando vulgarmente essa merda... não dá prá ser feliz. As letras da nossa bossa nova dos anos 60, da nossa tropicália dos anos 70, e da nossa MPB dos anos 80 retratavam o amor, ou mesmo o fim do amor, exaltando a mulher, era poesia sensual e musicalizada em “verso e prosa” (veja abaixo, “Garotos I” e “Garotos II”), e podia-se dançar sensualmente, sem a atual vulgarização do corpo da mulher.

Desculpem-me se tem alguém que consegue curtir essas merdas sertanejas, mas as duplinhas de cantores (cantores ??) são sofríveis, com suas vozes estridentes e esganiçadas (tive ímpetos de, na festa de formatura do meu filho, subir ao palco, e mandar o fulano da banda sertaneja ao vivo, “que se acha” um cantor, “voltar pro chuveiro e tomar banho de boca fechada”).
Mas...voto vencido (“pobreza de espírito não se discute, apenas se lamenta”), assim que começou a tocar as tais musiquinhas sertanejas universitárias, me retirei do salão de dança e me recolhi à minha insignificância (dando graças a Deus por essa “santa insignificância”) pois a pista voltou a encher rapidamente, e uma música após a outra, o som era sempre o mesmo, de dois compassos apenas, e fiquei a ouvir então as letras das tais musiquinhas (prá depois não dizerem que é “pura implicância” e que “não falei das flores”).

E pasmei, diante de tanta baixaria, uma atrás da outra: “ei menina, empina, empina, que eu já vou prá cima”; e a vulgaridade não parava, e continuava na música seguinte: “encaixa mais que hoje tem, ai ai ai meu bem, mas amanhã não esquece, cada um vai pro seu lado” (putz, nem rima essa merda tem); e ia emendando uma putaria na outra: “passei e te ignorei, você se quiser chamar minha atenção vai ter que levantar o vestidinho”; e não contente lá vinha mais calhordice na próxima música: “vou esperar minha mulher querer ir no banheiro, aí eu ganho 5 minutinhos de solteiro, e ela nem vai desconfiar... e por aí foi noite adentro a “decadência sem elegância” (parafraseando, ao contrário, o músico Lobão com a sua “Décadence avec élégance”).




O que me deixou pasma mesmo é que era uma festa de universitários que, em geral, deveria ser uma classe de “formadores de opinião”, eu juro que achei que estava no lugar errado, na hora errada, imaginei que tivesse “caído de paraquedas” numa festa de jovens do ensino fundamental do suburbão do Rio (sem preconceitos, mas com dó da falta de opcão deles, o que não é o caso dos futuros médicos que ali estavam).

Mas não... eu não tinha “bebido todas”, estava sóbria, infelizmente. Isso tudo antes de entrar “as cachorras em cena”, com as bundas tremulantes cheias de celulites, numa “dança do cio” digna de cadela em pleno coito, no meio de uma avenida qualquer, enlameada, dos subúrbios da vida. Aff... eu tinha que cair fora dali, a festa tinha acabado para mim, e pude entender, com grande alívio, porque meu filho formando sempre se recusava a participar das festas da turma dele, ou seja, “nem tudo ainda está perdido” (mil beijos, filhão, sabia que você não me decepcionaria).
É claro que a nossa MPB sempre teve breguices, representadas por Odair José e outros (“pare de tomar a pílula”) e também algumas baixarias (como a Gretchen com a “melô do piri piri” e outros), mas que não chegavam aos pés da putaria da atualidade, e tínhamos a alternativa da saudável e excelente MPB clássica (João Gilberto, Chico Buarque, Milton Nascimento, Tom Jobim, Vinícius de Moraes e tantos outros ótimos compositores) e da MPB “muderna” (Os Mutantes, Blitz, Paralamas do sucesso, Titãs  e outros músicos de qualidade) para agradar a todos os gostos.

Agora não há mais espaço para estes grandes nomes da nossa música, e o pior, não aparece praticamente nenhum representante de qualidade, só breguice seguida de baixaria e putaria e vice-versa. “Ai, ai, meu Deus, o que foi que aconteceu com  a música popular brasileira”, Rita Lee (abaixo) anteviu o futuro, mas na época não parecia que seria assim tão medonho.



Meus pêsames para o Brasil que, do jeito que vai, tem um futuro cada vez mais sombrio pela frente (no futebol, na música e artes em geral). Terceiro mundo é fichinha (sair dele jamais).

Mas, como não desisto fácil, vou repassando cultura e conhecimento (como faço com os ensinamentos de medicina para os alunos da Universidade), e deixo a dica do belo romance “Cem anos de solidão”, que narra a história fictícia do povoado Macondo, com a saga da família fundadora do vilarejo, os Buendias, que atravessam um século de existência desde o 1° ancestral até o último descendente da família, que assinala o fim da estirpe.

Numa trama rebuscada, cheia de nomes continuamente repetidos, os inúmeros Josés Arcádios e Aurelianos (o que obriga o leitor, a toda hora, ter que consultar a árvore genealógica da família, no início do livro, ou seja, nenhum “poder de síntese” em questão) herdam, além dos nomes, o estado de espírito dos seus ancestrais, e atravessam guerras e massacres, amparados pela garra e pela força da principal personagem (a impenetrável Úrsula, que tem o sobrenome da real avó do escritor, Iguarán) que atravessa todas as gerações da família, vivenciando e carregando toda a solidão e pujança herdada pelos Buendias.

O grande Gabo consegue unir realismo e surrealismo num mesmo romance que é, em resumo, uma coleção de histórias, mitos e lendas do nosso universo latino-americano, num realismo mágico (como ficou conhecido o romance) através de uma metáfora sócio-política da então realidade colombiana (foi escrito nos anos 60) e, por que não dizer, de toda a nossa América Latina. Cada vez mais atual, e imperdível (mas conseguir ultrapassar as primeiras páginas do romance, com seus instigantes entrelaçamentos temporais, é desafiador,... mas eu adoro desafios).

E outra dica que tem a ver com o tema é o romance futurista “Admirável mundo novo”, de Aldous Huxley (veja no final do texto), escrito nos anos 30 do século passado (e cinematografado para a TV nos anos 90) em que o ser humano viveria sob relações mecanizadas, sem envolvimento afetivo, inclusive a relação sexual, numa sociedade fria, alheia, dividida em castas, sem contestação, com a falsa sensação de plena satisfação através da “pílula da felicidade”.
E deixo, também como ilustração do meu texto, o vídeo abaixo, com a pergunta fatídica da MTV: “A televisão tem futuro?”, e para relaxar, um dos esquetes da Dani Calabresa e do Marcelo Adnet na MTV, satirizando programas chulos da TV brasileira. E, como não podia deixar de falar de cinema, aproveito para relembrar o mockumentário “MPB: a história que o Brasil não conhece” (abaixo, link* para maiores detalhes) e não deixem de assistir o divertido filme “Domésticas”, de Fernando Meireles, cuja trilha sonora brega, sem preconceitos, tem tudo a ver com o baixo nível sócio-cultural dessa sofrida classe trabalhista (mas não explica o por quê do mesmo gosto duvidoso do nosso pessoal universitário estar consumindo tanta porcaria).

domingo, 19 de janeiro de 2014

"Menáge a trois" no cinema não pornô

Avessa a “unanimidades” (pois, como dizia Nélson Rodrigues, “a unanimidade é burra”), eu não consigo ficar calada diante de uma polêmica, tenho sempre que revidar, e como “feminista e adorável anarquista” eu vou logo contestando tudo que tentam “me enfiar goela abaixo”, principalmente se percebo um ranço machista em torno de uma polêmica ou de uma notícia “unânime”. E se há uma coisa que me irrita mais que homem machista é conversinha de mulher machista.

Por que o meu desabafo acima???!!! Desde o surgimento da TV a cabo (quando passei a poder escolher programas nacionais de qualidade na TV fechada), eu me recuso a perder meu precioso tempo com a TV aberta, já calejada com a má qualidade e as baixarias explícitas da programação deste veículo de (ausência de) cultura e comunicação. Assim, só fico a mercê da TV aberta quando estou no meu plantão noturno no hospital (isto quando pinta uma folga no agitado turno em que trabalho). Assim, muito de vez em quando, quando ao passar na sala de repouso da minha equipe de plantão, noto a telinha em geral registrando os sofríveis filmes enlatados e dublados, ou então as baixarias dos BBBs da vida, quando não são as fatídicas e “chatérrimas” novelas globais.
E por conta disso, há poucos dias, num bate-papo com o grupo de pessoas que estava na tal sala, comentei a minha impaciência (evitando dizer a palavra ojeriza, para não ser tachada de elitista) em acompanhar novelas que duram longos meses, e que no máximo me limito a assistir minisséries que durem no máximo algumas semanas. 

Assim, perguntei sobre a nova minissérie da Globo, a tão comentada “Amores roubados”, que acabava de estrear (e que já terminou, e eu acabei não assistindo a nenhum capítulo), quando então ouço a declaração, de mais de uma das mulheres do bate-papo, que “a tal série já começou mal”, que “é cheia de baixaria dentro e fora da mesma”, ao comentarem (e concordarem com a mídia) sobre o suposto “triângulo amoroso” envolvendo o casal de atores Cauã e Grazi e a atriz Isis Valverde, cuja “imprensa marrom” rotulava a última como “o pivô da separação do tal casal perfeito (perfeito???)”.

Surgiu daí (do bate-papo) minha indignação e desabafo do início do texto. Como eu disse, no meu texto anterior sobre “cinema sensual”, a mulher (no caso, a solteiríssima atriz Ísis) sempre é vista como “um ser malévolo desagregador da família”, e o homem (no caso, o comprometido ator Cauã) é apenas uma “vítima da tentação da serpente”, ou seja, a mídia massacra a moral da atriz, sem nem saber o que há de real na dita fofoca, mas em nenhum desses tabloides há referência da culpa (mútua) do galã Cauã, ou seja, ninguém o rotulou “de galinha” ou “de traidor”, ele é apenas “um coitadinho sem vontade própria, uma vítima, que se deixou seduzir pela víbora”??  
Detesto a hipocrisia desse mundo machista, que espertamente segue “os ensinamentos da Bíblia” em prol da soberania masculina. E assim, vamos sendo massacradas, vítimas de espancamentos e linchamentos públicos, em nome de um conceito bíblico ridículo, de que nós mulheres temos o mal em nosso ventre, e nos deixamos ser tomadas pela “mesma serpente que instigou Eva a seduzir o pobre e inocente Adão”. 

Ora, me poupe. Nós, mulheres, quando comprometidas, se somos abordadas pelo sexo oposto, em geral nós vencemos a tentação, pelo simples fato de termos aprendido a respeitar o nosso homem, e porque a sociedade machista nos cobra isso, do contrário seremos rotuladas de “safadas” e marginalizadas pela sociedade, tanto de homens como mulheres machistas.

Mas isso não acontece com o sexo masculino, pois a mesma sociedade machista “cobra serviço” do homem, mesmo que comprometido, do mesmo jeito que cobra do homem solteiro. Ou seja, são raros os homens que suportam a zoação dos amigos, que resolvem sacaneá-los, quando estes não correspondem a um olhar sedutor de uma mulher “atirada”. 

O que me incomoda é o número de mulheres machistas que aceitam isso como “parte da natureza do gênero masculino” (o que é muito cômodo e conveniente para o homem) a ponto de as mulheres (a oficial traída e a possível amante) se “engalfinharem”, mas em geral poupam o safado, como se ele fosse “o único inocente” na história.

Leva a mal não, mas se acontece comigo, eu sou a primeira a colocar o fulano porta a fora, independente se houve ou não sedução por parte da tal mulher, pois o compromisso dele é comigo, e a sedução sempre estará à solta para tudo quanto é lado (tanto do meu lado, quanto do dele), e eu jamais tiraria “satisfação” com a outra mulher. 

No fundo, tenho pena desses homens que se deixam levar pela sociedade machista, e o que vejo muitas vezes são homens se envolvendo com mulheres que nem tinham interesse, e só acontece o envolvimento porque os amigos “cobram serviço” do pobre diabo para atenderem aos apelos sedutores de mulheres “atiradas”, apenas para provarem que “são machos e dão no couro”, e muitas vezes levam para a cama, fêmeas que, em outra situação, jamais teriam se envolvido, não fosse a insistência dos amigos para “mostrar serviço”.

E toda esta reflexão fez lembrar-me do nosso poeta Carlos Drummond de Andrade, num dos versos de “Quadrilha”, em que ele diz “João que amava Tereza que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém” e não pude deixar de me lembrar do mais famoso ranking da fantasia sexual de quase todo homem, o tão falado “ménage à trois”. 

Apesar da disparada preferência, ao que parece, o tal desejo ainda continua bastante restrito ao universo fantasioso, pois para realizá-lo, o homem deseja que seja ele o único do seu gênero, com a participação de duas fêmeas (a sua oficial e uma extra); mas se nós mulheres comentamos sobre a possibilidade do “ménage” ser entre apenas uma de nós e dois homens (o nosso e um outro extra), aí a coisa muda, pois o homem em geral não mais aceitaria realizar tal fantasia (no caso, a fantasia da mulher) de jeito nenhum.

Pausa para reflexão: se formos racionalistas e lembrarmos como funciona a natureza fisiológica sexual da mulher e a do homem, a fantasia do homem é uma utopia, pois é mais fácil uma mulher dar conta de dois ou mais homens ao mesmo tempo do que o contrário, pois raramente o homem consegue “dar duas sem tirar” com a mesma performance. 

Agora, no meu caso, por eu ser exclusivista, tal fantasia não faz parte do meu imaginário sexual, pois para mim a fidelidade mútua é crucial nos meus relacionamentos, não por preconceito ou caretice, mas porque se eu sentir que fui preterida na relação, se não me sentir o único objeto do desejo do meu parceiro, o tesão simplesmente acaba, não rola mais, fico literalmente sem libido e frígida em relação ao traidor, assim “qualquer desatenção, faça não, pode ser a gota d’água”.
Mas tem gente que curte uma fantasia a três, e assim como “tudo a minha volta me leva ao mundo do cinema”, eu não poderia deixar de falar da sétima arte para complementar este meu texto. O que se vê no cinema é que as películas pornôs, em geral, atendem a esses apelos fantasiosos dos homens, e mostram em geral, o “ménage” do jeitinho que o homem gosta, ou seja, um homem e pelo menos duas mulheres, nenhuma história, e muita, muita, e muita baixaria.

Já o cinema de qualidade, o de primeira, em particular o cinema europeu (que, como já disse no texto anterior, está “anos-luz” à frente do cinema estadunidense, em matéria de liberdade sexual) tende a mostrar, em geral, o contrário, ou seja, sempre há uma história por trás de um “menáge” com dois homens e uma mulher, porque este tipo de envolvimento, quando acontece, costuma ir muito além do sexo, quando num relacionamento real deste tipo.
Assim, em “Triângulo amoroso”, filme do cineasta alemão Tom Tykwer (mesmo diretor de “Corra Lola corra”, link* para esse filme, no final do texto), temos a história de um casal (em torno dos 40 anos de idade) que, por circunstâncias imprevistas, se sentem atraídos por um mesmo desconhecido, sem o conhecimento um do outro, numa relação bissexual a três (trailer no final do texto).

“Dieta mediterrânea” (trailer no final do texto) é um filme espanhol em que os prazeres de uma boa cozinha se misturam com os prazeres do corpo, onde a protagonista, uma “expert” chef de cozinha, se divide entre panelas e um tórrido romance com dois belos espécimes masculinos; mas longe de qualquer ousadia maior, o filme sugere mais do que mostra em matéria de cama, focando mais no ritual sensual do preparo da comida, a ser apreciada e degustada prazerosamente.
“Jules e Jim”, um dos clássicos filmes franceses da “nouvelle vague” dos anos 60, de François Truffaut, conta a história de um francês sedutor e um alemão ingênuo que se apaixonam por uma mesma garota (a musa Jeanne Moreau), no início do século XX (trailer no final do texto).

“E tua mãe também” (trailer no final do texto) filme mexicano que gira em torno de uma mulher madura (que, após receber uma má notícia, se encontra em uma crise existencial e emocional) e dois adolescentes (jovens no aflorar hormonal buscando transpassar para a vida adulta) que partem para uma viagem onde inocência e sexualidade irão emergir e colidir.
“Faz de conta que eu não estou aqui”, filme europeu (Itália/França) que conta a história de um adolescente solitário que se envolve com um casal vizinho inicialmente através do voyeurismo (espionando com binóculos os movimentos amorosos do tal casal) até o envolvimento real em que descobre com o casal a paixão, o sexo e a tragédia (trailer no final do texto).

“Três formas de amar” é um filme americano que conta a história de Alex, uma jovem cujo nome unissex (e por causa do nome), é enviada por engano para dividir o quarto da universidade com dois rapazes, que se fecha num triângulo bissexual fazendo valer o poema de Drummond. E relembro “Wicky Cristina Barcelona” do Woody Allen e “Os sonhadores”, do prestigiado diretor Bernardo Bertolucci, que já foram comentados aqui no blog (links* abaixo).
E claro que eu não podia deixar também de lembrar do protótipo do nosso cinema nacional não pornô, o nosso maior representante de sexo a três, “Dona Flor e seus dois maridos” (abaixo, os nossos eternos compositores Chico Buarque e Milton Nascimento na performance musical “O que será“, com a fotografia do filme) e o mais recente “Eu, tu e eles” (abaixo, o nosso Gilberto Gil cantando “Esperando na janela”, com cenas do filme).

Links citados no texto:
*http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2011/07/o-sexo-no-cinema-europeu.html
*http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2010/04/homem-comprometidonao-rola.html
*http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2010/02/o-frenetico-corra-lola-corra.html
















sábado, 4 de janeiro de 2014

Uma "apimentada" na relação: o cinema sensual

O cinema é um excelente “mestre” tanto para crianças como para adultos. De um extremo a outro, a sétima arte tanto pode ser usada como um incentivo ao currículo escolar (como mencionei no texto anterior) como também pode ser um método excelente para dar uma “apimentada” no relacionamento de um casal. Agora, se não der certo e o casal continuar “assexuado”, então talvez não haja outra opção e o melhor conselho pode ser desistir e partir “prá outra”.

A falta de libido e de tesão numa relação antiga (leia-se, no mínimo, com mais de cinco anos) pode até ser compreensível.
O estresse do dia a dia (problemas familiares, filhos em crises, dificuldades profissionais ou financeiras) pode ser uma tremenda “água fria” no relacionamento, e pode ser a única causa da ausência de tesão no casal, mas nem sempre é só isso.

Se a relação tem pouco tempo (de 2 a 5 anos, ou menos) a coisa já é mais complicada, pois raramente o estresse do dia a dia afeta um relacionamento recente, pelo contrário, o sexo até funciona como relaxante nesses casos; então há de se pensar se o relacionamento esfriou talvez porque não vingou e/ou nunca houve sintonia de verdade.

Alguns casais já começam um relacionamento insosso desde o início, e só de olhar a gente percebe de longe que falta sintonia na relação (conheço um monte de casais assim que, no entanto, insistem em ficar juntos). Já outros relacionamentos começam “calientes” demais, mas depois percebe-se que o casal nada tem em comum (o ideal é cair fora dessas relações, mas tem gente que insiste em continuar). 

E existem outros relacionamentos que são calcados em infidelidade, ausência de companheirismo e de admiração mútua, e lê-se nitidamente tristeza e dor nos olhos do traído e mal-amado, mas a falta de amor-próprio e de autoestima impedem que o mesmo saia da relação de cabeça erguida.

Pausa para reflexão: avessa a novelas (eu parei de acompanhar esses folhetins, lá se vão décadas), principalmente por conta da proliferação de gente calhorda e relacionamentos infiéis (retratados nessas novelas como se fossem “a coisa mais normal e saudável do mundo”), eu dei o braço a torcer e resolvi “dar um crédito” a uma dessas produções globais “chatérrimas” (mas continuo me recusando a “acompanhar” capítulos) quando me mandaram a imagem de um dos personagens desses novos folhetins, dando um conselho providencial, e que, incrível, trata-se de um conselho muito sensato de um personagem gay considerado “do mal” (apesar do sucesso do personagem, hipocritamente associaram a escolha sexual do mesmo com a falta de caráter).

Voltando ao tema “apimentar o relacionamento”: em todos os casos, sem exceção, eu aconselho uma última e derradeira tentativa para reavivar a relação, ou seja, o cinema sensual. Diferente dos “clássicos” pornôs de segunda categoria que são, na maioria dos casos, anti-tesão para grande parte das mulheres, com suas historinhas medíocres (isso quando têm) dignas de descerebrados, entremeadas por cenas forçadas de sexo explícito e simulações ridículas de orgasmo, com a mulher como objeto sexual descartável (tal qual um papel higiênico, usado e sujo “com o número 2”), existem filmes de qualidade, com conteúdo sensual (e consequentemente sexual) no meio de uma história bem construída, que podem dar uma “animada” na vida sexual de um casal em crise de libido.

O cinema europeu sempre esteve à frente do cinema estadunidense em matéria de sexo. Quando “Deus criou a mulher”, na década de 50, uma natural e sensualíssima Brigitte Bardot surgia em dezenas de filmes franceses carregados de erotismo e cenas sensuais. A “glamourosa bombshell” foi filmada por grandes diretores, como Jean Luc-Godard em “O desprezo” e Louis Malle em “Viva Maria". BB (como era chamada) tornou-se sinônimo de moda, divulgando a sapatilha e o biquíni, e popularizou tanto a cidade de Saint Tropez na França como Búzios no Brasil, ao passar por essas duas cidades até então “fora do mapa” (link* no final do texto sobre o sensual cinema europeu ).

Já o cinema estadunidense, nos primórdios da 7ª arte, tentava driblar a censura da época (primeira metade do século XX) com cenas de garotas lambendo sorvete com um olhar lânguido para o amado (uma ex-morena insossa é transformada na “fake” Marilyn Monroe, que então invade as telas com voz infantil e olhar sensual). E as cenas inocentes de beijos (link*, no final do texto, para o filme “Cinema Paradiso” que retrata divinamente essa época) eram em geral seguidas por cenas sutis criadas para ludibriar a censura como, por exemplo, um trem entrando num túnel, que deixava a imaginação solta do espectador, antevendo assim o que estava por vir (ao insinuar cenas de sexo que não podiam sequer ser pensadas, muito menos torná-las explícitas).

A censura em prol da “moral e dos bons costumes norte-americanos” vigorava desde a década de 30, época em que o presidente dos distribuidores de filmes hollywoodianos, Will Hays, liderou o tal movimento censor, com o apoio de religiosos e políticos da época com a criação do Código Hays (que imperou até os anos 60) que impôs regras rígidas ao cinema estadunidense, proibindo cenas de nudez e qualquer insinuação de sexo na telona.

Tudo começou a mudar com a divulgação do relatório Kinsey na década de 50 (leia sobre o filme “Kinsey, vamos falar de sexo” que aborda a famosa pesquisa sobre a sexualidade do norte-americano, no link* no final do texto), mas ainda assim os filmes estadunidenses dos anos 80, apesar de repletos de sensualidade, ainda relacionavam o sexo a pecado, traição, luxúria, punição e morte.

O cinema retratava a mulher como “um ser malévolo e desagregador da família e dos bons costumes”, na telona o gênero feminino era visto como o “único culpado por todos os pecados capitais”, e o gênero masculino era visto como uma “mera vítima tentada pela serpente do mal a mulher”, como podemos conferir em “Atração fatal”, “Instinto selvagem”,  “Corpos ardentes”, “Infidelidade”, “Dublê de corpo”, “À procura de Mr Goodbar”, “Perdas e danos”, “A marca da pantera”, “Fome de viver”, “Diabo no corpo” e “Lua de fel”.
Dos filmes prá lá de ousados para a época estão também os clássicos dos anos 80/90 (que nem é preciso comentar porque todo mundo já conhece, ou pelo menos já ouviu falar): “O último tango em Paris”, “9 e 1/2 semanas de amor”, “Gigolô americano” e  “Orquídea selvagem”. Já em “Sexo mentiras e videotape”, o cinema norte-americano experimentou mais liberalidade e colocou “o dedo na ferida” da hipocrisia dos relacionamentos oficiais do povo americano, e abriu espaço para outros questionamentos sexuais como os recentes “De olhos bem fechados”, “Closer, perto demais” e “Shame” (links*, para detalhes desses filmes, no final do texto) com cenas picantes e explícitas.

Baseado num romance de Marguerite Duras, a atriz Jane March vive uma sensual adolescente francesa no filme franco-britânico-vietnamita “O amante” (trailer no final do texto), personagem que se envolve com um rico chinês mais velho que ela, na Indochina francesa, num Vietnã cheio de preconceitos sociais e raciais, no início do século XX (e a sensualidade da atriz também pode ser vista no filme “A cor da noite”, contracenando com Bruce Willis, em cenas “prá lá de calientes”).

Óbvio que eu não poderia deixar de citar o sensualíssimo cinema espanhol do cineasta Pedro Almodóvar - no final do texto, link* para a filmografia deste ousado diretor. E para quem curte sexo muito, muito, e muito explícito mas, como eu, detesta filme de má qualidade, recomendo “9 canções” (trailer no final do texto), filme britânico que mescla ótima trilha sonora (sob a forma de shows de rock ao vivo) com cenas dignas de filmes pornôs (inclusive com “closes” de cenas, não simuladas, de sexo, inclusive oral), mas ao contrário do que possa parecer, trata-se de um dos filmes, não pornô, mais ousados da atualidade, com cenas incendiárias em termos de sexo explícito.
E para terminar, deixo o trailer do filme “Corra que a polícia vem aí ” (“The naked gun”) com o divertido ator comediante Leslie Nielsen (abaixo) satirizando famosas cenas sensuais do cinema.

Em tempo: links* citados no texto: 
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2011/07/o-sexo-no-cinema-europeu.html
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2009/10/cinema-paradiso.html
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2012/07/o-erotico-inquietante-e-polemico-de.html
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2011/06/sexo-mentiras-e-videotape.html
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2012/11/mas-enfim-relacionamentos.html
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2010/08/as-cores-de-almodovar.html
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2009/11/afinal-fila-anda-pra-quem.html












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