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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Heróis e vilões: o poder do mito

Herbert Viana na sua música "Ska" diz, numa das estrofes que "a vida não é filme", mas na minha opinião, acho que na verdade "a vida imita a arte, muito mais do que a arte imita a vida" (dizia o escritor irlandês Oscar Wilde). A sétima arte, por exemplo, já nos fez amar "de paixão" o mocinho, e às vezes, inverte esse papel, e numa atração quase mórbida, nos faz torcer pelo bandido ("amamos odiar" o vilão).

O antropólogo norte americano Joseph Campbell em seu livro "O poder do mito" mostra que o herói é aquele que reúne (ou absorve) a maior parte dos principais traços do comportamento humano. Servir, proteger, enfrentar sua natureza interior e transformar a vida representam o desejo de poder da pessoa comum (desejo esse em geral reprimido), rompendo com os limites impostos, combatendo a injustiça e defendendo "os fracos e oprimidos". Os heróis fazem o que gostaríamos de fazer - desafiar o mundo e as convenções. 


O problema é que, segundo o antropólogo, os heróis e os vilões têm normalmente a mesma origem; em um dado momento sugere direções opostas por incompatibilidades, crenças diferentes ou objetivos excludentes. O fato é que ambos estão em rota de colisão. O objetivo de um é acabar com o outro, o que os diferencia são as razões que os levam a isso. O herói defende aspectos superiores da natureza humana, enquanto o vilão defende os aspectos inferiores de sua natureza cada vez menos humana.

Assim, por conta de um fascínio que temos tanto pelo herói como pelo vilão, frequentemente "flertamos' ora com um, ora com o outro, e o cinema com sua linguagem universal envolvente pode nos colocar a favor ou contra um mito, seja ele do bem ou do mal. Há sempre uma linha tênue entre o bem e o mal.


"A vida imita a arte" - o cinema, por exemplo, já nos fez sonhar com o amor romântico e
inatingível de "Romeu e Julieta", e com a paixão proibida de Ingrid Bergman por Humphrey Bogart  em "Casablanca", já nos fez torcer pelo "mocinho pobre boxeador" Silvester Stallone em "Rock, um lutador", e o velho e bom cowboy John Wayne foi consagrado como o verdadeiro herói de todos os tempos. 

Como todo mundo já conhece o "herói" do filme "Tropa de elite", o capitão Nascimento, veja abaixo uma divertida sátira ao BOPE com o grupo (de comedy stand up) "Os melhores do mundo", fazendo piada do equívoco cometido pelo batalhão, ilustrando bem o papel do herói/anti-herói.
Glorificação de badboys, gângsters e bandidos fictícios também pode ser vista no cinema - torcemos por galãs como Paul Newman e Robert Redford, no papel dos bandidos "gente boa", no clássico "Butch Cassidy e Sundance Kid", já ficamos do lado (negro) da família italiana mafiosa em Nova York, na saga dos Corleone, na trilogia "O poderoso chefão", e as atrizes Geena Davis e Susan Sarandon, em "Thelma e Louise", foram "beatificadas" como heroínas transgressoras. E em "Bastardos inglórios", o nosso anti-herói "judeu" Brad Pitt é tão cruel quanto os nazistas, mas torcemos por ele "sem dó nem piedade" (veja texto sobre esse filme, aqui no blog, em maio de 2010).
 
Mas a arte também imita a vida - Robert Redford e Dustin Hoffmann viveram heróis da vida real em "Todos os homens do presidente"
(no caso do escândalo de Watergate que levou à queda do presidente Nixon), e os inimigos públicos na vida real, Bonnie and Clyde, foram retratados no cinema pela dupla de atores Warren Beatty e Faye Dunaway, como também o inimigo público John "Dillinger" Depp (veja trailer dos filmes no fim do texto) foi idolatrado por muitos, na vida real, como um Robin Hood do século XX, por roubar bancos na Grande Depressão americana nos anos 30.
 
A morte de Butch e Sundance (e da dupla Thelma e Louise) ficou no nosso imaginário, mas o cinema registrou para sempre a verdadeira e trágica morte de Bonnie e Clyde, numa muito bem filmada cena nos anos 60. 

A sétima  arte está entranhada nas nossas vidas, muito mais do que imaginamos - o cinema acaba de mostrar, mais uma vez, seu poder em criar mitos e influenciar a vida real, como vemos agora "na volta por cima" do mocinho, no filme "Tropa de elite", e queiram ou não, o filme influenciou o inconsciente coletivo, que teve repercussão direta na abordagem das tropas nas favelas do Rio, com o apoio irrestrito da  população aclamando o mocinho e escorraçando o poder dos bandidos.

Badboys como o goleiro Bruno, o imperador (do mal) Adriano, e o Wagner Love (que de 'love" não tem nada) que flertavam com o tráfico já não mais são vistos como "heróis" (como já foi um dia o bad boy Romário), e viraram anti-heróis da noite para o dia, graças ao cinema que voltou a glorificar o verdadeiro herói no seu contexto do bem.
 











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