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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Commedia all' italiana e cia ltda


Mario Monicelli acaba de falecer aos 95 anos de idade. Nenhuma surpresa, haja vista a idade avançada do cineasta italiano, mas fiquei pasma ao saber que ele se suicidou, se jogando da janela do hospital, onde se encontrava em tratamento de câncer avançado. E me vi, me perguntando: as dores físicas da doença o levaram a essa atitude (o que é incomum, ainda mais com os recursos analgésicos de hoje em dia) ou foram as dores da alma que o impulsionaram a tal desfecho???

Monicelli, nos seus filmes, flertava entre o trágico e o cômico, e esperar passivamente por uma morte natural talvez não fosse o perfil do cultuado cineasta, diretor e produtor de mais de 60 filmes do cinema italiano - entre eles o clássico "O incrível exército de Brancaleone" dos anos 60 e, um dos últimos, o ótimo "Parente é serpente" na década de 90.

O cineasta era um incorrigível sonhador e um incansável socialista, seus filmes eram uma mistura de humor inocente e melancólico (mas também ácido) embutido de intensa crítica social, sempre preocupado com lutas de classe e injustiça social, vivenciada pela sociedade italiana, desde o fascismo da 2ª guerra mundial.

Ainda menina, na década de 70, na minha cidade do interior, novata no universo da telona (sem perceber, eu já tinha pretensões a cinéfila), eu já me deliciava, com as constantes reprises dos filmes em preto e branco dos anos 40/50, com o comediante italiano Totó, dirigido pelo experiente e ainda jovem cineasta.

O clássico "Os eternos desconhecidos"("I soliti ignoti") do premiado diretor, com Marcelo Mastroianni, Claudia Cardinalli e também Totó, da década de 50, é um dos favoritos do Woody Allen, e foi praticamente "copiado" pelo cineasta nova-iorquino em seu filme "Os trapaceiros". 

Também o cineasta italiano Giuseppe Tornatori rendeu-lhe homenagem, em seu filme "Cinema Paradiso", na cena em que a película pega fogo na praça da fictícia cidadezinha italiana, com a imagem do humorista Totó num dos seus inúmeros filmes, sob a batuta do cineasta agora morto.

Aproveito a deixa, cinéfila que sou, para falar de outros grandes mestres do humor, que até hoje são "copiados" pelos comediantes da atualidade. Quando ainda pré-adolescente, "cinéfila estreante" no mundo do cinema, eu confundia fisicamente Totó com outro comediante o francês Jacques Tati e o seu personagem, o Sr Hulot de "As férias do Sr Hulot"(compreensível, eu era menina, e os filmes, quando não eram mudos, eram dublados).

Na minha memória de menina, ficou o filme "Meu tio" ("Mon oncle") com o impressionante humor visual e estético desse excelente humorista francês - o filme é dos anos 60, uma crítica contundente ao modernismo (qualquer semelhança com os "Tempos modernos" de Chaplin não é mera coincidência) e aos consumismos do capitalismo europeu em ascensão.

"Mon oncle" continua muito atual, ao mostrar o simplório Hulot (convidado para cuidar do sobrinho) tentando se adaptar a uma moderníssima residência futurista, cheia de objetos mirabolantes (muitos deles inúteis) e utensílios automatizados (o que gera uma série de gags divertidas, protagonizadas pelo comediante) que "enchia os olhos" da moderna sociedade capitalista, prevendo a escalada crescente do consumismo e antevendo o nosso presente com "os IPods e Ipads da vida".

Não muito conhecido pelo público brasileiro, o "rival" do Charles Chaplin, o comediante americano Buster Keaton, também é um dos precursores da comédia da atualidade - o humorista se destacou no cinema mudo, pelo seu personagem que tinha sempre uma expressão impassível, diferenciando-se do Carlitos (Chaplin imprimiu um tipo carismático para o vagabundo, que comovia a platéia) diante das cenas mais inusitadas (cheia de gags, tombos, fugas e corridas), era sempre a mesma feição inexpressiva, que o levou a ser apelidado pelos críticos da época de "o grande cara de pedra".

Me surpreendi com o comediante Eduardo Sterblitch (o "Fred Mercury prateado" do "Pânico na TV") numa entrevista no Jô Soares, que aparentemente passa a imagem de "apenas mais um qualquer" com o tal papel na TV, mas ao contrário, ele é um perito em Buster Keaton e tem "conhecimento de causa" do chamado teatro do absurdo (discorreu sobre Beckett e Ionesco com naturalidade) e o comediante é muito mais engraçado na pele do próprio Eduardo (veja abaixo no Jô Soares e também vídeo do humorista imitando também o Michael Jackson, no programa da "Gabri Herpes").

P.S. Aqui não citei "Os irmãos Marx" pois já dediquei um texto, aqui no blog, só para esses sensacionais comediantes dos anos 30 (link abaixo).
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2010/02/coisas-pra-fazer-antes-de-morrer.html






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