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domingo, 20 de março de 2011

Filmes antigos em preto e branco: por que não?

Acho incrível como os jovens, dos dias de hoje, perdem tanto tempo em conversas inócuas, nos “Facebooks da vida”, onde só o que se vê é um “homicídio doloso” da nossa língua portuguesa, com uma profusão de erros crassos que dá dó (uma enquete nessas redes sociais sobre isto, seria mais ou menos assim: vcs naum axam ke estaum açassinando u noço purtuguez neças redis sossiais?).

A internet é uma ferramenta fenomenal, tanto de entretenimento, como de informação, de troca de conhecimentos, de divulgação de arte e de cultura, praticamente sem limitações e, no entanto, infelizmente, é muito mal aproveitada por essa novíssima geração, que já nasceu informatizada (e paradoxalmente, está cada vez menos informada).

Nós, adolescentes das décadas de 70/80 (a chamada geração coca-cola, “os filhos da revolução”, como dizia Renato Russo, na sua música sobre a famosa geração), gerações pré-internet, pré-celular e pré-videocassete e DVD (e agora também o Blu-ray), éramos escravos do monopólio da Rede Globo – assistíamos ocasionalmente filmes de qualidade, na telinha da tal “rede plim-plim”, e quando perdíamos parte do filme, ficávamos reféns de reprises, que nem sempre aconteciam. 

rede Bobo, ao seu bel-prazer (não havia, ainda, nem a “sessão interativa”), sempre reprisava sub-repticiamente, em demasia, os famosos filmes enlatados sofríveis, e o filme cult nada, “neca de pitibiribas”, a não ser nas poucas datas comemorativas, como na semana do Natal ou Ano Novo.

O cinema, então, era nossa redenção, mas mesmo na telona, nós interioranos (eu nasci e vivi a minha adolescência no interior do estado do Rio de Janeiro) não tínhamos acesso fácil a grandes produções cinematográficas, como acontecia nas capitais, e ainda havia, mesmo nos grandes centros, o rigor da censura que barrava, na época da ditadura militar, muitos filmes rotulados como “subversivos”.

Foi assim que, na década de 70/80, ainda adolescente e já “cinéfila de carteirinha” (sem nem saber ainda o que isso significava), assisti, pela primeira vez, no já então famoso “corujão” da Globo, o filme “O milagre de Anne Sullivam (“The miracle worker”) sobre a vida real de Helen Keller, filmado em 1962, em preto e branco, com a atriz Anne Bancroft, numa atuação impecável que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz na época (assista abaixo e no final do texto).




A atriz Anne Bancroft, apesar da excelente atuação e o (mais que) merecido Oscar, ficou, no entanto, mais conhecida na década de 80, pelo seu desempenho como “Mrs Robinson”, a futura sogra que seduz o ingênuo Dustin Hoffman, no filme “A primeira noite de um homem” (“The graduate”) – veja trailer, no final do texto, deste também ótimo filme, e a bela trilha sonora composta por Simon and Garfunkel, com a famosa dupla no show apoteótico no Central Park, em Nova York, na década de 80.

Bancroft vive em “The miracle worker” o papel da verdadeira professora estadunidense que, na década de 30, com métodos nada ortodoxos para a época, consegue ensinar a então menina Helen Keller, cega e surda (e consequentemente muda), a ter uma vida digna, apesar das limitações físicas, tornando-se inclusive escritora e ativista social quando adulta.

A verdadeira professora Anne Sullivam também havia sido quase cega, recuperando parcialmente a visão depois de duas cirurgias, e ao deparar com a menina cega e surda (que não tendo como se comunicar, tornou-se violenta e selvagem, sob os mimos exagerados da família abastada, que a tratava como um bichinho de estimação), consegue ensinar a menina a se comunicar, por meio da linguagem dos sinais, através do tato.

Ainda menina, fiquei impressionada com a história (verdadeira) e a atuação das duas atrizes principais (além de Bancroft, a estreante pré-adolescente Patty Duke ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante), mas nunca mais consegui rever esse filme, e hoje, com a internet, posso assistir a todo o filme pelo youtube (pois não se encontra fácil em locadoras) – milagres da tecnologia que só quem foi adolescente na época pré internet pode ter noção da maravilha e magnífica ferramenta que é a internet, e que infelizmente os jovens da geração século XXI desperdiçam em longos e insossos bate-papos virtuais, bisbilhotando a vida alheia, nessas inóspitas redes sociais da vida.

A história foi refilmada no ano 2000, em versão “tecnicolor”, com a própria atriz Patty Duke, agora no papel da professora Anne Sullivam, mas essa nova refilmagem não chega “aos pés” da primeira versão cinematográfica, em preto e branco, de 1962. É pena que, por ser em preto e branco, muitos façam cara de muxoxo, com desdém (mesmo os “velhos jovens” da antiga geração coca-cola), menosprezando a verdadeira relíquia que é esse filme.

No final do texto, assista, além do trecho do filme, a uma entrevista da verdadeira professora Anne Sullivam com sua aluna Helen Keller já adulta, mais um raro documento dos anos 30, cujo acesso fácil só é possível com o advento da internet. E é mandatório que nós, das gerações anteriores, passemos tais relíquias, de geração em geração, como um aprendizado de vida e de perseverança, e de que nem tudo que é velho, necessariamente, está obsoleto, e assim ensinar essa novíssima geração a valorizar indiretamente os nossos velhos.

Vale muito a pena assistir ao filme, pois a interpretação corporal das duas atrizes é magnífica – a menina cega e surda que se comporta como um animalzinho sem modos e sem limites, e que, rebelde e mimada, luta para manter seu “status quo” no seio familiar (que a aceita como uma garota sem chance de aprendizado), e que vai ser um grande desafio para a professora “domesticá-la” (sob os protestos da família, que desacredita na possível inteligência da menina) – repito, o embate corporal teatral das duas atrizes (abaixo) é magnífico, vale a pena assistir, seja você cinéfilo ou não.













2 comentários:

  1. Oi Rose também assisti um filme onde Anne Brancoft fez uma belíssima atuação. Nao sei se você teve a oportunidade de ver o filme O Homem Elefante, como grande cinéfila que é, acredito que sim, se nao; veja. Adorei, equecemos muitas vezes que atras de muitas anomalias existe um ser humano. Beijo amiga.

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  2. Olá Júlio
    No texto que escrevi sobre o diretor David Linch ("O universo Lynchiano em agosto de 2011) eu comento sobre esse ótimo filme que foi produzido pelo diretor e, por incrível que pareça, dirigido pelo Mel Brooks (mais conhecido como diretor de comédias surreais)

    http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2011/08/o-universo-lynchiano-sensual-e-surreal.html

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