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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Anonymous, o filme: "ser ou não ser (uma fraude), eis a questão"

O cinema chega com mais uma "novidade" baseada numa antiga polêmica – afinal, Shakespeare é, ou não é, Shakespeare? Eis aí uma questão antiga (sem resposta, óbvio). Essa, nem "Freud explica". Aliás, "dizem as más línguas", até Sigmund Freud, assim como o renomado escritor norte-americano Mark Twain, e também o romancista da era vitoriana Charles Dickens, questionavam a autoria das famosas peças do gênio imortal da dramaturgia inglesa.

Seria Shakespeare uma fraude? A dúvida surgiu dois séculos após a morte do dramaturgo, quando começaram rumores, no fim do século XIX, de que o verdadeiro autor das peças magníficas seria atribuído ao poeta lírico Edward de Vere, um conde da corte da cidade de Oxford, na Inglaterra.

Uma tese, no início do século XX, sugeria que o tal nobre teria escrito secretamente todas aquelas obras-primas, mas não podia assumir a autoria pois, naquela época, a nobreza medieval achava que poesia e teatro eram artes menores (e não mereciam o envolvimento da realeza), escolheu-se então alguém do povo para assumir os créditos, e esse alguém seria quem hoje conhecemos como William Shakespeare.

A tese é embasada na teoria de que Shakespeare era um homem sem nenhuma vivência com a corte, e sem cultura suficiente para escrever peças eruditas tão monumentais, a maioria delas ambientadas nos bastidores da corte e da realeza.
O filme está sendo lançado agora nos EUA, com o título "Anonymous" (no Brasil, a estréia está programada para fevereiro de 2012), foi dirigido pelo alemão Roland Emmerich (diretor dos apocalípticos "2012", "O dia depois de amanhã" e "Independence Day"), e tem no elenco
a grande atriz Vanessa Redgrave, como a rainha Elizabeth I, em crise quanto a sua sucessão, e em conflito com os Tudors, de um lado, e os Cecils, do outro. E esse "thriller histórico" serve de pano de fundo para abordar a vida paralela do tal conde da nobreza e a possibilidade dele ser o verdadeiro autor das peças que acabaram sendo rotuladas como de William Shakespeare.

Claro que o filme, antes mesmo do lançamento, já causou furor entre os literatos, teatrólogos e shakespearianos, que se mostraram perplexos e apopléticos, extremamente indignados com a abordagem do cineasta sobre tema polêmico e não comprovado até os dias de hoje.

William Shakespeare viveu no século XVI, nasceu e viveu boa parte da sua vida numa pequena cidade do interior da Inglaterra, ao longo do rio Avon, chamada Strattford-upon-Avon, cidade esta que até hoje vive do turismo e da fama de ter abrigado o maior poeta e dramaturgo da língua inglesa. Era de família humilde e sabe-se que, apesar de ter tido formação escolar de padrão na época, foi obrigado a parar os estudos ainda na adolescência, devido a dificuldades financeiras do pai, tendo tido que trabalhar no abate de animais para ajudar a família.

Dessa época pouco se sabe sobre o futuro dramaturgo (são "os anos perdidos da vida de Shakespeare"), até seu reaparecimento, já em Londres, como um dos integrantes de uma companhia de teatro londrina. Há rumores de que ele atuava nas peças teatrais, mas ainda vivia de serviços subalternos para sobreviver.

Daí toda a polêmica sobre a verdadeira autoria dos famosos textos, pois os contestadores dessa autoria alegam que um plebeu, que nunca freqüentou uma universidade e nem mesmo participava das honrarias, títulos e costumes da nobreza, não poderia ter tido capacidade para escrever peças tão rebuscadas.

A razão do sucesso de suas peças são os traços marcantes dos seus personagens e o caráter universal e perene dos seus temas, como as famosas tragédias "Hamlet", "Romeu e Julieta", "Rei Lear", "Othelo", "MacBeth", e as comédias "Sonhos de uma noite de verão", "A megera domada" e "Muito barulho por nada", entre tantas mais.

Os defensores do "bardo do Avon" (como Shakespeare era conhecido) alegam que ele se lançou no teatro como ator e, ao mesmo tempo, como adaptador de peças, em geral de autores bem mais antigos, e que foi assim que ele dominou a literatura clássica e as técnicas de encenação. Era enfim um homem de teatro, alternando as apresentações com a freqüência às tabernas, percorrendo as ruas e logradouros de Londres, atrás de escritos ou de conversas que lhe servissem de inspiração.

Polêmicas a parte, o que importa são as obras em si, e o cinema não se cansa de levar, há décadas, para a telona, várias dessas verdadeiras jóias literárias.

"Romeu e Julieta", a tragédia sobre dois adolescentes enamorados cuja morte trágica acaba por unir famílias rivais de Verona, os Capuletos e os Montecchios. A versão da década de 60, sob a direção do grande Franco Zeffirelli (veja no final do texto), é uma das mais famosas, com a bela música-tema do maestro Nino Rota. 

A tragédia já tinha sido filmada antes, na década de 30, e também ganhou, já no início do século XXI, uma versão contemporânea, em plena "selva de pedra". Com Leonardo di Caprio, sob a direção do cineasta Baz Lurhmann (do ótimo "Moulin Rouge"), a bela música "Everybody's free", na voz potente do garoto Quindom Tarver, faz parte da trilha sonora de "Romeo + Juliet" (veja no final do texto).

Em "Shakespeare apaixonado" ("Shakespeare in love", vencedor do Oscar em várias categorias como melhor filme, melhor atriz, melhor trilha sonora), a ficção sugere a paixão de Shakespeare por uma jovem, que teria servido de inspiração ao poeta para escrever a famosa peça sobre os dois jovens enamorados. Atualmente, está sendo estudada uma nova adaptação cinematográfica para a peça, que provavelmente será intitulada "When you were mine", e a atriz Keira Knightley está sendo cogitada para ser a nova Julieta da telona.

"Amor, sublime amor" ("West side story", da década de 60, com Natalie Wood) também inspirado em "Romeu e Julieta", numa adaptação livre, conta a história de um rapaz anglo-saxão que se apaixona por uma imigrante porto-riquenha, nos arredores de Manhattan. Vencedor de vários Oscars na época, o de melhor filme, direção, fotografia e trilha sonora (veja no final do texto, cena do filme com a famosa música "America").

Orson Wells dirigiu, e protagonizou na década de 40, o drama histórico "Macbeth", a história do rei assassino, atormentado por espíritos e bruxas que o levam a loucura e à morte. Depois, na década de 70, Roman Polanski também filmou a tragédia.

"Hamlet" foi vivido no cinema pelo grande ator Laurence Olivier nos anos 40, por Mel Gibson (dirigido também por Zeffirelli) na década de 90, e também pelo ator Kenneth Branagh. O infantil "O rei Leão" também se inspirou em "Hamlet" na história de traição familiar, do irmão que conspira e planeja a morte do primogênito (então o rei supremo da floresta). A música "Can you feel the love tonight", do Elton John, venceu o Oscar de melhor canção da época (veja no final do texto).

Kenneth Branagh, conhecido diretor e roteirista britânico, e também ator de excelente formação teatral, é um dos mais importantes intérpretes de Shakespeare da atualidade. Na década de 90, filmou (e atuou em) "Hamlet", "Henrique V", "Othelo" e "Muito barulho por nada" (veja no final do texto, "Much Ado about nothing" com o ator, e grande elenco formado por Emma Thompson, Denzel Washington, Keannu Reeves e Michael Keaton).

Elizabeth Taylor (atuando com Richard Burton) foi “A megera domada” mais famosa do cinema, no filme também do cineasta italiano Zefirelli. O recente "Dez coisas que odeio em você" também é uma adaptação livre, baseada na famosa comédia (veja no final do texto, o ator Heath Ledger - hoje falecido - cantando, para a "megera" Julia Stiles, a música "Can't  take my eyes off you", de Frankie Valli).

A peça teatral "Rei Lear" de Shakespeare é inspirada em antigas lendas britânicas, e conta a história do velho rei Lear que acaba enlouquecendo, após se ver traído por duas de suas três filhas. O belo filme japonês "Ran", de Akira Kurosawa, tem roteiro adaptado da peça (veja no final do texto).

O drama "O mercador de Veneza" (da peça teatral homônima de Shakespeare) foi protagonizado por Al Pacino e Jeremy Irons, e conta a história do nobre que envolve o melhor amigo numa dívida da qual o valor da penhora é uma fatia da carne do próprio corpo do amigo. 

A comédia "Sonhos de uma noite de verão" ("A midsummer night's dream") foi protagonizada por Michelle Pfeiffer, Kevin Kline, Calista Flockhart, Cristian Bale e Rupert Everett, no final da década de 90. Trata-se de uma fábula sobre o amor, cheia  de fadas, elfos, duendes e outros seres encantados da floresta. E para os desavisados, ao contrário do que pode parecer, pelo título, o filme "Sonhos eróticos numa noite de verão" ("A midsummer night's sex comedy"), do diretor Woody Allen,  não foi baseado em Shakerapeare, e sim, num filme do sueco Ingmar Bergmann, dos anos 50, intitulado "Sorrisos de uma noite de amor".

No fim, polêmicas a parte, a obra de Shakespeare é, e sempre há de ser, de Shakespeare, qualquer que tenha sido ele, eis a questão (respondida).







































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