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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Virgindade, machismo e a marcha das vadias.

Holy crap!! Que raio de notícia é essa??!! Com a profusão de “hoax” que rola na web, custei a acreditar que a notícia fosse verídica: ”Jovem catarinense de 21 anos leiloa sua virgindade na internet”.

No submundo, no universo da prostituição e das drogas, sabemos que rola de tudo em matéria de taras e transgressões sexuais em troca do vil metal, mas quando uma notícia dessa vem de famílias de classe média aparentemente de padrão socioeconômico e cultural razoável é de cair o queixo (e o meu queixo literalmente caiu quando vi que a notícia não parava por ali, também um rapaz de 23 anos, de nacionalidade russa e que se declara heterossexual, também leiloa sua virgindade  que eu saiba, na prática, não se pode provar isso num homem  e até o momento, os “pretendentes a desvirginá-lo” são, em sua maioria, pasmem, do sexo masculino).

Primeiro incrédula, depois no mínimo, abismada e chocada, essa foi a minha reação. Um verdadeiro contra censo. De um lado a sociedade se mobiliza contra o machismo na “marcha das vadias”, e do outro lado jovens leiloando sua virgindade, validando o domínio machista sobre o corpo da mulher??!! Que mundo é esse? Parem o planeta, eu quero descer!!!!

A chamada “marcha das vadias” é um movimento recente que surgiu da indignação de mulheres canadenses após uma série de abusos sexuais e estupros ocorridos na Universidade de Toronto em 2011. O protesto aconteceu por conta da declaração de um policial que ousou dizer que as mulheres canadenses deveriam evitar se vestir como “sluts” (vadias) porque, segundo o tal policial, “devido às suas vestimentas, elas praticamente pediam para serem estupradas”.

Indignadas, as canadenses tomaram as ruas de Toronto, protestando contra o machismo que cisma em querer impor um comportamento das mulheres na sociedade. E o movimento, que ganhou o nome de "slut walk", rapidamente se “alastrou” por todo o planeta (vídeo no final do texto), inclusive no Brasil. 

Ao macho perdoa-se tudo, as traições (homem que trai é "garanhão", mulher que trai é "vadia"), os assédios, as violências domésticas, e agora querem livrá-los também dos estupros, culpando a roupa da vítima??!! E não contentes, quando não submissas ao domínio machista, somos todas, sem exceção, rotuladas de "vadias"??!! No Brasil, o movimento deveria ter começado muito antes por aqui, na época da “célebre” frase do machista e político mau caráter Paulo Maluf, quando disse, nos idos dos anos 90, sobre violência sexual seguida de assassinato de mulheres: ”Tá com vontade sexual? Tá bom, estupra, mas não mata”.
A marcha das "vadias" no Brasil

     O corpo da mulher mais uma vez como o centro das atenções em direções contrárias e contraditórias. Tanto no movimento das "sluts" como na atitude da jovem catarinense, a mulher defende-se, fazendo jus ao seu corpo para usá-lo ao seu bel prazer, mas é um contra censo e um total retrocesso o leilão da tal virgem – o corpo em situações opostas  ambos os movimentos pregam o uso do corpo ao bel prazer do seu dono, mas no caso da virgem de 21 anos, o corpo da mulher passa a mercadoria de luxo ao bel prazer, na verdade, do macho que não o toma pela violência mas por um punhado de trocados, enfim dá no mesmo, o machismo ganha mais uma vez. Não há envolvimento afetivo, é "um negócio", como diz a jovem "virgem", mas para mim é, nada mais nada menos que, um "estupro consentido".

É o corpo da mulher como mercadoria, usado como poder de barganha. É um direito de a mulher usar o corpo como melhor lhe convém, mas valorizar a virgindade como uma relíquia nos dias de hoje é um retrocesso, é incentivar o machismo e o domínio que os homens querem ter sobre o corpo da mulher, o que me fez lembrar o filme “Menina bonita” ("Pretty baby”) dos anos 70, que lançou a então pré adolescente Brooke Shields, de apenas 12 anos de idade, na "calçada da fama", no papel da filha de uma prostituta cuja virgindade é leiloada no bordel onde a mãe trabalha.

Mas o filme “Pretty baby”, dirigido por Louis Malle (no elenco estão também Susan Sarandon e Keith Carradine), se passa bem no início do século XX (trailer no final do texto), então era de se esperar esse “culto à virgindade”, mas nos dias de hoje, em pleno século XXI, é no mínimo deprimente ouvir notícia decadente de uma brasileira leiloando sua virgindade como um troféu à exposição.

A mãe da virgem catarinense parece que quer demovê-la da ideia, na verdade o que a mãe precisa é levá-la a um psiquiatra, pois deve ter algum parafuso solto ali, já que a dita cuja diz que "é romântica" e que é apenas “um negócio”, e que com o dinheiro vai comprar “casas populares para carentes”  (hipocrisia ou "parafuso a menos"??) 

Imagina se a tal brasileira cair nas mãos de um velho decrépito como os pretendentes do leilão da "menina bonita" do filme? As chances são grandes já que só alguém com certa idade e sem grandes dotes físicos é que terá disposição para desembolsar grana numa "aventura" desta (nos dias de hoje, virgem aos 21 anos... será?? e o hímen complacente?? otário é quem compra essa)

Talvez a virgem catarinense descubra tarde demais que “tem coisas na vida que não tem preço”, e com certeza perder a virgindade com um desconhecido, e quem sabe um decrépito desconhecido, certamente não é uma delas. Como já disse, para mim, me soa como um estupro consentido (e mal pago, diga-se de passagem, qualquer que seja o valor do vil metal). Ou então, trata-se de mais uma esperta e hipócrita ("romântica"?? "altruísta"?? me conta outra que essa é velha) que quer apenas garantir seu "milissegundo de fama" (o "visionário" Andy Warhol só se equivocou no tempo da fama, quinze minutos é muito para gente calhorda), o que é bem provável, e em breve veremos a futura "ex-virgem" capa da Playboy em troca de mais alguma "merreca".

O filme “Proposta indecente” ("Indecent proposal") do cineasta britânico Adrian Lyne, também aborda a compra de sexo (e de pessoas e não necessariamente de sentimentos) por um punhado de dólares. O charmoso “magnata” Robert Redford negocia, com o então marido da personagem de Demi Moore, uma noite de sexo com a bela esposa do coitado, em troca de milhões de dólares que parece ser a redenção do casal em crise financeira, mas... 

E os sentimentos, onde é que fica nessa história? A pergunta cabe no filme, e a trama rola em torno dessa polêmica (ao som da voz sensual da famosa cantora de beleza exótica, nascida nigeriana e radicada na Inglaterra, de nome Sade Adu, com a bela melodia “No ordinary love” - veja no final do texto), mas a pergunta também cabe na história da jovem brasileira que se diz “romântica” (??) mas leiloa sua primeira vez com qualquer um (quem sabe até um decrépito), em troca do vil metal. De novo, pára o planeta que eu quero descer.









sábado, 6 de outubro de 2012

Filosofando no cinema: muito mais que "cinquenta tons de cinza"

“Nosce te ipsum” (“Conhece-te a ti mesmo”). A famosa frase é atribuída ao “Oráculo de Delfos” na antiga Grécia, e é a pedra angular da filosofia de Sócrates que, segundo relatos de seu discípulo Platão, o filósofo teria respondido ao oráculo com outra célebre frase: ”só sei que nada sei”.

A vida tem muito mais que cinquenta tons de cinza. Mas o que tem a ver filosofia com os “cinquenta tons de cinza”? Na verdade, nada... ou tudo, pelo menos para mim. Já me explico.

O badalado livro em questão, “Cinquenta tons de cinza”, não li, pois não me convenceu o tipo de leitura, ainda mais mal escrita (li críticas de fontes literárias confiáveis e foi o suficiente para desistir do mesmo), nunca gostei de melosidades exageradas do estilo “Titanic” (do megalomaníaco James Cameron) e muito menos baboseiras e leituras rasteiras do estilo “Sabrina” (nem mesmo na minha adolescência).  

Não me apetece esse tipo de leitura, ainda mais sobre um “príncipe encantado com ares de Marquês de Sade”. É tudo o que uma mulher não precisa nos dias de hoje. Tantas foram as batalhas, por tantas décadas, e ainda tão poucas as conquistas, e ainda vamos nos deixar subjugar por um reles espécime do gênero masculino? É, no mínimo, um retrocesso, pois já devíamos ter aprendido que “esse príncipe vai virar um chato e acabar dando no saco” (“Malandragem“ de Cazuza e Frejat).



Ao invés do “porno-erótico tom de cinza”, prefiro leituras como as do livro do francês Ollivier Pourriol, “Filosofando no cinema, que aborda filmes cujos temas são desejo e erotismo no telão. Esse professor de filosofia, que usa o cinema como ponte para suas aulas e palestras filosóficas, escreveu também “Cinefilô, as mais belas questões da filosofia no cinema”, abordando de René Descartes a Spinoza sobre as mais diversas questões filosóficas. 

Filosofia, literalmente falando, significa “amor à sabedoria”. A filosofia busca estudar os problemas relacionados à existência e ao conhecimento, e "conhecimento é poder", dizia o filósofo inglês Francis Bacon. Os filósofos sempre buscaram respostas para perguntas tais como quem somos, qual o sentido da vida, e sobre a existência (ou não) de um ser superior, acima do bem e do mal, regendo nossas vidas.

“Cogito ergo sum” (“Penso logo existo”). Descartes nos convida a descartar  (usando um trocadilho com o nome do filósofo) o que ele chamava de “convenção da vida real” para colocar em dúvida a existência do mundo e até de si mesmo.

As pessoas infelizmente (e isso vale também para os homens) ainda apostam a sua própria felicidade no outro, vivemos sempre na dependência do outro nos fazer felizes. E o romantismo de séculos atrás foi cruel com as mulheres, ao criar o mito do príncipe encantado e seu eterno cavalo branco, e as mulheres continuam transcorrendo décadas após décadas atrás dessa fantasia.  Mas a filosofia tenta nos mostrar que o caminho da felicidade está, na verdade, dentro de nós mesmos, e não na dependência de outrem.

O cinema mostra em cores (e não só em cinzas) como tendemos a apostar a nossa felicidade no outro, como em “Depois de horas”, de Martin Scorsese (veja no final do texto), ou então apostando a felicidade no consumo desenfreado, como o insone e patético personagem de Edward Norton em “Clube da luta” (do diretor David Fincher - veja no final do texto) que coloca sua vida nas mãos do seu alter ego Brad Pitt, assim como a protagonista virgem aposta toda sua felicidade no personagem charmoso, mas perverso, de nome Gray, de “Cinquenta tons de cinza”.

Felicidade. Escolhas. A filosofia nos mostra o caminho do livre arbítrio. Descartes convida-nos a fazer escolhas e que, qualquer que seja ela (a escolha) é sempre boa, nunca uma má escolha, pois nos faz tomar um destino para a nossa vida, e mais importante, nos ensina a perseverar naquela escolha. Para Descartes o pior dos males é a indecisão. Ele dizia que mais que saber escolher, é preciso inclusive inventar escolhas.

O cinema pode nos abrir perspectivas, pensamentos e reflexões (claro que eu estou falando de filmes de qualidade) e ele (o cinema) o faz muitas vezes nos divertindo (mas nem sempre, às vezes nos deixa "deprê", mas faz parte) e dirigindo-se sempre à nossa imaginação, podendo ter um efeito mais imediato, mais direto, e mais duradouro até que a ficção escrita. Pena que muitos só buscam o cinema como diversão e perdem a chance de refletir sobre temas instigantes e intrigantes contidos em muitos desses filmes, sem contar a "aula" de arte e cultura em muitas películas de qualidade.

Assim, o cinema é filosofia pura (e é democrático, pois é praticamente acessível a todas as classes sócio-econômicas), tanto na pele do abobado Tom Hanks em “Forrest Gump” que, apesar do entendimento finito do personagem, usa da sua vontade infinita para alçar seus objetivos, como também no personagem glutão e monstruosamente obeso, do filme “O sentido da vida” do impagável grupo “Monty Phyton” (veja no final do texto) que, por não saber escolher, pede todas as iguarias do restaurante até literalmente explodir.

E para quem não sabe nada de filosofia e quiser se iniciar nesse universo e nessas questões existenciais, nada melhor que “O mundo de Sofia”. O livro norueguês foi lançado na década de 90, mas só traduzida anos depois para o português. Uma aula romanceada de filosofia, muito bem bolada, que consegue agradar adultos e adolescentes interessados em algo mais que "príncipes encantados com contrato assinado de pseudo-liberdade".  

Como a personagem Sofia do romance norueguês de Jostein Gaarder sobre a história da filosofia, eu era uma adolescente inquieta (mas não no sentido de angústia e sim, como diria o filósofo Locke, eu tinha um espírito inquietante e questionador), e questões filosóficas como “quem sou eu” e “o que faço nesse mundo” sempre povoaram minha mente de menina (e livros como “Sabrina” ou “Júlia” não respondiam às minhas perguntas).  

A história romanceada da filosofia contida no livro “O mundo de Sofia” foi parar no cinema (na verdade uma série televisiva norueguesa que chegou há pouco tempo no Brasil em DVD), a obra cinematografada nos leva "ao vivo", junto com a jovem Sofia, à Grécia antiga e passeia pelos corredores do Parthenon junto com os filósofos da Antiguidade (veja no final do texto), encontra a peste negra na Idade Média até chegar aos dias de hoje, complementando visualmente a obra escrita, ou seja, vale a pena ler o livro, e assistir ao filme, para descobrir que a vida tem muito mais que cinquenta tons de cinza".

Atualmente estou lendo Os infinitos de John Banville* e na cabeceira da minha cama já está me aguardando o autor britãnico Ian McEwan* com Serena. Portanto não dá prá perder tempo com qualquer tom de cinza. Mas se alguém está mesmo interessado em livros eróticos, recomendo os autores norte-americanos Phillip Roth e Paul Auster (ou então o próprio Marquês de Sade) que têm textos com temas “calientes”, com certeza muito melhor escritos que “Cinquenta tons de cinza”.

* Detalhes sobre esses autores, aqui no blog, nos links abaixo.
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2011/11/literatura-de-ian-macabro-no-cinema.html
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2009/12/o-fascinio-de-o-mar-de-john-banville.html













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