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sábado, 18 de dezembro de 2010

Filmes em 3D: ame-o ou deixe-o??!!

A revista Veja publicou, neste mês que se finda, uma reportagem do jornalista americano Roger Ebert (conceituado crítico de cinema, inclusive já agraciado com o Pulitzer Prize, e que hoje luta contra um câncer que deformou seu rosto e lhe roubou a fala). Na reportagem, intitulada "Por que eu odeio o 3D (e você também deveria odiar)", o crítico discursa sobre a nova tecnologia que, em sua opinião, "nada acrescenta à experiência de ver um bom filme no cinema".

Já na minha opinião, "nada contra nem a favor, muito pelo contrário", ou seja, sempre digo que, prá mim, o que importa é o conteúdo do filme, o quanto eu me envolvo e me emociono com o mesmo, assim tanto faz o tamanho da tela, a cor ou o som (desde que seja sempre na língua original), ou seja, se o filme é ruim, de nada adianta telão IMAX, som dolby estereo surround ou digital, 5 ou 6 canais, "technicolor" ou "kodakcromer" e agora o 3D - e ao contrário, um bom filme, eu curto até na "famosa" telinha de TV preto e branco dos "motoristas de táxi" (mas, claro que, se eu puder ter toda a tecnologia ao meu alcance para ver um bom filme, nada tenho contra).

Saudades dos antigos cinemas "pulgueiros" da minha adolescência, com suas projeções ocasionalmete fora de foco, que eram motivos de divertidos burburinhos no escurinho do cinema (ver e rever "Cinema Paradiso" é, para mim, simplesmente voltar no tempo). Recém formada em medicina, mas já cinéfila de carteirinha, vim morar em Niterói, e me dividia entre os livros de medicina e as sessões do cine-arte UFF, e "bebi muito dessa fonte", ouvindo os estudantes de teatro e cinema se esbaldando em conhecimentos cinéfilos nas mesas do Café do cinema da UFF.

Meu primeiro "debut" no cinema da UFF foi inesquecível - assisti ao filme "O baile" do cultuado diretor italiano Ettore Scola, que me marcou para sempre como cinéfila, e daí não parei mais, queria saber mais e mais sobre cinema, principalmente cinema europeu.

Em "O baile", Ettore Scola teve a "audácia" de realizar, em plena década de 80, um excelente filme, totalmente mudo, num cenário único (um grande salão de baile) em que o protagonista é principalmente a música, mas não é um musical, os atores não cantam, só gesticulam e dançam. Com o desenrolar do filme, o diretor (junto com o  movimento corporal dos excelentes atores) consegue a proeza de nos confundir, pois tem-se nitidamente a impressão de "ouvir" os atores em cena (mas na verdade eles permanecem mudos o tempo todo do filme).

"O baile" ("Le bal") começa na década de 30 e vamos nos situar com a ajuda das músicas referentes a cada década, até chegar ao "fim do baile" na década de 80. O "diálogo" corporal dos atores, junto com as músicas, é magnífico, sem uma única palavra vamos nos emocionar com a história da França desde os anos 30, passando pela ocupação nazista durante a 2ª guerra mundial, a posterior libertação pelas forças aliadas, a ascensão da classe trabalhadora e o movimento estudantil.



Ótimas são também as cenas com o revolucionário rock and roll ("Tutty frutti" do Elvis Presley) e com as famosas músicas das big bands (uma homenagem "a era do swing") como as de Glenn Miller ("In the Mood" e também "Moonlight Serenade" - ouça abaixo no fim do texto), e tem também mambo (a caliente música "El baion" orquestrada) e até "Aquarela do Brasil" de Ary Barroso, numa retrospectiva emotiva (e também muito divertida), imperdível por conta da genial "narrativa" do cineasta.

Aproveito a deixa para falar de outro excelente filme do diretor, "Nós que nos amávamos tanto" (são filmes que só se consegue em locadoras "cult" e às vezes passa no "telecine cult") - é um filme que "aproveita" a história de três amigos (que não se viam desde o fim da 2ª guerra mundial) para falar dos 30 anos da história da Itália após a guerra, na visão dos tais amigos que descobrem que eram, os três, apaixonados pela mesma mulher (ver trailer "Ceravamo tanto amati" no final do texto).

Nesse filme, metade em preto e branco (período da guerra) e depois colorido no reencontro dos amigos, o diretor traz a novidade do teatro para a telona, com suas luzes que focam os "pensamentos" dos personagens, enquanto o resto do "palco" fica na penumbra. Ettore Scola com esse filme homenageia principalmente o cinema italiano de Frederico Fellini e Vitorio de Sica, que têm uma participação especial no filme como eles mesmos (e também de Marcelo Mastroiani), com discussões filosóficas sobre os clássicos filmes desses renomados cineastas como "La dolce vida" e "Ladrões de bicicleta", e mostra como a 7ª arte é vital para a sua vida (e para a nossa também). 

E voltando ao tema 3D, o jornalista tem razão em vários aspectos, por exemplo, o recurso só funciona bem em (bons) filmes de ação (não cabe em dramas) - década de 90, vi pela primeira vez, na Disney, o cinema em terceira dimensão. Sentada na última fila de uma das salas de projeção do parque de diversões, me vi acuada contra a parede com o dedo "espada" do rival do Arnold Schwarzenegger, o exterminador do futuro 2 (assista trailer no final do texto), tentando virtualmente furar meus olhos (mas já tinha visto no Brasil sem o recurso, e achei genial do mesmo jeito).

As salas de cinema de hoje em dia estão concentradas nos grandes "shoppings da vida" (com raras exceções, como o majestoso Cine Odeon, com sua bela arquitetura ainda preservada), e são frias demais, nos dois sentidos, ar condicionado de gelar os ossos e um ambiente inóspito com espectadores alheios, impassíveis, diante da telona. A magia do cinema que encantava o menino Totó no filme "Cinema Paradiso" quase não se vê mais - quantos "Totós órfãos" não existem pelo mundo??!! (eu sou um deles).

Mas não sou contra a evolução, é apenas um saudosismo saudável, é como olhar, orgulhoso, o filho crescido, mas também relembrar, com carinho, o bebê que já tivemos nos braços. Quem ama o cinema vai ter sempre reservado um lugar especial para o cinema mudo em preto e branco dos anos 30, e deixar também o coração aberto para novas paixões como o 3D.

















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