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sábado, 26 de março de 2011

Traição masculina e feminina: quem assume a liderança e sobe ao pódio?

O cinema sempre me leva a devaneios. Mesmo nos filmes sem muita importância, sem muito conteúdo (desde que não seja puro “trash”), sempre procuro extrair alguma reflexão sobre o tema em questão. 

O filme “Alfie, o sedutor” é um desses filmes.  Refilmagem do britânico “Alfie - como agradar as mulheres”, da década de 60, com o então “machão chauvinista” Michael Caine, que tem uma crise de consciência questionando seu “estilo playboy de ser”, o filme de agora traz o charmoso Jude Law no papel do “Don Juan” em crise. O filme conta também com as atrizes Marisa Tomei e Susan Sarandon, como algumas das mulheres que não resistem aos galanteios e investidas de Jude Law.

No remake atual, já não cabe, em plena era AIDS, o hedonismo descompromissado do movimento hippie da década de 60, mas como no filme original, o sujeito continua egoísta e manipulador, deixando mágoas e ressentimentos por onde passa. No entanto, já não se pode dizer que suas “vítimas” sejam tão inocentes como as do seu antecessor, na década de 60 (naquela época, apesar da “queima de soutiens”, a reputação de uma mulher ainda ia “ralo abaixo” ao se envolver com um sedutor cafajeste e galinha). Agora o novo Alfie é um sujeito cujo maior pecado é a imaturidade, mas a verdade é que sempre haverá “Alfies” a solta por aí, e sempre haverá mulheres desavisadas que continuarão caindo em sua rede.

Refletindo sobre o tema – dizem as “más línguas” (leia-se machos em geral) que nós, mulheres, reclamamos, mas que “no fundo, no fundo, adoramos homens-galinha”. Na verdade, há uma pequena verdade por trás dessa “máxima” dos homens (justificativa fajuta para continuarem a nos trair), e é a de que existe realmente um grupo de mulheres que, ao se depararem com um homem sabidamente galinha, confessa imediatamente “aos seus botões”: “Oba, oportunidade a vista”.

Sim, oportunidade. Parece piada, mas é verdade. Algumas mulheres enxergam no homem-galinha “uma oportunidade”, pois homem-galinha não faz muita escolha, e a chance aumenta para essas mulheres que não se sentem capazes, no calor da disputa pelo sexo oposto, de conquistar um homem por seus próprios méritos, e ela sabe que o homem galinha não vai fazer questão de muita “qualidade”.

Ou seja, a auto-estima dessas mulheres está em geral muito comprometida, e esses sedutores modernos, espertamente, não agem mais como os antigos e brutos machões (como no original do filme de 1960), hoje eles são sutis, dúbios, preocupados em não “magoar” as parceiras (se é que isso é possível, como assim acha o tal Alfie do filme em questão), e facilmente consegue levá-las na lábia.

Quando a mulher que tem senso de auto-preservação, e que tem amor próprio, percebe que caiu na lábia de um deles (às vezes, não é fácil identificá-los, logo de cara), imediatamente cai fora, sem olhar prá trás, pois sabe que o futuro ao lado de um homem galinha é sofrimento na certa, é como aceitar viver ao lado de um alcoólatra, um vício difícil de curar. Assim como o homem não leva a sério uma mulher-galinha, a mulher que busca um relacionamento adulto maduro, não tem também interesse em se envolver com um homem-galinha (e sem entender isso, o tal Alfie se surpreende quando é, literalmente, posto de lado e trocado por outro).

Mas, ao contrário, algumas mulheres carentes, ainda nos dias de hoje, acham que irão salvá-lo do “vício” e que, “com ela, ele vai mudar”. Não percebem que ele escolheu flertar com ela, em detrimento de "todas as demais ao redor", não porque a achou "interessante", mas sim porque, espertamente, ele "sondou" e percebeu que, carente, ela seria uma "presa fácil". E elas acreditam piamente no efeito “bumerangue”, de que o homem sai com outra, mas voltará sempre para os seus braços. E a volta do “bem amado” é então interpretada, equivocadamente, pela mulher com carência e necessidade de auto-afirmação, como uma “prova” de que ela é melhor que as outras, que ele a preferiu no lugar de todas as outras, que ela é a “matriz” e as outras “apenas filiais”.

E, segundo especialistas em psicologia clínica, a mulher que se sente atraída por homens assim, pode indicar ainda um componente reprimido. A relação seria uma forma de vivenciar, através do parceiro, o desejo de ser sexualmente livre e de ter vários amantes. Parece maluquice, mas conheço mulheres que confessam se sentir exatamente assim, é quase uma autorização implícita da mulher, diante da sociedade, para trair sem grilos ou julgamentos – tipo “ele me trai, então eu também posso trair”. Algumas mulheres até se declaram "hormonalmente masculinas" e dependentes de "sexo por sexo" para sobreviver (não acredito nisso nem em homens, afinal, que eu saiba ainda somos animais racionais).

Por outro lado, segundo estudos comportamentais, esses tais sedutores compulsivos têm alguns traços típicos (e o tal Alfie é um deles): em geral são homens inseguros (embora nem sempre aparentem isso), com sérios problemas de auto-estima na área emocional (mesmo que bem sucedidos profissional e financeiramente), têm muito medo de ficar sozinhos, com vários conflitos emocionais não resolvidos. Têm muito medo de serem rejeitados e uma enorme carência, procurando em cada mulher o vazio existencial que carrega dentro de si mesmo (é a tal “paz de espírito” que o Alfie confessa, apesar de não muito convincente, no final do filme).

E acaba, assim, havendo quase que um pacto inconsciente da parte dos dois – o homem galinha se sente confortável com a mulher que aceita os seus pulos de cerca sem questioná-lo, e sem medo de que ela o abandone (como faria outra mulher com amor-próprio e auto-estima), por isso vemos tantos casais em que todos sabem que o fulano é galinha e a mulher mantém-se ao seu lado “sem reclamar" mas, detalhe, hoje em dia, não necessariamente submissa e casta.

No filme atual, ironicamente, a maior “rasteira” que o tal Alfie leva é justamente das mulheres que ele menos esperava – a meiga Marisa Tomei que o troca por alguém que a respeite, e a sensual “coroa” Susan Sarandon que, divinamente, o faz provar do seu próprio veneno, e o deixa literalmente “com as calças nas mãos” (veja o filme e delicie-se com o sutil "tapa na cara" que ele leva da libidinosa, e também promíscua como ele, Susan Sarandon).

“A galinhagem masculina é uma agressão à integridade emocional feminina”, disse uma especialista em psicologia clínica, “o risco que a mulher corre é não conseguir distinguir que o problema é do homem, e passar a se auto-depreciar, achando que se ele procura outra, o problema é dela que não consegue supri-lo”, continua a especialista. “Ou então, surge o desejo de se vingar, repetindo o comportamento masculino, seduzindo vários parceiros, realimentando o círculo do poder, ciúme e disputa, e negligenciando suas próprias necessidades emocionais”, conclui a especialista.

E é verdade. Com a revolução sexual, as mulheres já não se “guardam” mais como antigamente, e hoje em dia o número de mulheres comprometidas que andam “pulando a cerca” não é pequeno, muitos desses homens que acham que têm uma mulher, na redoma, a espera deles, se surpreenderiam se realmente soubessem o que se passa enquanto eles estão na rua, “trabalhando ou também pulando a cerca” (eu mesma já me surpreendi com mulheres que eu mesma jamais imaginaria que tivessem traído seus parceiros, se não fossem elas mesmas que me tivessem confessado).

E hoje, virou um páreo duro, entre homens e mulheres, para saber quem sobe ao pódio e assume a liderança no quesito traição. No fim, é triste saber que as pessoas estão deixando de viver intensamente pelo menos um único e verdadeiro amor, porque têm medo de enfrentar um relacionamento completo (leia-se “respeito mútuo e consequentemente fidelidade”), e passam a vida toda na ilusão de um dia ser feliz buscando no parceiro (e em mais de um, ao mesmo tempo) o preenchimento do próprio vazio existencial.

Voltando a “Alfie, o sedutor”, o filme tem muitas falhas, e na verdade acaba sendo uma comédia dramática despretensiosa, passando muito superficialmente pelo tema “relacionamento adulto”, e talvez o mais interessante do filme sejam as belas tomadas (noturnas principalmente) das ruas de Manhattan, e a excelente trilha sonora, com a voz performática e inconfundível de Mick Jagger, que também aparece, nas belas fotografias em preto e branco, nos créditos finais, (e que também homenageia o “Alfie original”, o ator Michael Caine) – veja no final do texto, Jude Law cantando com Mick Jagger, no "making of" do filme.

E, voltando ao tema do filme, me lembrei de outro bom filme que segue o mesmo tema – “Um grande garoto” (“About a boy”) com o irresistível sotaque britânico do charmoso ator Hugh Grant, que também faz o papel de um sedutor sem escrúpulos, que se envolve paternalmente com um menino sensível e sua mãe descolada (e paradoxalmente deprimida - a ótima atriz Toni Collete), que o faz repensar a sua vida superficial e egocêntrica de "playboyzinho" desprezível.

O filme, também com uma bela trilha sonora, consegue se livrar dos clichês de sempre das comédias românticas, ou seja, num “enlatado qualquer”, o sujeito almofadinha e desprezível se transformaria  num novo sujeito, sem falhas de caráter, se apaixonaria pela mãe depressiva do garoto e viraria o “padrasto que mamãe pediu a Deus” e então “viveriam felizes para sempre”. Veja trailer do filme, no final do texto, e a "canja" de Roberta Flack, cantando "Killing me sofly with his song", a badalada música dos anos 80, que o menino dedica, no filme, a sua "mãe" Toni Collete.

Para finalizar, deixo a frase do dramaturgo e diretor Domingos de Oliveira que, certa vez, disse, com extrema sabedoria: “os relacionamentos não acontecem necessariamente para nos fazer felizes; o que realmente importa é que, felizes ou não, nos faça sentirmos vivos”, e para nos sentirmos vivos é preciso, a meu ver, ter auto-estima, amor-próprio e respeito mútuo (e isso para mim, inclui necessariamente fidelidade).

E, da próxima vez, antes de partir para uma "aventurazinha sem compromisso",  pense bem antes, pois você pode estar, indiretamente, dando "carta branca" para a sua parceira fazer o mesmo.

E como já disse em outro texto, homem galinha que vive “pulando a cerca”, sinceramente, prá mim, não serve nem prá limpar o cocô do meu cachorro (que eu nem tenho). E veja abaixo, como uma mulher poderosa, bem resolvida e segura de si mesma, se livra, com muita classe, do sedutor compulsivo "que se acha".













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