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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Mais surreal, impossível

Como gosto de escrever, costumo ser muito observadora, e o dia a dia, o envolvimento com as pessoas, no trabalho, no lazer, na rua , é sempre inspirador, por isso onde quer que eu vá, estou sempre a observar os transeuntes a meu lado, e como o cinema é a “minha praia”, estou sempre com os sentidos aguçados quando o tema é esse.

Assim, dia desses, numa locadora “caçando” filmes cult, não pude evitar os diálogos e indagações a minha volta. O rapaz da locadora, um daqueles que costumam “dar dicas” (um conselho, fuja deles como o diabo da cruz) conversa com um cliente sobre filmes – e ai, ai, ai, meus sensíveis ouvidos – as dicas vão de cabeças rolando (menos de 10 é “filme fraquinho”) a estilhaços de metralhadora, o fulano não sabe por que cabeças vão rolar e muito menos qual o motivo dos estilhaços, mas o “filme é maneiro” diz ele, e o sujeito que recebe “a dica” sai satisfeito com o “filmaço” debaixo do braço (“holly shit”, e ainda tem mulher que perde tempo com esses cérebros de gelatina).

Volto a me entreter com meus pensamentos e minha busca incessante, quando ouço mais um casal cliente em dúvida: “ será que esse filme é legal?”, minha curiosidade de cinéfila me faz interromper minha procura e dou uma olhada no título: era o filme “O céu que nos protege”, como eu não tava a fim de perder tempo dando dicas prá qualquer um, apenas disse: “pode levar, é do Bertolucci”, eis que a cara de espanto deles me fez desistir de qualquer tentativa de diálogo, eles não tinham a menor idéia de quem eu estava falando.

Pausa prá minhas observações, volto pros meus “achados e perdidos” (filmes cult é assim, igual sebo de livro, tem que ralar prá achar), e entretida comigo mesma, esqueço um  pouco o mundo ao meu redor, me envolvendo com grandes nomes do cinema, eis que outro diálogo surreal me tira “do meu transe”, uma moça pergunta ao atendente da locadora: “esse filme, as pessoas  costumam levar ? vale a pena assistir”?  Mamma mia, inacreditável, mais surreal impossível, era “o Poderoso Chefão”, tudo bem Bertolucci, mas não conhecer o Coppola com a trilogia da saga da família Corleone (veja trailer do filme no final do texto) é demais prá minha cabeça, “capice”?

Olho em volta e, como não raro estou no “mundo da lua”, pergunto a mim mesma: “Será que hoje caí em algum outro planeta? Onde estou? Marte, o planeta vermelho? Júpiter?? Dio mio, quem é essa gente? O que fazem? Onde eles andam? Foram congelados nos últimos 20 anos??”

Até entendo que é um direito de quem não curte cinema ficar alienado (“gosto é gosto, não se discute, se lamenta”) mas as pessoas avessas a 7ª arte costumam passar longe da porta de um cinema e das locadoras, então só tem uma explicação, mais um cérebro de gelatina, agora do sexo feminino, ´par perfeito para o tal “cabeças rolando”, quase dei uma de cupido  apresentando-os um ao outro.

Mas mais surreal ainda, foi outro dia, quando um casal, desses “estranhos no ninho” (Milos Forman e Jack Nicholson que me perdoem a comparação), que se referem um ao outro com “amor prá lá, amor prá cá”, mas que estão sempre a  metros de distância um do outro, não se dão nunca as mãos, a garota, já com uns cinco DVDs debaixo do braço, pergunta ao rapaz: “Môo (haja breguice esse vocativo), levo esse ou esse?" E o rapaz prontamente responde: ”Leva qualquer um, você vai dormir  em dez minutos e eu em menos de cinco  minutos  já vou estar roncando mesmo".

Aquele  diálogo surreal ficou me perseguindo no caminho de volta prá casa, como alguém leva tantos filmes prá casa, se vai dormir em minutos ao vê-los?? Não faz sentido prá mim. Pensei na hora com meus botões:”Pega então só um, sei lá, com cenas sexy (não pornôs, que é broxante prá mulher) e vai transar com a garota, ô mané”. Me pergunto nessas horas o que leva pessoas assim a se envolverem e até se casarem, quando “tá cuspido e escarrado” (sorry, mas “esculpido na carrara” não tem a mesma força de expressão) que aquele casal não tem nada em comum, estão totalmente desconectados um com o outro.

Não posso entender casais que pegam filmes prá dormir, ficam a metros de distância um do outro, nem se dão as mãos, mas se dirigem um ao outro com o batido e brega “môo” (a versão do não menos brega “amor” – me soa sempre algo “fake”), ou seja, a realidade, e mesmo a fantasia, inexistem para eles. Triste, não?








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