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sábado, 13 de março de 2010

Cinema - a arte dentro da arte

Do mesmo jeito que costumam ficar impressionados com meus conhecimentos em cinema, eu fico abismada como tem gente totalmente alheia ao cinema. Não gostar de cinema é um direito (mesmo que lamentável na minha opinião, mas um direito) mas muitos dizem "gostar de ver filmes", porém são totalmente alienados em relação ao contexto, à temática que o filme aborda, assim vão ao cinema (ou a locadora) em busca de "filme, apenas filme para se divertir", e aceitam indicação de qualquer desavisado que de nada entendem de 7ª arte.

A indústria cinematográfica produz muito lixo, há milhares de filmes intragáveis, impossíveis de se assistir, já desde os créditos iniciais, e entrar na porta de um cinema (ou de uma locadora) e só escolher pelo título, ou por dicas de desavisados, é risco na certa de levar prá casa, além de um filme indigesto, uma noção equivocada dessa maravilhosa arte de contar histórias.

Cinema, quando de qualidade, é pura cultura em forma de entretenimento, aborda temas políticos, biográficos, artísticos, filosóficos, psicológicos, e históricos. Conhecer o que rola nos bastidores, o "making of" por trás das câmeras, é prá mim, virar cineasta "por tabela". Fico impressionada como muitos assistem filmes, sem questionar o que levou um cineasta a abordar um determinado tema por um ou outro prisma. Conhecer o que rolou na cabeça do cineasta é desvendar um mistério que enriquece (e muito) o conteúdo e o valor de um filme.

Muitos artistas colocam em suas obras suas experiências de vida, e muitas vezes expressam o contingente de uma época sob a forma de denúncia, explícita ou não, em suas obras. Muitas dessas formas de arte só podem ser compreendidas (e admiradas) conhecendo-se "os bastidores" e o "making of" dessas produções.

Chico Buarque, por exemplo, para ludibriar a ditadura militar, escreveu peças de teatro e músicas que viraram obras magníficas de grande importância histórica (tais como a peça "Calabar", as músicas "Geni e o Zepelim", "Apesar de você" e "Cálice"), porque continham mensagens subliminares escondidas, para driblar a censura nos anos de chumbo.

O cineasta espanhol Carlos Saura também em seu país teve sua arte afetada pela ditadura do caudilho Franco, que afetou também outras artes como a do pintor Salvador Dali e a do escritor Garcia Lorca. Ninguém passa impune por uma ditadura, ainda mais uma que durou cerca de 40 anos.

Saura filmou o sensível e tocante “Cria cuervos” - o título do filme vem de um provérbio espanhol “cria corvos e eles te arrancarão os olhos” -  o filme, rodado na década de 70, retrata a vida de Ana e seus “fantasmas”, e o cineasta usou o sufrágio que o filme aborda, em relação a “orar pelos mortos”, como um paralelo a outro significado da palavra, que é o “direito ao voto” (numa alusão ao fim da ditadura de Franco, pois o filme foi rodado enquanto o caudilho agonizava no seu leito de morte). Ana, sua avó e sua mãe retratam a Espanha, o passado e o presente franquista decadentes, sob o olhar da menina e mulher Ana, um olhar assustado mas esperançoso num futuro livre da opressão franquista. 

O cinema também é arte e história, ao mostrar brilhantemente biografias de grandes nomes, seja da música, da pintura, e muito mais. Há um tempo atrás, conversando com um amigo (que já se confessou meu leitor assíduo, mas ainda não é meu "seguidor"), num papo sobre minha vontade de me "inteirar" melhor no mundo das "belas artes", me indicou o livro "A história da arte" de E. H. Gombrich (que indico também a quem interessar ) que tenho "saboreado" lentamente, e me embriago com a leitura da vida e das obras de grandes nomes da arte,

e cinéfila que sou, aproveito para me inteirar mais ainda da vida desses grandes artistas através de suas biografias cinematografadas – por exemplo, o cineasta Milos Forman filmou "As sombras de Goya" (veja trailer no fim do texto) e Carlos Saura filmou "Goya in Bordeaux" numa riqueza de detalhes da arte e da vida conturbada desse artista, através de seus "fantasmas" e sua vivência numa época do radicalismo da Inquisição e da iminente invasão da Espanha pelas tropas de Napoleão Bonaparte que influenciou toda sua obra como pintor.

O cinema também é filosofia prá ninguém botar defeito, atualmente estou lendo também "Cine Filô – as mais belas questões de filosofia no cinema", o livro aborda toda a filosofia que está por trás de filmes como Matrix (desde Platão com o "Mito da caverna") - prometo detalhes sobre a abordagem filosófica desse filme em breve,

e o questionamento de Descartes, entre a razão e a vontade, estão no ótimo "Forrest Gump - o contador de histórias", em que o personagem, na pele de Tom Hanks, mesmo desprovido de inteligência (e até por isso mesmo) corre sem razão, segue apenas sua vontade, fazendo uso total de sua liberdade de ir e vir, mas o questionamento está em exercer a vontade e a liberdade quando se tem ciência de que elas existem, em contraposição com a razão e o aprisionamento.

Assim, o cinema é a arte dentro da arte, e como forma de cultura e aprendizado é imbatível, pois registra para sempre, na nossa memória, com seus impressionantes efeitos especiais audiovisuais, o que nenhuma outra arte consegue transmitir e transpor.








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