Imagem

Imagem

Select Language

sábado, 4 de setembro de 2010

"Ninho vazio"

Dois corpos flutuando na água. Um casal. Um homem e uma mulher. A pergunta fatídica: estarão mortos???? Não. Quer dizer, fisicamente não. Mas, metaforicamente, parece que sim. Onde flutuam ???? Ironicamente, flutuam em pleno Mar Morto, numa região praticamente desértica, em Israel. Por isso flutuam tão facilmente (o excesso de sal torna a água muito densa). A paisagem ao redor do Mar Morto é árida, praticamente sem vegetação, nada cresce ao redor (e dentro) daquele imenso lago azul envolto numa orla repleta de sal, numa paisagem totalmente estranha para nós, acostumados que estamos com os trópicos e sua vegetação abundante.

Essa cena inusitada que acabo de descrever marca o filme “Ninho vazio” do argentino Daniel Burman (trailer do filme no final do texto), e mostra os personagens principais, um casal cuja crise de meia-idade (e do próprio relacionamento) se aflora ainda mais com o “revoar” dos filhos (que vão viver suas próprias vidas longe da presença dos pais) – a síndrome do “ninho vazio”.

O diretor usa da linguagem do cinema para mostrar a reação individual de cada um dos personagens àquela nova realidade – filhos longe, como fica a relação conjugal????  Ela, a mulher, reage euforicamente, como se a vida estivesse por um fio (não quer se sentir “morta”) e não há tempo a perder, corre contra o tempo, quer voltar a estudar de onde parou, rever os amigos, se reinventar, e segue a vida, paralela ao seu parceiro, sem mais se "encontrarem",

enquanto ele parece que quer a todo custo, voltar no tempo, e se perde em um turbilhão de emoções, reais e imaginárias – o diretor “usa e abusa” do desapego ao verossímil (o personagem uma hora está na sua poltrona de couro, e de repente já está num campo conversando com o amigo imaginário (?), depois vai para a rua, depois para o desértico Mar Morto), brincando com imagens alucinatórias, em situações que o personagem está (ou gostaria de estar?) vivenciando, numa clara alusão de que também não quer estar “morto”.

"Ninho vazio" é um filme singelo, sobre um casal em busca de "dois inteiros" e não de "duas metades", com uma bela trilha sonora, com músicas envolventes, na bela voz de Jorge Drexler (cantor uruguaio que ganhou o Oscar de melhor canção estrangeira, com a música " El otro lado del rio", do filme do diretor brasileiro Walter Salles, "Diários de motocicleta" e já cantou no Brasil com Maria Rita, Arnaldo Antunes e Paulinho Moska). Veja e ouça, no final do texto, a letra da bela música "Un instante antes de levantar vuelo".

A "síndrome do ninho vazio" é mais comum do que se imagina, a crescente autonomia dos filhos em geral assusta. Algumas pessoas adotam, ao longo dos anos, hábitos nocivos à relação conjugal, deixam de conversar abertamente sobre o que os preocupa, deixam de partilhar as suas frustrações e angústias, muitas vezes para se pouparem mutuamente. E “jogam” toda a sua energia na educação dos filhos, enquanto outros se dedicam de corpo e alma à profissão. E em muitos destes casos, infelizmente, há "affairs" que vêm e vão…

Mas o tempo não resolve, sozinho, estas dificuldades, ao contrário, traz à tona diferenças até então encobertas. Os casais que, em algum lugar no tempo, passaram a realizar percursos paralelos estão, naturalmente, numa posição de maior vulnerabilidade, quando os filhos se vão.

É preciso encarar os fatos, e tentar encontrar um caminho em comum que se cruze, do contrário o divórcio é o passo natural, não adianta insistir se não há mais projetos a dois, se os caminhos correm paralelos e não mais se encontram. E então a angústia de ver os filhos saindo do ninho, observando “o vôo” deles, pode muito bem ser compensada por novas paisagens, novos relacionamentos e novos desafios profissionais.

Finalmente, prá descontrair, e para provar que os filhos nada têm a ver com a relação desgastada do casal, assista abaixo as verdadeiras razões para uma relação acabar em divórcio.






Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...