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sábado, 17 de dezembro de 2011

Ageless - naturalmente de corpo e alma

Quantos anos você tem? Quantos anos você aparenta ter? Há pouco tempo ganhei um novo “rótulo”. Recentemente uma amiga, que não via há um bom tempo, me rotulou como uma pessoa “ageless” (sem idade, pessoa que não se consegue definir a idade).

Como me pegou de surpresa, devo ter feito uma cara questionadora (esse é o problema do corpo, que nos denuncia, mesmo quando tentamos disfarçar um sentimento, é o “corpo que fala” o que a alma tenta esconder - para entender melhor, leia o texto “O corpo fala”, aqui no blog, na “lista de textos”), talvez eu tenha feito uma cara de espanto, pois ainda estava “digerindo” a frase, sem saber se considerava um elogio ou não. Ao que a amiga, ao perceber minha provável oscilação facial, emendou: “Você é uma pessoa naturalmente “ageless” de corpo e alma. Você se mantém naturalmente jovem por dentro e por fora”.

E minha amiga discursou sobre a minha pouca mudança física desde que me conhece (nem tanto, pois disfarço bem as madeixas brancas que cismam em aparecer ano após ano), minha eterna disposição e meu vigor físico (yoga faz a diferença, me deixa sem nenhuma das famosas dores articulares fatídicas, que tanto ouço reclamarem ao meu redor), e sobre minha desenvoltura e meu trânsito fácil, tanto pelo universo da turma dos 20 como dos “jovens” senhores de 80 anos, percebido por ela no evidente agrado pela leitura do meu blog por essas tão variadas faixas etárias (mas aí tem explicação, argumentei, cinema é universal e não tem idade). 

Apesar de lisonjeada com a conclusão final da amiga, fiquei “matutando” o tema. “Ageless”. Minha primeira reação foi defensiva, pois frequentemente vemos na mídia pessoas que querem, na marra, a todo (e qualquer) custo, parecer mais jovens, e artificialmente investem em plásticas, silicones, botox e mil exageros que mais deformam que rejuvenescem (por isso minha dúvida inicial se era ou não um elogio, apesar de eu nunca ter investido nesse universo fake, no máximo faço peeling com cremes para suavizar a pele facial).

O termo “ageless” surgiu com a contemporaneidade e a longevidade que hoje está ao alcance de todos. A curta expectativa de vida na metade do século XX fazia com que um indivíduo de 50 anos fosse visto (e se sentisse) como um senhor de idade, prestes a se aposentar, com seus chinelos e pijama em frente à TV, apenas aguardando a hora de ser “ceifado” pela “dona morte” com sua gadanha implacável. Ou seja, não havia mais tempo para se questionar relacionamento ou profissão, muito menos sentimentos e desejos.

Hoje tudo mudou. O mercado da moda, dos cosméticos e consumos em geral, teve que ser reestruturado para entender (e atender) esse novo mercado de velhos jovens de 40-50-60 anos. Daí surgiu o termo “ageless”, que inicialmente denominava os “baby boomers”, os nascidos no pós- guerra (quando aconteceu uma “explosão de bebês” na 2ª guerra mundial). Acadêmicos explicam que o ser humano possui essa característica de aumentar a reprodução quando se sente ameaçado ou em perigo, e dividiram os “baby boomers” em dois grupos de gerações distintas: a primeira engloba os nascidos entre 1946 e 1954, e a segunda geração os nascidos entre 1955 e 1964. Eu pertenço ao final da segunda geração.



O mercado foi atrás do “ageless style” para angariar esse novo grupo de consumidores, que aposentaram sim, mas o pijama e os chinelos, e adiaram (e muito) o encontro com a “ceifadora”. Descobriu-se que essa geração possui renda mais consolidada, tem um padrão de vida estável, prefere qualidade a quantidade, sofre pouca influência de marcas, não vê o preço como obstáculo para perseguir um desejo, é firme e maduro nas suas decisões e não se influencia facilmente por outras pessoas.

E a famosa balzaquiana de 30 anos de Honoré de Balzac já não existe mais, nem mesmo as mulheres de 40-50-60 anos podem (nem querem) hoje ocupar o lugar das antigas balzaquianas, pois até elas estão refazendo suas vidas, amorosas e profissionais, e o termo ficou obsoleto, podendo mesmo ser extinto nos dias de hoje.

A geração “ageless” se comporta tanto física como mentalmente com mais jovialidade, e independentes têm o pensamento jovem e atual, chamado “fora da caixa”, ou seja, não é possível enquadrá-los na “caixa dos 30 anos”, nem na “caixa dos 40 ou 50 ou 60 anos”. A nova forma de ver (e viver) a vida, fez com que essa geração “ageless” não mais se importasse com a contagem do seu aniversário, pouco importando (e não mais escondendo) o nº de velinhas que vão acima do bolo.

Ser “ageless” fisicamente é manter a vitalidade dos 20-30 anos mesmo num corpo de 40-50-60 anos (respeitando, é claro, a evidente limitação do organismo), mantendo uma alimentação saudável, mas ainda prazerosa e atividades físicas regulares, mas sem exageros. É vestir-se com modernidade, respeitando-se os limites do próprio corpo, sem exageros.

Ser “ageless” mentalmente é transitar com a mesma leveza pelo universo dos 18 aos 80 anos (talvez o meu blog seja a prova mais contundente da conclusão da minha amiga), questionando os próprios relacionamentos, a profissão, o papel da família, da sociedade.

O verdadeiro “estilo ageless de ser” é saber envelhecer dignamente, sem perder o estilo e a beleza que cabem na própria idade cronológica, sem exageros, pois cada idade tem sua própria beleza. Recorrer a plásticas excessivas para parecer eternamente jovem é “over”. Quer pior que isso? Existe aquele grupo de pessoas que aparentam física e mentalmente uma idade ainda maior que a da carteira de identidade, com visual ultrapassado, pessoas que não sonham mais, que vivem se lamuriando pelos cantos, com dores na coluna que mais refletem as "dores da alma", pois chafurdaram em relacionamentos e casamentos falidos, sem entusiasmo no trabalho e sem paixão pela vida , são exatamente o oposto dos "ageless" (seriam os "out of date", fora da validade?)

Para ilustrar o texto, recomendo o filme “O curioso caso de Benjamin Button”, baseado num conto de um livro homônimo, em que o belo ator Brad Pitt vive o fascinante personagem do bebê que nasce no corpo de um velho e que, com o passar dos anos, adquire a sabedoria de um velho num corpo de um menino. É a inversão do ciclo da vida que todos nós um dia já sonhamos (ter a sabedoria dos 50 num corpinho de 20), mas adiantaria se  isso só acontecesse conosco, como vemos no filme? (enquanto Benjamin rejuvenesce, os demais personagens do filme vão naturalmente envelhecendo)

A graça da vida é o ciclo em que todos seguimos juntos, vamos envelhecer junto com nosso companheiro (ou com um segundo ou um terceiro), com nossos amigos, com nossos colegas de trabalho, e a sabedoria vai nos mostrar que o ciclo da vida se repete sim, nos nossos filhos, nos nossos netos e bisnetos.

E como minha vida, além do cinema, gira também em torno da música, deixo também como ilustração as músicas “Não vou me adaptar” e “Epitáfio” dos Titãs (aliás, o grupo também é “ageless”, fui recentemente ao show deles aqui em Niterói, e do meu lado, curtindo o som da banda, estavam jovens dos 15 aos 60 anos, repetindo em coro as letras, e todos vibrando com o mesmo vigor).

Ainda não aprendi totalmente, pois quando olho no espelho minhas ruguinhas aparecendo mais e mais a cada primavera, surge um misto de aceitação e negação, que depende do meu dia de TPM ou não (“eu não caibo mais nas roupas que eu cabia,...no espelho, essa cara já não é minha, ... não vou me adaptar”), mas dizem que quando se chega aos 60-70 anos, a sabedoria nos ensina a aceitar tudo e a todos, inclusive as marcas do tempo e as mazelas da vida (“queria ter aceitado as pessoas como elas são,...cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração”). Eternamente (ageless) Titãs.










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