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domingo, 6 de março de 2011

O cinema e o universo das drogas

O universo das drogas – sempre quando o cinema retrata esse tema, em geral, é sob um enfoque muito dolorido. E assim deve ser, pois não se pode amenizar quando se trata da vida humana e do poder de destruição das drogas.

“Ficar limpo” é possível, mas a estrada para tal é árdua, e o sofrimento é indecifrável e incalculável, por isso acho que o cinema tem que mostrar, sem rodeios, a dura realidade do mundo das drogas. E um ex-viciado nunca é 100% ex-viciado, ele precisa viver um dia de cada vez, e sobreviver ao dia seguinte. 

“Réquiem para um sonho” virou um Cult, ao retratar o mundo das drogas, tornando-se uma das obras-primas máximas do universo das drogas, ao usar uma linguagem cinematográfica moderna, ousada e dolorosamente realista. É a história de três jovens, viciados em drogas cada vez mais pesadas, e uma mãe também viciada (em medicamentos ditos lícitos, anfetaminas para emagrecer).


O filme mostra cronologicamente os sonhos dos jovens (a atriz Jennifer Connelly é um desses jovens) e depois da fase de “lua de mel” com as drogas, vem o processo de ruína, e o fim trágico de seus usuários, com mutilação de corpos e de vidas.

Quando se trata de drogas, dificilmente o final será feliz, para quem quer que seja, mesmo para os que se acham capazes de controlar o vício, os chamados “usuários sociais” – no filme, o personagem vivido pelo ator Marlon Wayans (mais conhecido pelos seus papéis em comédias como “As branquelas” e “Todo mundo em pânico”) faz o papel de um viciado que usa a droga inicialmente “a seu favor”, e que, equivocadamente, acha que tem controle sobre o seu vício. 

Ao som de uma trilha sonora incidental marcante e extremamente angustiante, a câmera movimenta-se freneticamente, em cortes rápidos, nos momentos de medo, ansiedade, insônia e pesadelos que se repetem a cada injeção – as pupilas que se dilatam, o líquido percorrendo rapidamente pelas veias, e as alucinações paulatinamente substituindo o prazer dos seus dependentes. Não há uma lição de moral no filme, cada um que julgue como quer se situar diante do que vai assistir, se as cenas impactantes (e isso com certeza elas são) serão suficientes para alertar sobre o poder de mutilação das drogas. 

Em “O casamento de Rachel” (veja trailer no final do texto), a atriz Anne Hathaway vive a irmã da Rachel do título, que sai temporariamente de uma clínica de reabilitação (para recuperação de viciados) para assistir ao casamento da irmã - o filme aborda a perspectiva de toda uma família para a volta da mimada filha problemática.

O interessante desse filme é que as câmeras que capturam a imagem da festa são em grande parte como se fossem as câmeras amadoras dos próprios convidados, fazendo o espectador se sentir as voltas de uma verdadeira reunião familiar, que inclui ter que lidar com os fantasmas de um passado antigo (que envolve um trágico acidente) e os problemas familiares (com suas brigas, seus erros e acertos) comuns a qualquer um de nós. A trilha sonora é ótima (“Everyday” de James Taylor e “Unknown Legend” de Neil Young - cantada pelo noivo - e com direito a uma "réplica" de uma escola de samba carioca) e o filme encantador, apesar de triste em muitos dos seus aspectos relacionados às drogas e seus efeitos deletérios sobre toda uma família.

Kurt Cobain, líder do grupo “Nirvana” encontrou um sósia a sua altura para reviver na telona os últimos dias de sua existência. No filme “Last days” (uma semi-biografia da carreira e da fatídica morte de Kurt Cobain), o ator e também músico Michael Pitt (inclusive bem parecido fisicamente com Cobain) vive a trajetória de um músico introspectivo, de caráter depressivo e destrutivo, que lida mal com o peso do sucesso.

Cobain mostrava-se perdido e desiludido com a fama, e apesar de repetidas insinuações e de tentativas de suicídio anteriores, ninguém foi capaz de conter o ímpeto autodestrutivo do músico, agravados em muito pelo seu envolvimento com drogas pesadas.

Kurt Cobain se sentia frustrado. "Fomos incapazes de mostrar o lado mais suave, mais dinâmico da banda", disse Kurt numa entrevista. "O som pesado de guitarra é o que garotada quer ouvir. Até quando eu serei capaz de gritar até arrebentar os pulmões toda noite, durante um ano inteiro de turnê?" finaliza a entrevista. Sentia-se prisioneiro da canção "Smells Like Teen Spirit" (veja no final do texto) e de toda badalação em torno do grunge-rock de Seattle, decorrente do sucesso daquela música e da transformação do seu nome em um ícone da música pop. 

Com “Laranja mecânica” (“A Clockwork Orange”), o aclamado diretor Stanley Kubrick causou controvérsia (e furor) no mundo do cinema em plena década de 70. Numa Inglaterra futurista, o ator Malcolm McDowel vive um jovem de classe média alta, líder de uma gangue de pervertidos, viciado em “leite batizado” que, após roubar, estuprar e matar “por diversão” (sempre ao som de uma estridente música clássica) é preso pela policia e usado como cobaia, num experimento governamental que (utilizando métodos nada ortodoxos e igualmente violentos) faria com que o indivíduo interrompesse seus impulsos violentos.

O mundo passava pela polêmica Guerra do Vietnã por trás da cortina da guerra fria, e o Brasil estava em plena ditadura, e o filme só foi liberado pela censura aqui no Brasil na década de 80, e mesmo assim só foi visto nos grandes centros urbanos e em sessões relâmpagos. E o filme questiona: quem é o mais violento? o jovem delinqüente ou o governo totalitário? Apesar de não abordar diretamente o tema sobre drogas (apesar da violência nitidamente agravada por elas), “Laranja mecânica” é um clássico do cinema cult.

Em “Gia, fama e destruição”, a bela atriz Angelina Jolie aceita o desafio para viver na telona a história real da modelo americana Gia Maria Carangi, que ainda no auge da carreira se entrega ao mundo das drogas pesadas, e morre consumida pela AIDS aos vinte e poucos anos de idade (veja no final do texto). 

E não se esqueça, antes de se enveredar nesse universo do cinema (e das drogas), é bom preparar-se, pois são todos filmes pesados, impactantes e depressivos, e a sensação de estar experimentando os mesmos desprazeres dos personagens é quase real, tal a violência desnuda das imagens cinematográficas que não poupam em momento algum o telespectador.













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