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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Por trás e muito além do "Cidadão Kane"

O famoso e sempre atual "Cidadão Kane" (cenas do filme no final do texto) – prá ficar por dentro da trama do filme é preciso entender toda a "guerra" que rolou por trás das câmeras e entrar em contato com as personalidades da época, para nos inteirar completamente dessa bem bolada história de Orson Welles, na época um jovem talentoso de vinte e poucos anos com muita audácia na cabeça.

O filme, da década de 40, causou furor na época, ficando anos engavetado, porque o cineasta desafiou um dos homens mais ricos da América, um gênio da comunicação dos EUA, dono de vários meios de comunicação da época, principalmente jornais de grande circulação, além de revistas, rádios e estúdios de Hollywood.

Welles escancara em seu filme todo o monopólio desse grande magnata, denunciando toda a sujeira que havia por trás das manchetes sensacionalistas do jornal mais vendido nos EUA. O jornal, sob o comando do ricaço, manipulava as notícias só divulgando meias verdades que lhe convinha politicamente, desafiando o poder público quando era de seu interesse, destruindo e difamando  em seu jornal seus desafetos ou venerando e manipulando a opinião pública a seu favor e de seus correligionários.

O magnata da imprensa (no filme retratado na figura do personagem do cidadão kane e vivido pelo próprio Orson Welles) era W.R.Hearst que, mesmo idoso e quase falido desde a Depressão americana, por conta da história que o comprometia, tentou de todo jeito barrar a gravação do filme e a divulgação do mesmo,

e como sempre fazia,  o magnata tentou difamar Orson Welles fazendo uma campanha “anti-kane”, tentando  manipular a opinião publica a seu favor e contra o jovem diretor, não conseguiu, o filme acabou sendo lançado e ganhou o Oscar de melhor roteiro  da época (mas perdeu em todas as demais indicações eram nove, inclusive de melhor filme).

Quando Orson Welles chegou a Hollywood já era notório e polêmico no meio artístico, pela sua genialidade e audácia nas suas produções teatrais e no comando de programas de rádio. E tal qual Hearst, Welles também era um gênio para dar “notícias” de primeira mão, e se precisasse também "jogava sujo" prá conseguir audiência

– quem nunca ouviu falar no famoso "ataque alienígena" forjado por ele?  Welles, prá angariar ouvintes que só sintonizavam na sua rádio durante o intervalo da programação de outra estação, transmitiu uma simulada invasão de alienígenas que aterrorizou o país inteiro, quando descobriram a farsa, ele se safou alegando tratar-se de um equívoco, dizendo que infelizmente as pessoas sintonizaram a rádio no meio de uma "encenação" de um ataque de extraterrestres, que fazia parte de uma peça teatral –

Qualquer outro teria sido preso, tal o terror disseminado pelo país, mas ao contrário, ele aumentou a audiência na sua programação e ainda ganhou um contrato milionário para filmar em Hollywood, com liberdade para produzir o que quisesse sem censura e sem precedentes.

Antes de Welles, ninguém ousava desafiar o tal magnata, se o tal não simpatizasse com algum ator, simplesmente o detonava em seus periódicos, ele conseguia comprar tudo (e todos) e não se conformava em não poder “comprar um posto” de governador ou presidente.

Mas a batalha entre esses dois gênios da comunicação foi devastadora, destruiu a ambos, Orson Welles conseguiu publicar o filme mas perdeu a maioria das indicações ao Oscar e morreu sem nunca conseguir um novo sucesso, e o magnata viu seu nome ser ridicularizado publicamente ao ser exposto seus fracassos eleitorais,  sua vida amorosa com a amante, uma atriz de nome Marion Davis.

Orson Welles não poupou nem o famoso "rosebud" (botão de rosas) no seu filme, a tal palavra era de conhecimento do público da época (apelido que o magnata deu para as partes pudendas da atriz mas Welles “maquiou” o nome com outro significado no filme), que logo associou o personagem ao magnata e tirou suas próprias conclusões.

O filme em preto e branco é da década de 40 e muitas das tomadas de cena  foram revolucionárias para a época os movimentos de câmera, indo do exterior para o interior de uma cena,  eram novidade no cinema, as tomadas de cena em planos diferentes, era a primeira vez que a profundidade de campo era usada intencionalmente em um filme.

Ele também inovou utilizando jogo de luz e sombras para dar o clima “dark” que queria, nas cenas em que Kane ia revelando seu lado negro e sujo. As cenas de maquiagem envelhecendo o ator também  eram novidade na telona e o ineditismo das cenas em flashbacks totalmente assincrônicos.

O filme começa com o misterioso assassinato do próprio kane e a tal palavra balbuciada pelo moribundo no leito da morte que associava o personagem ao magnata real, e o filme então se desenrola como se fosse um documentário, desfilando a vida íntima e profissional do tal cidadão kane com entrevistas com conhecidos que  poderiam ajudar na investigação do seu assassinato.

Orson welles mostra em “Cidadão Kane”  a cultura de massa e sua influência na sociedade como um todo, com isso ele provoca, faz  pensar, faz refletir como nos deixamos monopolizar por corporações que nos dominam, com sua mídia e sua propaganda repetitiva, que funciona como lavagem cerebral.

A história de Hearst/Kane permanece bem atual quando nos vemos, ainda nos dias de hoje, a mercê dessas  corporações e monopólios - qualquer semelhança com a lavagem cerebral que a rede Globo exerce sobre o nosso povo alienado não é mera coincidência é só relembrar  a manipulação dos números do Ibope e a tentativa de fraude nas urnas na época do Brizola, o apoio explícito a ditadura militar como  a bomba no Riocentro plantada pelos militares e distorcida pela Globo e bem recentemente a manipulação e edição do debate do Lula e do Collor que acabou beneficiando o Collor.

"Brasil, muito além do cidadão kane" foi um documentário, realizado na década de 90 pela BBC de Londres, que denuncia a alarmante concentração de poder de imprensa sobre a manipulação de massas exercida pela poderosa "Organizações Roberto Marinho", mostra o envolvimento da rede Globo com contratos ilegais com empresas estrangeiras, o apoio incondicional aos governos ditatoriais no Brasil e tudo o que estiver a seu alcance para garantir seus interesses (veja, no final do texto, parte do documentário - para assistir todo, acesse o youtube).

O documentário denuncia a cultura de massas voltada para uma população aculturada, sem opinião própria, facilmente manipulada por uma minoria majoritária tal documentário, claro, nunca foi exibido na TV, pois, como no caso do "cidadão Kane", também aqui  o Sr Roberto Marinho tentou comprar (para destruir) o documentário mas não conseguiu – foi proibido no Brasil desde a estréia, em 1993, por decisão judicial.

O documentário mostra o domínio crescente da Globo na imprensa brasileira e mais do que isso, o filme explica como funciona a política brasileira de comunicações e os critérios arbitrários pelos quais se concedem e renovam as concessões de canais de televisão e rádio.

E hoje, após a morte do Sr Roberto Marinho, temos os “herdeiros” da política suja dele, na pessoa do bispo Edir Macedo que agora domina  a concessão de vários canais televisivos destruindo jornalistas que o desafia e o denuncia.

Não deixe de ver em DVD remasterizado "Cidadão Kane" e o DVD extra " A batalha por Cidadão kane" e também o documentário no youtube "Brasil, muito além do cidadão Kane".
 

 

 



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