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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Arquétipos vampirescos e nerds estereotipados no cinema

O termo “inconsciente coletivo”, apesar das diversas teorias (científicas, psicológicas, filosóficas e espirituais) para explicá-lo, pode ser interpretado como fazendo parte do inconsciente individual, mas que, no entanto, resulta da experiência "ancestral" da espécie, ou seja, contém material psíquico que não provém de uma experiência pessoal.

Por exemplo, como explicar que uma criança de pouca idade não tenha noção ou mesmo medo de altura, e no entanto experimente pavor diante da famosa "cara feia" ou do "bicho papão"? Por que quando adolescentes sentimos, ao mesmo tempo, atração e repulsa por filmes sobre criaturas vampirescas??? É um medo aparentemente infundado, visto que jamais tivemos experiência prévia com tais “criaturas do mal”, que bem sabemos sequer existirem. O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung comparava o inconsciente coletivo ao ar, que é o mesmo em todo o lugar, é respirado por todos e não pertence a ninguém.

Jung chamou de arquétipos o conteúdo psíquico do inconsciente coletivo. Arquétipos seriam tendências “herdadas” que levariam o indivíduo a comportar-se de forma semelhante aos seus ancestrais que passaram por situações similares. Eles dão origem às fantasias individuais, e estão relacionadas também às mitologias de todas as épocas.

Podemos citar a imagem de Afrodite/Vênus como o arquétipo de mulher bonita, o Príncipe Encantado como arquétipo do homem perfeito, e Cinderela como arquétipo da mulher à procura de alguém que a ame verdadeiramente, o seu príncipe encantado.

Em todo o indivíduo sempre haverá arquétipos operantes, e todo arquétipo traz características positivas e negativas, por exemplo, você pode querer o príncipe da Branca de Neve (com direito a cavalo branco e tudo), mas também existe um medo de que este vire um sapo, ou que o romance acabe tragicamente como o de Romeu e Julieta.

Todo mundo quer encontrar seu “par perfeito” ou sua “alma gêmea”,
pode-se então dizer que isto provém de um arquétipo, a figura de Adão e Eva (ou de outra similar, pois em todas as religiões existe uma história que ilustra a união entre “as polaridades”). Existe, em todos nós, o desejo de encontrar alguém que seja o mais próximo possível da perfeição,... mas, o que é ser perfeito???

Já o termo "protótipo" é, por definição, um exemplar. Serve de padrão estabelecido. O protótipo faz parte do nosso consciente coletivo. A sociedade nomeia os seus protótipos, que mudam de tempos em tempos.  Por ex, a boneca Barbie foi criada em 1960, e tornou-se, na época, o protótipo da mulher perfeita (bem ao estilo americano, diga-se de passagem, loira, perna fina, muito peito e pouca bunda).

Os protótipos, por sua vez, quando aceitos, às vezes são banalizados em estereótipos, que são fórmulas fixas, onde não se incentiva a criatividade ou a inovação, dificultando outras formas de pensar ou observar a realidade.

O estereótipo, por sua vez, faz parte do nosso subconsciente, refere-se a idéias ou convicções preconcebidas, a julgamentos antecipados. É o pensamento por clichês, é a tipificação das coisas de forma caricatural. Tendem à imobilidade e à generalização e, portanto, pensar por estereótipos é resignar-se a não pensar.

Os estereótipos mais significativos são os que se referem aos papéis sexuais, raciais, profissionais e sociais, o que pode provocar sérios problemas nas populações que são apresentadas de forma estereotipada, exacerbando características como se fossem próprias e só observadas naqueles grupos de indivíduos, por exemplo, a famosa loira burra, o árabe terrorista, o negro marginal, o homossexual promíscuo, o judeu muquirana, o intelectual nerd.

A mídia e os meios de comunicação, como a TV com suas novelas e séries, assim como o cinema, se encarregam de nos mostrar arquétipos, protótipos e estereótipos de todos os tipos.

Segundo estudiosos, os estereótipos foram criados “como um método de controle social”. Muitos filmes que versam sobre o tema da homossexualidade e trans-sexualidade, por exemplo, não são bem recebidos pelo próprio público gay, que simplesmente não se enxerga em personagens por demais caricatos e distantes de sua realidade.

Dos estereótipos, os nerds sempre foram retratados no cinema – tais como o nerd Clark Kent e o seu avatar o Super-homem, o “roommate” Ross, da série americana “Friends”, o amigo nerd de Ferris Bueller (Mattew Broderick) em “Curtindo a vida adoidado.

Nerds de todos os tipos voltaram “a toda”, estão “na moda”, estereotipados ao máximo na série americana “The big band theory”, com o personagem clichê Sheldon (mais caricato, impossível), o indiano Raj, e o amigo Leonard que adora todo tipo de “nerdice”, todos fissurados em temas que vão de um extremo a outro, de física quântica a super-heróis em quadrinhos.

Outros “nerds” famosos (mais precisamente "idiotas") – o  ator Will Ferrell, sempre caricato nos seus filmes (veja abaixo, no final do texto, ao som de “What’s love?” a divertida cena do ator com Jim Carrey e o comediante Chris Kattan, gravada no programa americano “Saturday night live”, que deu origem ao filme nerd “A night at the Roxybury - os estragos de sábado à noite”) e o ator Mike Myers e o seu personagem clichê, o agente idiota Austin Power (veja no final do texto cena hilária de um dos filmes).

Quanto aos arquétipos, da lista dos seres mitológicos mais famosos, estão os vampiros. O cinema sempre explorou esses seres, desde “Nosferatu” e “Drácula” dos anos 30 (este último, com o ator Bela Lugosi como seu representante “imortal e eterno”, dirigido pelo excêntrico Ed Wood, que o cineasta Tim Burton filmou recentemente sua polêmica e trash sétima arte – veja “Ed Wood”, aqui no blog, na lista de filmes),

o sensual e gótico “Fome de viver” (“The hunger”) dos anos 80, com o andrógino cantor David Bowie (e também Catherine Deneuve e Susan Sarandon), o psicodélico “A hora do espanto” com Kevin Bacon, e os modernos (e charmosos) vampiros, Tom Cruise, Antônio Bandeiras e Brad Pitt, em "Entrevista com o vampiro",

e também o ótimo “Drácula, de Bram Stoker” – escritor conhecido como o autor pioneiro da principal obra literária sobre o mito (na verdade “Nosferatu” foi o primeiro filme baseado no conto de Bram Stoker) – dirigido por Francis Ford Coppola, com Winona Ryder, Anthony Hopkins, Gary Oldman e Keanu Reeves.

Como a fórmula nunca se esgota, o ótimo filme sueco “Deixa ela entrar” mistura sangue e dentes afiados a adolescentes solitários (e tem o americano "Let me in", no Brasil "Deixa-me entrar", baseado na mesma história), e agora a famosa saga “Crepúsculo” (que, prá mim, mais parece uma novela adolescente, tipo “Malhação”, só que com vampiros adolescentes), é o novo “queridinho da América”.

Os vampiros são entidades fascinantes e misteriosas, que atiçam o inconsciente coletivo, pois simbolizam, entre muitas outras coisas, a vida eterna, um dos sonhos inalcançáveis do ser humano. Assim, sempre haverá espaço, na sétima arte, para um novo e alternativo vampiro, pois o mito sempre sobreviverá, pois é imortal, assim como o próprio cinema.




 















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