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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

"Abril despedaçado" - excelente filme brasileiro

"Abril despedaçado"- esse belo filme brasileiro, infelizmente, foi muito mal divulgado pela mídia, muitos nem sequer tomaram conhecimento da verdadeira pérola que é esse filme. Triste um país que não valoriza seus talentos.

"Abril despedaçado" conta a história de uma família do sertão nordestino, que vive miseravelmente da moenda de açúcar, no início do século XX, e que carrega, como sina, a rivalidade dos tempos prósperos de outrora, por lutas ancestrais pela posse de terras - o resultado dessa rivalidade culmina em mortes de ambos os lados, pois "reza" a tradição local que o sangue derramado do filho seja vingado pelo irmão e assim por diante, num ajuste de contas sem fim.

O "prazo" para se cumprir a vingança se esgota, quando a mancha de sangue da camisa exposta ao vento fica amarelada pelo sol "castigante" do sertão - é a abertura do filme, numa fotografia esplêndida, memorável, com a narração ingênua e comovente do irmão caçula de nome Pacu e a música-tema "Sobre todas as coisas" de Chico Buarque, na voz lamuriosa do Gilberto Gil, que "canta" toda a dor e o vazio daqueles corações desesperançados (veja o trailer com a música no final do texto).

Com direção de Walter Salles (dos também excelentes "Terra estrangeira", "Central do Brasil" e "Diários de motocicleta") a tomada da moenda, vista de cima, é magnífica, estonteante nos dois sentidos - pela beleza fotográfica e pelo girar lento e incessante, numa roda de "bois mandados" (o homem e o animal), numa mesmice de atos e comportamentos repetitivos.

"Abril despedaçado" tem Rodrigo Santoro como personagem principal em atuação primorosa (provando que não é só um "rostinho bonito e algo mais"), como o irmão que deve vingar a morte do primogênito da família de três irmãos - passei a admirar o ator a partir desse filme, ele está sujo, suado, maltrapilho, "encardido", "roceiro" mesmo. E tem também José Dumont (impecável atuação como sempre) como o patriarca da família.

E vamos nos envolver (e nos encantar) com o grupo circense e mambembe que chega na cidadezinha, trazendo esperanças aos olhos tristes de Tonho (personagem de Santoro) e alegria àquela terra árida, no vôo do trapézio ( outra fotografia "estonteante"), e também com a fantasia de menino do irmão caçula que teatraliza estórias e aventuras (do livro que ganhou da moça que "cospe" fogo, com quem Tonho descobre o amor) num desafio ao poder patriarcal e ao fatalismo daquela existência derradeira.

E a história termina tragicamente, quando a tarja negra do luto cai do braço de Tonho e então "em silêncio" (veja o filme e entenderás) ele vai ao encontro do mar, a procura da sereia que tanto sonhava seu irmão caçula.

Não deixe de ver. Dá orgulho ser brasileiro.
  

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