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domingo, 3 de abril de 2011

O cinema e os grandes nomes da música

Um amigo músico me mandou um excelente vídeo, de uma cantora adolescente espanhola, de nome Andrea Motis, nascida em Barcelona, cuja voz é tão envolvente quanto à da grande diva Billie Holiday, interpretando a bela música “Basin Street blues” (que ficou famosa no vozeirão do grande Louis Armstrong).



Ouvindo a bela voz adolescente, me lembrei da primeira vez que escutei, ainda menina, o primeiro blues da minha vida, e tão apaixonada fiquei por aquele som, que desde então comecei a “devorar” (com os olhos e os ouvidos) tudo que encontrava sobre jazz e blues, os grandes trompetistas, saxofonistas, guitarristas, as grandes divas - Dizzy Gillespie, Miles Davis, Charlie Parker, John Coltrane, Buddy Guy, Eric Clapton, Muddy Walters, Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Etta James e tantos outros.

E, certa vez, lendo sobre o nascimento do jazz e do blues, nunca me esqueci de uma frase de um autor, ao explicar de onde surgiu o belo gênero musical. A frase resume tudo que esse gênero musical representa, referindo-se aos negros, escravos americanos, catadores de algodão do Mississipi, feridos na carne (pela coleta do algodão espinhento) e na alma (pela saudade da pátria africana deixada para trás): “o blues é a transformação da dor sentida em dor cantada”.

E cinéfila que sou, não pude deixar de me lembrar de grandes biografias, principalmente do mundo da música, magistralmente cinematografadas por grandes diretores e atores (mas, pena, não dá prá falar de todas).

“Bird” – o ator, e aqui diretor, Clint Eastwood, fã incondicional de jazz, dirigiu o ator Forest Whitaker, na década de 80, no papel do grande saxofonista Charlie Parker. Parker foi, junto com o virtuoso trompetista Dizzy Gillespie, um dos criadores do bebop, o jazz moderno e sofisticado feito “para ouvir” dos dias de hoje, substituindo o jazz dançante dos anos 30, que havia sido a marca das big bands, na era do swing, como as de Glenn Miller.

Parker, cujo apelido era Yardbird (que mais tarde foi encurtado para apenas "Bird") morreu com 30 e poucos anos de idade, com uma aparência física do dobro da idade, consumido pelo álcool e drogas pesadas. No filme, o ator Samuel E. Wright vive o papel do grande Dizzy Gillespie que era um grande instrumentista e um improvisador nato, e a sua forma de tocar (com as bochechas extremamente infladas) com o seu trompete recurvo (uma característica só dele) e a sua personalidade alegre.



“Piaf, um hino ao amor” – Edith Piaf, cujo apelido era “La Môme Piaf” (pequeno pardal), foi uma famosa cantora francesa nos anos 30. O filme é estrelado pela excelente atriz Marion Cotillard, que incorpora a cantora com tal veracidade, numa interpretação quase visceral tanto na aparência quanto na força da personagem, que parece que estamos diante da grande cantora ressuscitada, sentindo na própria pele o seu sofrimento e sua obsessão pela música.

Piaf era intensa, e mesmo com sua fragilidade física (causada por problemas reumatológicos e agravada pelo álcool e pelas drogas) manteve até o fim de sua vida uma presença de palco, e uma emoção que transpassava na sua voz potente e que marcou toda uma época.

Não há como não se emocionar (mesmo sem ser piegas, o filme consegue nos deixar com os olhos marejados) com as belas (e obrigatórias) músicas “La vie em Rose” e “Non, Je ne regrette rien” (veja trailer no final do texto), com interpretações da própria Edith Piaf (algumas músicas foram interpretadas com a voz da própria atriz Marina Cottilard) e a bela interpretação da jovem atriz Pauline Burllet, que faz o papel da pequena Piaf adolescente, cantando divinamente, nas ruas da Paris dos anos 30, o belo hino nacional francês “A Marselhesa”.




O ótimo Cadillac records conta a história real do nascimento da gravadora "Chess records" nos anos 40, com sede em Chicago, com os seus ícones do blues e sua influência no surgimento do rock and roll - no elenco estão o ator Adrien Brody (que vive o papel do dono da gravadora Leonard Chess), Jeffrey Wright (como Muddy Watters), o ator e compositor Mos Def (como Chuck Berry) e a cantora Beyoncé no papel de Etta James.



E para quem quiser ficar mesmo por dentro desse envolvente gênero musical, recomendo a coletânea The blues, do grande diretor americano Martin Scorsese, que é o mentor e produtor executivo dessa magnífica empreitada musical. 

A coletânea é composta de oito filmes, dirigidos por grandes nomes do cinema mundial (todos eles apaixonados pelo jazz e pelo blues) que, com suas câmeras, captam a essência de toda a musicalidade dos negros escravos africanos catadores de algodão na terra americana - um dos DVDs leva o título Feel like going home (em português virou De regresso a casa) dirigido pelo próprio Scorsese, em busca das raízes do blues.

Um outro DVD é do diretor alemão Win Wenders que parte em busca da mistura do sagrado com o profano, ao dirigir A alma de uma homem (Wenders já tinha usado o belo "lamento da guitarra e da voz de Blind Willie Johnson, no seu cult Paris, Texas). Também o ator/diretor Clint Eastwood dirige um dos documentários, intitulado Piano Blues.

São, ao todo, oito filmes/documentários (o último DVD é, na verdade, um show ao vivo, em que Scorsese reúne grandes nomes da música da atualidade, na Radio City Hall de Nova York, para um memorável concerto de celebração do blues) com raros arquivos, com atuações de grandes nomes do jazz e do blues.



Como não dá para falar de todos, veja parte do filme New Orleansem preto e branco, dos anos 50, com a participação da diva Billie Holiday e o grande músico Louis Armstrong, numa época em que ainda havia muito preconceito, entre os brancos, com a bela música negra americana. 



E assista abaixo a crítica de Marcelo Janot sobre o filme “Mais e melhores blues”, do inovador cineasta Spike Lee. 



E fique também com o trailer do também belo filme “Por volta da meia-noite”, sobre a história de um jazzista solitário e alcoólatra pelas ruas de Paris (uma homenagem do cinema a dois grandes nomes do jazz, Lester Young e Bud Powell).



E termino este texto, de novo com Andrea Motis, cantando No more blues, a versão em inglês da nossa clássica "Chega de saudade, da saudosa dupla Tom Jobim e Vinicius de Moraes.


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