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domingo, 24 de janeiro de 2010

A exploração do corpo da mulher

Acabei de assistir a um documentário italiano, intitulado “O corpo da mulher”, sobre a exploração do corpo feminino na televisão. É de chorar de ódio, tal a vulgaridade das imagens, o apelo nitidamente sexual, e por trás, o preconceito da suposta pouca inteligência dessas mulheres, que se prestam a esse tipo de manipulação.

A mulher real com suas rugas e seus seios pequenos foi “excomungada” da TV (e se bobear, da face da Terra) e substituída pela versão "fake" de seios inflados artificialmente, rostos convertidos em máscara pela cirurgia estética, simplesmente não se envelhece no vídeo, somos grosseiramente massacradas por uma imagem vulgar e humilhante, reduzidas a peitos e bundas “fakes”, inexpressivos rostos de cera e  bocas bizarras,

a ponto do apresentador machista chauvinista, ao chamar uma telespectadora da platéia (esta sim uma mulher real, com os seus  seios naturais, sem o apelo da cirurgia estética,  seios naturalmente pequenos ), descaradamente perguntar se a mesma “tinha deixado os seios em casa”. Tudo isso sob os olhos dos espectadores silenciosos que não questionam essa humilhação.

Também no Brasil vemos a mesma exploração nos programas humorísticos - detesto esses programinhas de gosto duvidoso, com seus bordões ridículos, de cunho sexual, tipo Zorra total e Faustão, e os Big Brothers da vida, que revelam as “famosas celebridades” (Andy Warhol só errou no espaço de tempo quando disse que “no futuro todos teríamos 15 minutos de fama”, na verdade são 5 segundos de fama, e olhe lá).

Nesses programas, nós mulheres, somos apenas um enfeite para os homens brilharem e se divertirem (e nos humilharem, reduzindo-nos a meros objetos sem cérebro) e ninguém protesta contra  essa forma com a qual somos representadas, tudo isso com o aval de nós mesmas, as mulheres que se apresentam “lindas e mudas” (como diz uma apresentadora na TV italiana “pois é assim que os homens gostam"). 

Depois de anos de luta contra discriminação, como pode a mulher se prestar a isso???? No documentário, vemos uma  mulher, ao lado do apresentador, bela e muda (só lhe é permitido dizer “sras e srs,  nossos comerciais, por favor”), reduzida e auto reduzida a objeto sexual, em posições humilhantes, para satisfazer os desejos masculinos, abdicando a possibilidade de mostrar seu verdadeiro potencial e sua verdadeira identidade e competência.

"No espelho a mulher não se revela, se esconde”, diz a documentarista feminista  indignada com a imagem sucateada da mulher na TV, “a mulher não está satisfeita com a própria face, não se aceita, olhamos nossos corpos (e de nossas “concorrentes”) como os homens olham e não como gostaríamos de sermos notadas”.

No documentário, em uma das cenas, o apresentador pergunta se a moça (que “enfeita” o quadro humorístico) tem um limão nas mãos e ele mesmo responde “não, nem um limão, nem mesmo um cérebro” (e a “descerebrada” se contenta em sorrir um sorriso amarelo). Milhares de mulheres belas (muitas artificialmente belas) que se submetem a inúmeras humilhações vexatórias, apenas elemento decorativo, moldura para o homem, ornamento para o suposto talento do homem.

Ainda no documentário há uma declaração magistral de Anna Magnani  (famosa atriz italiana, falecida nos anos 70 - feliz dela que morreu antes de assistir essa degradação contemporânea da mulher - consagrada internacionalmente no filme “Roma, cidade aberta”) que diz para o maquiador da TV : “não me remova minhas rugas, levei uma vida inteira para fazê-las”.

Por que as mulheres não podem mostrar seu verdadeiro rosto na TV, por que temos que ter vergonha de mostrar nossa cara ? Um abuso que, ao homem, nunca é imposto. Por que  mostrar a passagem que o tempo deixa no nosso rosto é uma vergonha ? Por que temos que esconder  nossas rugas? Por que temos que esconder nossa autenticidade e consequentemente nossa alma?

Recomendo a todos assistir ao documentário (assista no final do texto) principalmente mulheres que como eu questionam esse tipo de  manipulação de corpos pelos homens, tenho aversão por homens que se julgam superiores e nos julgam limitadas no nosso trabalho e profissão, que só nos vêem como peito, bunda e pernas.

Certa vez comentando com colegas homens sobre essa manipulação de corpos, ouvi  de um deles que ele não se interessava por mulher com pouco seio e que “só tinha a lamentar” se a mulher tiver pouco seio, um absurdo. Será que os homens gostariam que fôssemos escolhê-los apenas pelo tamanho do seu falo?

Hoje o que vemos são garotas, cada vez mais jovens, se submetendo a plásticas e enchimentos, numa idade que a juventude por si só já deveria falar por si mesma, mas a ditadura do corpo perfeito tem escravizado também jovens de pele naturalmente  translúcida e sem rugas. 

O documentário termina afirmando que “está em jogo a sobrevivência da nossa identidade” e  questionando “Porque não reagimos? Por que não apresentamos as nossas verdades? Porque  aceitamos essa humilhação contínua? Por que não cuidamos de nossos direitos? Do que temos medo?”

Um comentário:

  1. Infelizmente essa é a nossa sociedade, machista e hipócrita.

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