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domingo, 23 de maio de 2010

O que tem a ver "Os bastardos inglórios" com os nossos guerrilheiros?

Interessante como os olhares sobre um evento do passado, pode ser interpretado de maneiras diferentes, dependendo do olhar (e do interesse) de quem o interpreta. Por exemplo, agora com as eleições presidenciais em voga, têm surgido os reacionários “sem noção” (e sem argumentos atuais plausíveis contra os candidatos), com declarações ridículas, difamando os antigos guerrilheiros (da época da ditadura militar, dos anos de chumbo, na década de 60), por acaso, hoje candidatos.

Isso me faz lembrar o filme “Os bastardos inglórios” – aproveito para comentar esse excelente filme, e explico a seguir o por quê da comparação. 

Como explicar um filme que consegue ser engraçado em meio a cenas de extrema violência, escalpos de pele, nazismo e torturas diversas? A explicação – Quentin Tarantino. O diretor de “Pulp Fiction”, “Jackie Brown” e “Kill Bill” sempre consegue essa proeza nos seus filmes, mas em “Bastardos inglórios” ele se supera. 

Em meio a tensão da cena que está por vir, de repente, “rola” uma ação (ou um pequeno gesto de um personagem), que dá o tom e leveza a cena,  e a piada acontece sutilmente, enquanto o diretor nos prepara novamente para o suspense (e o jorrar de sangue) seguinte.

Tarantino gosta de tramas mirabolantes, ações e relações entrelaçadas, muita violência e muito sangue jorrando. Em “Bastardos inglórios” não é diferente. A trama se passa nos anos 40, em plena 2ª guerra mundial, com a França ocupada pelos nazistas.

Os “bastardos” são um fictício pelotão de elite do exército americano, todos judeus, treinados para penetrar atrás das linhas inimigas e liquidar nazistas, de forma bárbara, como numa revanche ao massacre judeu, com o objetivo de espalhar medo e terror entre os soldados nazistas.

Brad Pitt está hilário como o sanguinário tenente dos “bastardos”, com um engraçado sotaque sulista “carregadíssimo” – quando precisa fingir-se italiano, mostra o quanto é real a fama de que americano só consegue se expressar na própria língua – muito engraçado (não a ponto de se gargalhar, é claro, afinal é um filme violento), mas muito divertidas essas sutilezas. 

Mas na verdade, há dois outros atores, desconhecidos até então, que realmente “roubam” a cena no filme. Um deles é um ator francês, de nome Denis Menochet – o personagem dele aparece só no início do filme, um fazendeiro francês sendo interrogado por um oficial nazista sobre a possibilidade de uma família judia estar escondida na região – um primor a atuação dele – com um mínimo de gestos e palavras ele transmite o máximo de tensão, e é ele o “gancho” da trama para se ficar “vidrado” na telona, desde o início do filme. 

E o outro ator, um australiano de nome Christopher Watz, até então desconhecido (não mais o será, pois levou o merecido Oscar de melhor ator coadjuvante pela sua brilhante atuação) – o ator dá um “banho” de interpretação, a frieza do personagem se mescla a uma “serenidade” na atuação, que o ator “empresta” ao personagem, que fica difícil odiá-lo, apesar de toda a crueldade do mesmo.

Ele é o tenente nazista, conhecido como “caçador de judeus”, cruel nas ações e palavras, mas algo na interpretação magnífica do ator nos faz querê-lo de volta a cena, e ele realmente domina todas as cenas em que aparece – fica uma sensação de amor e ódio pelo ator/personagem – ponto para o excelente ator, porque em geral o público antipatiza-se com tais papéis, marcando para sempre o ator que encarna personagens mal-vistos como carrascos nazistas. O ator consegue a proeza de ser cruel, mas não ser odiado pelo espectador, muito pelo contrário. 

E voltando à nossa ditadura militar, nos idos dos anos 60, Brad Pitt poderia ser comparado com os nossos guerrilheiros, ou seja, o “guerrilheiro” Brad Pitt era tão cruel e sanguinário quanto os nazistas, mas temos a tendência a não condená-lo, pois afinal ele estava “nos defendendo” contra o nazismo. Não seria o mesmo, no caso dos nossos guerrilheiros, que em algum momento tiveram que ser cruéis (e tiveram, sim, que assaltar bancos para custear a guerrilha contra o poderoso arsenal dos militares), tudo para nos devolver a liberdade de expressão que a ditadura militar nos tirou nos anos de chumbo? (com seus cruéis militares torturando, em surdina, civis contrários ao regime, nos porões da ditadura, assim como os nazistas torturavam civis só por serem judeus?). 

Se tendemos a não condenar o “guerrilheiro judeu” sanguinário Brad Pitt (ao contrário, tendemos a torcer por ele, já que estava contra a crueldade dos nazistas), por que condenar nossos guerrilheiros que apenas estavam, a nosso favor, usando das mesmas “armas” cruéis dos nossos militares (e como os nazistas, os nossos militares jogavam sujo, vide o atentado da bomba do Riocentro - que iria matar milhares de inocentes que comemoravam o dia do trabalho - em que os militares “plantaram” a bomba, e iam colocar a culpa nos guerrilheiros, mas o “feitiço virou contra o feiticeiro”, lembram???). 

Vejam o filme e reflitam. Ação, violência, humor e ficção – é Tarantino no seu melhor empenho. Não deixe de ver. É adrenalina pura, com talento e “cérebro”, coisa difícil de ver num filme de ação (abaixo trailer do filme e vídeos sobre a ditadura e parte da confissão dos militares sobre a bomba plantada no Riocentro).
 











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