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sábado, 24 de março de 2012

Teachers on the Rock: o bom e sempre jovem rock and roll

Em uma divertida entrevista (no "Jô Soares"), o psicólogo e consultor de empresas (e também graduado em teatro) Waldez Ludwig dá uma dica para jovens “perdidos” que não sabem qual profissão “abraçar”. Ele diz que o grande erro da maioria é “só aceitar fazer o que se gosta” (pois com isso, muitos ficam por anos esperando “aquele emprego, aquela sorte, aquela chance”, que pode não surgir, até porque o sujeito não teve oportunidade de mostrar suas habilidades, mesmo que em outra atividade que não a sua paixão).

A dica é, segundo o psicólogo, “gostar do que se faz”, não importando se é, ou não, o que realmente se gostaria de fazer. Quem aprende a gostar do que faz, tem futuro pela frente, e pode-se assim também investir em outra profissão paralela (que, aí sim, pode ser aquela dos nossos sonhos, exatamente a que se gosta).


Nasci numa família de cinco irmãos, “éramos seis” (plagiando o famoso romance da escritora paulista Maria José Dupré), nenhuma novidade na época, pois eram muito comuns famílias numerosas, nos revolucionários anos 60/70. E, por conta disso, diferente das famílias dos dias de hoje (em que o filho único, ou o casal de filhos, vai para a escola, depois para o inglês, a seguir tem o balé, o judô, a aula de música e de computação), tínhamos no máximo direito a uma única escolha, além da escola básica (isso quando a família tinha algum recurso e as finanças permitiam), era ou...ou... e só (ou música, ou inglês, ou balé).

E foi assim que, ainda menina, fiz opção por um curso de música (em detrimento do aprendizado de inglês que, na época, não tinha a necessidade dos dias de hoje – fui bem mais tarde aprender inglês, praticamente sozinha, na marra, de forma totalmente errada, lendo livros de medicina, daí hoje minha boa leitura, já dialogar em inglês continua sendo uma tortura para mim).

E, toda orgulhosa, lá ia eu uniformizada, de gravata, saia plissada e meias três quarto, para o conservatório de música (comecei o curso de piano), e no meio de bemóis e sustenidos, semicolcheias e semifusas, compassos binários e terciários, claves de sol e de fá, solfejos e harmonias, fui percebendo que eu seria uma profissional medíocre se escolhesse a música como primeira opção de trabalho, pois me faltava o primordial que era o dom, o chamado “ouvido musical” (mas terminei toda a teoria musical, naquela época não se podia desperdiçar nada, nem tempo e muito menos dinheiro).

E assim, já com 17 anos, decidi partir para a medicina, pois gostava também de biologia, quem sabe ali eu acharia “minha praia”? E nunca me arrependi, adoro o que faço, me sinto realizada sendo útil ao próximo, e a cardiologia coloca-nos no limite entre a vida e a morte, ensinando-nos o verdadeiro valor da vida. E no vestibular, tirei nota máxima na redação, não foi novidade, pois já vislumbrava em mim o dom da escrita (que deixei adormecido por muito tempo, praticamente só ressuscitando-o agora com o blog, que nasceu por acaso, a pedido de amigos "perdidos" nas locadoras, em busca de dicas de bons filmes).

E então a música, junto com a minha paixão adolescente pelo cinema, virou lazer (só para ouvir, nunca mais toquei a mão num piano ou qualquer outro instrumento). Consigo ainda ler algumas partituras graças ao aprendizado na infância, resquício de memória de criança que segue com a gente para o resto da vida (o que não aconteceu com o inglês, pois só fui fazer um curso de línguas, já adulta). Assim, sempre me delicio ouvindo alguém tocar bem um instrumento (meu filhote é um deles, ótimo na guitarra), e no meu blog de cinema a música é sempre o “coadjuvante” mais importante.

E o blues foi o gênero que me fascinou desde os tempos de menina. Ainda adolescente, ao ler a história dos escravos negros africanos na América que “cantavam, em lamento, a dor sentida na carne e na alma”, me apaixonei pelo ritmo, e nunca mais deixei de ouvir o bom e velho blues, ritmo que tinha sido o precursor do bom e velho (leia-se “sempre jovem”) rock and roll.

E também foi assim que, amante da música, ou melhor, da boa música (que não me venham com pseudo músicas de "cachorra" como o funk, ou as esdrúxulas músicas sertanejas "de corno"), fui apresentada ao grupo “Teachers on the Rock”. Na verdade, sem querer, num papo informal, eu descobri que trabalhava com um dos integrantes do grupo, o fisioterapeuta intensivista da UFF, professor Renato Lacerda (guitarrista nas poucas horas vagas, como bem prega o psicólogo Waldez Ludwig).

O Renato me apresentou os demais integrantes da banda e todos têm uma profissão paralela que curtem tanto quanto a de músico. O professor (de literatura) Carlito é o "mestre" do teclado, o professor (de informática) Daniel "arrasa" no contrabaixo, o Léo (vulgo Bambam) é baterista, o professor (de química) Sérgio é guitarrista e faz vocal com o professor de biologia Fabinho (também guitarrista), este último uma atração a parte, com sua voz potente e uma ótima performance corporal improvisa imitações inusitadas (mescladas com um estilo próprio) de Raul Seixas, Joe Cocker, Celso Blues Boy e, divinamente, do Elvis Presley.

Combinei com o meu amigo guitarrista Renato (o "dublê" de fisioterapeuta) de "dar uma de cinegrafista e filmar decentemente" o grupo em ação, pois os poucos vídeos que encontrei no youtube não é nem um pouco promocional, não consegue transmitir nem de perto a magia real do grupo. No vídeo abaixo, a gravação está muito aquém do que o grupo faz ao vivo no palco, mal se vê os integrantes da banda, e no final do texto, uma gravação antiga, quando a “tchurma” tinha mais “folículos pilosos” e os mesmos ainda não estavam "mesclados de brancos").

E a banda vem galgando seu “lugar ao sol” (como uma segunda profissão, mais um hobby no momento, pelo que pude perceber) e foi assim que, num dos shows do grupo, fui parar (venho “seguindo” o grupo, quando sobra tempo, na minha agenda apertada de emergencista em ecocardiografia) num bar alternativo (na verdade uma velha casa de família, improvisada em bar, que fez lembrar-me da música “Nos bailes da vida” do Milton Nascimento: “para cantar, nada era longe, tudo tão bom, até a estrada de terra na boléia de caminhão... todo artista tem de ir onde o povo está”).

O lugar tinha um ambiente divertido, com paredes “detonadas” (não propositadamente, a casa é velha mesmo, carente de reformas), no melhor do "estilo grunge”. Se soubesse que o ambiente era tão grunge, “camaleoa” que sou, teria ido de botas, camisa xadrez e com um belo jeans rasgado, mas o meu amigo Renato não soube definir o ambiente ao me convidar (homens não entendem nada de decoração e moda estilosa, a não ser os dois maiores divulgadores do estilo grunge, nos anos 90, o falecido Kurt Cobain do extinto "Nirvana" e o Eddie Vedder do "Pearl Jam").

Em uma decoração improvisada com recadinhos dos frequentadores em papéis espalhados por todo canto, guitarras e camisas com estampas de bandas de rock penduradas em cabides no teto, cartazes de cinema nas paredes (que já me conquistou de cara), frases e trechos de músicas de artistas famosos, escritos diretamente nas paredes, era um  ambiente familiar e, embora muito simples, era extremamente agradável, ainda mais por conta da galera de jovens estudantes que sempre seguem seus “teachers” trintões (alguns quarentões e até cinqüentões) aonde quer que eles toquem. Assim, a platéia freqüentadora da banda é bastante eclética, de “pirralhos” aos “eternos jovens órfãos” nascidos nos revolucionários anos 60/70, saudosos dos ritmos que mudaram toda a trajetória da música contemporânea.

E como não podia deixar de pensar (e falar) em cinema, o ótimo filme “Quase famosos” (veja, na "lista de filmes", aqui no blog) mostra o saudosismo dos anos revolucionários, quando as bandas de rock percorriam esse mesmo caminho árduo para alcançarem um “lugar ao sol”.

O psicólogo Waldez Ludwig dá a dica para que estimulemos nossos jovens filhos a não se limitarem numa só atividade profissional, a procurarem sempre investir no maior “leque” de opções que for possível. Mas é vital tentar ir até o fim nos investimentos profissionais em curso, para então poder escolher o caminho que for mais certo em termos econômicos, e assim os demais talentos poderão ser investidos no decorrer da vida já financeiramente estabilizada, como os mestres do grupo "Teachers on the Rock".

E assim, termino esse texto, deixando para as novas gerações um pouco dos revolucionários anos 60/70 com o filme "Almost famous"(link* para o texto sobre o filme, no final do texto), e a dica infalível de se dedicar a tudo que se goste, e não se fixar num só ponto. Somos versáteis e podemos oferecer ao mundo muito mais do que imaginamos. É a dica para os jovens que, perdidos, não sabem ainda o que fazer da vida – que profissão escolher, que caminho seguir, qual o seu dom e o seu tom (meu filho mais velho está cursando medicina na UFF e ao mesmo tempo está aprendendo navegação e paraquedismo, e o mais novo tem um talento nato para instrumentos musicais – a guitarra é a “praia” dele – mas está cursando a faculdade de publicidade na ESPM, e quer tentar também, em paralelo, o difícil caminho da música).

Eu, por exemplo, curto “de montão” a minha profissão principal (médica cardiologista ecocardiografista) e, informalmente como "dublê de escritora e crítica de cinema", por conta da descoberta desse meu aparente talento para escrever, já tive chance de ser contratada para um jornalzinho local da cidade (pois é assim que tudo começa, "na estrada de terra, na boléia do caminhão"), mas no momento assumir um compromisso de escrever “sob encomenda” não está nos meus planos (tenho que terminar minha tese de mestrado), mas quem sabe, num futuro próximo, principalmente se pintar um bom semanário...

E recomendo a página no "facebook" dessa banda de mestres (lá vocês encontrarão tudo sobre o “Teachers on the Rock”, agenda de shows, etc) que encontraram na música outra forma de transmitir seus ensinamentos a essa novíssima geração globalizada. Parabéns para o grupo. Eles merecem.
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2009/12/o-filme-quase-famosos.html




Um comentário:

  1. Valeu Rose!!
    Sábias palavras ! Ainda bem que percebi que havia outra dimensão dentro da própia vida!. E como é importante vivê-la!!!
    Um abraço!

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