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sexta-feira, 28 de março de 2014

O lixo musical da novíssima geração

Comemorei o meu “niver” em alto estilo, na minha cidade natal, em pleno carnaval, ao som de muito jazz, blues, rock and roll e MPB de qualidade, com direito a banda cover ao vivo e tudo, com uma “pequena ajuda dos meus amigos”, parafraseando os Beatles (“With a little help from my friends”, abaixo, na famosa versão de Joe Cocker).



Minha sobrinha de seis anos (uma princesinha, por sinal) se esbaldou, rodopiando comigo (como sempre digo, não sei ficar parada diante de um bom som), no meio do salão, ao som de Jimmy Hendrix (“Hey, Joe”), Eric Clapton (“Layla”), Chuck Berry (“Johnny B. Goode”), Rolling Stones (“Satisfaction”), Led Zeppelin (“Tangerine”), Nirvana, Pink Floyd, R.E.M, Pearl Jam, Coldplay, e tantos outros belos acordes de eternas músicas de todos os tempos, passando pelos brasileiros Titãs, Raul Seixas, Legião Urbana, Celso Blues Boy e outros do gênero.


Filmei a minha querida sobrinha sacudindo os seus longos cabelos loiros, alvoroçando-os prá frente e prá trás, como uma legítima roqueira, animadíssima no meio do salão. E quando a banda dava um “break” (para um “pit stop” para molhar a garganta numa “cerva” bem gelada), a pequerrucha “atacava” de baterista, numa performance original de fazer inveja a qualquer roqueiro que se preze (tudo bem, tia coruja é assim mesmo, exagerada e babona). E como diria Celso Blues Boy, “aumenta que isso aí é rock and roll”.



Voltei para a minha cidade (adotiva) logo após o carnaval, e ao acessar o famigerado facebook, me deparo com um vídeo postado pela irmã adolescente da princesinha – a minha sobrinha de 15 anos (juntamente com suas amigas) levou a pequerrucha numa festa a fantasia, e a dança no vídeo era ... aff,  era a tal “Lepo lepo” – o desânimo do grupo de meninas (com a coreografia sem graça e repetitiva) era tanto, que nem dava prá comparar um vídeo com o outro, pois era gritante a diferença da animação da minha pequena sobrinha dançando rock dias antes e o desânimo da mesma fazendo a coreografiazinha medíocre do ridículo Lepo lepo alguns dias depois.
A minha pequenina sobrinha, mesmo com a tenra idade que ainda tem, já percebeu como é incomparável a sonoridade entre os dois gêneros musicais (se é que “Lepo lepo” pode ser chamada de “gênero musical”), pois conserva os ouvidos ainda não contaminados pela pobreza musical da atualidade, por conta da influência do pai, meu querido mano, que tem bom gosto musical.

Já minha sobrinha de 15 anos (que também amo de paixão), infelizmente, já sofre influência direta das amiguinhas. É deprimente, mas totalmente compreensível pois, como todo adolescente que um dia também fomos, sofremos influência do meio externo ao nosso ex-mundinho infantil, e tendemos a querer nos desgarrar dos nossos velhos pais e acompanhar  a ”tchurma”.

O único (e lamentável) problema é que a “tchurma” da geração atual está “pobre, pobre, pobre, de marré, marré, marré” em matéria de sonoridade musical.
Já de volta à minha vida diária de médica veterana, fui convidada para um churrasco, no fim de semana seguinte ao carnaval, numa confraternização de médicos recém-formados, num famoso clube da cidade. E se não fosse algumas razoáveis músicas techno (que dá prá aturar e até dançar) e um pagodinho ao vivo também razoável, a festa não teria música alguma que prestasse. Imagina que até rolou a tal “Lepo lepo” .

Acho compreensível esse tipo de pobreza musical numa festa colegial de pré-adolescentes, em grande parte histéricas por conta da profusão hormonal e do romantismo bobo que todos nós um dia já vivenciamos e já fomos um pouco também. Vá lá.

Mas não consigo entender como alguém com um mínimo de cultura e com idade em torno dos 30 aos 50 anos de idade consegue aturar esse tipo de tortura sonora, e não gostar de rock (e, como é possível alguém ficar parado, sem dançar, ou no mínimo mexer os pés debaixo da mesa diante de “Twist and shout”, dos Beatles, por exemplo). Ou, no mínimo, apreciar um outro gênero musical mais refinado para os ouvidos (música clássica, erudita, bossa nova e outros).



E universitários médicos dançando “Lepo lepo” com coreografia e tudo, mãozinha em forma de telhado na cabeça, e depois simulando “abanar a coisa”, ... aff, é demais prá minha cabeça de intelectual, não dá prá ser feliz.
Adoro dançar, mas... se estou no meio do salão e resolvem tocar essas musiquinhas medíocres (leia-se, a baixaria explícita do funk e as músicas sertanejas universitárias de corno e de traição mútuas), digo que não sou “cachorra” e saio imediatamente da pista.

Quando insisto em me recusar veementemente a dançar essas coreografias ridículas, muitos me criticam dizendo também não gostarem, mas que eu “deveria entrar no clima”, que eu “não deveria levar tão a sério”, que eu deveria “levar na brincadeira”, mas o que essas pessoas não percebem é que a indústria fonográfica só veicula o que o povo consome, e se continuarmos a consumir esse lixo, mesmo “de brincadeirinha”, o que vai acontecer é a proliferação de mais e mais deste tipo de porcaria no cenário musical.

Uma rádio paulista teve uma idéia genial para propagar sua ótima programação de rock, lançando um vídeo em que um jovem é submetido a uma sessão de “endorcismo” (que seria o contrário do exorcismo) na qual um roqueiro (que lembra muito o cantor Neil Young) consegue fazer o espírito do rock voltar ao corpo do rapaz (que anda possuído por estilos musicais prá lá de bregas). Durante a sessão “espiritual” , o roqueiro emite, através de sua guitarra, famosos acordes clássicos do rock toda vez que o garoto começa a dançar os tais ritmozinhos medíocres.

Ótima jogada publicitária e um alerta para a pobreza musical dos tempos atuais. “Endorcismo: vade retro, mau gosto musical” é como é veiculado o vídeo pela rádio Kiss FM (veja abaixo).
Ainda no tal churrasco, como médica veterana formada nos idos dos anos 80, “rebobinei” meus 20 anos de idade e, recordei que, na época, eu crucificava minha então geração (a chamada geração “coca-cola”), por conta do monte de lixo que aparecia em profusão na música brasileira, tais como Gretchen (com a sua melô do “piri piri”), Odair José com suas letras de empregada doméstica (sem preconceitos contra a classe em si, mas culturalmente...), Reginaldo Rossi com seu pseudo-romantismo (brega até não poder mais), e tantos outros mais (agora esquecidos no limbo das músicas descartáveis).
Mas, na época, não podíamos reclamar, pois havia o “joio e o trigo” na MPB, e podia-se escolher entre um ou outro. De um lado,  havia “o trigo” representado por bandas revolucionárias como “Titãs”, “Paralamas do sucesso”, “Legião Urbana” e outras, e ainda tinha o legado das gerações anteriores, como a bossa nova de Vinícius de Moraes, Tom Jobim e João Gilberto, os antigos mas ainda “novos baianos”, e também os mineiros do “Clube de esquina” marcavam presença nas festas, e assim podíamos viver ao largo dos “joios” da época.



Mas, e agora? Qual a alternativa diante do “Lepo lepo” que lidera atualmente o ranking das músicas (música? E lá isso é música???) mais tocadas e dançadas da atualidade?  

O “Lepo lepo” compete com o quê? Com Valeska Popozuda (a nova Gretchen do século XXI) com o seu desprezível “Beijinho no ombro”. E, parafraseando Arthur Xexéo, “O que é” Anita e o decadente “show das poderosas”? (aff... eu quero a morte).
Ou então temos “um dois três, alto, em cima”, Naldo, cada vez eu quero mais”...te enfiar a porrada. E, “pelo amor de Deus, Bruno e Marrone, sai da minha vida” porque não dá prá aguentar tanta dor de corno assim. E você, Michel Teló, “ai, se eu te pego”, juro que te dou um chute bem no meio do seu saco. E Luan Santana, “ai, ai, ai ,... eu não aguento mais”, meu ouvido não é pinico não. 

E alguém pode em sã consciência achar romântico algo como a ridícula música “Fada” do Victor e Léo? Alguém realmente pode acreditar que estes dois marmanjos almofadinhas realmente cantam com convicção a tal musiquinha brega, que não convence nem pré-adolescentes histéricas em profusão hormonal (“vejo minha fada, e sua vara de condão tocando meu coração...” aff, socorro, eu vou vomitar).

Só tem “joio” nos dias de hoje, falta “trigo”, não se tem escolha. E como dói meus sensíveis ouvidos com a pobreza de acordes dessas musiquinhas ditas “sertanejas universitárias“ (se é que isso significa alguma coisa). Isso quando não é a baixaria explícita ou implícita como no caso do funk. E as vozes desses pseudo artistas são sofríveis, cantor de banheiro é tenor perto deles. Dizem que “gosto é gosto, não se discute“, e eu acrescento, mau gosto também não se discute, mas se lamenta.
A novíssima geração (que minhas sobrinhas infelizmente fazem parte ) está herdando uma safra de pobreza musical sem limite, é muito lixo para uma única geração, simplesmente insuportável, e não tem nada pra contrabalancear. 

Só tem isso, a qualidade instrumental é nula, as letras não tem nada de romantismo, é breguice pura, e giram em torno do universo do “corno manso ou corno infeliz” (no caso das duplas sertanejas), ou do galinha convicto no caso dos sertanejos universitários (“vou esperar minha mulher ir no banheiro, e ganho cinco minutinhos de solteiro, ela nem vai desconfiar”) ou da baixaria explícita do funk com letras de cunho sexual (impublicáveis, diga-se de passagem), todos incentivando, sem exceção, traição e azaração promíscua e sem compromisso.



Em tempo: para escrever este texto, tive que escutar (aff, tarefa árdua para meus sensíveis ouvidos) as músicas citadas no texto, com suas letras apelativas e seus cantores chinfrins de vozes sofríveis, mas me recuso veementemente a manchar meu blog postando exemplos desses lixos ao vivo, através dos vídeos destas pobrezas musicais (e juro que tentei seguir a dica de uma amiga prá ouvir um tal de Gustavo Lima, Jorge e Mateus, e por fim João Bosco e Vinícius mas... aff, só posso lamentar, é tudo muito ruim, é brega demais para o meu gosto apurado, são cantores de latrina, não cantam, gritam, letrinhas pseudo-românticas e chinfrins demais,... é tortura demais para os meus ouvidos).

Diante de tanto pseudo-romantismo, parece que Lulu Santos foi mesmo “O último romântico” da nossa música brasileira. E a “Sociedade dos poetas mortos” da nossa música brasileira (Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Renato Russo, Cazuza, Raul Seixas, Noel Rosa, Adoniran Barbosa, Celso Blues Boy) devem estar se contorcendo nos seus jazigos, diante de tanto lixo fonográfico. É, Renato Russo, você achava que não, mas parece que foi “Tempo perdido” sim.

E, para fechar este texto, é compreensível a indignação do personagem “Away Nilzer” (abaixo), soltando palavrões do mais baixo calão, diante de tanta pobreza e lixo musical dos novos tempos. Só mesmo fazendo coro e mandando essas m..... prá PQP. “Vade retro, mau gosto musical”.













Um comentário:

  1. Boa tarde.
    Concordo com voce no que diz respeito ao baixo nível musical de hoje e da geração perdida, mas questiono o seguinte e não responsabilizo jamais essa geração pelo simples fato de considerar base para formação a educação, o estudo, a família, ... Uma geração que em seu primeiro e segundo ano de escola não se permite reprovar, aprova-se e passa para frente o aluno. Que coisa é essa considerando que a base de tudo é o fundamento?
    Qual o interesse do professor em ensinar? Salário baixo, classe com 40, 50 alunos, escolas sem estrutura muitas vezes, ... Qual o compromisso desses professores?
    Imagina voce dar aula para o segundo ano onde nem 10% da sala pode acompanhar sua aula?
    Os governantes estão conseguindo matar uma ou duas gerações nesse passar de anos, mas formando aquilo que esperam ou seja, uma população mais burra, sem capacidade de interpretar um texto, isso quando sabe ler ou mesmo de escrever e saber o que escreveu, acha isso mentira? Pergunte a professores ou teste alguns alunos.
    No meu tempo vestibulares em qualquer faculdade eram difíceis e concorridos, precisava de muito empenho, dedicação e horas de estudo.
    Hoje tenho vontade de saber como é a vida de um aluno dessa nova geração numa faculdade, exceto os de escolas pagas por aqueles que podem.

    Nossa base está se tornando fraca e podre, a tecnologia esta chegando com força e poucos para fazer dela o melhor uso, apenas games, sacanagens, vidas e perfis virtuais criando novos personagens.
    Os tempos estão mudando, estamos evoluindo da mesma forma. Não é espantoso o que vemos e ouvimos hoje tocar na mídia, é repudiante para uma geração como a nossa que teve CULTURA e a preserva mesmo nos dias de hoje.
    Felizmente temos pessoas como voce que compartilha sua opinião e a quem gosta de boa leitura e conhecimento pode fazer uso disso.

    Insisto em dizer que os lepo lepo, algumas duplas sertanejas, Anitas da vida,... sejam o fruto de um oportunismo dos exploradores da mídia e que tudo que é bom dura gerações, e não é o caso da realidade atual, mais alguns meses somem os famosos por uma temporada e reaparecem outros ainda piores, mas o que tem talento, qualidade, sonoridade, ... permanecem aos que tem ouvidos para ouvir, aos que apenas escutam, escutam qualquer coisa.

    É o ciclo da falta de CULTURA E DAS OPORTUNIDADES QUE TIVEMOS.
    Somos de uma geração privilegiada em que nossos pais iam na escola para tomar conhecimento do que éramos nela e hoje um aluno agride e ameaça um professor, diretor,...

    Países como a India, China,... cresceram ultimamente em seu PIB, qualidade de vida pelos investimentos na educação, enquanto aqui além de piorarem a qualidade, ainda desviam as verbas prejudicando ainda mais os pobres alunos.

    Enquanto não tivermos formadores de opinião brotando dessas gerações atuais e futuras, estaremos a beira do caos, porque do abismo já caímos.

    Sei lá, penso mais ou menos assim Dra.

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