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terça-feira, 6 de abril de 2010

Aquecimento global: aonde vamos parar?

Manhã de seis de abril, de uma terça-feira chuvosa, repleta de desmoronamentos e desabrigados pela cidade. As águas de março agora começam “a fechar o verão” avançando pelo mês de abril.

A caminho do trabalho, percorro o centro da cidade, tudo deserto, lojas fechadas, carros destruídos por árvores tombadas, ruas alagadas com uma “língua” barrenta rompendo o asfalto, parece madrugada de domingo tal o silêncio das ruas.

Volto prá casa, pensando naqueles que não mais terão um lar para retornar, e me lembro que, há dez dias apenas, constatei com certa tristeza, mais uma vez, as poucas adesões ao “apagão ecológico”.

Um ano atrás, escrevi sobre a “Hora do Planeta”, o 1º ano que o Brasil participaria do movimento mundial de alerta contra o aquecimento global, e agora um ano depois, assisti, desolada, que “a coisa vai de mal a pior”, no ano passado teve jogo Fla x Flu e claro, as chatíssimas novelas na “hora exata do planeta”. Abaixo, meu texto de um ano atrás:

“Hoje, dia mundial de alerta contra o aquecimento global, na hora marcada, apaguei as luzes, desliguei todos os aparelhos elétricos, acendi minhas luminárias “zen” (de velas perfumadas), penduradas no teto de minha sala, e fui prá varanda da sala, me deitei na minha rede, e claro, me pus a escrever. Olho em volta enquanto escrevo, poucas janelas aderiram ao “apagão”, ouço apenas uma criança (ainda há esperança nas gerações futuras?) gritar “apaguem as luzes”, exatamente um minuto após o horário marcado.

É triste, mas é a nossa realidade; pela manhã, pensei em aproveitar o “apagão” e marcar com amigos um violão a luz de velas, regado a um bom vinho, mas desisti, “apagão” programado no horário de jogo de futebol e de novela ? Impossível a adesão, o planeta que espere, que “se exploda”, vai derreter em lava incandescente, o povo “não tá nem aí”, pois o “Fra” e o “Fru” e a Odete Roitmann (desconheço as novas vilãs das novelas, então vai essa mesma) são imperdíveis.

Deitada na minha rede, olhando a noite sobre a mata atrás do meu prédio (resquícios que ainda restam da Mata Atlântica em minha cidade), lembro-me dos micos de rabo comprido, que vejo frequentemente pela manhã, da minha varanda, pulando de galho em galho, e me pergunto até quando ainda os verei, e me lembro de uma  crônica da atriz Fernanda Torres, que pergunta prá onde foram os grilos, o coaxar dos sapos e os tatuís das praias e bairros do Rio.

Eu ainda tenho o privilégio de ver os miquinhos, e quando vou a minha cidade no interior do estado, ainda vejo os tatuís na praia, que fazem “cosquinha” quando colocados na palma da mão, com suas patinhas ágeis a procura de areia prá se enfiar (passei minha infância atrás deles), eles deixam rastros típicos na areia após cada onda do mar e até hoje o mar é meu companheiro fiel e confidente.

Tive também o privilégio de ver meus meninos crescerem e curtirem a infância deles no meio de camaleões (tínhamos uma casa de veraneio, numa região oceânica), subindo em árvores, a luz dos  vaga-lumes a “iluminar” nossos caminhos a noite, com a ajuda do luar e das estrelas (lindas as noites estreladas) e dormíamos com o coaxar dos sapos e acordávamos com o cantar dos passarinhos e beija-flores que vinham beber no galho das árvores frutíferas que plantamos.

Tomei um banho no escuro, água fria no corpo (revigorante) e então voltei prá rede, embalada pelo barulho da chuva que caía sobre a cidade. Será que as pessoas não têm consciência do que estão perdendo? No escuro, os outros sentidos ficam mais aguçados, o ruído da chuva no toldo da minha varanda é suave e reconfortante.

Enquanto meus pensamentos rolavam (e minha caneta enchia de rabiscos os papéis no escuro) o tempo passou depressa, nem percebi e já tinha esgotado a “hora inteira do planeta”, não tive os amigos, nem o violão, nem o vinho, mas a noite foi prá lá de agradável comigo mesma, e meus pensamentos me renderam esses escritos.

Se ainda houver uma próxima (do jeito que a coisa vai, sei não), quem sabe o mundo pense de outra forma, e ainda não seja tarde demais (veja vídeo no fim do texto), e ainda consigo convencer as pessoas a trocarem a energia elétrica (e o futebol e a novela) por um luar e um violão, mas até lá fico com o Woody Allen e suas frases pessimistas, porém realistas:

“Mais do que nunca na história, a humanidade está numa encruzilhada. Um caminho leva ao desespero e à absoluta falta de esperança. O outro, à total extinção. Vamos rezar para escolhermos corretamente." (Woody Allen)

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