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sábado, 28 de novembro de 2015

Homem feminista !!! (uma salva de palmas)




Começo este texto, parafraseando o jornalista Artur Xexéo (quando, ironicamente, ele faz referência a certas pessoas, diante da pouca ou nenhuma relevância das mesmas no âmbito social e/ou intelectual, trocando o “quem” da pergunta, insinuando tratar-se de uma coisa qualquer e não de uma pessoa digna de menção) com a pergunta que não quer calar: Afinal de contas, “o que” é Jair Bolsonaro??? “O que” é Marco Feliciano??? “O que” é Eduardo Cunha???

Porque, com certeza, é essa a pergunta que fariam intelectuais do mundo inteiro caso se defrontassem com as boçalidades das falas desses energúmenos políticos brasileiros (por conta da polêmica machista que rolou após a comentada prova e redação do ENEM) que se acham no direito de denegrir a imagem de Simone de Beauvoir, a renomada escritora e filósofa francesa, feminista venerada e aplaudida mundialmente. 



O problema é que esses mentecaptos não são os únicos por esse Brasil varonil... mas, como bem diz Xexéo, esses energúmenos são tão insignificantes que (“thank God”) suas vozes só ecoam e repercutem por aqui, por esse mundinho cão e machista chamado Brasil...

Mas, nem tudo está perdido, o feminismo está ganhando forças, inclusive entre os Homens (com H maiúsculo, para diferenciar de “hominhos” machistas e escrotos); os “Meninos do Papo de Segunda”, programa do canal GNT, que o digam...

No ótimo programa, o jornalista Xico Sá se revela “feminista até debaixo d’água” e explica que o que o fez mudar e se tornar “irresistivelmente feminista” foram as próprias mulheres; com suas lutas constantes por “um lugar ao sol”, o fizeram perceber a injustiça do mundo macho em relação ao universo feminino, a ponto dele confessar que “lugar de homem é no feminismo”.

E o humorista João Vicente de Castro, também um dos rapazes do programa (e também do “Porta dos fundos”) sempre ironiza os projetos de leis machistas (camufladas de questões religiosas) das bancadas evangelistas do nosso famigerado Congresso Nacional, como no caso da novo projeto de “lei de criminalização do aborto” em discussão no plenário, que dificultará a divulgação de métodos de aborto até mesmo para mulheres vítimas de estupro.

Num dos esquetes do programa, o João Vicente aparece “conversando com Deus” sobre a polêmica confusão dos nossos parlamentares que misturam políticas de saúde e de cidadania com religião, e eis que Deus responde que concorda com a proposta do “aborto pós nascimento”, para assim abortarmos” da face da Terra toda essa gentalha que está cometendo esse tipo de bárbarie contra as mulheres (solução “divina” magnífica, uahuahuah).



E os rapazes do programa (também o Marcelo Taz e Léo Jayme) estão de parabéns e merecem o nosso aplauso, porque discutem, em defesa das mulheres, temas polêmicos e dolorosos como a violência física contra o sexo feminino, o aborto, o assédio sexual que muitas meninas ainda na tenra idade continuam sofrendo nos dias de hoje (a atual hastag #meu primeiro assédio”) e também sobre o famigerado e também recente absurdo, o tal “Estatuto da Família” (só para citar alguns dos projetos ridículos, obsoletos e absurdos dos tais parlamentares evangelistas).

“Se o homem engravidasse e parisse, o aborto já estaria legalizado há muito tempo” – essa óbvia argumentação rolou na panfletagem do protesto contra o deputado Cunha (o mesmo que afanou e omitiu, e mentiu sob juramento na CPI, milhões de dólares em contas não declaradas em paraísos fiscais) por conta da sua proposta de criminalização do aborto, mas a tal passeata (tanto quanto o “fora Cunha”), que ocorreu agora no início do mês em várias cidades do país, foi muito mal divulgada pela grande mídia de todo o país.







No vídeo abaixo, montado a partir de uma das manifestações, a bela poesia falada intitulada “O pulso aberto”  somos porta de entrada e porta de saída, somos deusas e escravas há mil gerações... somos a terra e a semente...  da poeta carioca Maria Rezende (do seu livro de poesias Carne de umbigo”) abafa a voz sem eco do machista que não sangra e nem nunca pariu como nós mas se acha no direito de controlar nossos corpos e nossas mentes com palavras vazias de ordem e de pecado.





E mais uma pergunta fatídica que não quer calar: Como fica “o Conceito de Família” diante de uma mulher que se vê obrigada a parir uma criança fruto de uma violência sexual? Além de ser vítima de uma sociedade machista, a mulher ainda terá que dar a luz a um filho indesejado (e, com certeza, desprezado pelo pai abusador e marginalizado pela sociedade, antes mesmo de nascer), e se casar com o estuprador para dar um genitor ao filho e só assim ter direito ao absurdo “Estatuto da Família”?? Custo a acreditar em tamanha hipocrisia!!!


E a pergunta que não quer calar: por que não ouço o famoso panelaço da elite e da classe média indignadas com corrupção quando o troglodita e mentecapto Cunha aparece na TV com a cara mais lavada e hipócrita???!!!  A indignação da sociedade contra a corrupção é seletiva e partidária??!! 

O ensurdecedor barulho fora Cunha feito pelas mulheres (nesta última semana de outubro e início de novembro) passou ao largo das notícias de grande parte dos grandes jornais televisivos (uma exceção é o jornalista Bob Fernandes que sempre expõe o silêncio cúmplice da mídia e cobra o tal panelaço apartidário).



Em contrapartida ao feminismo declarado dos Homens com H maiúsculo, muitas mulheres têm se declarado antifeministas, porque equivocadamente entendem o movimento feminista como “uma luta contra os homens”... 

Outro equívoco, que as mulheres cometem, está contido no discurso tosco de que “para ser ouvida, às vezes é preciso ficar calada”... Outras alegam que não discutem esses temas polêmicos do universo feminino e do mundo machista porque “não querem se aborrecer”...


Já outras mulheres sugerem que se nós podemos nos declarar feministas, então os homens também podem se declarar machistas – mais uma vez um equívoco, pois o mundo, e principalmente o Brasil, já é historicamente (e culturalmente) machista, portanto não há nenhuma bandeira a erguer nesse sentido por parte dos homens (pois eles recebem salário maior que as mulheres que exercem a mesma profissão, os meninos de tenra idade em geral não sofrem assédio sexual por parte de mulheres, como no caso de incitação à pedofilia direcionada para a menina do programa “Master Chef Jr”, e por aí vai...).



É um discurso fácil e muito cômodo o dessas mulheres, que se declaram “não feministas” e preferem não desafiar o mundo macho... Não percebem que os avanços que hoje elas usufruem (direito ao voto, a escolaridade e tantos outros) são frutos de batalhas intermináveis de feministas durante todos os séculos de existência, e que não podem sofrer retrocesso em pleno século XXI...

Temer estar contra os homens é um argumento equivocado de mulheres que, no fundo, estão apenas preocupadas em agradar ao sexo oposto; e se sentem melindradas, com medo de serem rotuladas de “mal amadas”, de carentes “daquilo” (e por aí vai...), o que faz com que apenas reforcem o machismo vigente na nossa sociedade que se consolida nas leis esdrúxulas dos nossos representantes no Congresso.



Enquanto mulheres se envergonham de se declarar feministas, o cinquentão Xico Sá admite que só mudou seu discurso (anteriormente machista e até compreensível nessa faixa etária) e evoluiu como ser humano, graças às mulheres com que conviveu, mulheres que mostraram e escancararam as injustiças contra elas, injustiças essas que eles, os homens, nem mesmo percebiam que existiam... 

Xico Sá vai mais longe ainda e revela “a força que as mulheres têm e não sabem” e professa: “a mulher precisa de homem tanto quanto um peixe precisa de uma bicicleta”. E é verdade: se a mulher quisesse, usaria “um consolo”, o famoso vibrador (que, para muitas mulheres, é melhor até que o natural) para lhe proporcionar prazer, e com o sêmen guardado em bancos de esperma daria tranquilamente continuidade à Humanidade; já os homens sem útero não iriam muito longe...

Mas o retrocesso ainda está por toda a parte e temos que insistir no diálogo e no discurso feminista até que frases obsoletas e retrógradas deixem de ser cuspidas das bocas desses machos trogloditas, como as que eu ouvi esta semana advindas das novas gerações de machos do século XXI (rapazes “maduros” entre 25-30 anos de idade) com um discurso digno dos anos 50 do século XX: “só continuo com fulana, porque fui eu que a desvirginei, e sei que sou o único homem que ela transou na vida”... “ não quero ter filha mulher, porque não quero ver marmanjo comendo minha filha” (“Holy shit”!!! Custei a acreditar que ainda se pensa assim em pleno século XXI). 

Mas nem todas as mulheres estão mais aceitando esses rótulos preconcebidos desta arcaica sociedade patriarcal e machista. E o novo vídeo da atriz/cantora Clarice Falcão é uma prova disso, uma versão (muito mais interessante) da música Survivor” do extinto grupo Destiny's Child (que Beyoncé fazia parte) – Now that you're out of my life, I'm so much better”.


É preciso ter coragem para ser mulher nesse mundo, para viver como uma, para escrever sobre elas”. A filósofa Márcia Tiburi, uma das mais expoentes intelectuais da nossa atualidade, em seu livro “Como conversar com um fascista  reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro”, tenta nos ensinar a difícil (mas urgente) tarefa de “resistir em nome de um diálogo que torne o ódio impotente”. 

E insiste que o discurso feminista antimachismo é essencial para mudar uma sociedade patriarcal. E que para enfrentar a ausência de pensamentos (burrice não faz sofrer o burro, faz sofrer o outro) a filósofa propõe a resistência pelo diálogo (tarefa difícil num mundo machista, fascista, reacionário e burro).



E Márcia Tiburi (o vídeo abaixo com a fala da própria filósofa é imperdível) mostra a importância das mulheres na sabatina diária para desfazer equívocos de um mundo machista, moralista e fascista que distorce bandeiras feministas (conseguidas com muito suor), desconstruindo conquistas femininas com discursos boçais, e deturpando ideais com citações equivocadas da Bíblia, misturando políticas de saúde com religião para confundir e manipular a sociedade.



E então, mulheres, não se envergonhem de ser feministas (como diz Márcia Tiburi, o feminismo é revolucionário, é para quem gosta de transformações e avanços sociais”); nós mulheres sempre fomos muito mais que uma costela dos homens”, e só precisamos ser valorizadas como tal, assim como os homens sempre foram desde sempre.

E se precisar vamos “queimar os soutiens” de novo; essa luta sempre foi só nossa, mas agora temos homens feministas do nosso lado. Merecem ser ovacionados de pé!!! Uma salva de palmas para esses hiper-super-homens (“Vivi a ilusão de que ser homem bastaria, que o mundo masculino tudo me daria... que nada, minha porção mulher é a porção melhor que trago em mim agora...”   Gilberto Gil, já um homem feminista, desde os idos anos 80).




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