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sexta-feira, 26 de março de 2010

Nossa eterna "anuência" com corrupção e impunidade

Há pouco tempo atrás, um amigo me mandou um e-mail, que cronometrava todos os escândalos de corrupção ocorridos na política brasileira, desde o tempo da ditadura militar até os dias de hoje – o acervo histórico começava pelo governo Geisel que tinha apenas 8 escândalos, e ia aumentando gradativamente com o apagar das luzes dos governos seguintes, até o escandaloso recorde de mais de 100 casos no governo Lula

– mandei de volta a minha resposta pro amigo, parabenizando o governo Lula, pois os governos militares (que foram os mais cruéis, autoritários, corruptos e sanguinários dos governos que já tivemos), foram os que menos registraram escândalos, significando apenas que os outros 92 ou mais casos (para chegar ao recorde do governo Lula) da época, que com certeza ocorreram, aconteceram "por debaixo dos panos" e foram omitidos pelos militares.

Os números mostram o equívoco, pois na época da ditadura tudo era abafado e chegou-se ao cúmulo, prá quem não sabe, de “O Jornal do Brasil” da época, espertamente, divulgar na sua 1ª página, receitas culinárias, numa jogada prá lá de original, denunciando, na maior ironia do século, a censura à liberdade de expressão na época da ditadura.

O número enorme de denúncias no governo Lula é uma conquista positiva, pois mostra que, pelo menos, não mais se "varre prá debaixo do tapete", os escândalos, os roubos e as corrupções que ocorrem (e muitos deles iniciados em governos anteriores e que vieram a tona no governo atual, vide o escândalo dos sanguessugas e dos vampiros que era desde o governo Fernando Henrique com o José Serra como ministro da Saúde ), mesmo os que envolvem parentes do presidente e correligionários do partido do governo, na verdade na mesma proporção da época da ditadura, só que naquela época, tudo era na surdina.

Agora, já a impunidade, essa sim, ainda é a mesma daquela época, ainda persiste na mesma (ou maior) proporção, é ainda um problema grave desde a ditadura até os dias de hoje. Não nascemos corruptos, não “tá no sangue”, não “tá na genética” dos brasileiros, não somos mais corruptos que os demais países, o que ocorre é que os corruptos lá de fora pensam mil vezes antes de cometerem um delito, pois a punição "virá a cavalo" (na verdade, a jato, eu diria), enquanto aqui a impunidade corre solta (chega-se a conclusão de que “vale a pena ser corrupto no Brasil”).

É a lei do Gérson que predomina aqui até hoje, a mesma impunidade que ocorre na política, ocorre também no trânsito, na saúde, na educação, no esporte, e o pior é que, prá onde se olha, vê-se o escandaloso flerte da corrupção com o tráfico de drogas, o mais recente é o caso (recorrente) de jogadores “flertando” com bandidos da pior espécie.

Abaixo reproduzo trecho, extraído da "Veja Rio" desse mês, de uma matéria que mostra como a impunidade ocorre aqui, no caso, o esporte - o jogador Adriano sendo "escoltado" por conhecidos marginais, armados de fuzis, num baile funk, numa favela do Rio (e depois reclamam, quando eu critico esse trio macabro, que andam sempre de mãos dadas: "FRAmengo x funk x marginalidade"), e como é lá fora, quando um atleta se envolve em escândalos:

“Há um conceito recorrente na sociologia brasileira, segundo o qual, os únicos meios garantidos de ascensão social dos pobres são a música, o futebol ou o narcotráfico. De certa forma, esse axioma carregado de cinismo e crueldade explica a proximidade dos ídolos do esporte com os fora da lei. Cada um à sua maneira, eles encarnam um modelo de sucesso: o craque simboliza a consagração pelo talento esportivo e o traficante, o poder dentro da favela".

"Quando eles se juntam, no entanto, dois fenômenos perversos acontecem. O primeiro é a confusão que se instala na cabeça de milhões de crianças e jovens que idolatram figuras como Adriano, Vagner Love e outros tantos jogadores envolvidos em situações parecidas. Goste-se ou não, eles são vistos como heróis, como exemplos por uma multidão de meninos e meninas, de todas as classes sociais".

"A segunda consequência também é nefasta. Da união com o crime, o beneficiado é sempre o bandido, que, de certa forma, legitima a sua posição. Quando celebridades aparecem ao lado de traficantes, isso fortalece o poder desses marginais nas áreas que eles dominam,.... Nesses lugares, eles (os atletas) são assediados e têm escolta armada. E se deixam levar, sem perceber o prejuízo que causam à sua própria imagem".

"Evidentemente, ninguém quer nem pode proibir as visitas de jogadores ao local de onde vieram. O que se recrimina é a maneira como alguns vêm fazendo isso. Sob a desculpa do "não posso abandonar minhas raízes", eles se juntam a traficantes em seu mundo paralelo, ... “ (Veja Rio - março, 2010).

E a reportagem continua mostrando o que acontece lá fora, quando um atleta se envolve em casos de adultério, brigas, drogas, ou qualquer conduta que o desabone diante do público que o venera, ele perde contratos de propaganda e é "linchado" na mídia, obrigando-o a se retratar publicamente com pedidos de desculpas,

enquanto aqui no Brasil  o jogador Adriano, o “Imperador”? (do Império do Mal??? O FRAmengo? O comando do tráfico??) na sua ótica estreita, corrompida  e prá lá de peculiar, ao invés de vir a público se retratar, no entanto, se limita a dizer que “as pessoas ruins são aquelas que o criticam e não os parceiros da noitada que andam de fuzis” (what?????) - veja vídeo no final do texto, como mesmo com todas as evidências, ainda passam a "mão na cabeça" desses marginais travestidos de atletas.

Prá terminar, cabe a nós, a sociedade como um todo, refutar o comportamento desses marginais travestidos de desportistas (ou de políticos, de profissionais da saúde, etc). Eu faço a minha parte, no meu trabalho, na área de saúde, denunciando toda a forma de mau-caratismo, falta de ética e corrupção, e por isso não sou vista com bons olhos por muitos.

Por ser mulher, contestadora e “anarquista”, sou massacrada com assédio moral e calúnias, na tentativa de me fazerem calar, mas não me dobro, mesmo brigando em geral sozinha, por dignidade e ética no trabalho, continuo enfrentando os poderosos, mesmo quando a prejudicada acaba sendo só eu mesma.

Um dia, um dos meus filhos, então adolescente, me falou: “Mãe, não se iluda, brasileiro já nasce corrupto”. Entrei em pânico, é esse o legado que vamos deixar para as futuras gerações? Mesmo que minhas denúncias não dêem em nada (pois “uma só andorinha não faz verão”) pelo menos, deixo aos meus filhos, hoje jovens adultos, o aprendizado do que é ética, caráter, dignidade e responsabilidade, através do meu exemplo e de minhas lutas,

ao invés de, como a maioria da sociedade, cruzar os braços (o eterno "me deixa fora disso"), e confortavelmente botar a culpa “no sistema, “no governo”, com paradigmas do tipo “é sempre assim”, “sempre foi assim”, “não adianta que não vai mudar”, 

e esperar uma solução “das autoridades” para uma situação vexatória para o país, que já assola o país há décadas e que, por conta da nossa eterna "aquiescência", estamos “fazendo escola”, vendo nossos filhos nascerem e crescerem sob o manto da impunidade, achando inclusive natural, como se a corrupção fizesse parte da índole do povo brasileiro.
 






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