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sexta-feira, 22 de março de 2013

Velhos tempos: lembranças, saudade e nostalgia

Trabalho em uma Universidade, assim o contato com jovens adultos, recém-saídos da adolescência, é diário. Daí, num dos papos informais que sempre rola nos intervalos da labuta, um dos alunos de medicina, também cinéfilo, começou a falar de filmes que homenageiam o próprio cinema, e citou o recente “Hugo”(premiado no Oscar e no Globo de Ouro, em 2012, em várias categorias) e o antigo “Cinema Paradiso”, ganhador do Oscar estrangeiro de 1988. Este último, uma pérola do cinema italiano, infelizmente desconhecido para muitos dos jovens estudantes não cinéfilos que participavam do descontraído bate papo.

O surgimento do meu blog foi num papo assim, a pedido de jovens que curtem cinema, mas que não são cinéfilos (portanto sem grande conhecimento aprofundado da sétima arte) e que queriam dicas do velho e bom cinema. E, obviamente, qualquer filme que, através da metalinguagem*, homenageie o próprio cinema é fascinante para qualquer cinéfilo que se preze. 

Assim o belo e eternamente cultuado “Cinema Paradiso” não poderia jamais ficar de fora do papo, e eu sou altamente suspeita, quanto a esse filme em particular, em matéria de fascínio, pois ele me remete à minha infância na minha cidadezinha do interior, muito parecida com o vilarejo italiano do personagem cinéfilo e futuro cineasta, o menino Totó.

E acabado o papo, o tema saudosista ficou na minha cabeça. Ouvi há pouco tempo alguém dizer que, "com a idade, passamos a ter certa preguiça em conhecer novidades, em matéria de lazer em geral, principalmente no campo da música". Será???  Acho que não acontece comigo, pois estou sempre aberta a novidades. Na verdade, acho que o que acontece não é bem preguiça, é que há uma espécie de pobreza cultural geral, na era da internet, que passa por várias artes, em especial a música.

E nostálgica, além do cinema, me vi relembrando os velhos tempos, e logo me veio à lembrança a música “Rua ramalhete”, sucesso do compositor Tavito, mineiro que fazia parte do famoso "Clube da esquina", liderado por Milton Nascimento, movimento que surgiu numa época em que havia um fervilhar de novidades culturais em todo o mundo inclusive no Brasil (“sem querer fui me lembrar... daquelas tardes... o amor anotado em bilhetes... do muro do Sacré-Couer... de uniforme e olhar de rapina... nossos bailes do clube da esquina... quanta saudade”).
Os meus tempos de escola... Como no “Cinema Paradiso”, os encontros da turma era na grande sala de cinema; eu saía do colégio de manhã, ia para a aula de piano no Conservatório de Música à tarde e depois... a magia do cinema. 

De uniforme, meias três quartos, sapato “boneca”, saia curta plissada e gravata escolar, nós levávamos a famosa pipoca “de vento” doce (quase sem doce) de saquinho, comprada no baleiro da esquina, para a “guerra” entre as turmas, enquanto esperávamos o início da sessão tal qual no filme, e assim que a cortina se abria e a luz se apagava, acabavam as "guerrinhas" e todos os olhos, sem exceção, se voltavam para o telão, vidrados que ficávamos naquelas imagens enormes, estarrecedoras, e ali, quase sem fôlego, sem nem saber o que era ser cinéfila, nascia minha eterna paixão pelo cinema, tal quais os personagens do filme – só não virei cineasta, como o protagonista do 'Cinema Paradiso", e o meu blog passou então a ser a minha redenção.

E voltando à “preguiça cultural”, acho que a falta de novidades, realmente acaba levando a um saudosismo dos velhos tempos, como por exemplo, na música, em que antes havia um fervilhar cultural geral, como a bossa nova, o rock, o jazz, o blues, o reggae, e agora..., o que temos? 

Surge muito ocasionalmente alguma novidade, como Amy Winehouse, Alanis Morrissete e mais alguns “gatos pingados”, mas em geral são o“pop stars” de sempre, a manjadíssima Madonna e "sua alter ego" mais recente, a Lady Gaga, o Justin Bieber com suas musiquinhas simplórias (assista abaixo a sátira da música "Baby" com um hilário "reforço vocal") e... no Brasil, as chatérrimas duplas sertanejas, com suas letras de corno e vozes esganiçadas, e o funk com sua pobreza sonora e sua baixaria explícita na letra e na dança.
Fim de ano e início de ano vindouro (a chegada do Natal, Ano Novo, carnaval, férias) me deixam extremamente saudosista. Neste carnaval, fui num baile noturno num renomado clube carioca e, certa de que a tradição predominaria, obviamente imaginei um carnaval tradicional a altura, com direito às clássicas marchinhas; assim, me vesti “a rigor”, com uma fantasia de melindrosa (que remete aos anos 20, à época do "Charleston"), com luvas três-quartos, máscara “a la carnaval veneziano”, colares de pérola (imitação, óbvio) complementando o vestido tomado de franjas, mas...

Para minha decepção, o triste repertório musical do clube era predominantemente o funk, que rolava solto, com sua (pseudo) dança e suas letras de baixo calão – carnaval com funk é o fim da picada, é o “ó do borogodó”– a dança funk me remete à lembrança de cadelas no cio em pleno ato sexual com um cachorro enfiado entre as patas, uma cena chula que, de vez em quando, somos obrigados a assistir no meio da rua em algum subúrbio, mas que, nos dias de hoje, não precisamos ir muito longe, pois uma cena esdrúxula muito parecida é facilmente vista em qualquer “bonde” de funk.

Encostada num canto do salão (detalhe, não tinha nem mesmo as tradicionais mesas laterais ao redor da pista de dança, sentar só se fosse no chão nas escadarias do clube), eu literalmente desisti da “festa” e, enquanto me escandalizava com a dança sexual das "cachorras" (título bem apropriado para as funkeiras), não pude deixar de me lembrar com saudade dos carnavais de rua, na minha cidade do interior (os palhaços, os bate-bolas, o boi-bumbá), os famosos bailes de carnaval nos clubes, com as tradicionais e charmosas fantasias de pierrot, colombina e arlequim (quem quiser conhecer a história por trás dessas fantasias, assista no final do texto o vídeo "conexão jornalismo"). 

Existia um glamour que foi jogado fora no lixo da decadência contemporânea; agora, para onde se vai, é sempre a mesma baixaria de sempre, "tá tudo dominado" pelas cachorras, "as preparadas" com suas famosas celulites bundais tremulantes (nada sensual, diga-se de passagem) nas suas calças "da gangue" de gosto duvidoso; daí “a preguiça” em conhecer coisas novas. Novidades,...que novidades?? O monobloco (vídeo no final do texto) é uma das poucas boas novas, que trouxe de volta o tradicional carnaval de rua do Rio de Janeiro.

Relembrando os velhos tempos, para quem não conhece o "Charleston", a famosa série cômica "I love Lucy" dos anos 50, reprisada exaustivamente por décadas na TV, tinha a tresloucada Lucille Ball como protagonista, e no vídeo abaixo, uma cena dela, dançando a famosa dança dos anos 20, com Ginger Rogers, as duas já senhoras (faleceram nos anos 90), mas ainda em plena forma, relembrando a cena original de Ginger no filme "Roxie Hart", em preto e branco, dos anos 40 (abaixo e no final do texto).

Pelo menos, no cinema, essa pobreza cultural ainda passa longe; apesar de muita porcaria, ainda temos uma grande leva de excelentes filmes rolando por aí. 

Woody Allen é um desses cineastas que parece também sentir essa nostalgia, parece querer, através de seus filmes, reviver sempre o glamour do passado. Em "Meia noite em Paris", o personagem alter ego do diretor, papel de Owen Wilson, quer a todo custo voltar ao passado, aos anos 20, na época do Charleston (veja no final do texto, a cena da dança Charleston em "Midnight in Paris"), enquanto a personagem de Marion Cotillard quer voltar ainda mais no tempo, na "era de ouro" euroopéia, em particular na época da famosa dança "Can can" (veja no final do texto) do século dezenove, a chamada "belle époque".

Também o conhecido e premiadíssimo cineasta americano Martin Scorsese tem saudade dos velhos tempos; recentemente trouxe o cativante “Hugo” às telonas (no Brasil, “A invenção de Hugo Cabret – trailer no final do texto). Baseado numa história infantil em quadrinhos, “Hugo” nada mais é que uma bela homenagem aos primórdios do cinema. O cineasta mistura realidade à ficção, homenageando o grande mágico francês dos anos 30, Georges Méliès, um dos precursores do cinema, ao relembrar sua extensa obra cinematográfica que foi quase totalmente destruída no período entre as duas grandes guerras mundiais.

*E quem quiser saber um pouco mais sobre metalinguagem no cinema e mais sobre o mágico e encantador “Cinema Paradiso”, com sua belíssina trilha sonora instrumental assinada pelo magistral Ênio Morricone, além de "Meia noite em Paris" e a extensa filmografia de Woody Allen", acesse os links a seguir:
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2009/10/cinema-paradiso.html




















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