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domingo, 26 de maio de 2013

O documentário "Baring it all" (sobre Ca de mama): isso sim é coragem

Adoro uma polêmica. E estranhei o porquê da tão pouca polêmica contra a decisão da bela atriz Angelina Jolie, em relação a exposição da sua resolução de extirpar radicalmente as suas glândulas mamárias. Falatório à parte, notei que poucos criticaram negativamente a decisão da midiática (mas não tão talentosa) atriz. Ao contrário, o que mais se comentou foi a "coragem" da atriz. Coragem ???!!!

A decisão de extirpar as mamas é, com certeza, um direito dela e ninguém tem nada com isso. O que me pareceu deveras irresponsável, e questiono aqui, é o artigo que ela escreveu, tratando a mastectomia preventiva como se fosse uma opção inquestionável e consagrada pela medicina (principalmente por ela não ter domínio da área médica, e por ela ser a celebridade que é, portanto influenciável e “formadora de opinião” de um público sedento de pirotecnias e soluções medicinais e estéticas milagrosas).

Alegam, os prós-Angelina Jolie, que o tratamento convencional da doença – mastectomia radical, radioterapia, quimioterapia, com todos os malefícios do tratamento como queda de cabelos e outros – deixa marcas profundas, e ainda a dúvida se em 5-10 anos a doença estaria ainda ativa ou não, o que justificaria a atitude radical da dupla mastectomia preventiva.

Com certeza, não é nada animador o tratamento da doença, principalmente se há um histórico familiar importante, como no caso da atriz em questão, mas a pergunta que não quer calar: se não houvesse a possibilidade da reconstrução imediata da mama com prótese de silicone, a atriz persistiria na idéia da mastectomia preventiva radical? Se ela tivesse que esperar meses sem as mamas (como acontece em muitos casos da doença), a tal "coragem" persistiria?

Pergunto-me se, nesse caso (se não houvesse a alternativa imediata do silicone), se a saúde continuaria como prioridade da atriz, já que a história de 87% de chance genética de desenvolver a doença continuaria? Ou ela iria optar, como a maioria de nós, por um controle periódico rigoroso para detectar a doença precocemente, e só então, caso a doença se manifestasse, é que decidiria entre a vida e a sexualidade feminina representada pela mama? 

Para mim, a divulgação midiática com grande repercussão internacional, que lhe rendeu capa na “Times” e no mundo inteiro, me pareceu mais uma propaganda hollywoodiana para ter o aval do público, pois agora a atriz tem uma bela desculpa para recuperar o vigor dos seios aos 36 anos de idade, por conta dos novos “air-bags” artificiais. O que me causa estranheza é a maratona das cirurgias que a atriz se submeteu ter passado longe dos "paparazzi" (qualquer passo da atriz, em geral, é seguido de perto pelos tais) e, de repente, a própria atriz chama a mídia para comunicar seu ato publicamente???!!!  

Se as internações e as intervenções tivessem sido descobertas pelos "paparazzi" (estranho isso não ter acontecido, não?), e ela resolvesse então contar a sua decisão (que é um direito dela) e sua maratona cirúrgica, vá lá, aí sim eu acreditaria nesse embuste, pois sua decisão mesmo silenciosa, ao ser descoberta, por ser tão famosa, ainda assim ela iria influenciar as decisões de centenas de mulheres; mas do jeito que foi, me cheira a propaganda hollywoodiana, e o pior, com o aval da equipe médica, que para mim me soa irresponsável e mercenária. 

Ou seja, as pesquisas já mostraram, em inúmeras estatísticas, que a maioria dos homens (principalmente o americano) curte muito mais um silicone do que um seio natural, afinal nenhuma mulher de 35-40 anos (a idade da Angelina Jolie) mantém o vigor da mama dos seus 15-20 anos de idade, e como sempre, nós mulheres ainda vivemos a ditadura do corpo, e continuamos a nos mutilar para agradar ao sexo masculino.

Ora, o câncer de ovário (que é a doença da mãe da atriz) é muito mais difícil de detectar que o de mama, então por que diabos a atriz não começou por esse órgão? Eu mesma respondo essa: porque a atriz não precisa de uma lipo nem de plástica abdominal, e sim de silicone, pois vem exibindo uma magreza descomunal num processo de depressão com perda de peso, e com certeza o vigor da mama se foi também.

A última passagem da atriz pelo tapete vermelho foi um fiasco no Oscar 2012 (vídeo abaixo), quando foi massacrada pelas imagens dos cambitos de pernas ossudas, e com certeza a magreza dela se repercutiu nos seios, com provável queda dos mesmos, e nada como um bom par de "air bags" artificiais para resolver o problema (e o marido Brad Pitt deve ser mais um que engrossa o ranking de preferência pelo artificial). E o histórico familiar do câncer de mama é melhor desculpa que a flacidez da mama.


É comum piadas sobre a fatídica queda dos seios da mulher  por que o seio da mulher cai com a idade? E de todas as opções de respostas (efeito da gravidade, aleitamento, etc ), a resposta maldosa mais correta seria: “com a idade, o peito da mulher cai para acompanhar a bunda”.

Maldades machistas. Mas nós, mulheres, deveríamos lembrar que ainda temos a vantagem de uma gordurinha extra em locais estratégicos, que disfarça a perda e atrofia muscular do glúteo e da mama que acontece com a idade; já o homem sem esse natural enchimento adiposo, com a idade a pele fica flácida e a musculatura atrofia, e assim cai o saco, cai a bunda, e pior, cai o pau, mas nenhum deles se dá por vencido, mesmo com o saco e a bunda murchas tomam viagra e querem nos trocar por duas de vinte, enquanto nós mulheres nos torturamos com cirurgias plásticas, preenchimentos, botox, lipos e outras mutilações bizarras para agradar ao mundo macho.

A mulher usa pílula com todas as suas complicações vasculares (pode levar a varizes e tromboses ameaçadoras de vida) e passa por anestesias e riscos para laqueadura de trompas, porque o homem se recusa a fazer vasectomia (uma microcirurgia com anestesia local praticamente sem complicações), alegando equivocadamente que vai perder a virilidade. 

Uma ótima piada ressaltando esses abusos do mundo machista  homem explica ao filho os três tipos de seios femininos: aos 20 anos, são como melões, firmes e redondos, aos 30-40 anos os seios são como peras, ainda belos, mas um pouco caídos, e aos 50 anos são como cebolas, quando você olha para eles dá vontade de chorar; eis que a filha pergunta a mãe os tipos de pênis, ao que ela rebate respondendo ao despropósito do marido: aos 20 anos o pênis é como um pé de jacarandá, respeitável e firme, aos 30-40 anos um pé de chorão, flexível mas ainda confiável, e após os 50 anos o pênis é como uma árvore de natal, morto da raiz até a ponta, com bolas penduradas como decoração, e o pior, só arma uma vez por ano.

Outra ótima piada, para irmos à forra: um matemático deixa, para sua mulher cinquentona, um bilhete: querida, sinto muito, você com seus 50 anos já não me satisfaz nas minhas necessidades, assim só vou chegar à meia noite, pois estarei com minha secretária de 18 anos num motel. Ao chegar em casa, à meia noite, encontra um bilhete da esposa: querido, você também tem 50 anos, e compreenderás que estamos na mesma, assim não me espere, pois estou num motel com meu personal trainer de 18 anos, afinal você, como ótimo matemático que é, bem sabe que “18 cabe mais vezes em 50 do que 50 em 18”, então não me espere, só chego amanhã, e olhe lá.

Em resumo, nós mulheres, precisamos melhorar nossa auto estima e nos aceitarmos como somos, e nos livrarmos da tirania em cima do nosso corpo. Se somos nós que engravidamos, porque temos que suportar homens barrigudos? Qual a desculpa para a pança avantajada de grande parte dos homens pois, com a gravidez, nós é que temos o direito de ter uma barriguinha extra, e por que nós é que temos que nos submeter a cirurgias plásticas e lipoaspirações?

E quanto ao câncer no cérebro? Vamos extirpar esse órgão caso a genética indique alta probabilidade familiar? É bem verdade que tem gente que não tem massa cinzenta, e não fará nenhuma falta (se bobear é o caso da bela atriz, oops, maldade minha). Como costumo brincar com minha sobrinha: “usa a bundinha”, apontando para a cabeça dela, numa alusão de que cérebro de um pré-adolescente só tem merda (mas minha sobrinha lindinha sabe que falo de brincadeira, quando ela não quer pensar muito, antes de responder ao dever da escola, pois ela sabe o que eu acho, só porque se é bonita, não tem que ser burra).

Na revista Época, o depoimento mais consciencioso, a meu ver, foi de uma carioca de 46 anos que, apesar de toda a chance de desenvolver o câncer familiar (fez inclusive o teste genético, que foi positivo), se recusou a ser mutilada com a proposta da mastectomia preventiva, faz exames periódicos para tentar detectar precocemente a doença, e revelou: “não sou uma estatística, sou uma pessoa”. 

E, nas redes sociais, choveram mensagens elogiando “a coragem” da atriz Angelina Jolie mas, coragem mesmo de verdade têm as mulheres do “Baring It All” (a tradução em português seria, mais ou menos, "Desnudando tudo"), um documentário sobre o “Projeto SCAR”, filmado em 2011 (vídeo no final do texto), com imagens do fotógrafo David Jay, ao som da bela música "My Angel" na performance da bela voz do cantor Adrian Edward Rhen.

Este documentário inspirador coloca um rosto humano sobre o heroísmo de mulheres sobreviventes de câncer de mama em seus 20-50 anos que se deixaram fotografar com suas cicatrizes em vários estágios da doença (a doença pode impedir a reconstituição mamária precoce com implante de silicone, o que não foi o caso da atriz que, por não ter a doença, pôde ganhar os "air bags" imediatamente, assim é fácil ser "corajosa"). 

No documentário, os retratos nus expõem muito mais do que suas cicatrizes e calvícies. A imagem das mulheres é bonita, desafiadora e poderosa. Ali sim, o que não faltou foi coragem, muita coragem. 





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