Assim, para mim, é sempre um prazer inenarrável me inteirar das
técnicas usadas pelos grandes nomes da música e pelos grandes maestros do cinema, na
composição de uma música ou da trilha sonora de um filme. É como voltar a
adolescência, aos velhos tempos do conservatório de música, em que eu me via
envolvida em acordes, arpejos, riffs, staccatos, ostinatos e tantos
outros termos musicais.
Os riffs são muito usados pelos jazzistas, “blueseiros” e
roqueiros. São acordes ou notas musicais repetidas no contexto de uma música
formando a base harmônica ou o acompanhamento da música. Chuck Berry usou e
abusou dos riffs, e a música “Johnny B. Goode” já começa com um riff, tão
famoso que ninguém esquece, e não dá prá ficar parado.
E o próprio Mick Jagger, da cinquentenária banda inglesa The Rollings Stones, já confessou ter "copiado" os famosos riffs de Chuck Berry, com forte e visível influência, como no balanço da famosa música "Satisfation".
O ostinato (ostinati, em italiano) é muito usado na música e
no cinema. Nesse caso, as notas ou frases musicais são persistentemente
repetidas numa mesma altura seguindo um padrão rítmico. A música “Money” do
grupo Pink Floyd ficou famosa pelo ostinato logo no início da canção, junto com
o tilintar das moedas.
Já o cinema também fez fama com os ostinatos. A música-tema
principal composta pelo grande maestro John Williams para o filme “Tubarão”
ficou para sempre em nossas memórias, com o ostinato de apenas duas notas musicais,
que desde então passou a ser sinônimo de aproximação de perigo. A música vai
num crescendo como se seguisse os movimentos do mamífero e aumenta na hora do
ataque do animal, e sem nem mesmo precisarmos presenciar mordidas e feridas, o
medo toma conta do espectador, e a música envolve tanto a ponto de sentirmos vontade
de levantar da poltrona do cinema para avisar ao figurante do ataque iminente.
No divertido, e ao mesmo tempo dramático, “Amadeus”, o cineasta
Milos Forman dá uma “aula de ostinato”, na cena em que Mozart , suplica perdão
ao então perplexo e rival Salieri que, estupefato, auxilia o genial músico, já no seu leito de morte, a compor o “Confutatis” do seu “Réquiem em ré menor”, com os lamentos irresistíveis de quem foi ao inferno e se
sucumbiu.
No belo filme “Retratos da vida”, o ostinato do famoso bolero de Ravel é a música-tema que une as várias gerações de famílias massacradas pela segunda grande guerra.
Staccato é um termo musical da língua italiana, berço da
música clássica erudita, e significa “destacado”. Entre uma e outra nota ou
frase musical interrompe-se o seu som, ficando as notas de curta duração. E até a
medicina se "apodera" dos termos musicais e eu, como médica ecocardiografista e amante da música, entro logo nessa onda (esse termo "staccato" é usado na medicina quando há grave comprometimento do fluxo de um vaso arterial, no
qual o fluxo é interrompido imediatamente antes da oclusão da artéria). Já o pizzicato, uma modalidade do staccato, é a interrupção da nota nos instrumentos de corda, muito usado pelos jazzistas principalmente os contrabaixistas (mas também os baixistas curtem), pinçando as cordas com
os dedos.
No filme “Psicose”, Alfred Hitchcock fez um trabalho
cinematográfico cuja grandeza reside, em grande parte, nos elementos formais
que estruturaram a dramaturgia visual e musical, auxiliado em grande parte pela genial trilha
sonora, mérito do compositor norte-americano Bernard Hermann. Na famosa cena do
banheiro, os pizzicatos das
cordas agudas dos violinos pontuam histericamente os gritos da personagem
Marion (vivida por Janet Leigh) sendo esfaqueada, em contraposição com as
frases graves dos violoncelos e baixos que enriquecem a dinâmica da seqüência.
A música usada como sonoplastia no cinema, reforçando a comunicação pelo som, tem como objetivo ilustrar e/ou destacar movimentos ou ações que ocorrem na sequência de uma cena, diálogo, ou como música de fundo de uma narração. Fica a lembrança de outros famosos maestros do cinema, já exaustivamente comentados aqui no blog (links abaixo*), como o grande Ênio Morricone (que assinou a magistral trilha de "Cinema Paradiso"), o genial Nino Rota (da antológica trilha de "O poderoso chefão"), e dos mais novatos como Clint Mansel (da angustiante trilha de "Réquiem para um sonho"), Ry Cooder (do sombrio "Paris, Texas") e tantos outros, que é praticamente impossível citar todos de uma só vez.
* http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2009/10/cinema-paradiso.html
* http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2011/07/luz-camera-acao-e-som.html
* http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2011/03/o-cinema-e-o-universo-das-drogas.html
* http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2011/04/o-cinema-e-os-grandes-nomes-da-musica.html
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