Descobri, no entanto, que infelizmente a palavra “caliente”, para os hispânicos, pode ter conotação chula, como, por exemplo, quando
se refere a uma mulher, significando algo próximo ao nosso “safada”, mas para mim continuo
achando uma palavra bonita, com um significado bem mais leve, como algo envolvente, sensual,
por isso digo que “o sotaque espanhol é caliente”.
Por exemplo, a frase “Te quiero, me encantas mucho” pode até ser romântica quando traduzida para outra língua (seja ela russa, inglesa, francesa ou mesmo a nossa), mas só no idioma espanhol soa sensual, envolvente pois, além do romantismo, ao ser sussurrada ao pé do ouvido, a frase soa sempre carregada de paixão, prá lá de "caliente" – mas isso não significa que nós mulheres brasileiras (as bem resolvidas, claro) vamos cair em qualquer cantada "ardiente" (podemos até ficar "balançadas" no início, mas depois o bom senso fala mais alto).
Por exemplo, a frase “Te quiero, me encantas mucho” pode até ser romântica quando traduzida para outra língua (seja ela russa, inglesa, francesa ou mesmo a nossa), mas só no idioma espanhol soa sensual, envolvente pois, além do romantismo, ao ser sussurrada ao pé do ouvido, a frase soa sempre carregada de paixão, prá lá de "caliente" – mas isso não significa que nós mulheres brasileiras (as bem resolvidas, claro) vamos cair em qualquer cantada "ardiente" (podemos até ficar "balançadas" no início, mas depois o bom senso fala mais alto).
E para
comprovar a força de um idioma, particularmente como um fetiche para as mulheres, na antiga novela brasileira "Ti ti ti" da década de 80 (tempos da minha adolescência, quando eu ainda assistia a novelas, foi regravada há pouco tempo mas eu passo ao largo de novelas atualmente), o ator Luís Gustavo conquistou o auge da sua fama, na pele de um canastrão que se fazia passar por um estilista espanhol, que seduzia as mulheres da alta sociedade paulista com seu sotaque "ardiente" (veja no final do texto).
Na divertida comédia americana “A
fish called Wanda” (“Um peixe chamado
Wanda”), o diretor brinca com a idéia de que um belo sotaque pode levar uma
mulher ao êxtase – a protagonista Wanda (vivida pela atriz Jamie Lee Curtis)
não resiste aos apelos do sotaque italiano dos seus dois pretendentes, o
canastrão vivido pelo hilário ator Kevin kline que, mesmo não falando nenhuma
frase romântica, leva Wanda à loucura (o canastrão cita palavras soltas, sem
nexo, relacionadas à Itália, tipo "canelloni, parmegiana, Mussolini, La Fontana di Trevi") enquanto o
juiz, personagem do ator comediante John Cleese, capricha no italiano para
levar a protagonista ao clímax (veja, no
final do texto, as hilárias cenas do filme).
O sotaque
britânico também parece ter um efeito mágico para as norte-americanas, como é
mostrado no filme “Love actually”, na cena em que as estadunidenses caem de
paixão pelo sotaque do personagem turista britânico na América (veja cena no final
do texto).
Até dentro
do Brasil, o sotaque exerce um efeito diferente entre as mulheres, por exemplo, o sotaque do
carioca parece ter também um efeito afrodisíaco entre as mulheres
de outros estados, as sulistas principalmente (a cantora gaúcha Adriana Calcanhotto celebra, na
música “Cariocas”, o sotaque peculiar e envolvente dos cariocas).
E, como em todo dialeto, palavras idênticas em idiomas distintos podem ter significado totalmente equivocado, como por exemplo, a palavra “molestar”; na língua
espanhola, molestar significa apenas incomodar, ao se interpelar alguém na rua, mas para nós brasileiros
a conotação da palavra molestar pode até ser entendido também como incomodar, mas popularmente é mais usado como a prática do sexo sem permissão (diferindo do
estupro apenas pela ausência de violência).
Assim,
achar que o “portunhol” cumpre o seu papel na comunicação é um grande equívoco;
um exemplo disso é o comercial bem bolado do CCAA que usou a palavra "esquisito" ("exquisito" em espanhol), que no idioma hispânico tem significado totalmente diferente do nosso (significa "estranho" para nós e "delicioso ou requintado" para eles), para divulgar seu curso de
espanhol há alguns anos numa jogada excelente, mostrando a fria que podemos nos
meter ao tentarmos nos virar apenas com o clássico “portunhol”.
Se a língua
portuguesa da “terrinha” (Portugal) tem peculiaridades próprias e muitas vezes completamente
antagônicas ao nosso português do Brasil (acesse link*, no final do texto, para ler "Títulos de filmes: uma comédia a parte" e assistir a hilária entrevista do cantor português Roberto Leal sobre os equívocos dos idiomas irmãos no programa do Jô Soares), imagina a confusão com a língua
espanhola.
Se as
gírias e dialetos regionais dificultam a comunicação até entre os brasileiros (vide, no final de texto, no programa do Jô Soares, esse nosso "Brazilzão" com sua profusão de sotaques e
expressões peculiares), imagina tentar entender o idioma espanhol nas suas diversas
apresentações na América, com suas inúmeras variedades linguísticas regionais e
sociais, mesmo e apesar da grande similaridade com a nossa língua em muitas
palavras.
E se
nós, brasileiros, petulantes que somos, achamos que estamos acima dos demais latinos (eu me excluo deste contexto), os argentinos
vão além, se acham o “bam-bam-bam” no futebol (é verdade que eles têm o Messi,
nós tivemos o Pelé, mas não temos mais ninguém a altura) o que acirra a rixa com
o Brasil, mas ao que parece eles têm preconceito com toda a América Latina, sem
exceção.
Depois
do gol conduzido com a mão (que o juiz não considerou) que Maradona fez na final da Copa no México, conquistando o bi campeonato deles na Copa do mundo, e nos tirando o
nosso tetra em 86, o povo brasileiro nunca mais perdoou os argentinos, numa
rivalidade ridícula que deveria ficar no máximo nos âmbitos e arredores do esporte, como uma velha rixa saudável.
E eles ainda têm dois prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (nós apenas chegamos perto do Oscar, em 1963 com "O pagador de promessas" e em 1998 com "Central do Brasil"), e agora eles gritam, também em uníssono, “habemos papa”.
E eles ainda têm dois prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (nós apenas chegamos perto do Oscar, em 1963 com "O pagador de promessas" e em 1998 com "Central do Brasil"), e agora eles gritam, também em uníssono, “habemos papa”.
Mas, para mostrar que essas rixas são ridículas entre nós latinos
(e que isso
só tende a nos isolar do resto do mundo), entrego os pontos e homenageio aqui o cinema e a música argentina, mostrando que nós estamos acima dessas baboseiras futebolísticas.
Ao ouvirmos os nossos "mitológicos" Titãs, ainda mais "deuses" quando cantam, em espanhol, o balanço sensual de uma das músicas deles, intitulada "Go back", podemos confirmar o charme do idioma espanhol abaixo, no vídeo da banda com o músico argentino Fito Paez. Eu mesma já assisti, ao vivo, a um show dos Titãs, e fiquei bem em frente ao palco. Inesquecível. E é impossível ficar sem bailar com a música deles.
Ao ouvirmos os nossos "mitológicos" Titãs, ainda mais "deuses" quando cantam, em espanhol, o balanço sensual de uma das músicas deles, intitulada "Go back", podemos confirmar o charme do idioma espanhol abaixo, no vídeo da banda com o músico argentino Fito Paez. Eu mesma já assisti, ao vivo, a um show dos Titãs, e fiquei bem em frente ao palco. Inesquecível. E é impossível ficar sem bailar com a música deles.
Quanto ao cinema, o primeiro filme argentino a receber um Oscar foi "A História
Oficial"(1985), de Luis Puenzo, que levou ao cinema as experiências das vítimas da ditadura militar no país (década de 70-80) e dos
milhares de desaparecidos durante o regime (trailer no final do texto).
“O segredo dos seus olhos” é o segundo Oscar argentino, levando a estatueta de melhor filme estrangeiro em 2010 (trailer no final do texto). A crueza da trama, que narra a resolução de um assassinato após 25 anos de investigação, gera um suspense com um final surpreendente, mas também com boas doses de um humor sutil.
“O segredo dos seus olhos” é o segundo Oscar argentino, levando a estatueta de melhor filme estrangeiro em 2010 (trailer no final do texto). A crueza da trama, que narra a resolução de um assassinato após 25 anos de investigação, gera um suspense com um final surpreendente, mas também com boas doses de um humor sutil.
O
filme argentino “Medianeras: Buenos Aires na era do amor virtual” (trailer no final do texto) fala da
solidão das cidades grandes, e as “medianeras” (as paredes cegas de um prédio, que não tem portas nem janelas, e que dão para
o prédio vizinho e que no Brasil são chamadas “empenas”) simbolizam bem esse isolamento entre as pessoas, e para
vencer essa solidão na era do amor virtual, as cidades (e em Buenos Aires isso é
muito comum) vão ganhando paredões salpicados de janelinhas clandestinas (pois
é proibido por lá) como se fosse uma rota de fuga daquelas "caixas de sapatos" revestidas de solidão e abandono.
Dois solitários
desconhecidos que se cruzam pela cidade, mas nunca se encontram. E o personagem
masculino do filme, numa amarga reflexão, diz logo no início do filme: “Estes
edifícios que se sucedem sem nenhuma lógica demonstram uma total falta de
planejamento. Exatamente igual à nossa vida, vamos vivendo sem ter a mínima
idéia de como queremos ser”.
O filme, aos poucos, vai envolvendo o espectador
com seus dois personagens solitários, com toques sutis divertidos, como a
personagem feminina que não encontra o Wally ("Onde está Wally?") na cidade
grande, e as medianeiras como parte de uma divertida propaganda sensual, convidativa e "caliente". Uma graça esse filme, mas é preciso sensibilidade para gostar desse tipo de película. E, logo abaixo, link** para ler sobre outro interessante filme argentino "Ninho vazio", do diretor Daniel Burmann.
E termino esse texto com vídeos da falecida cantora argentina Mercedes Sosa cantando "Volver a los 17" com os nossos artistas maiores, Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso e Gal Costa, e cantando "Anos" com Raimundo Fagner, o cantor cubano Pablo Milanes com Simone (cantando a bela "Yolanda"), e também o cantor espanhol Juanes cantando "Sampa" em Las Vegas, no "Grammy" latino em 2012, homenageando o nosso Caetano,
e o vídeo do Caetano Veloso cantando "Língua" ("sei que a poesia está para a prosa, assim como o amor está para a amizade"), misturando versos e prosas em um mosaico de línguas, idiomas e dialetos ("a língua é minha pátria e eu não tenho pátria, tenho MÁtria e quero FÁtria") nessa torre do Babel que é o nosso pequeno grande planeta Terra.
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