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domingo, 11 de agosto de 2013

Sorria (gado novo): você está sendo vigiado (e marcado).

Em tempos de crimes de vigilância eletrônica, “adorável anarquista” e avessa a programinhas chulos sobre pseudo celebridades, tais como Big Brother Brasil, nessas horas não posso deixar de relembrar, como cinéfila, o único e verdadeiro “big brother” que me dou o luxo de perder meu tempo, que é o tirano do filme intitulado “1984”, baseado no livro homônimo do escritor inglês George Orwell, best seller escrito em plena guerra fria, no final dos anos 40, logo após a segunda guerra mundial. 

Aliás, a grande maioria esmagadora que assiste ao programinha veiculado pela rede “Bobo”, fazendo jus ao objetivo final da grande mídia, que é a alienação generalizada, nem imagina que o nome do programa ("Big brother") surgiu da história do famoso livro, que fala sobre o processo de vigilância e sobre a mais decadente das falhas da natureza humana, que é a corrupção do homem pelo poder e pelo controle absoluto de uma minoria sobre toda uma sociedade (em se tratando da rede Globo, é no mínimo irônico, não?).

O cantor e compositor Zé Ramalho, na música "Admirável gado novo" já denunciava, em plena ditadura, a alienação do povo, marcado pela ignorância e vigiado pela mídia ("...o povo foge da ignorância apesar de viver tão perto dela...vida de gado, povo marcado, povo feliz...contemplam a vida de uma cela...a vigilância cuida do normal...").



Visionário, Orwell estava muito a frente do seu tempo, ao publicar "1984", quando imaginou uma sociedade totalmente privada de sua liberdade, sob o pretexto e desculpa de "segurança", mas cujo objetivo era o controle da sociedade como um todo (desde o 11 de setembro, ainda na era Bush, temerosos de um novo ataque terrorista, demos o aval para o governo americano violar todos os códigos de ética, que envolvem a diplomacia entre os países, num controle absoluto dos passos dos cidadãos de todo o planeta).

Num tom desolador, pessimista e desesperador, Orwell mostra, em “1984”, um mundo marcado pela loucura da dominação totalitária do “grande irmão”, que dita as regras de como a sociedade deve se comportar, tal qual um animal no cabresto, satirizando assim tanto o comportamento como a bestialidade humanas, ao não percerbemos o quanto somos manipulados, num joguete sem fim, na mão de uma minoria detentora do poder, tanto sócio-econômico como também político, ético e moral.

“1984” é uma crítica das mais ácidas (e de difícil digestão e completamente desprovida de esperanças) do modo de viver e pensar do mundo capitalista, e ao mesmo tempo uma crítica feroz também do mundo totalitário da esquerda que, no fim, nada diferem um do outro, o que muda é quem comanda, mas não como comandam, ou seja, a mão-de-ferro é a mesma.

O livro já foi cinematografado várias vezes (Hollywood está preparando um novo remake, a ser lançado em breve) e a última versão (lançada exatamente em 1984) traz o ótimo ator John Hurt como protagonista, um indivíduo inicialmente apático que tem como função “reescrever a história” como convém para o sistema em questão (ou seja, é o que faz hoje o nosso PIG, o partido da imprensa golpista), e assim só se divulga para o público meias-verdades.

E ao se rebelar contra o sistema, o protagonista de “1984” é visto como traidor e é torturado sem dó nem piedade até aceitar e idolatrar o “big brother”. Nos dias atuais, "traidores" do sistema continuam sendo perseguidos, como foi o caso do australiano Julian Assange, do site Wikileaks, e agora a “bola da vez” é o ex-analista da agência de inteligência estadunidense, o americano Edward Snowden, e também a blogueira cubana Yoani Sanches (mas, no entanto, a blogueira, ironicamente, transita tanto dentro como fora do seu país comunista com mais liberdade de expressão e de denúncia que os traidores do sistema capitalista americano, regime que diz pregar "liberdade de expressão"  mais uma vez, irônico, não? ninguém questiona isso?? não é uma incoerência, num regime democrático, ter que ficar calado para se ter o direito a liberdade de expressão e de ir e vir???

Também em seu livro “A revolução dos bichos”, o escritor inglês (nascido indiano) já se apontava como simpatizante da proposta anarquista, mostrando-se um libertário, totalmente avesso aos regimes totalitários quaisquer que fossem eles, de direita ou de esquerda, principalmente depois da péssima experiência vivida pelo próprio Orwell durante a guerra civil espanhola, em que o autoritarismo estava polarizado, de um lado sob a forma do fascismo da direita que acabou levando o ditador Franco ao poder e do outro sob a influência do totalitarismo da esquerda do ditador Stálin da URSS (veja, no final do texto, documentário sobre o célebre escritor e seus livros reveladores e prá lá de apocalípticos).

Mas afinal, “quem vigiará os vigias que vigiam os vigias que nos vigiam?”(é a "pergunta que não quer calar" do documentário sobre o escritor e a questão do poder de uns poucos sobre muitos). São câmeras em shoppings, nos estádios, nos clubes, e a mídia com a TV dita as regras, com os seus programinhas que emburrecem cada vez mais a população, tornando-a cada vez mais dominada e alienada. 

A relação doentia do homem com o poder foi confirmada no experimento de aprisionamento da Universidade de Stanford,  nos EUA, realizado na década de 70, que recrutou indivíduos para interpretarem papéis distintos de carcereiros e prisioneiros, e o experimento teve que ser suspenso na metade do prazo estabelecido, tal a crueldade que tomou conta dos participantes que receberam a função de poder sobre os demais.

A prova cabal da bestialidade e da insanidade humanas, quando se trata de poder, saiu das páginas de ficção dos livros de Orwell e foi parar na vida real no tal experimento, e voltou para a ficção ao ser retratado no ótimo e aterrorizante filme alemão "Das experiment" (veja trailer e acesse link, sobre esse filme, “A experiência”, no final do texto).

“Brave new world" ("Admirável mundo novo”, o título da música de Zé Ramalho é uma paráfrase do título desse livro), de Aldous Huxley, é outro livro revelador, tão louco e desolador quanto “1984”, e que também já ganhou uma versão em audiovisual (produzida pela BBC, emissora de rádio e TV inglesa), que mostra uma futura comunidade, forçadamente feliz por meio de "drogas da felicidade", em uma sociedade dividida por "castas" (alfa, beta, gama, delta), sem valores morais, éticos ou religiosos.

Como "tudo a minha volta me leva ao mundo do cinema", também relembro aqui “Brazil, o filme”, de Terry Gilliam (um dos comediantes do grupo britânico Monthy Python) , uma tragicomédia ácida dos anos 80 (veja trailer no final do texto), que mostra uma sociedade alienada, dominada e totalmente perdida em burocracias inoperantes e ordens sem nexo. 

O filme ganhou o nome "Brazil" pela presença de músicas de Ary Barroso (principalmente "Aquarela do Brasil"), e quem sabe se, porque por aqui, "o gado" é facilmente corrompido e dominado. Como prova cabal disso, temos o documentário atual intitulado "O dia que durou 21 anos", sobre a compra dos nossos políticos pelo governo americano na década de 60 (o nosso "mensalão" é coisa bem antiga) para depor Jango da presidência e instalar o governo militar ditatorial de direita sob o pretexto de evitar, à custa de delações e torturas, uma possível mas remota ditadura da esquerda comunista ("torturar para evitar torturas", mais uma vez, irônico não?) – veja trailer do documentário no final do texto.

E o documentário "A corporação" (trailer e link para detalhes sobre o mesmo, no final do texto) mostra também como, sem percebermos, somos dominados e "engolidos" pelas grandes corporações (como a Coca-cola, o Mac Donald's e as famosas marcas de vestimentas), e como o poder, o dinheiro e o lucro a qualquer preço pode romper a tênue barreira da dignidade e altruísmo do ser humano.

Como simpatizante do movimento anarquista puro, eu tento ficar à parte do sistema o máximo que posso, mas confesso que é muito difícil mesmo como "adorável anarquista", tal o apelo das ofertas de consumo à nossa volta. Tento fazer um consumismo consciente, procurando ficar ciente do perfil social das grandes empresas no trato com seus funcionários, e o envolvimento delas com a preservação ambiental na fabricação de seus produtos, e evito também compras de supérfluos caros demais como, por exemplo, produtos de grifes quando posso substituí-los por outros mais em conta (como as bolsas Louis Vuitton e/ou Victor Hugo, que aproveito para não consumir já que são caras demais e não me agrada o design delas, acho antiquado, nada moderno).

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