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terça-feira, 17 de novembro de 2015

Tudo contra o machismo (nada contra os homens)



Adoro uma polêmica... não no sentido de “polemizar apenas para ser do contra” (como já tentaram me rotular), mas sim porque gosto de ter “o benefício da dúvida”; questionar faz com que não deixemos que “nos façam de trouxas”, que não levemos “gato por lebre”... assim, questiono sempre... até que me provem o contrário, sempre hei de polemizar... sempre terei perguntas a fazer: “E se ... ??!!”

E assim, aproveito o fim do “Outubro Rosa” (e o emotivo vídeo “O câncer de mama no alvo da moda”) e o início do “Novembro Azul” (sobre o câncer de próstata) e as declarações esdrúxulas e ridículas de homens e mulheres machistas (sim, mulheres machistas, elas existem sim) quanto à tão comentada prova do ENEM (sobre a filósofa Simone de Beauvoir e seu movimento feminista, e a persistência da violência física contra a mulher), para relembrar um texto, que escrevi, dois anos atrás, sobre a polêmica decisão da atriz Angelina Jolie em relação ao seu “tratamento” preventivo de câncer de mama.




No tal texto, eu comentava a minha estranheza em relação ao “por que da tão pouca polêmica contra” a decisão da bela atriz Angelina Jolie em relação à intensa exposição e divulgação da sua resolução, na época, de extirpar radicalmente as suas glândulas mamárias. Falatório à parte, eu pude notar que poucos criticaram negativamente a decisão da midiática (mas não tão talentosa quanto) atriz. Ao contrário, o que mais se comentou foi a “coragem” da atriz. E, na época, questionei: coragem ???!!!

A decisão de extirpar as mamas era, com certeza, um direito da atriz e ninguém tinha nada com isso. O que me pareceu deveras irresponsável, e questionei, foi o artigo que ela escreveu, tratando “a mastectomia preventiva bilateral como se fosse uma opção inquestionável  e consagrada pela medicina” (principalmente por ela não ter domínio da área médica, e por ela ser a celebridade que é, portanto influenciável e “formadora de opinião” de um público sedento de pirotecnias e soluções medicinais e estéticas milagrosas).

Ora, o câncer de ovário (que é a real doença da mãe da atriz) é muito mais difícil de detectar que o de mama (que era a doença da tia), então por que diabos a atriz não começou extirpando aquele órgão? Eu mesma respondo essa: porque, ao que parece, a atriz não precisava de uma lipo nem de plástica abdominal, e sim de silicone, pois vinha exibindo uma magreza descomunal num processo de depressão com perda de peso, e com certeza o vigor da mama se fora também.

Ou seja, inúmeras pesquisas de opinião já mostraram que a maioria dos homens (principalmente o norte-americano) curtem muito mais um silicone do que um seio natural, afinal nenhuma mulher de 35-40 anos (a idade da Angelina Jolie) mantém o vigor da mama dos seus 15-20 anos de idade, e como sempre, nós mulheres ainda vivemos a ditadura do corpo, e continuamos a nos mutilar para agradar ao sexo masculino.

As últimas passagens da atriz pelo tapete vermelho têm sido m fiasco, com imagens dos “cambitos de pernas ossudas” e, com certeza, a magreza dela se repercutiu nos seios, com provável queda dos mesmos, e nada como um bom par de air bags artificiais (e um histórico familiar de câncer é melhor desculpa que a flacidez da mama) para resolver a flacidez da mama natural da atriz ( e o marido Brad Pitt deve ser mais um que engrossa o ranking de preferência pelo artificial).





Alegavam (os prós-Angelina Jolie”) que o tratamento convencional da doença – mastectomia radical, radioterapia, quimioterapia, com todos os malefícios do tratamento como queda de cabelos e outros – deixa marcas profundas, e ainda restaria a dúvida se em 5-10 anos a doença estaria ainda ativa ou não, o que justificaria a atitude radical da mastectomia bilateral preventiva.

Para mim, a divulgação midiática com grande repercussão internacional (que lhe rendeu capa na “Times” e no mundo inteiro) me pareceu mais uma propaganda hollywoodiana para ter o aval do público, pois agora a atriz tinha uma bela desculpa para recuperar o vigor dos seios aos 36 anos de idade, por conta dos novos “air-bags” artificiais.

Com certeza não é nada animador o tratamento da doença, principalmente se há um histórico familiar importante (como no caso da atriz em questão), mas eis a pergunta que não quer calar: se não houvesse a possibilidade da reconstrução imediata da mama com prótese de silicone, a atriz persistiria na ideia da mastectomia preventiva radical? Se ela tivesse que esperar meses sem as mamas (como acontece em muitos casos da doença instalada), a tal “coragem” persistiria?

Pergunto-me se, no caso da Angelina Jolie, se não houvesse a alternativa imediata do silicone, a saúde continuaria como prioridade da atriz (já que a chance genética de 87% de desenvolver a doença continuaria)? Ou ela iria optar, como a maioria de nós, por um controle periódico para tentar detectar a doença precocemente, e só então, caso a doença se manifestasse, é que decidiria entre a vida e a sexualidade feminina (representada pela mama)?

O que me causou estranheza foi a maratona das cirurgias (que a atriz se submeteu) ter passado longe dos “paparazzi” (qualquer passo da atriz, em geral, é seguido de perto pelos tais) e, de repente, a própria atriz chama a mídia para comunicar seu ato publicamente???!!!

Se as internações e as intervenções tivessem sido descobertas pelos “paparazzi” (estranho isso não ter acontecido, não?), e daí então ela resolvesse contar a sua decisão e sua maratona cirúrgica (que é um direito dela), vá lá, aí sim eu acreditaria nesse embuste (pois sua decisão mesmo silenciosa, iria ser descoberta por ela ser tão famosa, e ainda assim ela iria influenciar as decisões de centenas de mulheres).

O que questiono até hoje é a profusão de medidas milagrosas patrocinadas por indústrias farmacêuticas que, em geral, só visam lucro (estatisticamente muitas mamografias mostraram-se falso positivas e cirurgias mutiladoras desnecessárias foram realizadas a partir disso) ao invés de estimularem o aleitamento, o controle do peso corporal, a se evitar terapia hormonal com estrogênios artificiais (que são alguns exemplos dos verdadeiros “protetores” da mama).

Mas do jeito que foi, me cheira a marketing hollywoodiano, e pior, com o aval da equipe médica, que me soou irresponsável e mercenária, assim como questiono as empresas farmacêuticas milionárias por trás dessas propagandas anticânceres.

Como médica eu questiono tanta paranoia, as pessoas deviam visar a saúde física e mental e não a doença. Há pouco tempo, fui “massacrada” verbalmente, num grupo de “WhatsApp” de colegas médicos, tudo porque não aderi às lamúrias de dores aqui e acolá dos colegas do grupo, de controle de glicemia e colesterol, etc, e ao contrário por comentar que gosto de dançar e de fazer esportes radicais...




E corroborando com meu estilo de vida, uma grande propaganda tem sido veiculada, questionando a real necessidade de tanto “check up” divulgado por médicos e empresas de saúde – trata-se do vídeo “Choosing Wisely” (ao pé da letra, “Escolhendo Sabiamente), que vai na contramão dessa paranoia, insistindo na preservação da saúde mental e física.

Menos é mais (“decided to be more active”, “decided for dance more”, “didn’t need antipsychotic medications”, “eat healthy and not too much”, “don’t smoke”, “enjoy life”), é tudo que eu sempre “preguei” para mim e para os meus pacientes – e o vídeo mostra todos dançando e curtindo a vida (sem estresse de doença e check-ups excessivos), independente da idade cronológica.




O vídeo em questão faz uma paródia da ótima música dançante “Happy”, do artista estadunidense Pharrell Williams (e... fala sério, impossível ficar parado com essa música... enquanto escrevo, a música está rolando... e tenho que parar de escrever para dançá-la, rsrsrs).




É muito comum piadas sobre a fatídica queda dos seios da mulher – “por que o seio da mulher cai com a idade?” E de todas as opções de respostas (efeito da gravidade, aleitamento, etc ) a resposta maldosa e machista mais correta seria: “Com a idade, o peito da mulher cai... para acompanhar a bunda”.

Maldades machistas. Mas nós, mulheres, deveríamos lembrar que ainda temos a vantagem de uma gordurinha extra em locais estratégicos, que disfarça a perda e atrofia muscular do glúteo e da mama que acontece com a idade;


Já o homem sem esse natural enchimento adiposo, com a idade a pele fica flácida e a musculatura atrofia, e assim “cai o saco, cai a bunda, e pior, cai o pau”, mas nenhum deles se dá por vencido, mesmo com o saco e a bunda murchas tomam Viagra e querem nos trocar por “duas de vinte”, enquanto nós mulheres nos torturamos com cirurgias plásticas, preenchimentos, botox, lipos e outras mutilações bizarras (eu não, tô fora) para, no fundo, agradar ao mundo macho.


Agora, a revanche: uma ótima piada, ressaltando esses abusos do mundo machista – homem explica ao filho os três tipos de seios femininos: “Aos 20 anos, são como melões, firmes e redondos, aos 30-40 anos os seios são como peras, ainda belos, mas um pouco caídos, e aos 50 anos são como cebolas, quando você olha para eles dá vontade de chorar”;


Eis que a filha pergunta a mãe os tipos de pênis, ao que ela rebate respondendo ao despropósito do marido: “Aos 20 anos o pênis é como um pé de jacarandá, respeitável e firme, aos 30-40 anos um pé de chorão, flexível mas ainda confiável, e após os 50 anos o pênis é como uma árvore de natal, morto da raiz até a ponta, com bolas penduradas como decoração, e o pior, só arma uma vez por ano” (uahuahuah).


Outra ótima piada: um matemático deixa, para sua mulher cinquentona, um bilhete: “querida, sinto muito, você com seus 50 anos já não me satisfaz nas minhas necessidades, assim só vou chegar à meia noite, pois estarei com minha secretária de 18 anos num motel”.


Ao voltar para casa, à meia noite, encontra um bilhete da esposa: Querido, você também tem 50 anos, e compreenderás que estamos na mesma, assim não me espere, pois estou num motel com meu “personal trainer” de 18 anos, afinal você, como ótimo matemático que é, bem sabe que “18 cabe mais vezes em 50 do que 50 em 18”, então não me espere, só chego amanhã, e olhe lá (uahuahuah).

Brincadeiras à parte, essa “guerra dos sexos” é muito séria – muitos entendem a luta feminista como um ato contra os homens, mas não é; na verdade é uma luta contra o machismo (e, contraditoriamente, muitas mulheres são machistas, mas infelizmente elas só o são quando lhes convêm, como nos quesitos “troca de pneus do carro ou na hora de pagar a conta do restaurante”), porque este (o machismo, e não os homens) é cruel tanto com o sexo feminino como também (se bem que em menor escala) com o sexo masculino.


Um pequeno exemplo de como o machismo é prejudicial também ao homem – vemos isso na hora da aposentadoria, por exemplo – por ser considerado o “sexo forte”, os homens perdem o direito de se aposentar com a mesma idade das mulheres (aposentam 5 a 10 anos depois de nós mulheres), o que passará a ser uma injustiça quando o feminismo conseguir conquistar o direito da mulher de ter uma “única” jornada de trabalho (e não a atual machista, em que ainda grande parte das mulheres trabalha fora e, ao chegar em casa, tem um novo turno na limpeza da casa, cuidados com os filhos, etc... enquanto o homem tira os sapatos e descansa em frente à TV).


Nós, mulheres, precisamos melhorar nossa autoestima e nos aceitarmos como somos, e nos livrarmos da tirania machista em cima do nosso corpo. Se somos nós que engravidamos, porque temos que suportar homens barrigudos? Qual a desculpa para a pança avantajada de grande parte dos homens quarentões? Nós é que temos o direito de ter uma barriguinha extra (por conta das gestações)... e por que nós é que temos que nos submeter a mutiladoras cirurgias plásticas e lipoaspirações?


E quanto ao câncer no cérebro? Vamos extirpar esse órgão caso a genética indique alta probabilidade familiar? É bem verdade que tem gente que não tem massa cinzenta, e não fará nenhuma falta (se bobear, esse pode ser o caso da bela atriz... oops, que maldade a minha).


Na época da polêmica da atriz Angelina Jolie, o depoimento mais consciencioso, a meu ver, foi de uma carioca de 46 anos que, apesar de toda a chance de desenvolver o câncer familiar (fez inclusive o teste genético, que foi positivo), se recusou a ser mutilada com a proposta da mastectomia preventiva (ela prefere fazer exames periódicos para tentar detectar precocemente a doença, o que é válido já que tem fatores de risco significativos, daí a importância do “Outubro Rosa”), e revelou: “não sou uma estatística, sou um ser humano”.


E, nas redes sociais, na época da cirurgia da Angelina Jolie, choveram mensagens elogiando “a coragem” da atriz, mas coragem mesmo de verdade tiveram as mulheres do “Baring It All” (a tradução em português seria, mais ou menos, “Desnudando tudo”), um documentário sobre o “Projeto SCAR”, filmado em 2011, com imagens do fotógrafo David Jay, ao som da bela música “My Angel” na performance da bela voz do cantor Adrian Edward Rhen.


Este documentário inspirador coloca um rosto humano sobre o heroísmo de mulheres sobreviventes de câncer de mama em seus 20-50 anos que se deixaram fotografar com suas cicatrizes em vários estágios da doença (a doença pode impedir a reconstituição mamária precoce com implante de silicone, o que não foi o caso da atriz que, por não ter a doença, pôde ganhar os “air bags” imediatamente, assim é fácil ser “corajosa”).


No documentário, os retratos nus expõem muito mais do que suas cicatrizes e calvícies. A imagem de tantas mulheres serenas e vencedoras é incrivelmente bonita, desafiadora e poderosa. Ali sim, o que não faltou foi coragem, muita coragem. 





E agora, a minha cidade adotiva, Nickity (como é carinhosamente apelidada Niterói), ganhou uma exposição especial, “The Scar Project - Edição Brasil” (com mulheres brasileiras também como modelo), no nosso famoso Museu de Arte Contemporânea, com a bela arquitetura do “disco voador” de Oscar Niemeyer toda iluminada de rosa (e agora numa nuance também de azul, por conta do “Novembro Azul” chegando).





Insisto que nós mulheres temos que ser cada vez mais femininas e feministas, para que possamos nos igualar nos direitos que temos sobre o nosso corpo e não mais nos mutilarmos para agradar ao sexo oposto, para que enfim, num tom lilás (mistura do rosa com o azul) possamos diminuir, através da saúde (e também da doença), o abismo que existe entre homens e mulheres , e só então sem machismo nem feminismo possamos ser, enfim, apenas “humanos, demasiadamente humanos” (mais uma vez, parafraseando Nietzsche).

E como “eterna criança cinéfila” que sou, amante de filmes inclusive infantis, deixo de novo a música “Happy” que também faz parte da trilha sonora de “Despicable me 2” (“Meu malvado favorito 2”) e aproveitem e batam palmas com os divertidos Minions, e dancem, dancem e dancem... faz muito bem para o corpo e para a mente (“clap along if you feel like that’s what you wanna do”).

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